quinta-feira, 31 de março de 2011

O INTERACIONISTA

Era tarde de sábado quando o professor Tomaz estava em Propriá. Era mais uma noite de palestras sobre educação. Tomaz falaria sobre a educação inclusiva. Não apenas sobre a ideologia inclusão. Aquela que nos causa a impressão que em verdade as pessoas portadoras de atenção especial estão realmente sendo incluídas que as leis realmente atendem as necessidades deles. Mas também aquela que contempla as necessidades humanas de maneira integral, ou pelo menos, que mais se aproxima. A educação que tem sido estudada há séculos. Afinal como seria de fato educar alguém. Esse questionamento seria colocado na palestra que ocorreria à noite. O professor Tomaz falaria sobre a escola tempo integral, onde os alunos passariam o dia, e aquela que valorizaria a qualidade da aprendizagem e a remuneração do docente. A noite chegava à antiga cidade de Propriá, este lugar já fora chamado de Urubu, era seu nome na época da expulsão dos holandeses de Sergipe. Tomaz admirava a paisagem e olhava o crepúsculo do céu de Propriá. Era muito bonito ver a noite surgir da claridade fraca da tardinha. Já apareciam pequenos pontos luminosos no céu quando Galdino desperta Tomaz fazendo-lhe uma pergunta:

- O professor deseja usar o microfone no apoio ou o segura na mão?
- Prefiro segurá-lo, pois posso me mover enquanto falo. Isso me alivia o stress.
- Entendo. Respondeu Galdino.
- Pois bem, vou providenciar. O professor não deseja comer ou beber algo? Continuou Galdino.
- Sim. Onde podemos ir? Disse Tomaz com tom de falo sério.
- Vamos ao centro. Disse Galdino.

Galdino pegou o carro e o levou para a churrascaria “Boi do Sertão”. Era um lugar agradável e cheio de gente. Havia mesas por todos os cantos e muita gente conversando. Galdino deixou o professor e foi para sua casa. “Não se preocupe”. Disse o mestre em educação. Tomaz ficou só na churrascaria, pediu um rodízio e aguardou o garçom trazê-lo. No canto da sala, defronte sua mesa havia uma jovem sozinha. Ela também aguardava o garçom. A moça furtivamente olhava para Tomaz. Ela queria chamar-lhe a atenção, mas temia uma reação negativa. Quando chegou a comida Tomaz acidentalmente derrama o copo de refrigerante na mesa. Isso chamou a atenção da moça e os dois se encontraram na visão de seus olhos. Tomaz riu e ela riu de volta. O professor, então, interessou-se pela moça e aproximou-se de sua mesa dizendo: “Posso jantar com você?”

- Por que não? Meu nome é Marcelle. E o seu?
- Meu nome é Tomaz. Disse o homem.

Tomaz e Marcelle conversaram durante o jantar. Falaram de tudo. Sorriram juntos. Parecia que os dois eram velhos amigos. Os olhos deles se cruzaram muitas vezes nos altos e baixos da conversa. Marcelle pareceu ter gostado muito de Tomaz, e ele sentia isso no brilho cintilante de seus olhos e na insistência dela com o seu cabelo. Tomaz agia como que estive voltado aos tempos em que conheceu Tânia, sua mulher.
- Por que você veio jantar sozinha? Perguntou Tomaz.
- Ah, eu estava me sentindo muito só em casa. Meu pai e minha mãe estão no Rio.
- Por que você não casou logo? O costume daqui é a moça casar cedo. Perguntou novamente o professor Tomaz.

Tomaz estava vivendo seu inferno astral. Seu casamento estava acabando. Sua mulher estava de caso com uma jovem do colegial. As duas andavam juntas o tempo inteiro. Tomaz, a princípio, não ligou, pensou ser apenas amizade. Mas o tempo não perdoa e os fatos foram surgindo aos poucos. Tânia e Bela era amantes. Um homem quando passa pela separação seu mundo se desconfigura, sua mente não fica legal. O consagrado professor universitário agora estava diante de uma linda moça. O coração do homem esqueceu-se de seus compromissos e deixou o tempo diluir-se na conversa tão agradável com aquela jovem.

- Professor!
- Sim?
- A palestra!
- Ah, sim, nem vi o tempo. “Marcelle foi um prazer”. Tomaz despediu-se da moça convidando-a para assistir a palestra, mas, ela recusou-lhe o convite com muita delicadeza.

Tomaz abordou a necessidade de uma relação dialógica entre professor e educando. Do mesmo modo, a escola e a família. A interação dos agentes envolvidos no processo, segundo ele, seria fundamental para a geração de uma escola mais próxima de nossa realidade social, e que pudesse atender as nossas necessidades. Uma mulher de cabelo curto, rosto miúdo como rosto de índio cearense levanta sua mão direita e pergunta:

- Como podemos aplicar a teoria interacionista em uma realidade com forte marca positivista e nova escolacionista? E ainda considerando as disparidades intelectuais entre as partes envolvidas? O auditório riu diante da longa pergunta feita. O barulho do riso foi depois seguido de um silêncio espontâneo para ouvir a resposta do estimado professor Tomaz.
- Meus caros, a pergunta é pertinente. Precisamos considerar as diferenças entre as partes. É fato que estudamos as teorias, mas, não conseguimos libertar nossas mentes do senso comum de que nossas tradições pedagógicas são válidas. O passado nos aponta uma história muito triste para nossa Educação. O Brasil tem um débito histórico na Educação. Isso nos deixou um legado muito vergonhoso. Gerações inteiras foram desperdiçadas em virtude dessas políticas que não contemplavam o ensino público como uma prioridade nacional. Ademais, o nosso processo histórico causou situações que possibilitaram a transferência de teorias de outros setores da sociedade para a sala de aula, transformando nossas escolas em pequenos quartéis. Eu me refiro à influência da educação militar durante a ditadura. Na educação militar ainda existe professor, e naquela época, muito pior. O sistema de hierarquia divide o espaço entre subordinados e oficiais. A realidade é regulada pelo conceito de méritos, e metas, de recompensas e castigos. Até hoje vivemos isso em sala de aula e não nos apercebemos que os professores ainda são o centro do processo. E a ditadura continua mesmo velada por um véu de liberdade. Bem, acredito que a interação se torna mais necessária em face dessa realidade colocada pela ilustre colega. É devido a nossa realidade que precisamos mudá-la. Se não dermos o pontapé inicial nunca o processo de mudança iniciará. Em respeito à disparidade intelectual, em todo lugar é sabido que as pessoas estão, em tese, em posição inferior em relação à docência, contudo, isso não significa que elas não sejam passíveis de um diálogo conosco. Até mesmo por que um agente do saber deve ter seus meios de se fazer entendido pela sociedade a quem ele presta serviço. O importante é que precisamos interagir com o universo do educando, dialogar com seus mitos, e passo a passo ajudá-lo a desvelar as contradições. Somente assim, como diria Freire, poderíamos estabelecer um diálogo cordial com o nosso próximo. E esse diálogo também deve acontecer entre todos os agentes sociais num âmbito maior da sociedade. O tempo da palestra acabou. Alguns professores saíram satisfeitos. Outros xingaram o pobre Tomaz, e ainda outros se referiram a sua amada mãe com palavras indevidas. Quem manda na cabeça das pessoas, não é?

O motorista da prefeitura levou Tomaz para a pensão. Esta se situava próximo a Igreja Matriz. Tomaz desceu do carro e dirigiu-se a portaria da pensão. Deu boa noite aos presentes e foi para seu quarto no segundo andar. Era um quarto pequeno com uma cama de solteiro, um frigobar e uma televisão com parabólica. As paredes do quarto eram pintadas de tinta verde claro como maçã verde e não havia quadros pendurados. Apenas formas geométricas feitas na parede enfeitavam o lugar. A cama era bem reforçada e com um colchão de primeira. O banheiro tinha chuveiro elétrico e vaso sanitário com ducha sanitária. Tudo do bom, porém, simples. Tomaz sentou-se na cama, pôs sua pasta sobre o criado mudo ao seu lado e coçou a nuca abrindo a boca. Ele estava cansado. No entanto, a figura leve e bela de Marcelle passa perante seus olhos como uma alucinação no deserto. Tomaz vai até o frigobar e tira uma garrafinha de água mineral sem gás. Bebe todo o seu conteúdo relembrando a conversa que tivera com Marcelle a menina de seus sonhos agora. E foi nesse espírito que o acadêmico adormeceu naquela noite de sábado do mês de julho de 2007.

- Menino! Desça da goiabeira!
- Não mãe, só um pouquinho!
- Tomaz! Vou chamar seu pai, viu?
- Não mãe, eu desço!
- Vá fazer alguma coisa! Não tem nada para estudar não?
- As contas de oito.
- Então, vá fazer as contas!

Em seu sonho Tomaz, obedece a sua mãe e vai estudar na cozinha. O rapaz sempre foi um bom menino, sempre cumpriu suas obrigações e nunca fora danado como os outros da sua idade. Ele só saiu de casa quando se casou com Tânia, sua atual esposa. Tânia era uma mulher linda. Poucas mulheres se comparavam a ela. Ela encarnava o que a mulher sergipana tem de mais bonito. Um rosto francês com olhos claros e um corpo de cabocla em forma de um violão. Ele era simplesmente louco por aquela mulher. Quando ele soube de seus envolvimentos com outras mulheres muito se decepcionou e estava passando uma bela crise existencial.

- Tomaz! Gritava sua mãe.
- Sim, mãe. Estou na televisão.
- Tomaz! Vá pegar meu remédio!
- Sim, mãe, eu já vou!

