Nesta semana resolvi dar continuidade ao tema referente ao diálogo da música de vanguarda com a educação. Gostaria de dizer que quanto mais sugestões eu receber, melhor, afinal, estou com o interesse em construir um artigo científico, e quanto mais observações, mais possibilidades eu terei em enriquecer meu olhar. Por enquanto estou apenas divagando sem necessidades de me apoiar em referenciais teóricos. Só futuramente pretendo selecionar de forma mais clara as minhas problemáticas e objetivos para dar inicio a uma pesquisa.
Apesar de eu ter trazido a experimentação como uma das características da vanguarda, gostaria de observar que essa música é marcada por uma experimentação diferenciada. Se não fosse assim, qualquer música seria classificada como música de vanguarda, uma vez que qualquer música se mistura e experimenta novos elementos. No entanto, a experimentação da música de vanguarda tem o intuito questionar os padrões musicais tradicionais, além de provocar formas de estranhamento, inquietações e tensões no ouvinte.
Outra observação é a seguinte: não é por que eu estou tentando articular a vanguarda com os propósitos da educação que necessariamente eu resuma apenas essa tendência musical a algo capaz de provocar senso crítico nos indivíduos. Um educador capacitado em inovar sua metodologia e que esteja interessado em provocar questionamentos em seus alunos, é alguém que se torna capaz de utilizar qualquer estilo musical para gerar entendimentos de seus discentes com relação à sua disciplina de forma crítica.
Quando chamo atenção para a música de vanguarda, é que eu acredito que ela por ter características como a experimentação e a quebra dos modelos legitimados, pode provocar no aluno um senso de requestionamento acerca das certezas legitimadas e oficializadas pelo sistema, além de fazer com que o conhecimento passe a ser visto por esse discente enquanto um enriquecimento de informações e uma construção crítica capaz de ser constantemente requestionada por novas interpretações, e não como algo acabado em si mesmo.
Para começar a entrar de vez no tema, eu gostaria de propor algumas problemáticas. Será que os artistas e o público-consumidor da vanguarda têm interesse de que essa música provoque uma condição crítica acerca da realidade? Será que a nossa educação está preocupada em possibilitar ao discente um olhar questionador? Acredito que tanto uma quanto outra não possuem interesses em provocar um olhar crítico, isso por que tanto por parte dos artistas e público da música de vanguarda quanto das instituições educacionais existe o poder.
Com relação à música de vanguarda na educação, o estranhamento provocado por ela, antes de produzir um olhar questionador, preserva a ordem, uma vez que é do interesse de muitos que a vanguarda se mantenha desentendida. Essa postura evita com que determinados setores se aproximem dela e possam desestabilizar a posição comoda de superioridade na hierarquia estética que seus consumidores adquiriram. Vale lembrar que o público da vanguarda frequentemente é proveniente dos meios universitários, ou seja, de um setor privilegiado pela sociedade.
No que diz respeito à relação da educação com a música de vanguarda, o que eu observo é que a educação muitas vezes não se interessa em construir olhares críticos, isso por que ela se encontra submetida aos interesses do capital econômico, e por isso mesmo, tenta formar indivíduos para atender o interesse do mercado de forma dócil, automatizada e prática, afinal, a educação atende a uma conjuntura dominada por uma elite econômica, e o que essa elite quer é o funcionamento harmônico da sociedade.
Portanto, para mim, a educação parece impossibilitada em dialogar com a música de vanguarda, pois enquanto as instituições educacionais se caracterizam pelo mecanicismo, pelo controle social e pela rotina viciada das pedagogias tradicionais fedidas a mofo, a música de vanguarda traz como características o espírito curioso e aventureiro. Eu não consigo encontrar compatibilidades na forma como a educação se organiza com a natureza da vanguarda. A educação se acomoda, a música de vanguarda se solta pelo mundo como ciscos nos braços do vento.
Acredito que a música de vanguarda também parece impossibilitada em dialogar com a educação, pois apesar de ter um espírito liberto, no momento em que os artistas e o público se deparam com a questão do poder, a vanguarda passa a ser algo que serve muito mais para a manutenção do poder e do prestígio estético de uma intelectualidade, do que para uma proposta capaz de fazer os indivíduos recriarem de forma crítica novas concepções acerca da realidade e de si mesmos.
vina,
ResponderExcluirvc me fez pensar quanto a questão de que muitas vezes a vanguarda está atraleada ao academiscismo. Concordo com vc. Qndo me vem à cabeça a palavra vanguarda, logo me aparece a uma coleção de conceitos academicista. Creio que seja por ela ter nascido neste ambiente que não quer dizer q se limite a ele. A vanguarda nos trouxe um estranhamento de ideias para que possamos pensar sobre ela, e de fato, muitas vezes só alcançamos, digo na quanto a intençao do autor, atraves de uma mediação teórica.
Além disso, eu pensei sobre as musicas consideradas de baixo calão que reflete diretamente a nossa forma de convivio social. Existe um exemplo melhor da conquista da vanguarda. Por ser de baixo calão, talvez seja criticadas, por não fazer o publico pensar, mas reagir de modo massificado, porem emancipado. Emancipado, no sentido d q solta de vez as amarras sociais, a hipocrisia burguesa do bom gosto.A partir dai, puxa outra questão, há interesse e muitos lucros envolvidos nessa emancipação por parte dessa cultura, seria ela massiva ou popular?
Enfim, vejo que o mal gosto penetra ferozmente o nosso dia- a - dia e a ele revela muito.
bjo
Vina.
