sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Passeio pela caverna

Onde a saída, as coisas segundo suas dimensões e cores primárias - onde, portanto, o homem e a verdade? Para além desta superfície disforme, deste claustro obscuro e gélido, destas sombras que nos ludibriam os olhos jamais conhecedores do verdadeiro e razoável, o quê - que distinto paraíso alcançado por intermédio do bom senso, que distinta face em que se inscrevem os verbos mais vivos, que parque inexistente em que tudo é alegria e sobriedade? A última fagulha de curiosidade, empolada pelos rubros músculos do coração, tem nos matado dia após dia, encimando-se sobre o direito natural do homem à sua tristeza pelo tempo presente, sobre o ânimo crepuscular e sombrio causado pelos disparates sejam políticos ou não - e a isso tudo em definitivo, encerrando os horizontes a partir dos quais a vida se fortalece, encontrando em si mesma a fonte que lhe permite continuar jorrando, chamaram ousadamente de saudável, encontraram aí a saúde vicejante que procuraram os antigos. Mas nós vimos através da aurora, contemplamos perplexos buracos negros, estendemos as nossas liberdades sobre o comprimento infinito do mundo, e nos perdemos pelo labirinto que desbravamos em êxtase, saboreando a mudez de cada muro e a apreensão do próximo passo, cansados das promessas de um mundo além, livre da frialdade e feiúra desta caverna – agora nós a amamos, nos condenamos a ela!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O nosso sistema politicalho

Estava lendo uma entrevista do antropologo brasileiro Roberto da Matta sobre a anatomia politica petista na qual o Brasil se encontra atualmente. Na verdade, o que Da Matta descreve e argumenta perpetua, ou melhor, esta incutido nas raizes brasileira: a ineficiencia do controle e a desordem nas entranhas da corrupcao. A politica brasileira e bem melhor definida como pornopolitica em que o poder se resolve na maxima da selvageria da barbarie.
Confesso que o tempo que estou vivendo no exterior me fez refletir muito sobre as virtudes brasileira. De vez em quando caio no estereotipo de que o brasileiro e um povo criativo, pois sabe usar muito bem tal `jeitinho`. Apesar de estar em um pais considerado Primeiro Mundo, a Irlanda ainda esta, em muitos aspectos, na fila dos fundos do nosso adoravel pais tropical. A cultura `alternativa`- considero um grupo ou um movimento concorrente ao massivo- muito mais forte no Brasil, o maior exemplo e a Tv Brasil-Canal publico brasileiro. A diversidade e fortemente predominante, sem nenhuma duvida. Ao inves de Estados, a Irlanda e dividida em Condados. Se alguem sai de um condado para outro, principalmente um estrangeiro, ele nao percebe. A estrutura arquitetonica e tao semelhante que se torna abusivamente irritante. Sem contar com clima,o inverno e democratico, ele atravessa todos os poros osseos generosamente. O ceu e massivamente cinza, e as nuvens sempre pesadas. Ate nisso o Brasil e diferente.
Mas quanto a politica,acredito que tenha seus momentos de ridicularidade,soa em tom de Primeiro Mundo. Nao irei enredar sobre o corpo politico e atuacao das figuras publicas, mas retratarei suavemente sobre a atuacao da micropolita exercida na sociedade irlandesa.
E claro que aqui existe uma dose de ineficiencia, mas as estruturas sao bem mais eficazes. Vejo isso no sistema de transporte. Confesso que a pontualidade nao e regido pelos ponteiros britanicos, mas a forma de controle e espetacular. Muitas pessoas me disseram, inclusive brasileiros, que europeu e muito honesto. Sinceramente, nao acredito na generosidade genetica do europeu, muito menos do irlandes. O que percebi quando cheguei aqui e que existem dispositivos que sao executados em prol da sociedade. Se voce pega o `luas`, por exemplo, seria um trem moderno que transita pelas ruas de Dublin, antes voce precisa comprar um tiquete em uma maquina eletronica. Nao existe nenhum fiscal que esteja ali de plantao ou algum tipo de cobrador, como nos onibus brasileiros, cabe a cada um ter o direito ou dever de pagar 1,20 euros. E se voce nao paga, nao tem problema algum ate encontrar um fiscal surpresa em um dia qualquer para abordar o seu tiquete. Caso nao esteja, pagara uma multa de mais de cem euros. Acredito sim, que exista desonestidade em qualquer lugar do mundo, mas acredito na eficiencia do controle de alguns paises. Nesse caso, e bem similar a sociedade disciplinar de Foucault do Panoptico de Bentham, eu sei que o controle nao me sufoca a todo tempo, mas sei que ele pode esta em algum momento e em qualquer lugar.
Outro exemplo, e o sistema de policiamento, a famosa `Garda`, seria a policia militar brasileira. A propina para com eles e mais soluvel. A garda e sinonimo de supra autoridade, pois a sua execucao e rapida. Qualquer irregularidadde e motivo a solicitacao de sua identidade. Ninguem pode andar tranquilamente com uma garrafa na mao, caso o contrario vai parar na `garda`. Dirigir com um copo na mao ou ate beber alguns goles de cerveja? Impossivel. A multa e absurda e com direito a varios pontos negativos na carteira. Se a garda nao ve, nao se preocupe o seu colega de transito ao lado denuncia.
Apesar disso, a Irlanda me soa ainda muito subdesenvolvida. Principalmente, quando comparada a malandragem do jeitinho brasileiro. Esse jeitinho parece ter cristalizado na nossa cultura, em que se e possivel dobrar a lei e digno de muitas salvas de palmas. Acredito que nessa mesma via, muitos de nossos direitos sao lesados, principalmente no que concerne a linha entre o publico e o privado. Parece que no Brasil, o sistema publico e privado de todos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Economias

