O indivíduo para pertencer a uma sociedade, submete-se a uma série de regras de condutas. Ao longo de sua existência enquanto ser social, ele aprende formas de se relacionar que são aceitas pela realidade na qual se vê inserido. Essas condutas vão da forma como deve usar os talheres a concepções de mundo. Portanto, ninguém está livre do sistema de crenças e de hábitos validados por cada cultura.
Antes de eu desenvolver uma análise acerca do que eu entendo como educação livre, acredito primeiramente ser necessária a seguinte questão: o que é ser livre?
Infelizmente ainda insistimos em um paradigma maniqueísta. Essa tendência maniqueísta em definir as coisas, tende a gerar um fator complicador no que se refere à relação indivíduo / sociedade, leis / liberdade. Esclarecendo: distinguimos o indivíduo da sociedade como se esses dois elementos se encontrassem de forma independente, assim como acreditamos que a liberdade implica uma falta de obrigações para com o mundo, e como se lidar com as obrigações nos destituísse literalmente de qualquer forma de manifestarmos nossa liberdade.
Acredito que liberdade é saber criar estando inserido nas condições que nos são impostas, afinal, ninguém é independente a ponto de ser capaz de se desapropriar de todos os valores que são impostos. Como dito anteriormente, nenhum indivíduo se encontra fora dos padrões determinados por uma cultura. Ser livre não é ser desvinculado do mundo. Ser livre é ser capaz de utilizar estratégias dadas pela realidade a qual condena, tendo convicção de que as regras de hábitos e de condutas negadas fazem parte de nossa existência, e que, portanto, não devem ser desvinculadas do que acreditamos, e sim, re-questionadas e reformuladas.
Sentir a liberdade não significa se desvincular das práticas cotidianas da sociedade, ou conseguir ser um indivíduo recortado dos inúmeros feixes sociais incorporados dentro de si. Buscar ser livre não significa achar que vai destruir as estruturas das quais tanto condena negando sua condição de indivíduo, como se ao invés de morar em uma casa e estar diretamente implicado nas concepções morais e éticas infiltradas pela cultura, vivesse a vida tangencialmente de forma descontextualizada, atemporal e a-histórica. O homem livre busca a mudança dentro da estrutura, e não fora dela. Até por que não buscamos mudar e nos libertar de nada se não vivemos o que estamos querendo mudar.
Portanto, uma educação livre é aquela educação que mesmo buscando como objetivo conscientizar e aflorar o senso crítico dos discentes, fazendo com que eles re-questionem as verdades institucionais, não se nega a admitir que os próprios regulamentos institucionais tão condenados, são importantes para manter a lógica da instituição escolar. Um educador que se porta de forma livre é aquele educador que assume os compromissos dados pelo regulamento da escola, mas que nem por isso abdica em querer proporcionar aos seus alunos uma reflexão sobre determinadas regras de conduta validadas pela escola.
Modificar submetendo-se às normas, atuar de forma subvertida respeitando a necessidade das leis e da ordem, ser capaz de resistir compartilhando com os regulamentos morais estabelecidos socialmente, aceitar a existência dos limites sem, no entanto, aceitar a sua eternidade. Isso é a educação livre.
(Este texto foi postado no site EuAutor no dia 20 de abril de 2009 e sofreu algumas alterações no dia 03 de janeiro de 2011 para a publicação no Torto)
Não tenho o que dizer do texto. Meus parabéns!
ResponderExcluirO subversivo subverte a subversão...
ResponderExcluir"o subversivo subverte a subversão"
ResponderExcluir... Fantástico!
oi vina!