Uma vez na cozinha com a luz em penumbra, pois, depois das oito horas não se podia ascender às luzes naquela casa, Tomaz caminhava apavorado até a geladeira. Somente uma luz estava acessa em toda a casa, era a luz do oitão do lado direito que dava para o muro de seu Setubal. Tomaz pegava o remédio e o levava para sua mãe dormir enquanto seu pai roncava do outro lado da cama. Ele tinha quatorze anos nessa época.

- Mãe, amanhã, a senhora me deixa ir brincar no rio Puxim?
- Quem vai com você?
- Vai todo mundo do Ateneu. Todos os meus colegas.
- Tá bom! Vá! Mas, volte cedo, antes de uma da tarde!

Eram quatro horas quando Tomaz ouviu o som insuportável de seu celular. O homem levantou-se e foi direto para o banheiro. Ele estava lavando o rosto quando Galdino buzina o carro estacionado defronte a pousada. Tomaz pegou suas coisas e decidiu tomar café em Aracaju.

- Bom dia rapaz!
- Tá disposto professor?
- Ah, sim. Estou pronto para a luta.
- Não vai tomar café?
- Não, tenho muitas coisas para fazer em Aracaju. Eu tomo café lá. Vamos?

Os dois saíram de Propriá às quatro e vinte. Desceram até a rodovia e seguiram em marcha rápida até a cidade Princesa do Nordeste. É costume no mês de julho ter neblina na estrada, e isso dificultava muito a visão de Galdino, por esta causa, o rapaz conversou muito pouco com Tomaz no percurso até as cercanias de Siriri.

- Galdino! Tem família?
- Rapaz! Não tenho não. Tenho uma nega muito bonita. Estou ficando como dizem. Mal fechou a boca e meteu a mão direita no bolso de sua camisa e retirou dele uma foto colorida recém tirada. Nela estava uma moça linda vestida em um biquíni daqueles de arrepiar os cabelos. A moça era uma escultura, uma verdadeira obra do criador.
- Rapaz! Que avião, hein? Disse Tomaz com um tom de surpresa.
- Eh, a vida tem sido generosa comigo. Enquanto os dois se distraem com a conversa um carro estacionado na via os aguarda atenciosamente. Encostados nele estão duas pessoas. Uma mulher branca de seus vinte e cinco anos, e um rapaz negro de dezessete anos. A luz do celta da Prefeitura de Propriá incide sobre o carro estacionado e Tomaz de imediato vê Marcelle.

- Marcelle? O que houve? Perguntou Tomaz para Galdino que observa tudo em silêncio.
- Pare o carro Galdino! Vamos dar socorro à moça. Deve ser um pneu furado. Galdino estacionou o carro logo a frente do carro de Marcelle ou o carro do homem negro; não se sabe muito bem. Marcelle aproxima-se do carro pelo lado do passageiro e na janela do lado de Tomaz anuncia o assalto.

- Desçam do carro agora!
- Mas...
- Calado!
O rapaz negro põe sua arma na cabeça de Galdino e os quatro caminham na direção do matagal. Havia uma ladeira escondida pela vegetação. Os quatro vão parar numa moita grande. Por aqui as pessoas chamam de “loca do mato”. Ali não seriam vistos por ninguém, principalmente àquela hora, ainda não eram cinco horas. Os dois carros ficaram parados na pista.

- Tire tudo deles. Dinheiro, documentos, celular, anéis, o que tiver valor! O rapaz obedeceu prontamente à engenheira do plano. Tomaz ouvia tudo sem acreditar no que estava vendo. Marcelle o estava assaltando. Mas pensou ele: “É só um assalto, depois ela nos libera”. A ação toda durou uns três minutos. O rapaz mal encarado de feições esquisitas parecendo um Mané, como dizem por aqui, pergunta a Marcelle:

- E a desova será a onde?
- Como?
- A desova!
- Que desova?
- Você acha que eu vou deixar estes caras vivos? Eles me viram garota! Sou menor, mas não sou burro. Não quero mais voltar para o presídio de menores. Vamos! Diga logo! Está clareando!
- Não precisa matar os caras não, meu irmão. O que eu devia a você está pago, valeu?
- Num tem essa não mana. A lei é a lei, viu bandido tem que morrer! O rapaz tirou um pequeno objeto de seu bolso contendo um pó branco e o dá para Marcelle que depressa o cheira como muito entusiasmo e passa a mão no nariz.
- Acho que aqui está bom, você não acha?
- Lugar melhor do que esse num tem!

A polícia encontrou os corpos três dias depois em avançado estado de putrefação. A notícia da morte de Tomaz abalou a academia e toda a cidade de Aracaju. Durante meses procuraram pelo carro que Galdino dirigia e não lograram sucesso. Não se sabe até hoje quem e por que mataram o interacionista.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Pensando a Sanção Penal com Foucault

Foucault abre o capítulo intitulado “O corpo dos condenados”, de sua obra “Vigiar e Punir” com a narração da execução pública e aterradora de um condenado por parricídio, em 1757, chamado Damiens.Segundo a narrativa, o seu corpo seria atenazado, queimado, puxado e desmembrado e ainda, em seguida,reduzido a cinzas e jogado ao vento.

O filósofo francês segue apresentando excerto de um regulamento redigido por Léon Faucher para a “Casa dos jovens detentos em Paris”, datando de três décadas posteriores ao fato supracitado. O teor deste regulamento é bem mais brando, e inclui, pelo contrário, o trabalho disciplinar e duas horas diárias de educação escolar.

Embora não sancionasse o mesmo crime, o regulamento acima descrito pode ser tido como um anúncio das transformações no âmbito penal do final do século XVIII e de todo o século XIX, que Foucault caracterizará como uma distribuição da”economia do castigo”, na Europa e nos Estados Unidos. Embora afirme se tratar de uma discrição ou certa sutileza na “arte de fazer sofrer”, fazendo desta um prática velada, o filósofo ressalta a extinção do suplício e da espetacularização dos castigos físicos. Isto, aliado a transformações como o caráter agora corretivo da pena, códigos públicos etc., fez o corpo deixar de ser alvo principal da repressão penal. O autor observa ainda que tal espetacularização paradoxalmente invertia o modo pelo qual os agentes envolvidos na execução eram socialmente vistos. Pois os que representavam o poder do Estado, juízes carrascos etc. passavam a ser os vilões, enquanto, muitas vezes, os condenados passavam a ser vistos com certa comiseração. As execuções e humilhações públicas foram se tornando de forma gradativa socialmente condenáveis.

Foucault observa, então, que o temor de infrigir a lei passa a emanar da possibilidade abstrata de punição, a espetacularização presencial e diária passa a ser vista com tanto repúdio que a Justiça já não a tem como ostentação de seu poder e sim como algo a que ela deve evitar ou relegar a outros setores , sob pena de reprovação social. A Justiça passa então a querer a imagem pública de entidade que não procura punir; e sim corrigir.

Deste modo, a pena capital, por exemplo, em que idealmente não há humilhação nem disposição arbitrária do corpo do criminoso passa a ser disseminada, se passa até a pensar no aperfeiçoamento técnico para a aplicação de tal, pena, como a guilhotina, por exemplo. Todos estariam submetido a esta pena, até então exclusiva aos nobres, independentemente de classe social. Entretanto, segundo Foucault, embora a espetacularização do suplício tenha, de fato, sido extinta -  o que não se deu num só momento em todos os países -, a prática da tortura, ainda que  de forma velada, e a morte penal são fatos que invadem dias atuais.
O filósofo francês  prossegue observando o deslocamento que houve da punição corporal à puniça da “alma”. O sistema penal, embasado até mesmo em suporte científico, preocupa-se hoje em dia, entre outras coisas, com a qualificação não só do crime, mas como da patologia mental dos indivíduos , levanta todas as suas procedências nos tribunais e tenta lhes prescrever o que, segundo Foucault, “eles serão, ou possam ser”. Desta forma não há só um julgamento da eventual infração, mas também da “alma” dos infratores. Diferente da Idade Média, quando da instituição do inquérito, em que se apuravam fatores objetivos e generalizáveis, o juízo penal hoje em dia avança na busca de revirar a causalidade específica a cada indivíduo. A isto, Foucault irá adicionar que a própria apreciação judicial acerca da loucura, no exemplo específico do código penal francês de 1810, foi primitivamente fator de exclusão de culpa e, posteriormente, imputador de uma pena no sentido de que esta fosse “corrigida”, “tratada”, “normalizada”.

O deslocamento do objeto da punição traz outros agentes à realidade penal, como a figura do psicólogo,do  educador etc. que ajudam a diluir o poder de julgamento até então tão concentrado nas mãos do juiz, embora nenhum daqueles tenha o poder direto de julgar, contribuem de forma técnica com a decisão acerca do teor e da tipologia da pena a ser prescrita. Foucault chega então à conclusão de que em certo momento “a operação penal se carrega de muitos elementos extrajurídicos.

Depois de expor seus objetivos e o método do seu livro, Foucault passa por Rusche e Kircheimer, pensadores que correlacionaram os sistemas produtivos e o caráter das penas ao longo da história. Relata também que o corpo foi tratado exaustivamente pelos historiadores do ponto de vista da unidadepuramente biológica da existência, mas chama a atenção para o contexto político em que este corpo está inserido, o que corrobora sua forma de análise. O filósofo francês chega então á conclusão de que o corpo ao longo da história não só recebe intervenções no sentido da produção, como deve haver uma submissão daquele, que não é dada apenas sob forma de violência ou ideologia, mas de outras formas tão ou menos sutis. Este “corpo político” dentro da microfísica do poder é o que interessa a Foucault.