Organizar-se na vida é um grande desafio para qualquer alma contemporânea: se o espírito se contentasse apenas com o labor, e se corpo não acusasse através dos músculos cansaço, as reservas financeiras, daí provenientes, seriam um primeiro e importante passo para a ordenação do sujeito e a sua total adequação aos milites sugeridos pela vida. No entanto, a parcela do soldo mensal destinada ao pão custa-lhe muito ganhar, mas, embora seja a mais elementar e aquela com que ele deveria ter mais cuidado, sofre dos danos causados pelos ataques da vontade de lazer que lhe arrebata o corpo explorado, de modo que, além de preencher o espaço do estômago, incumbe-se também de contornar todo a região da bexiga. Assim, conclui-se que o sistema atual de coisas, dirigido pela batuta dos senhores capitalistas, enquadra o indivíduo numa cela em que é forçado a sempre querer o sol impossível visto através de um diminuto quadrado, sendo-lhe inalcançável, portanto, a organização financeira de sua vida, a menos que, negando-se ao lazer, passe a ser unicamente trabalho.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Aviso

Caros amigos,

Dado o fato de que estou em semana de provas em duas faculdades concomitantemente e preparando-me para um show muito importante neste sábado, não tive condições de preparar um texto.

Abraço e até a próxima semana, com um texto, espero!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Deus, meu amigo cretino

Confesso que não sou uma pessoa que tem leituras aprofundadas acerca das religiões, mas por eu me deparar com determinadas condutas dos ditos religiosos, passo a me questionar bastante sobre isso a quem chamam de deus. Conversando com meu amigo torto Roosevelt, um grande conhecedor do assunto, passei a construir cada vez mais uma idéia acerca dessa entidade tão polêmica e tão adorada, e por isso mesmo, sinto-me extremamente à vontade em trazer esta semana o que eu entendo como deus.

Já me perguntaram muitas vezes se eu acredito em deus e eu costumo responder que sim. Entretanto, a minha crença não compactua com a idéia que as religiões ocidentais tradicionais como o judaísmo, catolicismo e protestantismo fazem acerca dele. Acredito que deus se encontra sempre a nossa volta, mas esse deus, antes de se revelar como um velhinho de barbas brancas se manifesta a todo instante através de uma espécie de insight que eu revelo em mim mesmo e que não sei delimitar de forma clara de que fonte vem.

Para mim, deus se encontra anterior a minha capacidade de verificar e de comprovar qualquer realidade aos meus olhos. Por exemplo: quando um cientista consegue descobrir um determinado fenômeno na realidade, o que esse cientista fez foi apenas revelar para ele uma lógica que já antecedia a sua própria razão. É por isso que eu acredito que deus existe. Deus é nada mais nada menos do que uma harmonia e uma lógica que independe de qualquer razão científica ou poética. Deus é aquele que se externa de forma obscura e que não se apresenta a nós deixando a gente sentir a todo instante a sua existência.

