sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Música Pra Pular

Quem já ouviu a canção Música para Ouvir de Arnaldo Antunes se depara com a interpretação de que existem músicas para os diversos ambientes e situações. Comentei em outros textos a respeito dessa característica da música como fenômeno social, já que a mesma acompanha os seres humanos no processo de suas práticas sociais.
Muito se tem criticado sobre a atual fase da música brasileira. Um momento analisado pelos críticos de vacas magras de pouca criatividade e pobreza estética. Num tempo em que os artistas tem a oportunidade de se desvencilhar da dependência das gravadoras, com aparatos tecnológicos que permite ao artista criar um selo de distribuição de suas obras, acesso a estúdios de gravação de qualidade com preços acessíveis e veículos de distribuição, como a internet, por exemplo. Diante de tudo isso, os artistas estão diante de uma maior liberdade para construir sua própria música, sem haver uma maior intervenção de gravadoras.
Num breve recorte histórico, dos anos sessenta para cá, pode-se verificar que é recorrente ao longo das décadas a critica a estilos musicais. O tropicalismo, por exemplo, foi mordazmente criticado pela sua proposta estética ousada de diálogo entre música popular e música erudita, seguindo as tendências internacionais da música pop. Não foram poupados das criticas, principalmente, pelos representantes da música engajada. A música dos chamados artistas “brega”, que nos anos setenta serviu como rótulo e que hoje ganhou notoriedade de música Cult entre as classes médias e por alguns artistas como Zeca Baleiro, Nando Reis e Caetano Veloso.
O rock dos anos oitenta foi considerado uma música pobre, pueril e decadente em comparado com as canções e movimentos das décadas anteriores. Nos anos noventa, o sertanejo, a música produzida na Bahia, o pagode, o axé music, o funk carioca, arrocha e o forró elétrico dominou os meios de comunicação.
De fato que houve uma tendência para a carnavalização nos mídias, em que o entretenimento e a diversão passaram a ser palavra de ordem. O lema era deixar de lado as preocupações e o stress do dia-a-dia em prol de sensações agradáveis que pudessem trazer leveza e prazer. Esse trajeto em alegria caracteriza o que denomino aqui de MPPB, ou Música Para Pular Brasileira, ou simplesmente, Música Pra Pular. Longe das propostas estéticas inovadoras, da música engajada e das canções de dor de cotovelo. As canções da música pra pular tem um objetivo, a busca continua da alegria e da diversão. Tem em suas origens a música produzida por grupos de grande apelo popular. O funk carioca, o arrocha, o axé music, o pagode, o samba, o frevo e o forró elétrico. A base rítmica pode ser rápida ou mais lenta com apelo principalmente para a dança e para expressão corporal.
Nas apresentações, o estímulo ao prazer, a sensualidade, ao sexo e ao amor romântico compõem o leque de sensações reproduzidas por uma cultura que cultiva o hedonismo e o espetáculo. E que a música possui um leque de aplicações e de interpretações, mesmo que seja somente para balançar o esqueleto.

11 comentários:

  1. Aly Soul

    Um tema bastante excitante esse que você nos trouxe para esta semana. Concordo com você quando diz que hoje os midias tem uma maior predisposição em aceitar as músicas feitas com o intuito de mover o esqueleto.

    Não captei muito bem qual foi o seu propósito ao associar o rock BR 80, a música sertaneja etc, como músicas taxadas de pouca criatividade com a sua intenção em expor uma nova proposta que inteligentemente você nomenclaturou de MPPB hhehehe.

    Mas antes de esperar a sua resposta, posso dizer o seguinte: não existe a música ruim.O que existe é o tempo para legitimá-la. É como eu disse na palestra que você me convidou para dar. Enfim, e assim como você bem expôs, a música brega hoje em dia é cult e atende a uma classe média. Vale lembrar que nos anos 70 a tendência estética do Soul se alastrando nos morros cariocas era mal vista pela elite. A discoteque era uma manifestação encarada como alienada, e o Caetano, para variar, com aquele seu jeito irreverente de ser, ao lançar a música "Odara" provocou a maior polemica por propor uma paquera nitida com a tal proposta.