Percebemos, e esta é a nossa opinião, que hoje em dia existe uma espetacularização em torno do crime encabeçado pela mídia. O que há agora é a qualificação do criminoso, o vasculhamento de toda a sua vida pregressa e um tratamento do crime que tenta apresentá-lo à sociedade em formato  de  novela. O caso dos Nardoni foi um dos mais famosos neste sentido. Houve uma novela em que se evidenciou um motivo para mobilizar o interesse de toda a população, o suposto assassinato da criança, os vilões, o pai e sua esposa, e o herói, o promotor. E houve também um final tal qual novela global, com direito a transmissão ao vivo e filmagem digna de Copa do Mundo. Mas apesar da condenação, percebeu-se, simbolicamente, por exemplo, quando a população esmurrou o carro que transportaria o casal à penitenciária, que ficou um gosto de impunidade por parte da sociedade, o desejo velado da aplicação de suplício ou Lei de Talião pode ser percebido. É como se a sociedade, de um modo geral, quisesse desfazer os arranjos que extinguiram , ao menos de forma explícita, a crueldade das penas.

É o velho jargão do senso comum “direitos humanos para humanos direitos” que infelizmente aparece soberano na opinião de massa, e muitas vezes, a população não tem ideia dos jogos de poderes que precedem as decisões criminais e a diluição da aplicação das penas como verdadeiros arranjos de manutenção política, como muito bem explicou Foucault.

terça-feira, 29 de março de 2011

Estratégia ou ambiguidade?

O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) reúne diferentes linhas de financiamento de terras para agricultores pobres, sem terra ou com pouca terra. No nosso entender, trata-se de uma política fundiária neoliberal, originada sob os auspícios das políticas de terras do Banco Mundial. O PNCF é a manifestação contemporânea do que alguns pesquisadores como Ramos Filho (2008a), Martins (2004) e Rosset (2004) chamam de Reforma Agrária de Mercado (RAM), programa que funciona como uma política compensatória de compra e venda de terras, parcialmente subsidiada pelo estado.

Supostamente, segundo os seus formuladores, consiste em uma política que vem como uma alternativa às dificuldades e ineficiências ao modelo tradicional de reforma agrária (PEREIRA, 2004), que consiste na desapropriação de terras improdutivas para fins de reforma agrária. Para os causídicos da RAM a reforma agrária distributivo-desapropriacionista pressupõem conflitualidade, envolvida no processo de denúncia da existência de terras improdutivas, bem como a lentidão do processo de desapropriação de terras ociosas. Assim, através de um instrumento de compra e venda de terras, pretende-se baixar os custos de distribuição das terras, atenuando a pobreza e a exclusão social.

Sabemos que o território é palco de intencionalidades e que a RAM provém da leitura oriunda do capitalismo agrário que enxerga como único referencial de desenvolvimento da agricultura a sua total inserção no mercado capitalista, um referencial desse paradigma é Ricardo Abramovay que trás essa leitura na obra Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. Para mim esta inserção apontada por Abramovay promove muito mais a sujeição e recriação do camponês pelo capital, do que a criação da sua autonomia. Este contexto está inserido no processo de territorialização do capitalismo no campo cuja RAM faz parte.

Para Raffestin (1993) o território seria o conjunto das estruturas de: tessituras, nós e redes. A tessitura de um território seria o limite deste, a área ao qual se insere o conjunto de nós e redes, em suma, a sua delimitação ou o seu conjunto de fronteiras. Essa tessitura pode ser estável ou não, isso dependerá da constituição desta. Geralmente as tessituras de ordem política são mais estáveis do que a de ordem econômica, uma vez, que esta última, muitas vezes não possui uma territorialidade precisa. Em um conjunto de ligações de no mínimo três pontos se constitui uma rede, que seria aquilo que asseguraria a comunicação, mediante uma intenção estabelecida.

A estrutura tessituras-nós-redes é exteriorizada por um grupo. É a encenação de uma estrutura interiorizada (...). Mas o simples fato de que esse conjunto se manifesta para qualquer grupo indica que, apesar das formas que possa tomar, é assinalável na passagem da interioridade à exterioridade (RAFFESTIN, 1993, p. 151).

É dentro desta ótica que refletimos a RAM como uma rede complexa, onde vários pontos criam nós institucionais e multi-escalares (global, nacional, regional, local), entre instituições financeiras supranacionais e governos nacionais, que por sua vez constroem nós entre os governos locais e os camponeses e, entre os camponeses e os proprietários de terras.

Como podemos ver no exemplo do empreendimento Associação de Cooperativa Agrícola Florestan Fernandes I e II situado no estado de Sergipe, onde se deu um arranjo territorial complexo onde foram envolvidos a Igreja Católica e o Estado por um lado e do outro o MST, que participaram de um processo de negociação com ocupantes de uma fazenda que reivindicavam por reforma agrária. A natureza da negociação era para viabilizar uma troca da fazenda ocupada por uma empreendimento de RAM.

Vejamos que aí residem dois territórios distintos, o primeiro que se articula em pro da RAM, ou seja, da troca, composto por nós que unem a Igreja e o Estado, este último como gestor da política, se articula com uma rede que tem desmembramentos institucionais na escala nacional e mundial através do Banco Mundial. E o outro que até então a nível local era contrário a RAM , composto pelo MST e seus aderentes locais, entre o MST nacional e movimentos sociais internacionais, e por fim entidades políticas diversas. A partir dessa relação percebemos brotar um território que pela sua composicionalidade é novo, o MST entra na rede que contempla a RAM que foi criada pela fusão de dois territórios distintos.

Temos percebido que os aderentes do MST possuem o comportamento de ao entrar no crédito, levar sua territorialidade, e assim encarar, a terra como algo impagável, um direito universal e portanto incoerente com a política pública que pressupõe o pagamento das parcelas que deve ter seu inicio no mínimo em 5 anos depois da entrada na terra . Portanto perguntamos aos caros colegas isso é uma estratégia ou ambigüidade?

segunda-feira, 28 de março de 2011

Divã

Indecisão
Assumir as escolhas

Joguete de pulsões
Principio de realidade

Dispersão
Foco

Dificuldade em lidar com a perda
Aprender com a castração

Medo de assumir decisões
Ter o meu próprio falo

Quotas de sofrimento
Quotas de satisfação

Gozar na dor
Gozar a vida

Não querer perder o colo
Erotizar projetos

Ser amado por todos
Esquecer a Mãe Ideal

Minha diva morreu.
Levantei cansado, confuso e feliz do divã.

as ruas de lugar nenhum

transitar livremente sem se tocar ou olhar, observar e nao conseguir enxergar, pensar e nem se quer absorver.

andar e se ocultar.

E depois de um instante, sentar no monumento antigo e observar os carros passarem continuamente.

domingo, 27 de março de 2011

O que é o torto? (Por Samuel Souza)

Para conseguir demonstrar o sentimento pessoal a respeito da concepção, apresentaremos o emaranhado de distribuição acoplado ao fato de que a existência pode ser analisada de forma a possibilitar as várias vertentes. Seguir essa linha na verdade é desequilibrar entendendo que o equilíbrio nada mais é um percurso assimétrico que se liga a uma rede de simetria.

Explorar a previsão da imprevisão independente de nossas vontades, apesar dos erros e acertos que nos sedimentam e contribuem para a configuração da imaginação. Despertamos o alcance, ou seja, o pó acumulado pela sequência dos tempos. Variamos o invariável e permitimos não só a relativação, mas procuramos desprender a fixação do viajante. A administração da conserva em reserva partindo para o descompasso estruturado.

Através do tratamento determinístico consolidam e subjugam a imaginação, afinal idéias cabem na mente e diluem no bolso. O resultado da estatística deduz a insolução da resposta que liga e mistifica com intensidade ou sutileza a questão. É preciso percorrer ou permear o processo teórico existencial dado o perigo da indução? O meio do embasamento prevê as respostas e convicções que correm sobre a massa nua.

Acreditamos na semelhança e não entendemos a singularidade, estamos presentes e apresentamos sentido à realidade. Afirmamos que isso não é loucura e sim expectativa na esperança, pois a confiança está traduzida nas tamponações dos vazios. A profundidade do olhar é ligada a relação de beleza com a natureza, mas palavras libertam, dirige e extravasa caminhos. Beleza? Onde buscamos e projetamos nossos carinhos? Parece que o verde na penumbra da angústia reluz aproximando nossos resquícios. Começar! É bom dar a partida, entretanto finalizar é desconstruir uma nova história sem sinais de emoção.

sexta-feira, 25 de março de 2011

AS CORTINAS SE FECHARAM

As cortinas se fecharam.

As luzes se apagaram daquele lado.

Aqui, desse lado, os olhos permanecem acesos.

Os conteúdos foram devolvidos aos seus respectivos recipientes.

Nada está fora do lugar.

O silêncio controlado tenta irritar meu equilíbrio. Nenhum sucesso.

Permaneço estático. Aguardo ele chegar. E ele não chega.

Por um momento desejo cortinas abertas. Mas, não.

Eu posso perdê-lo deixando esse momento desguarnecido.

Não resisto. Experimento um pouco a brisa noturna.