Outra crítica que faço a essas religiões é a de simplificar deus ao amor. Para mim deus é uma mistura de amor e de ódio, pois se ele fez o mundo e se seus filhos vivem ao longo de suas existências convivendo com esses dois sentimentos, como posso afirmar que deus é apenas o amor? Eu penso que deus se prova a todo instante fiel a todos nós, mas que nos dá a possibilidade de experimentarmos outras formas de sentimentos. Ele quer é que a gente aprenda a se aventurar em nossas próprias descobertas, ele quer que a gente se estrepe para que com isso a gente aprenda a reconhecer melhor os nossos atos.

Deus quer amor, mas o amor visto por deus é um amor que nos faz sempre retomar a nossa consciência para que nós passemos a nos compreender melhor, assim como compreender o nosso outro de nós mesmos e ao outro que convive ao nosso lado em nosso dia a dia. Não acredito que deus seja esse tipo de patrão que se apresenta a nós sempre para nos punir ou para determinar o que é certo ou errado. Deus goza a cada vez que colidimos com o que achamos ser certo e com o que achamos ser errado. Amor e dor andam juntos para deus, assim como a alegria e a tristeza.

Sinceramente não me convenço de que deus nos puna para nos fazer sentir dor pelos nossos atos. O que deus busca é que a gente saiba se utilizar do nosso sofrimento como forma de buscarmos criar novas estratégias para as nossas ações para que com isso a gente venha a conseguir cada vez mais aprimorar nossa relação com os outros. E mais: nesse aprimoramento deus está plenamente ciente de que nunca atingiremos a plenitude dos nossos ideais, pois estamos aqui é justamente para brincarmos de esconde-esconde e de pega-pega. Achamos, perdemos, perdemos, achamos, sorrimos, choramos, brigamos, amamos.

Antes de querer centralizar os humanos ao seu domínio ou querer puni-los, deus se alimenta do sonho de enxergar a possibilidade de cada homem de visualizar as suas potencialidades, de rever os seus erros, de reconsiderar as suas verdades, pois deus está dentro de nós e ele é a nossa própria motivação, é a nossa força, é o nosso sonho, nosso medo, nossa angustia, nosso crescimento, nosso eterno reformular de nós mesmos. Deus a todo instante nos dá presentes e nos toma, não por que nós não merecemos, mas por que nós precisamos aprender a merecer e a desmerecer as coisas.

Deus é um traidor que nos permite encontrar nele constantes atos de lealdade e de cumplicidade. Deus meus queridos leitores, não passa de um amigo cretino que nos alimenta seja na hora da fome, na hora das nossas frustrações, nas folhas que caem, assim como em nossas orações.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Metafísica da foto

As fotos são os objetos com o maior potencial de enclausuramento de obscuridade que conheço. Quanto mais diversa é a imagem congelada, quanto maior é o número de pessoas grudadas ao papel, quanto mais largos são os trejeitos e os sorrisos das pessoas fotografadas, mais obscura, depois, esta imagem se tornará, podendo mesmo alcançar um nível mais acentuado se as figuras registradas são, em sua maioria, velhos e gente de meia-idade. Os espíritos cuja sensibilidade não deixa com que os detalhes sejam extraviados, em nome da sensação de estranhamento de que são afeitos apreciam sempre fotos velhas. Cada rosto retocado pelo amálgama decorrente do passar do tempo, empuxados até o coração de quem os espreita fervorosamente, recende odores desconhecidos, podendo-se especular, pela densidade com que chegam às narinas, que se trate de alguma coisa fria. Ora, não seria esse o cheiro da morte?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A CONTRA FALA

A contra fala
Uma visão dialogista do homem

Estão sediados no hipotálamo os instintos mais antigos da nossa espécie. O desejo sexual, e a violência ou agressividade. O primeiro se preocupa com a reprodução, e o segundo com a preservação da espécie. Não precisamos ir longe para percebermos em nosso comportamento diário, mesmo sendo moldado pela cultura, as marcas do selvagem. Assim, começou nossa história no mundo; uma história embalada pelo prazer e pelo ódio, ou agressão, ou desprazer.