ResponderExcluiracho q vc aborda duas condições exploradas por Noberto Bobbio qndo ele explana a liberdade e a igualdade. Qnto a liberdade, o autor coloca em duas definições para melhor entendê-la: a negativa e a positiva. Vejo q vc defende a liberdade positiva em que aposta o indivíduo livre qndo ele tem condições para sê-lo, pois esse se insere numa sociedade e não dá para viver desviculado da lei q o rege. No entento, fomos cercados desde muito tempo com outro tipo de liberdade, a que Bobbio chama de negativa, em que o indivíduo é livre em sua plenitude sem qualquer condição q delegue os seus limites. Enfim, vc aborodu um novo olhar. Um olhar crítico qnto o individuo dentro da sociedade. Um ser q pode utilizar seu potencial para reinventar os seus anseios mas que ao mesmo tempo se vê limitado pelas amarras sociais.
Outra questão que vc acaba linkando a liberdade, é a educação. Uma denominadora que oferece a liberdade para o indivíduo. Isso me fez lembrar Paulo Freire qndo ele critica verozmente a educação bancaria, limitadora do potencial criativo do sujeito.Assim como vc mesmo defende, a educação livre é uma condição para q nós possamos requestionar a ordem institucional entre outras questões.
Mas vejo também que a questão da liberdade não se encerra por aí. Percebo que ela não é um estado, mas uma condição momentânea. Devido as condições imposta pela sociedade sempre por algum momento estaremos limitados de alguma forma. E isso pq acredito q nós somos vorazes demais nas nossas exigências e vontades. Aquele eterno conflito entre principio do prazer e o principio da realidade.
Um beijo.
Vina,
ResponderExcluirGostei do seu texto bastante, uma vez que ele me trouxe algumas questões para assuntos em que ando divagando ultimamente.
Embora compreenda boa parte dos fundamentos de sua argumentação, que toma como pressuposto à garantia de uma educação livre o tangenciamento entre idéias convencionais de liberdade e modelo estabelecido - em detrimento do qual trabalham as primeiras -, percebi nela, na sua argumentação, alguns pontos vagos, os quais me suscitaram o interesse de vir aqui esclarecê-los com você, concernentes a esse mesmo assunto: modelo vs liberdade.
É indubitável que a formação educacional de uma pessoa, para ter respaldo efetivo, não pode deixar de estar atrelada à compreensão das dimensões históricas correspondentes ao lugar do qual essa mesma pessoa é filha. A preservação do patrimônio histórico é salutar à construção de um ser crítico e atento às problemáticas fundamentais que fazem de si indivíduo – afinal, cada um de nós é parte ativa e passiva no fomento da realidade. Todavia, quando superestimo esse modelo de educação que tem como ponto saliente o respeito ao que já está estabelecido, vejo se ofuscar o papel também benéfico de uma educação que toma como principal referencial a idéia de utopia, como se o indivíduo não tivesse o direito de atenuar a sua angústia, sendo obrigado a engolir o seu contexto com tudo o que há de mais sórdido nele. Levando em consideração o que você disse, o educador, como se não ostentasse as suas paixões, deve ser imparcial ao esboçar o conteúdo de sua disciplina para os seus alunos, de modo que eles, tomando nota de como esse conteúdo se fragmenta, possam tirar as suas conclusões a respeito – que mesmo assim, tal qual como acontece com o professor, por haver a necessidade de preservação da ordem vigente, deverão – as conclusões – ser sufocadas na garganta, imobilizando a educação a uma condição de subserviência ao modelo convencional, posto que não há interatividade entre ambas as partes, senão uma contemplação mútua e à distância.
Como disse mais acima, não discordo das suas colocações e penso que elas desnudam talvez uma das principais questões que envolvem o estudo da educação. Consorte ao que você disse, também acho benéfico o papel que a utopia e a vontade de mudança podem exercer na construção de uma educação menos incoerente. Posto isso, é viável ressaltar, também, a atuação fundamental que a inserção da arte pode desempenhar na escola. Quando a pensamos enquanto mecanismo de subversão e crítica, sentimos a sua força e como ela, já esboço de uma paixão materializada, pode fazer do ser humano algo menos vil (socialmente) e mais caótico (em relação às suas próprias certezas) através do olhar do outro.