Observo que algumas luzes adentram a madrugada em minha companhia.

quinta-feira, 24 de março de 2011

A importância da musica brega nas aulas de redação

As aulas de redação muitas vezes são atos mecânicos que seguem regras ou técnicas de produção textual deixando para trás uma quantidade enorme de outros sentidos que a produção textual pode apresentar. O aluno é iniciado no ato de escrever por meio de um termo sem sentido para seu mundo. Ou, embora, tendo algum sentido não oferece ligação psíquica e histórica cultural com ele. Uma palavra não pode ser vazia de sentido. Por esta causa é muito aconselhável que as pessoas aprendam a escrever textos usando termos comuns ao seu cotidiano para depois dar um salto lingüístico bem maior. Reconhecer o valor pedagógico dos textos bregas nas aulas de redação não é apenas um olhar crítico, mas, uma ação inteligente por parte do educador.

A teoria de Paulo Freire entende que os homens diferentes dos animais se relacionam com a realidade de forma consciente. O nível de consciência é variável, mas, ter consciência de seu mundo, na visão de Freire, é possível. A educação é uma forma de despertar consciências. A pedagogia de Freire é uma pedagogia libertadora de mentes, pois, ele entende que isso é possível por meio da educação.

Reconhecer as situações limites que envolvem os homens é um passo muito importante para o educador em todos os níveis do processo. Sem esse conhecimento é difícil trabalhar a educação em sala de aula. Para Freire, professor e aluno constroem seu universo de conteúdos. A situação limite diz para as pessoas de seu mundo, de sua realidade. Existem situações no mundo dos homens que é preciso uma repensada. Todos os homens têm situações limites. O fato de não vê-las, no pensar de Freire, é uma situação limite. Ver as situações limites dos alunos inseridos em um lócus geográfico determinado é poder dialogar com o aluno e a comunidade no mesmo idioma.

A situação limite uma vez posta pelos envolvidos no processo de aprender e apreender o real se torna objeto de questionamentos e diálogos. A situação limite então não deve ser sugerida pelo educador, sua descoberta é criação do grupo. O dialogo provocado pela situação limite em apreço pelas pessoas, provoca a discussão de outros temas relacionados a ela. Os temas geradores são geradores de temas que servirão de objetos de discussão e diálogos. O importante aqui é que, esses temas nos remetem a realidade dos educandos e dos seus parentes, ou seja, de sua comunidade.

A musica brega é importante ferramenta nas aulas de redação por causa de sua textualidade um tanto popular. Além do mais, o estilo brega reflete a realidade de muitos de nossos educando, portanto, tem tudo a ver com seus mundos e situações limites. A pedagogia que usa o brega na produção textual faz uso de material muito rico que expressa formas lingüísticas simples e complexas oferecendo ao educador um léxico muito rico para apresentar aos seus alunos. Se considerarmos que o aprender a escrever é um ato artificial e que a escrita é uma reprodução reduzida da fala, então, podemos ver no texto brega um bom começo para o que Freire chama de letramento. Este processo gradual e acumulativo parte de unidades mais simples para unidades mais complexas. O mesmo princípio se aplica a construção de sintagmas; partindo do simples para o mais complexo o aluno vai aprendendo a tecer o texto e plasmar seu pensamento. Ademais, a produção textual brega instiga o aluno ao diálogo, por que o educando já possui uma vivência psíquica com aqueles signos e códigos postos pela musicalidade brega.

Acho muito importante um estudo mais apurado sobre o papel do texto brega na produção textual de alunos do ensino médio. Apriore, posso dizer que estas são as razões que me fazem pensar da importância do texto brega na produção de texto. Em outros textos pretendo colocar mais lenha na fogueira da discussão.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ao Espelho

*Inspirado no conto "O Espelho", de Machado.



Lembre-me agora
Do que gritei em segredo
Não vi de dentro pra fora
Eu me esqueci no espelho

Eu não tinha razão
Mas monopolizei
A verdade que nunca encontrei

O pouco que sobra
Está em tudo que vejo
Nas mais  pervertidas formas
Na perversão do espelho


Melhor seria então,
Vestir-me das fardas
E eliminar da visão
Tais imagens depravadas?

Tudo que desejei ser
Me fez metade homem
E metade um não-sei-o-quê
Nestas formas sem nome

terça-feira, 22 de março de 2011

o proximo dia

acabei de assistir "Os Simpsons", o filme. Como muitos ja devem ter assistido, sabe que nao se trata de uma mera historinha. Vai mais alem, num humor acido os personagens vao se revelando no dia a dia , fatos alem de polemico, que claro, para ser OS SIMPSONS, tem que ser escrachado e parodico.
apesar do filme ter sido lancado ha alguns anos, os assuntos nele contidos reverberam todo ano, interpolando alguns meses, como se estabelecessem uma engrenagem absoluta do eterno retorno. Um deles e: o caso ambiental. Tratar do ambiente, para mim, era tolo. Fato para os engajados "greenpeacers" que nao tinha nada mais alem que apedrejar as modelos com os casacos felpudos e os latifundiarios, donos das imensas serra- eletricas. Afinal, nao tem jeito, estou na civilizacao, quero facilidade e progresso, nao importa qual a logica nela ordenada, e por isso queimarei muitas plantinhas de varios fundos de quintais e colaborarei com muitas industrias poluentes, para ter no minimo a minha pasta de dente em dia.
o motor da producao nao para, e os lixos crescem constantemente. O terrivel efeito colateral e a furia natureza. Como disse, todo ano, ela nos da resposta desaforada. nao sabemos em que ponto nos estamos e se existe uma linha progressiva de caos ambiental.
Venho acompanhando no jornal, o caso do Japao. Que incrivel, um pais lesado duas vezes, terrivelmente. Agora em 2011 e antes, quando terminou a segunda guerra, o cogumelo de Hiroshima e Nagasaki. Esse ultimo, sabemos que foi uma birra malcriada do Tio Sam a fim de mostrar quem manda no planeta. Desta vez, podemos dizer, como nossos primos gregos, que e a "furia dos deuses". O fim do mundo, mas por que, se o calandario Maia nos avisa que sera em 2012? Pelo menos teremos um ano para extravasar tudo que temos direito. Comendo, usando, abusando e sujando.
O que mais nos desaponta e a definitiva "morte do pai", a falta de referencia quanto ao imperialismo da furia. O dedo do deus americano foi decapitado , o que nos resta e a furia dilacerante vinda de todos os poros que vai desde dos tornados celestes ate ao infernal encontros tectonicos. O Japao e refem disso, a hulmide nacao foi transfomada numa sopa de mortos mexido pelo calderao de fenomenos naturais, tusinamis, terremotos... jurava que so eram encontrados nos filmes sensacionalistas do Spilberg. Mas tambem meus caris, vou te dizer, nao sei que diabos o homem inventa, e bomba nuclear, particulas de eletron e por ai vai. E cada um com sua mania, dando a grande justificativa do progresso da humanidade. A verdade e que existe uma super inflacao egoica das nacoes, vejamos mais uma vez, Estados Unidos, pos-guerra, Ira na atualidades e Brasil entre inumeros acordos diplomaticos, todos eles, ja sabemos para onde: para o bem de nao sei quem. O resultado, vejamos, mortos e mais mortos, dessa vez sem causa humana, mas uma acidente ou melhor um grito da natureza, cansada pela escravidao dos seus senhores. Como Nietzsche, e a revolta dos subalternos pela vontade de poder de ser senhor. Nao precisamos nem destacar, os japoneses, e muito em breve todos, se curvando depois de fazer o seu proprio pais num sitio robotizado.
O horror bate nas nossas telas e nos, pobre de nos, nao podemos fazer nada... a nao ser comer pipoca na sala e esperar o proximo epsodio, muitissimo diferente das aventuras atrapalhadas do Homer.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Em defesa dos ricos

Primeiramente gostaria de deixar claro aos leitores o que eu estou chamando de rico. Quando falo de rico, não estou me referindo aos que possuem um prestígio simbólico como a classe média. Estou colocando aqui o termo rico como forma de associar aqueles detentores dos prestígios econômicos da sociedade. Aqueles a quem nós chamamos de burgueses, de elite econômica, ou seja, indivíduos que possuem um acúmulo de capital material.

Sou professor explorado da rede estadual de ensino e colunista de um jornal. Portanto, quem acha que vou fazer uma veneração aos ricos está enganado, pois sou também vítima desses amáveis carniceiros. Porém, quero propor algumas reflexões acerca de alguns discursos que as vezes me soam simplistas, precipitados e generalizantes quando se trata de comentários sobre esses ricos.

Certa vez eu estava caminhando em pleno fim de tarde com três amigos. No meio da conversa, surgiu uma fofoca acerca de uma garota conhecida de dois desses amigos. De acordo com eles, a garota conheceu um cara rico, largou tudo que tinha e se mandou para ficar junto dele. No comentário havia uma dose de malicia querendo me mostrar o quanto à riqueza faz as pessoas se “apaixonarem” pelas outras, mas será que um rico não pode ser amado?

Não estou querendo partir para uma ingenuidade em achar que no mundo não haja pessoas interesseiras. Existem muitos casos de relacionamentos por conveniências econômicas. No entanto, nós esquecemos que os ricos além de ricos são também humanos e possuem características que fazem outras pessoas se identificarem com eles, assim como as pessoas geralmente se identificam com outras. Por que com os ricos teria que ser diferente?

Outro erro é querer associar a vida de um rico a uma vida tranqüila. As pessoas esquecem que muitas vezes a riqueza é fruto de muito trabalho e de muito cansaço. Ninguém para pra pensar no nível de ansiedade vivido por um empresário ao se manter fixado nas oscilações das bolsas de valores, das noites de insônia vividas por ele, no medo de seqüestros a sua família, etc. As pessoas se voltam ao simplismo associando a fartura com tranqüilidade.