Nossas primeiras leituras de mundo estão no conjunto das provocadas pela ação destes instintos. Eles podem ter representações diferentes, pois, o prazer pode ganhar uma conotação diferente da do prazer sexual. O ato de agredir pode ser prazeroso para o animal agressor, ou até mesmo para o agredido. Nossa civilização tenta domar estas duas grandes vias de expressão de nossa espécie animal. Domar, que é um termo usado referente a animais é usado neste ensaio para mostrar que existem as instituições especializadas em Educar o homem para ser homem.

No entanto ao observarmos o comportamento do homem percebemos que este é um ser tornando-se homem constantemente. Assim como fisiologicamente a cada sete anos trocamos os tecidos de nossos órgãos, e nos tornamos um animal em um novo corpo, da mesma forma o homem se torna homem a cada dia. Ele sempre estará em conflito consigo, com sua besta interior.

As crianças desde cedo expressam um comportamento que comprova esta hipótese. O conteúdo simbólico das expressões lúdicas infantis nos remete a sexualidade e a agressividade. Elas brincam com temas sugerindo a cópula ou o coito, e em outros momentos, os meninos e meninas travam verdadeiras batalhas, e medem forças, e simulam uma luta. Isso se ver todos os dias, em todas as culturas humanas. As crianças estão imitando os adultos.

Pela via da imitação suas personalidades vão ganhando forma. Os condicionamentos vão se fixando no sedimento de seus psiquismos. A aprendizagem se dar por várias formas nessa época. A criança aprende por mera imitação, aprende por moldagem, aprende por condicionamentos, e aprende pela manipulação de instrumentos, dentre eles, a manipulação da língua mãe. O termo manipular referindo – se a língua está no ensaio para mostrar que a criança faz experiências com ela. O ato de experimentar novas possibilidades no mesmo sistema lingüístico é metalinguagem. A língua na língua, ou a linguagem explicando a linguagem. Sem esta competência o homem não poderia ser humano na acepção do termo.

O primeiro impulso para o outro é o sexual. O que nos aproximou do outro foi o prazer de estar com o outro, e o prazer sexual que o estar com o outro nos oferece. As conseqüências disso nem sempre foram boas. Pois, as relações entre os homens desde as antigas eras tiveram marcas de ódio e dor. O homem ao sentir-se ferido pelo outro, ou apenas, pelo prazer de feri-lo derramava seu sangue. Isso ainda hoje é válido. Quantos milhares de pessoas lotam cinemas para verem sexo e sangue na tela hollywoodiana? O prazer pelo prazer e o prazer pelo desprazer. O homem deixa pistas de sua besta interior.

Se, pois, os instintos imperaram por muito tempo sobre nossa espécie, então, a necessidade de falar ou de comunicar-se se tornou num instinto. A criança, em tenra idade, antes dos dois anos, balbucia vogais e sons com maior atrito no órgão fonador, as consoantes. A criança começa seu diálogo com o mundo. Seu pequeno mundo – o mundo de seus sonhos. Ela não consegue fazer associações complexas, contudo, a proporção que suas funções mentais cognitivas vão maturando, elas vão se consolidando enquanto homem/humano.

A necessidade do dialogo advém dos instintos primários do homem, dentre eles o sexo e a agressão. Foi por meio do dialogo que o homem instituiu o Estado e seus códigos reguladores da sociedade. Pouco a pouco a barbárie foi ganhando outras formas. A violência, como a sexualidade, não saiu de nosso meio. As duas se plasmam em outras formas, em outras manifestações. A língua que outrora servira para agilizar a caça, se tornou em um instrumento de caçar os homens. A ideologia possível nas combinações sintagmáticas consegue mentir, ou esconder a violência dos homens em palavras belas. O dialogo que veio pela necessidade de vida como espécie, ganhou outro sentido – a agressão do outro sobre outro.

Não podemos desconsiderar a grande carga de prazer nas relações positivas entre os homens. O dialogo não gira apenas em torno de um eixo. Assim como a língua possui muitas variáveis de expressão, o pensamento humano também o tem, portanto, existem vários modelos de homens, ou várias possibilidades de diálogos entre os homens.