Abrs,
João Paulo dos Santos
Creio que oseu espeirito de liberdade, caro Vina, nos dá uma contribuição equilibrada para o fazer pedagógico. São muitos discursos pouco aplicáveis e até românticos, por outro lado, muito conservadores e "pé no chão". Saindo dessa discussão de educação para a libertação ou educação como simplesmente reprodutora nos salta esse amadurecimento da liberdade, que é bastante polêmica, já que depende muito do percurso desse indivíduo e como ele busca a resposta para as dúvidas lançadas corriqueiramente ao longo de sua existência.
ResponderExcluirA educação informal, que trocamos nos contatos como as nossas redes sociais familia, trabalho, escola, rede de amigos e com nossas reflexões particulares seria o principal veículo da educação livre. Parto do pressuposto de que a educação, seja ela formal ou informal, é apropriada de acordo com os interesses individuais, ou seja, a gente absorve o que nos interessa, mesmo que em alguns momentos seja forçado a tal, mesmo assim, o que levaremos adiante é a prática e/ou o conhecimento que nos apetece. Portanto, a educação livre existe a partir de uma construção puramente individualista.
Vou fazer uma pequena observação quanto ao último parágrafo. Nas proposições citadas, uma seguida da outra, há sempre duas que se anulam: subverter repeitando, resistir aceitando, limitar rompendo...
ResponderExcluirNão sei ao certo, de maneira mais prática, já que teoricamente soa um tanto contraditório, como funcionaria; acredito que, se o que se quis dizer foi acerca de uma necessidade de encontrar um equilíbrio entre o totalitário e o democrático, adaptando tais termos aos trâmites organizacionais, sociais, didáticos, institucionais etc do meio educativo, penso que isso já ocorre, ainda que se tenha uma pluralidade de concepções quanto a maior eficácia e eficiência de uma atitude democrática ou disciplinante.
Suponho ser por demais complexo um modelo que atenda ou se encaixe de maneira mais honesta, e essa é a palavra, para a grande maioria das pessoas, isto é, um modelo que condiga melhor com suas necessidades e com o próprio estagio evolutivo de suas capacidades de aprendizado.
Imagina-se, para se criar um modelo perfeito de educação, uma categorização, leia-se, uma estrutura não-uniforme e adaptativa, o que dá a ideia de individualidade citada por Alysson, seria inevitável, tanto para com discentes quanto docentes.
Temos o professor dos colégios públicos nos anos 40, que não permitia saídas muito grandes de sua linha de pensamento e era extremamente fechado quanto à forma de conduzir seu alunado, como temos as escolas particulares atuais, nas quais um aluno influente pode, em alguns casos, fazer demitir um professor...
São apenas reflexões.
João
ResponderExcluirE ai meu querido, tudo jóia? Achei muito pertinente a sua colocação acerca da educação. Mas eu queria dizer que o seu olhar é o olhar que eu compartilho. Acredito no estimulo à utopia dentro do ambiente educacional. Porém, o que eu acho é que a potencialização do se manifestar, do resistir tem que se compreendido dentro das estruturas e não fora delas, afinal, a vontade de mudanças decorre devido às experiências que nós vivenciamos diante dessa estrutura como nos sistemas de regulamentos, de proibições da instituição.
É devido a isso que eu também compactuo com voce a questão da não-imparcialidade. Antes de eu defendê-la,posso dizer que eu como professor, acredito que inevitavelmente o docente possui suas ideologias, seus sonhos em provocar alguma mudança na sociedade. Apesar de eu achar que também apenas a aceitação das perspectivas ideoloógicas do educador possam ser prejudiciais para a construção critica do aluno, visto que limitarmos nossas opiniões significa ficarmos cegos para as diferenças, acho que o docente tem e deve ter o direito de manifestar suas opiniões, pois sem sua esperança ele não faz projetos, e sem projetos, dificilmente ele alterará uma realidade junto com seus alunos.