É claro que existem os ricos por herança os quais já recebem de mão beijada todo um patrimônio, como também admito que o fato de ser rico implica em poder ter um conforto maior, mas isso não significa necessariamente tranqüilidade. Também existem ricos que fizeram fortunas por via da corrupção, porém, não enxergar que existem ricos que ascenderam através de muito suor e honestidade é um tanto injusto.

Outra associação equivocada se refere ao discurso de não aceitar que o rico fique triste. Novamente volto a lembrar que os ricos também são humanos. Por que aos ricos não se é dado o direito de chorar ou de ter saudades? As pessoas muitas vezes acham que com a facilidade de consumir, os ricos conseguem abstrair os seus problemas. O engraçado é que a aceitação desse discurso vem geralmente daqueles que dizem que o dinheiro não compra felicidade.

Não nego que uma vida em meio à riqueza não possibilite um maior acesso a bens de lazer para o indivíduo. Porém, acredito que todo o humano é dotado de desejos, e por isso mesmo se frustra e sente vazio. Sem forçar para um papinho medíocre, mas o acumulo material é apenas uma das formas de sentir felicidade. Quanto às outras felicidades... essas são tão enigmáticas quanto as buscas de qualquer humano, seja ele malabarista, presidente ou mendigo.

Quem diz que o rico ao se relacionar com alguém necessariamente está sendo passado para trás talvez se veja incapaz de construir afeto com algum rico sem pensar no prestígio material. Quem associa dinheiro apenas à tranqüilidade talvez tenda a enxergar o conforto apenas pelo dinheiro. Quem diz que ser rico não pode ser infeliz, é quem talvez possa dar valor ao dinheiro de forma diferente do que seu discurso insiste em querer externar.


VISITEM: www.pensandoaeducacao10.blogspot.com

sexta-feira, 18 de março de 2011

EXPURGO

O caminho reto, o olhar enviesado, o caminho certo, a escolha errada. Por onde começar? “...pensar é estar doente dos olhos...”. Escreve, escreve, escreve, apaga. De volta ao rascunho da idéia. Elaboração processual constantemente inacabada. O tempo escorre nesse silêncio perturbador da ebulição das idéias. Esse companheiro maldito que me acompanha nos momentos de dúvida. Questionador do pensar, crítico da minha existência e de tudo aquilo que está pronto para me convencer do contrário. Vencida essa batalha, só me resta, sem mais, nem menos, existir.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Castidade

Castidade

Triste e amargurada se foi a pobre e doce criatura.
Não sei qual o seu paradeiro.
Nem foi o primeiro, nem o derradeiro.
Esta é uma estória de herdeiros.
Herdeiros de nada.
A moça se cansou de casar.
Sua doçura derreteu-se como fel.
Escondeu-se sua candura,
Nasceu-lhe uma armadura.
O coração estava brocado.
Desesperado.
Onde está o namorado?
Virou marido.
Atrevido!
Sopa sem sal.

Ela quis sonhar de novo.
Pintou os olhos de lilás
Pos um vestido vermelho.
Bebeu uma taça de vinho tinto.
Atravessou a rua.

Era tardinha.
Charme ela tinha.
Parecia uma mocinha.
Mimosa...
Teimosa...
Cheirosa...
Amou-me até o nascer do dia.
E ele não soube; nem desconfiou.
Nadei em seu mar de rosas.
Senti seu hálito de mulher amorosa.
Tudo foi uma delícia.
E ela não sentiu remorsos.
Eu também...

Comunicado

Caros leitores e colegas,

Comunico a minha saída no site desde já, devido a minha ausência a um bom tempo e não vou poder mais postar com frequencia. Alguém poderia imaginar que tive algum atrito com alguém que viesse a provocar minha saída. Muito pelo contrário, tenho bastante apreço a todos do movimento; autores, leitores e todos que contribuem. Agradeço a todos por muito que aprendi, me sinto honrado em ter participado desse movimento com grandes cabeças e triste ao mesmo tempo por não mais poder participar como antes.

GRANDE ABRAÇO A TODOS!


quarta-feira, 16 de março de 2011

Acerca do Torto

Pus as certezas em ponto morto
E então ganhei mais pontos do que todos
Embora a perda venha o tempo todo
Vesti-me do alerta invisível
A que chamo Torto

Sei que a vida subtrai a todos
Mas mesmo esta certeza está em ponto morto
Meus julgamentos, reviso-os todos
Eis o tapete do imprevisível
A que chamo Torto

Revirar o lixo, conferir os tomos
Jogar fora o lixo e ignorar os tomos
Rasgar a página: Eis o meu torto.

terça-feira, 15 de março de 2011

Primeiro dia de aula

São milhares de pérolas
Pernas
Folhas ao vento
Que o cansaço do tempo
Me inibe de lapidar
Apenas colo meu retrato em cada rosto.

Agora estão todos aqui
Preenchendo as lacunas cimentadas
E eu a jogar areia nos olhos
Tentando seguir meu mundo ou rumo
Esperando que alguma isca me pegue
E assim eu talvez me apegue
A alguma vapor vermelho.

Tanta coisa a dizer
Mas queridos
Eu falo apenas para mim
Sou como um cão entre os homens
Tecendo costuras que só eu posso desatar
Momentos, imagens, telas
Persegui os lados do meu quadrado
Sem achar sua tangente coerente.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Coerência torta

Gostaria de dizer que este texto é um desabafo. Eu odeio o torto. É isso mesmo. Como vou gostar de algo que em sua própria definição faz questão de ser indefinível? Se me perguntam: o que é o torto, sendo muito sincero, não vou saber responder, pois o ser torto já significa não compartilhar com classificações. É devido a isso que muitas vezes me sinto desconfortável nesse movimento.

Outra coisa que me faz ter vontade de desistir dele é a idéia que ele faz acerca dos grupos. Como eu posso dizer que pertenço a algo sabendo que sequer existem grupos definidos nele? Um movimento tem que ter grupos precisos, pois é através dos grupos que nós criamos laços e definimos um caminho mais claro acerca das propostas de um movimento.

Essa coisa do torto dizer que não quer nada e ao mesmo tempo se apropriar do que nega, é coisa de gente que não quer assumir um posicionamento sobre o mundo, preferindo o jogo das indecisões. Essa ambivalência não passa de posturas infantilizadas que se negam a pagar o preço por suas decisões para ficarem acomodadas no Édipo mal resolvido do colinho da mamãe.

Novamente digo que este texto é um desabafo. Eu amo o torto. Como não vou gostar de algo que em sua indefinição aceita ser definível? Se me perguntam o que é o torto, eu digo que o torto não se define por não compartilhar de classificações precisas, mas aceita essas classificações por admitir que é com elas que ele pode ser caracterizado, e, portanto, definido.

O legal do torto é que ele não nega a existência dos grupos. O que acontece é que para ele, não precisamos necessariamente de grupos fechados para representar um movimento. Existe grupo no torto, mas seus autores vão sempre criando novos grupos, afinal, o movimento preza pelas individualidades que, pela natureza livre delas, alteram-se e formam sempre novos grupos.

De fato, eu vejo que o torto tem essa mania de afirmar o que nega e de negar o que afirma, mas quem disse que isso significa não ter posicionamentos sobre o mundo? Não levantar bandeiras não significa estar ausente de opiniões. Antes de pensá-lo como incapaz de assumir seu lugar, devemos lembrar que o torto, por não negar a sua condição de humano, aceita suas ambigüidades.

Sinto um grande amor pelo torto ao entender que ele quer mostrar que o fato de não se definir com exatidão, não significa dizer que ele não possua características que não possam defini-lo. Sinto ódio pelo torto justamente quando busco uma referência mais precisa para suprir a minha angustia pelo indecifrável e me deparo com seus argumentos imprevisíveis e fluidos.

Sinto uma repulsa pelo torto quando eu não consigo visualizar uma possibilidade de encontrar um perfil de grupo nele caracterizado pela permanente ligação entre seus membros. Porém, eu me mantenho no movimento, pois vejo nele a prática de exercitar nosso desejo, além do respeito à individualidade e, portanto, à flexibilidade e a pluralidade de seus grupos.

Irrito-me com o torto por eu achar que sua ambigüidade realmente possa ser reflexo de uma condição em não querer assumir uma postura mais decidida. Apaixono-me pelo torto, pois ele, ao aceitar a condição de se contradizer, termina por refletir uma posição madura acerca de si, além de evitar insistir em um falso moralismo se expondo aos outros como um ser infalível.

Valorizo o torto jogando os piores restos nele, assim como eu desvalorizo o torto admirando-o como um bem precioso. Nego o torto por querer o limite, aceito-o por querer a liberdade. No torto, sinto-me externamente dentro dele. Amo com vontade de odiá-lo e odeio com vontade amá-lo. Sinto uma enorme atração e uma repulsa por ele. Essa é a minha coerência torta.

sem mais, Drummond

se no meio o camiho existe uma pedra,
no inicio exstem quantas?

se h'a ma pedra no meio do caminho,
creio que no final nao haja muitas.

masse nao houver nenhuma no meio do caminho,
entao nao existira caminho.

apenas uma esteira, estirada no caminho.

sexta-feira, 11 de março de 2011

DEMOCRACIA PARA QUEM PRECISA DE DEMOCRACIA

Os últimos acontecimentos no mundo árabe suscitaram diversos comentários pela impressa. Esse é o assunto da moda, principalmente, depois que os levantes populares chegaram à Líbia. Parece que Muamar Khadafi tinha muitos inimigos, pois apareceu um monte de desafetos logo após os levantes populares. Além do mais, tem a velha tônica: é inimigo dos EUA é inimigo do mundo.