O homem violenta seu outro quando cala sua voz. Nem todos os homens no mundo dialógico têm o direito de falar. Pois, os homens mais fortes silenciam suas vozes pela força, impondo medo, criando fantasmas, ou os excluindo de alguma forma. O homem continua sendo a mesma besta do passado. A contra fala se faz premente toda vez que os homens são condenados ao silêncio. A contra fala, embora subversiva, é um caminho que aponta para a construção de um novo homem. Está no dialogo o construir e o desconstruir as realidades criadas pelos homens.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011



Eis que o anjo lhe disse - "Vai, Carlos! Ser gauche na vida!"
E então nós desfilamos no torto desenho de Copacabana!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ser feliz

Por que sabemos que a sensação de ser feliz nos faz bem, mas insistimos em angariar mais fundos para a escuridão do que nos proporciona sofrimento? Será que essa indagação peretenceria apenas a mim? Será que a necessidade de se resguardar na intranquilidade do medo e da culpa corresponde apenas a um coração atormentado de inconstancias como o meu?

Tem gente me esperando em qualquer estacionamento. Antes de escrever este "não sei o quê", passei pelos corredores de um grande aglomerado de mercadorias e me encontrei fora do excesso de pessoas escravizadas na fila para serem atendidas. Reparei que o outro sou eu e me dei conta de que os meus passos solitários pelas ruas de lugar-nenhum eram tão cansados e ansiosos como todos os pés entristecidos daqueles que vi com suas caras de véspera de feriado a espera de atendimento na fila.

Não sei se posso dizer que as crianaças são tristes. Posso apenas dizer que a espera de um presente entregue pelas mãos suadas, calejadas de seus provedores provocam nelas uma sensação de cansaço, desilusão. de gosto amargo de mentira quando não se deparam com aquilo que acreditavam que podiam receber de presente no dia tão esperado. São seres desejantes, portanto, tristes, portanto, cansados, portanto, adormecidos por acharem que se alimentam de tanta vida.

Na verdade, não estou com vontade de escrever, muito menos de me prolongar. Nesse exato instante alguém me espera no estacionamento. Não mais irei encarar aquela fila de gente inteligente e vítima de sua própria razão na expectativa de ser atendida naquela imensa fila. Algumas crianças serão felizes amanhã, outras não. Não. As que serão felizes amanhã, serão depois também e as que se sentem tristes serão tristes amanhã também.

Estou muito cansado. Desculpe-me pelos meus erros sentimentais. Erro porque tenho medo de ser trocado, de ser desvalorizado. Tenho verdades e tenho etiquetas. Assim sou eu. Prometo que não mais vou errar. Sim, eu sei que não é bem assim. Sou o escudo e a pedra de mim. Sou o defensor da vida e o depredador da janela alheia. Nunca deixei de sentir carinho, mas tenho medo de ser pior do que ja penso que sou. Apesar de tudo, peço desculpas.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Disturbios e crise

Uma vez ouvi no noticiario politico que
sem crise nao se cresce,
mas sei que ela perturba.
Ele e um disturbio anomico de uma sociedade
decadente que decai transloucamente.

Sem caos,
nao ha disturbio.
E sem ele, nao pode haver nenhum crescimento
proveniente de qualquer ordem.

A crise ultimamente esta tao decadente
que ela esta se dissolvendo feito polvora
e escoando toda a sua sujeira pertinente
pelo ralo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Amor

Reconheceu na porcelana utilizada como artifício pelo inventor de sonhos a cor que matizaria o rosto da musa etérea. Viu nos seus olhos ressacados a vibrante intensidade do quase-negro que lhe conduziu o ânimo a estatelar-se com os requintes delicados do amor romântico. Achou os seus lábios perfeitamente túmidos e torneados, os seus cabelos desenvoltos sobre as costas coisas únicas. Porém, desatento que estava colorindo o coração com esses castelos e bosques feitos em papel e verbo, não se atentou a quem, reclusa em uma áspera solidão concreta, lhe observava, sem esperança, de longe.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

ENSAIO LIVRE SOBRE O SUJEITO DIALÓGIGO

O organismo se relaciona com o meio externo e dele recebe impressões que ficam armazenadas em seu encéfalo como memória. As impressões do meio externo são as percepções dos sentidos sensoriais do organismo e estão ligadas ao seu sistema nervoso. Uma vez no sistema nervoso as impressões são transformadas em significações, ou representações da realidade externa. Estas representações, com o tempo, são influenciadas pela cultura do indivíduo. Por meio dos sentidos sensoriais temos as informações de cor, cheiro, alto, baixo, áspero, etc. As percepções dessas informações vão se aglomerando no encéfalo e criando um gigantesco banco de dados mnemônico. Os dados serão, então, as referências para as associações cognitivas que o encéfalo faz.