    O que eu quero dizer é que o que você chama de MPPB, amanhã terá sua validade. Infelizmente devido a nossa necessidade de nos perpetuarmos no topo da hierarquia e no medo que nós temos em possibilitar um encontro dos ditos desprivilegiados com os ditos privilegiados, criamos modelos de gosto, hierarquizando as estéticas, e tudo que fica no passado é legal pois não mais oferece perigo assim como mostra nosso caro Certeau. É só o tempo para vermos isso que hoje chamamos de lixo ser cantado e dançado com as caras sérias daqueles que dizem sempre possuir o rumo da história e a responsabilidade de elencar e aprisionar a verdadeira arte do povo.

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  2. Aly Soul,

    Continuando...

    Eu acho que a grande pergunta que devemos fazer é a seguinte: o que leva a midia a querer se apropriar com tamanha obsessão desse tipo de estética, ou como você disse, dessa música pra pular? Por que ela tem gerado grandes lucros em relação às outras? Outra questão é a seguinte: será que as letras dessas musicas pra pular têm de fato sido cada vez mais minimizadas? Se estão sendo, o que leva a isso? Seria um comportamento que é reflexo de um contexto industrial,e, portanto, reflexo de uma produtividade, isto é, de uma praticidade e de uma exigência muito mais técnica reduzida ao aplicável do que uma técnica mais voltada a uma percepção crítica? Será que a problemática da violência e do consumo tem nos tornado seres solitários a ponto de termos perdido o hábito de dialogarmos? Portanto, será que essa fragilidade dos laços sociais tem gerado uma busca por músicas que queiram apenas o movimento e que sejam tocadas em volumes altos?

    Enfim, são questões, questões, questões...

    beijos

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  3. bom gostoria de colocar que os anos 80 produziu muita coisa boa , musicas de qualidade , como siouxsie , the cure joy division ou seja o estilo pos punk ,aqui no brasil influenciou bandas como legiao urbana , titãs , biquini cavadão , herois da resistencia , ira , barao vermelho , e varios etc e ramificaçoes parecidas.
    tema bandas de protestos e de qualidae musical algumas como por exemplo black flag , dead kennedys . no nacional no começo da dec 80 surgiu varias bandas punk do brasileiro ,que dificil pra caraio axar agora musicas pelo underground das bandas , consegui baixar uns albuns mas perdi , uma das que gostei foi hino mortal . se alguem tiver um link onde possa baixar . eu axava no suicidio social mas ta dando problema o forum.
    outra questao que quero colocar sera as musica atuais sao desprezadas e no futuro sao apreciadas como retro e a volta de um passado , entao restart no futuro sera pareciada como digamos numa forma cult .
    Alan

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  4. bandas que se destacaram na dec 80 internacionalmente e que n escutei mas vou coloca - las como exemplo de como a dec 80 foi rica de criatividade artistica ,bauhaus ,sonic youth( essa escutei pessoalmente n gostei muito , mas e criativa ) ,the sister of mercy .
    no lado nacional esqueci de menciona engenheiros do havai banda que adoro apesar de escutar pouco , lembrando que raul seixas lançou muitas musicas boas na dec de 80 , lembrando que raul seixas morreu em 89
    Alan

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  5. Há duas razões distintas em quando se faz crítica musical: deve-se analisar a técnica e a temática.

    Depois, há músicas instrumentais que dizem expressar determinado mote, como Wagner com seu Holandês Voador ou mesmo a música eletrônica e suas batidas repetitivas e frenéticas, representando o rush industrial da vida contemporânea.

    De toda maneira, e isso o Vinicius expõem com propriedade a qual coaduno bastante, tudo é questão de semiótica, e esta, de imposição cultural. Por outro lado, ainda sou da ideia de que certas letras de música dizem mais que outras, ainda que para um público restrito.

    Que posso atestar contra quem fala de amor e tão só de amor, se não tenho razão que me sustente o fato da existência e tudo que penso é em findar meu sofrimento?

    Se se descobre a felicidade com pouco, ou se não se alcança essa felicidade por estar acometido de uma necessidade que se diz mais complexa teoricamente, em nada isso nos põe num limiar distinto, e não que tu tenha dito isto, já que, imagino, de vez em quando também pule.

    Contudo, sem dúvidas, um povo ignorante é mais passível de deturpação, e, acredito, o reflexo de determinado gosto musical, generalizadamente, tem respaldo no nível intelectivo dum indivíduo.

    Acima, despretensiosamente.