Algo curioso é a tentativa de prognósticos. O jornalista chama especialistas e professores de relações públicas, de Sociologia, de Ciência política e pede para que pensem numa resposta de como ficará a situação na região. Piadas à parte, o que os jornais também ventilam é a libertação do povo árabe da opressão de autocracias e domínio religioso. Os jovens de lá parecem que alcançaram a iluminação e agora estão seduzidos e imbuídos a desfrutar do que uma sociedade democrática liberal pode oferecer. Mesmo a democracia sendo um regime político que permite uma maior liberdade às individualidades, conseguirá ela diminuir a insatisfação dessas populações? As liberdades civil/política e econômica já demonstraram em vários países que a idéia de liberdade é um bom conto do livro da carochinha.

A democracia liberal carrega os princípios da liberdade, igualdade de oportunidades, ascensão social e direito a escolha. A cada protesto popular ou invasão a países do Oriente Médio, África e Ásia, os discursos promulgados, principalmente, pelos EUA são o de levar a liberdade aos povos que por motivos outros, em seus regimes, estão supostamente aprisionados. Mas quem disse que a democracia liberal pode garantir liberdade? Assim como outros regimes, a democracia possui as suas restrições à liberdade, caso contrário não existiriam manicômios, prisões e nem relógios. A democracia nos oferece outras prisões, a dos limites das relações direito/deveres, o da escolha e o da proteção. A diferença da passagem de uma autocracia para uma democracia, por exemplo, é apenas o modelo da gaiola.

Há um texto de Drummond intitulado “Passeio na Ilha”, em que a liberdade somente pode ser alcançada no campo da subjetividade, representada pela ilha. Inclusive nesse texto, existe uma passagem bastante interessante que diz: “Em geral, não se pedem companheiros, mas cúmplices ... E este é o risco da convivência ideológica. Por outro lado, há um certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer. A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir. Amemos a ilha.”


Mesmo os discursos ideológicos promulgados por regimes políticos visam uma unidade por vezes amorfa e com espaço apenas para a supressão das subjetividades. Isso é necessário, caso contrário a nossa sociedade seria bem diferente dessa que conhecemos. O fato é que procuramos a todo custo convencer os outros das nossas verdades particulares. Ou serão ideologias já introjetadas e reproduzidas?

Atualmente a democracia é o regime político dominante no mundo, como foi o absolutismo monárquico em tempos outros. Os discursos continuam a aprofundar a crença de que a democracia é o melhor regime que já existiu. Com o cultivo de valores universais, pensamentos contrários podem facilmente ser retaliados de forma diplomática, basta não manter mais relações comerciais. Afinal de contas, essa é a tônica democrática: se não está do meu lado, falo mal para o mundo inteiro e não compro nem vendo e ainda por cima convoco outros aliados para fazer o mesmo. Armas só ao esgotar das negociações. Diante do regime das liberdades, os guardiães da democracia definem qual o caminho que deve ser seguido. Só espero que ainda reste um pouco de liberdade de expressão para criticar a democracia quando ela se tornar um regime um pouco mais tirânico.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A Pedagogia Problematizadora de Paulo Freire e a Musica Brega

INTRODUÇÃO

O presente texto não objetiva esgotar a discussão do uso da música brega nas escolas públicas do Brasil. Ele apenas reflete um insight do autor sobre o tema que será discutido em outros artigos. O texto que segue trabalha o olhar freireano de educação e sugere o uso da música brega como recurso didático em nossas escolas. O texto ainda reconhece que a resistência a esse idéia é previsível, mas, vê no educador comprometido com a educação libertadora uma porta a aberta para o diálogo.

O estudo e a vivência em sala de aula, ao longo de quase trinta anos, me tornaram testemunha viva dos meandros da Educação em Sergipe. Hoje, estou em um pequeno povoado do interior do estado, e leciono para crianças da terceira série do ensino fundamental menor. Percebo que eles têm muita dificuldade para entender os conteúdos ofertados pelo livro didático, e até mesmo, o meu discurso. Fica claro aos meus olhos, que o que foi posto por Freire na Pedagogia do Oprimido se aplica a esse problema. Da mesma forma que precisei adequar meu discurso ao mundo daqueles pequeninos, o livro didático, sua linguagem e conteúdos deveriam também ser revisados e modelados à realidade daquela pequena comunidade de camponeses brasileiros.
“Simplesmente, não podemos chegar aos operários, urbanos ou camponeses, estes, de modo geral, imersos num contexto colonial, quase umbilicalmente ligados ao mundo da natureza de que sentem mais partes que transformadores, para, à maneira da concepção “bancária”, entregar-lhes “conhecimento”ou impor-lhes um modelo de homem bom, contido no programa cujo conteúdo nós mesmos organizamos”. (FREIRE, 1983, pg. 99)

O que salta à minha mente, ao observar essa realidade, é que nossas instituições permanecem insensíveis aos clamores feitos pelo grande educador brasileiro. A educação bancária sobrevive apesar de tantas críticas e reflexões feitas em todo o território brasileiro. As teorias que colocam a educação problematizadora, dialogista e libertadora, não foram postas em prática de forma efetiva, e parece que levaremos alguns anos para que isso acorra.

“Quem atua sobre os homens para, endoutrinando-os, adaptá-los cada vez mais à realidade que deve permanecer intocada, são os dominadores”. (FREIRE, 1983, Pg. 99)

Inevitavelmente, entendemos que a dominação em sala de aula continua tanto na abordagem docente quanto nas políticas e ações do governo. A presença da dominação no olhar freireano ocorre por que os dominadores insistem no modelo bancário de educação, uma vez, que este atende aos interesses das elites. A dominação em sala de aula ocorre de forma muito sutil. Às vezes, o próprio docente não percebe que ele é agente e vítima no processo. A dominação se materializa de diversas formas, até mesmo, nos valores estéticos presentes nos livros ou nas discussões em sala de aula, ou na grade curricular que obriga o professor a trabalhar determinados temas que não são temas geradores de problemáticas como pôs Freire em sua pedagogia libertadora.

O que devemos fazer, na verdade, é propor ao povo, através de certas contradições básicas, sua situação existencial, concreta, presente, como problema que, por sua vez, o desafia e, assim, lhe exige resposta, não só no nível intelectual, mas no nível da ação. (FREIRE, 1983, Pg 99)

Uma das formas que vi como válida para aproximar-me dos alunos foi a música. Esta, como todos sabem, pois, é do conhecimento público, atinge as pessoas de forma contundente. A música encanta as pessoas e as faz imaginar seu mundo. A música como, alguém já disse, é uma forma de aproximar as pessoas das outras e de seu mundo. O gosto musical até certo ponto identifica as pessoas com seu lócus existencial. Música e existência andam de forma muito próxima. Por isso, entendo que o uso da música brega muito se identifica com os postulados que inspiram a prática freireana de educação. Primeiro por que sua problemática, também, contempla a realidade daqueles que estão esquecidos nos sertões desse país. Segundo por que é uma música que possui uma textualidade fácil e possível de ser trabalhada em sala de aula com pessoas em fase de desenvolvimento da escrita ou aquelas que mesmo a possuindo, continuam necessitando de encontrar-se em seu mundo concreto. Terceiro por que ela evoca o imaginário daquelas pessoas, e isso quebra gigantescas barreiras para o educador que, de fato, deseja dialogar com o aluno na sua língua, em seu mundo, e discutir com ele seus problemas. A resistência ao uso do brega na escola é evidente. Contudo, se os professores abrissem os olhos para esse recurso didático, ou, se os responsáveis pelos livros didáticos incluíssem esse gênero musical, facilitaria bastante o aprendizado de nossas crianças. Nada melhor do que uma escola nossa! Aquele que vive a realidade de Raimundo, o leiteiro, ou de Joaquim, o carroceiro.

Por isto mesmo é que, muitas vezes, educadores e políticos falam e não são entendidos. Sua linguagem não sintoniza com a situação concreta dos homens a quem falam. E sua fala é um discurso a mais, alienado e alienante. (FREIRE, 1983, Pg.102)

Não quero dizer com isso que a escola deva reproduzir o discurso de determinado lócus. Pelo contrário, a proposta dialógica de Freire entende que devemos nos aproximar do educando para com isso podermos conduzi-lo à língua do dominador. O diálogo para o educador brasileiro é um diálogo de conflito, de contestação, de desvelamento das contradições com o objetivo de alcançarmos via educação a libertação de ambas as partes: O que oprime e o que é oprimido

quarta-feira, 9 de março de 2011

A náusea pessimista

Não acredito em um futuro bom. Não acredito que virá a liberdade, igualdade e fraternidade. Desde a revolução francesa são palavras sem alma e existência em escala global por mais que mudassem a história e a independência de outros países, o que vejo de mudança apenas aparente nas relações de poder e sua maquiagem de impressões de ordem política e econômica, se a hierarquia ainda existe, não tem liberdade, forçosamente a desigualdade virá, a frater... Fugiu! Dá-me náusea o liberalismo, cristianismo e socialismo e tudo que for ismo dito em prol da salvação do universo, transformaram o mundo, sim! Agora o antigo escravo pode se sentir melhor na prisão, no subemprego ou passando fome nas bolsas da exclusão em sua falsa liberdade. Vemos o fim da mata atlântica, logo será o da Amazônia. Vemos propagandas em defesa ao meio ambiente difundida pelas empresas na televisão enquanto poluem os rios.