O encéfalo trabalha com relações binárias. A impressão, seja de que natureza for, entra no encéfalo pelo sistema de enervamento e são interpretadas por meio de relações semióticas. A está para B, por exemplo. Ou A pode estar para B, C, D, etc. Uma impressão pode estar para mais de uma imagem depositada no encéfalo. Assim fazemos associações mais complexas e construímos as ideias. As ideias, por sua vez, se organizam pela força da máquina cognitiva em estruturas sintagmáticas, e o sentido ou sentidos produzidos por elas constituem o pensamento humano.

O meio é fundamental para o desenvolvimento da máquina cognitiva humana. Como os animais inferiores, o termo foi usado para efeito explicativo, o animal humano passa, na sua formação, pela fase em que os estímulos oriundos do meio externo condicionam seu comportamento. Os sentidos provocados pela experiência com o meio vão mais tarde constituir sua primeira leitura do mundo. Estas são as primeiras experiências, e são também os primeiros dados cognitivos armazenados na memória do encéfalo, portanto, a base para as operações mais complexas.

A máquina fisiológica precisa se desenvolver para que a máquina cognitiva chegue ao amadurecimento de suas funções. A segunda depende da primeira; isso pode ser demonstrado de várias formas. As pessoas que sofreram paralisia cerebral têm dificuldades muitas para fazer as relações cognitivas que precisam. Existem exceções, mas, a regra é mais forte.

Existe no animal humano o comportamento não aprendido. São os instintos; eles não são culturais, são viscerais. Todos os homens possuem instintos. Todos os homens possuem força anímica. O instinto de matar a fome, o instinto sexual, a defesa do corpo, o instinto de sobrevivência. Se eles fossem culturais se manifestariam de formas diferentes.

Graças a nossa capacidade de produzir sentidos. Os instintos foram psiquificados. Receberam um fator cultural. Assim, por exemplo, o instinto sexual se manifesta de forma diferente em diferentes culturas. Cada cultura vive sua experiência sexual segundo suas crenças.

O processo de construção de nossa subjetividade perpassa as fases anímicas e culturais. Desde a mais tenra idade fazemos relações com o meio, como um sistema de trocas. O meio me passa dados sensoriais que se transformam em percepções cognitivas. Nosso organismo desenvolveu estas funções por causa das necessidades que ele teve de superar dificuldades para continuar a existir enquanto espécie. É um processo de adaptação contínua ao meio. Esse processo não se encerrou. O homem ao lidar com o meio o transforma segundo o poder de suas significações, ou representações. Portanto, podemos inferir que desde o gênesis de nossa máquina cognitiva, estamos em relação de diálogo com o meio, e com o mundo.

A formação da máquina cognitiva é de natureza semiótica. Os estímulos sensoriais se transformam em percepções da realidade, que uma vez organizadas, se tornam em nossos pensamentos. Os pensamentos são as percepções organizadas em estruturas signicas, por isso, são semióticas. O dado sensorial na máquina cognitiva recebe um valor além da informação prima que ele oferece. O calor é calor até que o ser cognicente o associe a outro valor que o denota: O calor da paixão. A natureza de nossas relações mentais cognitivas é por isso, semiótica, pois, precisamos criar signos para interpretar signos. A máquina cognitiva desenvolveu a capacidade de criar signos, ou formas mentais. Estamos “para” no mundo. Nossa situação é de relação com o outro, como nossa máquina cognitiva e psíquica estar para o outro. Posto isso, podemos inferir, mais uma vez, que o gênesis semiótico de nossa psique, nossa máquina cognitiva é dialógico.