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  6. Lou,

    Concordo que há uma maior probabilidade de pessoas sem muita instrução serem mais fáceis de serem manipuladas, principalmente se tratando de um pais desigual como o Brasil no qual existem os ingnorantes menosprezados culturalmente e os intelectuais valorizados em demasia. Esses intelectuais tendem a ter o respaldo e a validade de suas verdades para um todo, fazendo com que os menosprezados sintam-se incapacitados em contrariar os argumentos de uma elite fetichizada e reconhecida como detentora de uma verdade. Não é por acaso que por haver essa idolatria, os que são educados a entender que "não sabem" terminam muitas vezes aceitando de forma cega as opiniões dos "capacitados". E claro, como você bem disse, um povo sem instrução é mais passivel a deturpação.

    Levando-se em conta que o Brasil é um pais de maioria pobre, compartilho com você quando diz que um gosto musical mais generalizado pode está articulado com a perspetiva tradutiva e estética de um numero mais abrangente de um público de certo nivel instrutivo.

    Porém, acho que por mais que saibamos que uma instrução teórica com certa frequência possibilita um maior olhar critico, não podemos determinar com precisão que uma música tem letras melhores do que outras. Continuo achando isso subjetivo. Se você me perguntar qual melhor letra, tenho certeza que vou me assemelhar mais a você do que a outros, visto que você, assim como eu, vêm de uma realidade sócio-econômica e cultural parecida, o que não significa dizer que eu vou afirmar que existem letras mais interessantes que outras. Isso vai da expectativa estética e signica de cada um. Se eu afirmar isso com a certeza, vou afirmar a "verdade" de uma cupula restrita dos letrados que se acha no direito de trazer uma "verdade" que não é entendida para a maioria, uma vez que o nosso lindo Brasil é um pais de iletrados.

    Obviamente que isso não quer dizer que eu aceite as coisas como estão. Tão mais complexo e nocivo quanto se gostar do oba oba musical, é a forma como essas pessoas se integarem em suas relações cotidianas. Ou seja, um cotidiano marcado pela falta de acesso as informações mais bem elaboradas. Enfim, gostar das músicas pra pular não é o problema, o problema é saber que muito do consumo desse tipo de musica pode ser reflexo de uma falta de oportunidade e de pretensão em buscar traduzir outros horizontes.

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  7. Lou,

    Concordo que há uma maior probabilidade de pessoas sem muita instrução serem mais fáceis de serem manipuladas, principalmente se tratando de um pais desigual como o Brasil no qual existem os ingnorantes menosprezados culturalmente e os intelectuais valorizados em demasia. Esses intelectuais tendem a ter o respaldo e a validade de suas verdades para um todo, fazendo com que os menosprezados sintam-se incapacitados em contrariar os argumentos de uma elite fetichizada e reconhecida como detentora de uma verdade. Não é por acaso que por haver essa idolatria, os que são educados a entender que "não sabem" terminam muitas vezes aceitando de forma cega as opiniões dos "capacitados". E claro, como você bem disse, um povo sem instrução é mais passivel a deturpação.

    Levando-se em conta que o Brasil é um pais de maioria pobre, compartilho com você quando diz que um gosto musical mais generalizado pode está articulado com a perspetiva tradutiva e estética de um numero mais abrangente de um público de certo nivel instrutivo.

    Porém, acho que por mais que saibamos que uma instrução teórica com certa frequência possibilita um maior olhar critico, não podemos determinar com precisão que uma música tem letras melhores do que outras. Continuo achando isso subjetivo. Se você me perguntar qual melhor letra, tenho certeza que vou me assemelhar mais a você do que a outros, visto que você, assim como eu, vêm de uma realidade sócio-econômica e cultural parecida, o que não significa dizer que eu vou afirmar que existem letras mais interessantes que outras. Isso vai da expectativa estética e signica de cada um. Se eu afirmar isso com a certeza, vou afirmar a "verdade" de uma cupula restrita dos letrados que se acha no direito de trazer uma "verdade" que não é entendida para a maioria, uma vez que o nosso lindo Brasil é um pais de iletrados.

    Obviamente que isso não quer dizer que eu aceite as coisas como estão. Tão mais complexo e nocivo quanto se gostar do oba oba musical, é a forma como essas pessoas se integarem em suas relações cotidianas. Ou seja, um cotidiano marcado pela falta de acesso as informações mais bem elaboradas. Enfim, gostar das músicas pra pular não é o problema, o problema é saber que muito do consumo desse tipo de musica pode ser reflexo de uma falta de oportunidade e de pretensão em buscar traduzir outros horizontes.