Existe uma escravidão mascarada, prisão mascarada, destruição e exclusões debaixo do tapete. O Mundo está se auto consumindo, as desgraças que vemos constantemente nos jornais e nos livros são apenas sintomas do fim que nos aguarda em breve. Ainda neste século, a morte de ½ da população mundial chegará. Seja por falta de água, de comida, de acidentes naturais ou doenças conseqüentes a falta de qualidade dos recursos, ou a guerra, já que todo mundo tem bomba nuclear, não existirá 4ª guerra mundial tão cedo, Além da china que possui pouco mais que ¼ da população mundial, as grandes potencias e emergentes desejam possui o padrão norte americano, os recursos acabarão em breve. Ainda tem a mulher que sai da igreja e trata logo de maltratar a empregada dentro de casa, também o sindicalista que ordena sua esposa. Em frente aos outros, parece que tudo está simetricamente organizado. O homem joga a sujeira debaixo do tapete, essa sujeira sairá destruindo tudo o que construímos em breve, todo o conhecimento que a humanidade produziu será em vão e nosso lado bicho causará nossa morte antes da razão (outra palavra que não tenho bons olhos, admiro o louco que afirmou na platéia do simpósio de filosofia: “Se é que ela existe!”

E eu? Não posso fazer nada. Quem sou eu para mandar nas potencias econômicas? Quem sou eu para modificar todo sistema de comunicação e a ética contraditória se faço parte da contradição? Minha visão do homem é pessimista, não acredito que coisas boas virão, nem perderei o meu precioso tempo da minha breve existencia em vão... Tomarei uma água de coco bem gelada ao sol esperando o juízo final.

Ao Dia das Mulheres

Os seus anseios, mulher, não  me comovem
Em nossas brigas, já conheço sua colher
Pois quer um homem do século dezenove
Porém, deseja ser de um século qualquer

Como uma aranha, sempre assim, tão na espreita
Cabeça baixa, preparando a armadilha
As oito patas não perdoam uma só deixa
E olha, fria, a sua presa que agoniza

E aquele útero que é sua prerrogativa
Talvez me seja a derradeira moradia
Você que sempre desamada em histeria
Me sentencia em sua prosa imperativa

Mas não se espante, pois, no fundo, eu a contemplo
Seja  Cecília no país desmaravilha
Seja tão cobra quanto Cobra Coralina
Rescenda, qual flor bruta, amor no vento


terça-feira, 8 de março de 2011

Mais um blá blá blá a respeito da fragilidade humana

E assim era, uma bola de fogo que foi esfriando, soltando gases que se acomodaram em temperaturas mais baixas e ficaram moles, líquidos, virando juntamente com as coisas duras o alimento da vida. Essa que se desenvolveu e produziu seres que ficam eternamente nauseados com essa bola que habitam, como se tivessem chegado abruptamente aqui e estivessem participando de um troça, de um pilheria infame que não se sabe nada. Encima o céu e uma coisa chamada via láctea, na verdade isso tudo é muito estranho. Afinal, o que vejo é uma bola de fogo encima das nossas cabeças, uma coisa enorme que brilha todos os dias sem parar queimando, com vários pedaços de rocha que não possuem nada além de rocha e gases, coisas demais esquisitas. E ainda nos sentimos normais! No meio de um “vazio” antenados no estoicismo, razão geral predestinadamente guiada pelo cosmo ou o logos divino. É bem melhor mesmo que matemos Deus, pois assim nos sentiremos o mais esquisito dos seres. Criaturas que para si são heróicas diluídas em um abismo que está a um passo da sua porta. Dessa forma, um dia imploraremos para saber dos pensamentos das amebas e mitocôndrias, acharemos importância na ontologia desses seres que por demais nos assemelham.

Penso muitas vezes que aos seres é dado um grau de estabilidade de espaço e tempo, pois se assim for somos apenas elemento de nós para nós mesmos, somos o produto de uma dimensão de realidade, de interligações complexas. Porém, do que nos vale conhecer o universo? Do que nos vale apalpar o que em termos de espaço e tempo somos por eles limitados de compreender e vivenciar? Esperamos, pois, a física quântica e toda a sua relatividade tempo-espacial possibilitar dois olhos ocuparem espaços distintos ao mesmo tempo, poderemos assim entender o sentido das leis universais e do domínio da matéria para então conquistarmos mundos alhures. O que mais é estranho é que possuímos universos em nós que são tão incomensuráveis quanto o espaço sideral, como o mundo das células, do micro e de todo a sua influência, seja política, econômica, cultural e obviamente orgânica. Para captar tamanha realidade deveríamos, pois possuir olhos e cérebros que se desmembrassem e ocupassem espaços distintos.

Portanto penso que podemos ser menos carrascos de nós mesmos, ver o humano como um gato bobo que brinca, sem suprimir evidentemente todo o jogo de implicações das ações humanas, mas criar um estado mental de consciência da sua ridicularidade, coisa que a culpa cristã e sua vocação para criar heróis nos é desfavorável, idéias que estão por demais internalizadas. Além de tudo, temos um instinto que está longe de desaparecer que é o de conservação da espécie, mesmo em tempos que a proliferação da mesma é para alguns sinônimo de sua aniquilação. Afinal a idéia de estabilidade e interdependência temporal, nos faz produto de um sistema e ao mesmo tempo o sistema. Até agora não perdemos o cordão umbilical para podermos criar a própria vida, um sistema que parta estritamente de nossa engenharia mental, que funcione em qualquer atmosfera.

A moral cristã ainda diluída em mim e em você ainda nos fazem o centro do universo, a Terra no centro dominada pelo povo eleito e herdeiro do cordeiro de Deus para dominar todo o universo. Salvemos o mundo antes que os cafés e cigarros não nos mate.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A exclusão da música brega nas escolas

Gostaria de falar neste texto sobre a forma como a música brega é encarada pelos docentes nas escolas da rede estadual. Vou tentar provocar algumas questões sobre até que ponto essa estética popular é utilizada e valorizada pelos professores nos ambientes escolares e compreender se o corpo docente e a escola estão mais dispostos a perpetuar os modelos estéticos legitimados por uma elite intelectual ou se também estão dispostos a dialogar com as expectativas estéticas e musicais dos discentes.

A melhor forma de produzir estímulos ao aluno acerca do conteúdo dado em sala de aula é dialogando esse conteúdo com a realidade desse aluno. Quando a escola e o docente não procuram ter curiosidade acerca do cotidiano do discente e não buscam compreender suas escolhas e seus valores, o conteúdo exposto tende a não surtir o efeito desejado pelo fato desse conteúdo não provocar qualquer espécie de curiosidade no aluno por estar alheio ao seu cotidiano, e, portanto, aos seus verdadeiros interesses.

A música brega, apesar de atualmente ser ouvida por diversos setores sociais, ainda se encontra com maior freqüência entre os setores populares. Pelo fato de a maior parte dos alunos das redes estaduais serem oriundos dos setores populares, a música brega passa a ser uma manifestação musical cotidianamente ouvida por muitos deles. A partir disso eu pergunto: qual a importância que os docentes enxergam nessa música? Há um interesse deles em utilizar a música brega em sala de aula?

Tendemos a associar a pluralidade cultural estimulada pelo contexto global com o fim das distinções estéticas e sociais, porém, será que de fato as distinções estabelecidas pelas posições sociais foram destruídas? Outra associação que fazemos é a de pensar as instituições educacionais como espaços democráticos por vermos constantemente discursos acerca da inclusão social na educação, mas será que esse respeito à diversidade ocorre no ambiente escolar? Acredito que tanto uma opinião quanto a outra merecem ser requestionadas.

Os grupos sociais ainda necessitam construir fronteiras entre eles como forma de se distinguirem uns dos outros. Por exemplo: ao docente é dada à representação do intelectual, isto é, daquele capaz de compreender questões “complexas”. A posição de prestígio dada ao docente pelo lugar assumido pelo seu grupo no ambiente escolar termina classificando-o como alguém culturalmente “requintado”. Reiterando: as posições sociais ocupadas por cada grupo em determinado ambiente ainda demarcam fronteiras distintivas entre eles.

Como a música brega é considerada simplória, muitas vezes ela tende a ser encarada pelos docentes como uma música de péssima qualidade. Eles se negam a compreendê-la como uma manifestação que pode surtir grandes efeitos no aprendizado por ela fazer parte da realidade cultural dos alunos. Ao invés disso, os docentes encaram essa estética musical de forma segregadora classificando-a de baixo nível cultural, anti-educativa, discursivamente inválida, como algo que não pode ser classificado como música, como arte, etc.

As escolas e os docentes reforçam os modelos que são aceitos apenas pela intelectualidade. Se abrirmos um livro de literatura veremos que as poesias, os contos, as composições musicais utilizadas como exemplos são produções que geralmente se encontram alheias ao cotidiano do aluno. Claro que é do papel da educação abrir possibilidades para o aluno conhecer outras produções, porém, não é direito da educação querer excluir as escolhas estéticas de grande parte dos seus discentes.

A imposição de conteúdo gera falta de motivação do aluno em aprender justamente por esse conteúdo não se encontrar em seu cotidiano. Outro resultado é a baixa auto-estima e a desistência do discente de freqüentar a escola, afinal, se a escola impõe a esse aluno que o discurso “verdadeiro” é o discurso que ele não vive e, portanto, muitas vezes não entende, esse aluno passa a acreditar que ele não é capaz de compreender o que a escola quer que ele aprenda. Resultado: o aluno além de não mais frequentar a escola, sente-se incapaz de absorver conhecimentos.