Pra variar, muito obrigado pelas suas contribuições. Elas são bastante enriquecedoras.
abraços
Lou,
ResponderExcluirAntes de tudo, eu gostaria de agradecer pela sua contribuição acerca do texto. Porém, preciso chamar atenção para alguns detalhes. Primeiro é a questão do equilibrio. Eu não pretendo trazer um equilibrio, até por que eu sei que entre as ações individuais e as estuturas sociais existem relações de força que se negociam, se conflitam e que geram contradições entre elas, e, portanto, jamais um equilibrio. O que eu quis mostrar foi a necessidade de sabemos dialogar com essas duas esferas.
Concordo que ha uma tentativa ja existente em tentar transitar entre a liberdade e a lei. Apenas defini com minhas palavras o que eu achava que seria uma educação livre. Não foi de meu interesse questionar se o que eu entendia como educação livre era de fato algo inovador ou não.
Quanto à relação ente o modelo dito convencional e o voltado para a liberdade, compactuo com você, e também não vejo caminhos seguros para nenhum dos dois. É aquele papo: aceita-se as regulamentações, atende talvez a uma maioria, mas por consequência, exclui uma minoria; por outro lado, aceita-se a individualidade, fragmenta o senso de coletividade e traz por consequência, uma possivel tirania dessa individualidade.
O que eu acho interessante é pensarmos na possibilidade de tentarmos ao menos mostrar ao alunado a importância de nossa individualidade, visto que ela nos torna críticos e participativos, e a importância de sabermos conviver com a ordem pois sem ela nao há entendimento entre os individuos na arena social. Ao mesmo tempo mostrando a nocividade dessa individualidade quando ela se isola de toda uma complexidade de cumprimentos e ações estabelecidas para um bom convivio em sociedade, e a nocividade dos regulmentos quando ele tolhe qualquer autonomia dos sujeitos, submetendo-os às imposições coletivas, castrando assim, qualquer possibilidade desse sujeito exercitar sua criatividade.
abraços
Mai
ResponderExcluirÉ justamente isso. Vivemos o eterno conflito entre o principio do prazer e da realidade. Por isso mesmo não existe condições permanentes e estáticas entre a lei e a liberdade. Ambas são provisórias. Por isso que o importante é não negarmos a potencialidade do sujeito de pensar por si próprio, mas também não negarmos que a condição que faz o sujeito pensar por ele mesmo, é fruto de todo um regulamento, de uma regra seja ela juridica, moral, signica, etc. Enfim, mesmo sendo livre, só há liberdade quando damos sentido a essa liberdade, e esse sentido não existiria sem os regulamentos, isto é, sem as leis; assim como a sociedade não se enriqueceria se ela não se modificasse a odo instante, e essa modificação é fruto de liberdades individuais que dialogam com as estruturas e as instituições sociais ao longo das histórias das culturas.
bjs
Aly Soul,
ResponderExcluirQuando falamos sobre liberdade, é fato que sabemos que a preponderância pende para a questão do individuo. Mas eu não compactuo em apenas aceitar essa individualidade. Como eu disse, é importante mostrar aos alunos seus direitos a participações, seus anseios, mas sem deixarmos de lado a necessidade inevitável do regulamento. Obviamente que esse regulamento diz respeito ao aspecto mais coletivo. Sou da opinião de que se deve haver pluralidade de ações mas também reconheço que essa pluralidade não faria sentido se elas não tivessem pontos de referências, ou seja, códigos provenientes dos regulamentos e das convenções, que norteassem suas ações e estabelecessem atos comunicativos entre os atores sociais. Mas enfim: eu entendi completamente o seu ponto de vista e comungo com ele. Só quis mesmo foi fazer um complemento. Obrigado pelas contribuições meu lindo.
abração