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  8. "O rock dos anos oitenta foi considerado uma música pobre, pueril e decadente em comparado com as canções e movimentos das décadas anteriores. Nos anos noventa, o sertanejo, a música produzida na Bahia, o pagode, o axé music, o funk carioca, arrocha e o forró elétrico dominou os meios de comunicação."

    Nesse trecho quis me referir a posição da critica em relação aos estilos musicais ascendentes. Nesse caso, nos anos oitenta, a MPB, que já estava legitimada pela critica como a expressão de qualidade da música contemporânea do Brasil e o rock dos oitenta, embora tenha sido reconhecido por artistas como Caetano e Gil, que participaram diretamente com os artistas. Esse estilo teve resistência por parte dos "guardiães" da MPB (essa informação pode ser coletada no livro "BRock, o Rock Brasileiro dos anos oitenta" de Artur Dapieve) que o viam como música inocentes e pueris. Na verdade essa música eram feitas por jovens e para jovens que tinham outras visões de mundo diferentes da geração dos anos sessenta.

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  9. Creio que o histórico social e cultural também fala muito, tendo em vista que os mídias se apropriam da MPPB por meio de uma linguagem de mercado do que já acontece. É a visão do que pode vir a se tornar um investimento lucrativo é o que aconteceu com o Axé music, o Samba reggae, o arrocha, o funk carioca, o sertanejo, o pagode baiano, entre outros. Outra possível explicação seria a ascensão das músicas das periferias e de regiões fora do eixo Rio-São Paulo, como Ceará e Bahia.
    Mesmo diante do fato de a impessoalidade e o individualismo serem características das sociedades modernas, essas encontram, contraditoriamente, nos eventos das MPPB espaço para sociabilidade. Afinal, grupos vão a essas festas para interagir entre si e com outros grupos.

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  10. "outra questao que quero colocar sera as musica atuais sao desprezadas e no futuro sao apreciadas como retro e a volta de um passado , entao restart no futuro sera pareciada como digamos numa forma cult."

    Olá Allan, em relação ao rock dos oitenta respondi no comentário anterior.

    em relação a pergunta acima. É difícil prever o que pode vir a acontecer, já que nem todas os estilos musicais que sofreram duras criticas tiveram esse destino. A idéia da MPPB é chamar a atenção para esse segmento da música popular que desde o final dos anos oitenta vem ascendendo e que constantemente é alvo de criticas. Quero deixar claro que não se trata da minha preferência musical e que os mídias não tem preocupação com a democratização de outros estilos musicais. Mas não concordo com a idéia de música ruim e música boa. Pois isso, passa a visão de um argumento subjetivo e particular travestido de argumento objetivo e universalista.

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  11. Aly Soul,

    Concordo com suas palavras quando diz que a música tem um caráter de sociabilidade. Não é por acaso que quando eu chamo atenção para o fato de termos cuidado com adjetivações como música alienada, é justamente por que eu não compactuo da ideia de não pensar a música como um fenômeno responsável pela reformulação de novos valores, por que antes de mais nada, qualquer tipo de manifestação musical é social.

    No entanto, quando eu chamei a atenção da possibilidade do individualismo na música, foi para pensar se os individuos não andam de certa forma tendo uma certa dificuldade de construir atos comunicativos mais prolongados. Claro que em qualquer grupo existem códigos, e se há códigos, existe comunicação, porém, as vezes eu acho que as relações discursivas tem sido um tanto curtas e monossilábicas demais e eu percebo que o ato de conversar não convém em espaços maiores de grupos, o que termina saindo como opção, encher a cara, dançar e encher a cara, até por que espaço para trocar ideia não existe com um volume de som tão alto.

    Bom, pode estar havendo uma visão pequena acerca das relações sociais, mas eu gostaria de fazer a seguinte proposta: tente encontrar a frequência com que as pessoas que costumam ouvir MPPB, ouvem essas mesmas músicas em suas casas deitadas em um sofá. Olha eu sei que como você ja disse em textos anteriores, as músicas estão relacionadas a diversos contextos, mas minha proposta é para saber se de fato essas músicas servem para abafar a dor sentida por uma cultura individualista quando se depara com o diálogo.

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