Para concluir eu pergunto: a música brega é vista pelo docente como importante para a aprendizagem do aluno? Não. A falta de importância dada a essa música ocorre porque o docente, como forma de autoafirmar seu poder e manter intactos os valores legitimados pelo seu grupo, externa um discurso que compreende a música brega como algo de mau gosto, inútil e sem qualquer finalidade educativa. Infelizmente, a educação, apesar de se dizer preocupada com a inclusão e com a diversidade, ainda insiste em reproduzir valores excludentes.

VISITEM: www.pensandoaeducacao10.blogspot.com

Repensando sobre a musica brega

Depois de acompanhar as discussoes geradas pelos textos dos tortos Vina e Roosevelt, amadureci um pouco sobre o que eu tinha em mente quanto a musica brega. Admito que ha uns tempos atras, para mim, o brega era brega. Nao que eu tivesse uma afirmacao propria sobre o estilo brega, mas mantive por muito tempo a ideia perpassada pelo senso comum: brega era sinonimo de mal gosto. Ouvia isso corriqueiramente e ate hoje continuo ouvindo de que o brega e para ser depositado na lata do lixo e que so restaria aos "suburbanos" ouvi-la.
Uma certa vez, ainda na escola, fazendo uma tal conta em que retomava os anos de Villa Lobos e Bach, meu professor de matem'atica reiterou uma questao cultural classica:"isso sim 'e que 'e musica", hoje nao sabemos mais o que presta, as pessoas perderam o bom senso, pois so se ouve a boquinha da garrafa e homens bebados na beira da praca". T'a, ok! Mas ele se esqueceu de explicar quando se viu cantarolando pelos corredores " seu guarda eu n#ao sou vagabundo, eu n#ao sou deliquente, sou um cara carente... dormir na praca, pensando nela...". N#ao digo que so ele, mas todos, aqueles que aprovam e desaprovam o brega acabam de uma certa forma se manifestando a favor com os trechos e repertorios do brega. E isso, o brega 'e mais humanos que o classico, os estilos pomposos preservados na distante linhagem hist'orica. O brega nao passou pela academia, pelos grandes concertos, ele foi feito na mesa de um bar, foi escrito no momento de ira, de angustia dos instantes mais comicos que nos passamos. O brega e essencialmente humano, porque o humano e brega. E tao brega que precisa de varios rituais civilizatorios para envernizar a sua natureza apodrecida. Assim como o brega, o humano e frustrado e sempre angustiado. Sofre constantemente por um pedaco partido, por um alguem que te repugnou.
No momento de desespero qual foi os bons termos pregados pela sociedade que deu certo? Quando alguem perdeu a " alma gemea", quem conseguiu nao se incomodar? Rico ou pobre, sofisticado ou vulgar sempre para no mesmo ponto, na garrafa e na mesa de um bar ou jogado em algum canto, deixando que as lagrimas incontidas jorrem pelo rosto descompensado.
Concordo com os meus colegas tortos, o brega e emancipado, pois e a nossa expressao maxima como verdadeiro ser de ser. Portanto, vejo que musica brega nas escolas, e ate engracado, nao por ser uma proposta tola, mas por retornar aquilo que nos e tao familiar, mas que fazemos questao de desconhece-la, e uma forma de abrir possibilidades para novas questoes. Questoes para repensar o que seja bom gosto.



* Caros colegas e leitores, peco desculpas por n#ao ter postado na segunda anterior, estava de mudanca e fiquei impossibilitada para postar o texto. Ainda estou me adaprtando ao fuso horario, por isso esse texto saiu um pouco fora de hora.


Um abraco a todos.

sexta-feira, 4 de março de 2011

QUANTO É O PROGRAMA?

Essa semana tive contato com um tema não muito novo e, mesmo assim, ainda muito polêmico e carregado de tabus. Fui ao cinema assistir ao filme Bruna Surfistinha (B.S.), baseado no diário da garota de programa de nome homônimo que foi publicado com o nome de “O Doce Veneno do Escorpião” em 2005. Nessa obra, ela relata a sua experiência com clientes, com os mundos da prostituição e com a fama que a projetou como um dos fenômenos de acesso na internet.

O filme não traz nenhuma profundidade na discussão do tema, mas apresenta de forma limpa e sem preconceitos como é a rotina de uma prostituta, como são as disputas e a concorrência de mercado, as brigas e intrigas, peculiaridades dos clientes e como manipular as fantasias e transformá-las em mercadoria. B.S. é adotada e vive com uma família convencional de classe média, estuda em colégio particular e projeta a sua carreira em psicologia. Era rejeitada pelo irmão bastardo e sai de casa em busca da sua independência. Ela escolhe ser prostituta num bordel que é bastante movimentado durante o dia. Diferente de muitos discursos vitimistas e (falso)moralistas, ela gostava de fazer sexo e começou a ganhar a vida assim.

Outra coisa que me chamou a atenção ao longo dessa semana foi a ex-esposa do jogador de futebol Alexandre Pato, Sthefany Brito, ter ganhado na justiça o direito de receber uma pensão de 50 mil reais até março de 2012. A alegação do advogado é de que ela teve que cancelar e rejeitar contratos por conta de ciúmes do jogador que não queria que ela trabalhasse. (http://www.band.com.br/entretenimento/celebridades/conteudo.asp?ID=100000405160). Esses dois exemplos servirão para nos auxiliar no argumento a seguir.

De forma generalizada o que se espera dos relacionamentos considerados como “promíscuos” devem buscar um ideal, que é o da monogamia e da formação da família tradicional. Ou seja, qualquer forma de relacionamento que venha a “desagregar” esse formato será coibido por meio do estigma de “anormalidade”, “doentio”, “amoral”, “desajustado”. Norbert Elias, em seu processo Civilizador I, faz uma belíssima investigação sobre as transformações sociais e psíquicas que contribuíram para a construção da diferenciação ente formas de comportamento entre grupos sociais diferentes. Essa mudança nas interações sociais contribuiu na formação das identidades nacionais.

Por outro lado, temos o discurso do sexo como mercadoria e que possui como seu produto o fetiche e o ato sexual. A degradação dessa prática profissional é uma questão, principalmente, moral do que uma preocupação sócio-econômica. Ainda com a referência do Processo Civilizador, Elias relata que as prostitutas eram oferecidas durante a idade média pela aristocracia de corte como presente para outros nobres, quando esses visitavam seus reinos. Porém, destaca Elias, a condição psíquica e emocional da Idade média e inicio da idade moderna não tinham o caráter controlador e repressor construído pelas sociedades burguesas pós século XVIII. Muitos temas e comportamentos e grupos sociais e suas práticas foram cada vez mais sendo relegada a medida opressiva do esquecimento, sendo a estratégia desses grupos a negação de outros grupos com as suas práticas.

Alguns comentários pejorativos e puramente preconceituosos foram postados nos sites que anunciaram a publicação do livro da Surfistinha. Palavras pejorativas contra a profissão e de mau gosto, além de comparações com outras profissões requerem estudo, nesse caso a prostituição fica num patamar semelhante a de jogador de futebol e outras profissões de ricos que não estudaram, até sobrou para o ex-presidente Lula. Segundo Bourdieu, essa importância para a educação é um padrão reproduzido pela classe média que investe em seus filhos para alimentar o seu capital cultural e simbólico como forma de status. Sob essa perspectiva o enriquecimento necessita passar pela educação. Pois é através dessa que pode ser gerado um enriquecimento autêntico, por meio do conhecimento cultural e cientifico que envolvam trabalho intelectual. O que não é a base da profissão de prostitutas, jogadores de futebol, e de presidentes analfabetos.

Um outro argumento que liga a essa temática nos concedida por Marx. O fetiche da mercadoria como característica gerada pelo modo de produção capitalista na relação de interação do homem com as mercadorias faz essa assumir importância abstrata, ou seja, se paga pela história do objeto, pela sua elaboração criativa, pela sua marca. No mercado do sexo a fantasia é um dos produtos principais, já que o ato sexual é seu o produto final.

A bruna surfistinha fez o que qualquer empreendedor faz com o seu produto, busca torná-lo conhecido e atrativo para que seja consumido. Mais do que isso, ela se aproximou do cliente, como é a tônica da gestão de qualquer grande e média organização. Buscar a satisfação do cliente, trocadilhos a parte, era sua busca. Isso fica claro quando ao longo do contato com seus clientes ela foi aperfeiçoando o seu serviço para que os seus consumidores desejavam. Inicialmente, quando montou sua agência e que já era uma prostituta conhecida, ela chegou a colocar em seus anúncios que fazia tudo. Depois ela montou um blog, onde contava as suas experiências do dia com o trabalho. Em seguida, começou a avaliar seus clientes. O que quero dizer é que independente disso ela seguiu as regras do jogo capitalista.

A prostituição é a troca de um serviço que não visa tomar o poder de nenhuma área e nem de aliciadores de menores, mas sim de uma discussão falso moralista de uma sociedade que por meio das normas valida moralmente o pagamento de pensão durante um ano de 50 mil reais. Nesse sentido, vejo pouca diferença com a vida da B.S., pois Sthefany Brito ganhará bem mais do que muita prostituta ou como uma de luxo, pois além de ela ter experimentado do luxo, dinheiro, viagens e compras enquanto estava casada, ainda recebe uma pensão. Claro que ela está respaldada pela moral. Afinal de contas ela casou com um homem apenas e trepou com ele apenas. Isso te dá o direito de processar o ex-marido. Por outro lado, a prostituta só recebe o valor do serviço e transa com vários homens. Só sabemos se temos realmente valores se os praticamos assim como os anunciamos. Fora isso são apenas discursos vazios para afirmar poder e garantir posições sociais. Será que os valores estão mesmo invertidos?