ResponderExcluirum diálogo entre vanguarda e educaçao pode ser uma tarefa ardua, ainda mais, pensando e experenciando o sistema educacional que nos forma e deseja ensinar a informamo-nos, porém o diálogo nao é e nao deve ser impossivel, assim de forma categórica. como algo que nasce da educaçao nao é passível de diálogo com a própria educaçao. Uma vanguarda é um estudo sério, é uma disciplina quer quer indisciplinar. Vina nao tiro o merito da sua constataçao de que nao é interessante ao capital criar espiritos livres, que prefiram ficar escutando a trilha sonora do filme narradores de javé assinda, por dj dolores e instituto a bater cartao na multinacional mais proxima, a qual vai os carros de rua, pois nao há ruas para todos carros, a educaçao serve para corromper a corrupçao, oferecer, formar o suporte que possibilite que se veja com outros olhos o próprio sistema educacional até distinguir qual os interesses que movimentavam a vanguarda tropicalista e a vanguarda bossa nova. se vc insistir na impossibilidade da educaçao oriunda do sistema com a educaçao de vanguarda, a qual exige maior dedicaçao, disciplina e cria algo menos superficial, algo que leva em consideraçao diversas vozes, ainda que na maior parte das vezes seja o de superar a vanguarda anterior, concerteza forma um nixo mas um nixo rico que mais do que nunca se atrelado aos recursos oferecidos na era da informaçao seja mais democratico. o que nao adianta é constatar sua fraqueza e ate incapacidade em relaçao ao sistema e ao setor economico e dizer que nao é possivel o dialogo. o diálogo é possivel e a vanguarda prova isso porque sem educaçao nao haveria vanguarda, as coisas se repetiriam eternamente no mais profundo esquecimento e ignorancia. porem se tem os registros, temos charlie parker que deve tanto ter tirado o sono de Adorno, o mercado engloba, engloba só que na situaçao que estamos hoje ele nao vai conseguir englobar tudo e sua ansia de englobar vai aniquilá-lo como a segunda guerra aniquilou o objetivismo cientifico, há resquicios dele há, mas concerteza vai haver menos se a inglaterra nao negar holocausto por causa da alta populaçao mulçumana que faz seu pais movimentar-se, oferecendo emprego ilegal. em última instância, é de educaçao que falo, se for analisar a fase azul de picasso, tem que se pensar em impressionismo, expressionismo, cubismo, pra se ter um blog preciso saber ler escrever, sacar de informática, inglês, e a musica então; o samba é de quintal o samba é da tv é da comunidade ou é de angola desdobrado na bahia. Vanguarda é o conhecimento antigo vestido de novo, só que a roupa é feita de um metal que repele os desvelados interesses que funcionavam em nome da corrupçao ditatorial do mercado, do sistema da tradiçao DE sergipe.
abraço
rafael
A educação dialoga com muitas possibilidades nas artes. O que é interessante no texto de Vina é que ele mais uma vez entorta a vangaurda. Por muito tempo os vanguardeiros, assim como os militantes, tinham o credito de estarem lutando por uma sociedade mais justa, contudo, vemos um compromisso com o poder. Isso nos leva a velha discursão da antiga paidéia. Afinal, a que se propõe a educação? Será um conheça a te mesmo? ou um conheça o mundo fora de vc? ou os dois? Ou nada disso? A revolução utópica freireana cai por terra mais uma vez diante da pena de vina torto. Ora se o movimento acadêmico e sua arte não consegue educar consciências quando mais um professor do interior ouvido por um punhado de alunos que mal sabe de seu próprio locus. Seguindo os passos de freire, para cada geração esclarecida, haveria outra totalmente em trevas pq a escola não atende a demanda. O que, ao meu ver, tem muito contribuído com a educação do povão é o brega, mas isso não quer dizer que este como a vanguarda não está também em sintonia com o macro discurso. O brega discute temas em linguagem acessível à maioria da população. Não é a toa que sua estética, segundo Vina torto, foi censurada antes de tornar-se instrumento do poder. Poderíamos criar a pedagogia brega, a escola que discute o povo e para povo na língua do povo "O povês". Assim como a vanguarda, a escola não dialoga com o povo e espera a ordem inversa. Mas, sabemos todos nós que educação é artificial ao humano. Não fomos gerados para educação. É fato que aprender é tendência inata de nossa espécie, mas, educação enquanto um processo formal é artificial e castrante. Salve o cabeludo!
ResponderExcluirÉ bom deixar claro aqui que tanto a minha pessoa quanto a de Vina torto reconhece o mérito do trabalho de Friere, contudo o torto gosta de ver o rasgão da cuéca.
Quebrar o ordinário se torna importante, pois vivemos num mundo editado e limitado no que diz respeito ao conhecimento, embora se promulgue o holismo e visões estruturais para o conhecimento, multidisplinares e interdisciplinares, o mercado nos encaminha para a especialização. Precisamos conhecer o particular, do particular, do particular. Assim seremos bons profissionais. Nesse percurso somos impelidos pelos familiares, pelos amigos, pelo mercado ter objetivos, ou seja, seguir as tendências que nos são concedidas. Nesse jogo a possibilidade de critica ou de uma escolha individual fica limitada.
ResponderExcluirCreio que a proposta de aproximação entre a música de vanguarda e educação se torna interessante já que provoca o contato entre discursos, visões de mundo e estéticas diferenciadas que podem provocar discussões instigadoras. Já que por esse caminho podem ser traçadas discussões sobre economia, história, estética e cultura.
O contato com o diferente causa o estranhamento, fenômeno necessário para estimular posições diversas que podem passar pela critica e pela resistência em reconhecer como um discurso legitimo.