Nossa subjetividade nasce do diálogo com o mundo, principalmente com a cultura. O diálogo é anterior ao aprendizado da língua. Antes da língua temos acesso à linguagem que inclui também a língua que não entendemos de nossos país e parentes. Vemos o mundo pelos sentidos e o lemos dialogando com eles, mesmo, sem o dom da fala. Não podemos esquecer que nossos antepassados precisaram desenvolver a fala. Foi uma necessidade. Mas antes dela, os homens estavam na terra e construíram famílias. Os homens sonhavam e pintavam nas paredes das cavernas e paredões de rochas seus sonhos, medos, e amigos. A linguagem estava no mundo muito antes da fala.

A língua é a forma mais complexa de estruturar o pensamento. Depois da língua o sujeito se consolida no mundo como sujeito histórico e cultural. Não existe outra forma mais poderosa de internalizar a cultura de que a língua que nossos país falam. Por meio da linguagem e sobre tudo da língua falada e escrita, as estruturas sociais ganham lugar em nossa mente e dela nunca mais saem. O sujeito é formado pelas impressões sensórias do meio, pelas interpretações dessas percepções, pelas formas mentais transmitidas pela linguagem e pela língua, e pelas relações com os outros sujeitos. O sujeito é um ser simbólico que está em situação de relação com, ou em situação de dialogo.

A situação de diálogo cria uma malha discursiva incessante e pulsante entre os sujeitos. O que os sujeitos dizem de si e do mundo, de alguma forma, eles já disseram. A realidade tem forma de rede com nós que significam os intercruzamentos dos discursos produzidos. Só existe discurso em função de um discurso anterior. Portanto, mais uma vez, comprovamos que estamos em diálogo.

O presente ensaio tentou mostrar que o sujeito é dialógico. Que seu gênesis é dialógico, que a sua construção é visceral e cultural. Visceral por que não podemos negar a força dos instintos, cultural por causa dos signos. Assim como a matéria produziu signos, estes agem sobre ela. A matéria obedece à vontade do sujeito. A vontade do sujeito advém de fontes fisiológicas e culturais, por isso, simbólicas. Concluímos, então, que no que diz respeito a nossa condição no mundo, que podemos dizer que estamos em diálogo. O diálogo nos mostra que somos reis e escravos de nossas vontades. Somos eternos devedores e credores de nossos símbolos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011


Arpoador, foste pra mim mais que estranho
Deus te fincou, belo, no mar soberano
E só....

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ela e ele

ELA - Gostou?

ELE – Sim.

ELA – Sabia que eu te achei um cara bacana?

ELE – Foi? Poxa que legal! Por quê?

ELA – Sei lá, achei você um cara sincero. Adoro sinceridade.

ELE – Hummm

ELA – Você me achou legal?

ELE – Sim

ELA – Você me achou legal apenas para sexo ou pra namorar também?

ELE – Do pouco que a conheci, com certeza você seria uma forte candidata para eu
escolher como minha namorada

ELA – Então que tal namorarmos?

ELE – Vamos fazer o seguinte: nos conhecemos hoje, vamos deixar o tempo rolar

ELA – Você é igual a todos os homens, só quis me comer!!!!

ELE – Hãn?? Como você quer namorar comigo se você sequer confia em mim?

ELA –Achei você uma pessoa sincera, mas vejo que me enganei!

ELE – Ao contrário, o que estou sendo é sincero com você. Vejamos: se eu aceitasse te namorar, te levasse pra cama, te comesse com recorrência e depois te largasse, você dormiria em paz por que eu fui sincero com a sua pessoa?

ELA – Gosto de homens sinceros, você é um sacana. Te odeio!

sábado, 1 de outubro de 2011

A subsunção da cultura

Quando a cultura é subsumida pelo capital, a força criativa do gênio torna-se um autômato prescindido da sensibilidade característica ao processo de produção artística, impelindo todas as modalidades de criação a atenderem às exigências estúpidas da indústria cultural, cujo arbítrio trabalha em conjunção com a estrutura político-social dada, o que resulta nos sons e nas letras propaladas atualmente, sob a defesa de uma teoria social iminentemente liberal e tola que procura reciclar os poderes de uma cultura que degenera indo ao combate com as forças revolucionárias e coercitivas do espírito selvagem do mundo.

Obs: Desculpem-me por estar postando hoje: acabei esquecendo de fazer isso ontem.