quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O circo

O circo

Lá vem o circo.
A criançada alegre fica.
Hoje ninguém briga.
Vai ter palhaço no picadeiro.
Pipoca, bala, e muita risada.
O homem-bala foi lançado.
O menino de olhos arregalados sonha um dia poder voar.
A menina faceira morre de medo da monga.
O povo está na praça.
Nem se vê quem passa.
É tudo ligeiro.
Hoje tem mulher elástico.
Tem muita palma para o Zé sabido.
Esse macaco só falta falar.
Vai indo o final de semana perfeito.
Nossa gente é boa.
É boa gente.
Ela saiu de perto dos seus.
Nem olhou direito.
Foram alguns segundos.
Mãe e pai cegaram ante o fascínio das horas.
Ela desce da praça.
Há um parque.
Seguida foste pobre anjo.
No teu pescoço deram um gancho.
Abriram-te as pernas sem dó.
Amordaçaram tua voz.
Tu estavas só no dia de tua hora.
Ali ficaste até que virastes notícia de trinta segundos.
O circo se foi.
Ele também
Você também.
E eu não esqueci de contar tua estória.
É a mesma Brasil afora.
São tantas meninas sem rosto.
Mas você não chorou.
Foi?...

3 comentários:

  1. Roosevelt

    Lindo e triste. A descrição inicial do ambiente foi inteligentemente contrastada com a do final, mas assim como são geralmente os seus textos, esse contraste simplesmente se encontra interligado no tecido da trama.

    Eu acho que uma das grandes empolgações que eu tenho com o torto é justamente essa possibilidade de enxergar os aparentes opostos se entrecruzando. Como se percebe em seu texto, a vida é costurada por infindáveis imagens e situações. Ao mesmo tempo em que encontramos o extase das crianças no circo, podemos perceber uma situação que veio de encontro a todas as expectativas do ambiente circense, mas enfim: o que é de encontro a que? Como você mostrou, basta estarmos envolvidos em uma situação para podermos experimentar intermináveis contingencias que a vida nos oferece de presente cotidianamente.

    E o pior é que ironicamente, assim como você bem expôs, essa história é "a mesma Brasil afora. São tantas meninas sem rosto".

    De fuder

    abração

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  2. roosevelt!

    muito bom! uma estória- história -poema. Como Vina argumentou, traz uma realidade q vc expoz de modo fascinante. Um inicio que nos leva a rememorar esse cenário, mas um final inesperado. Afinal, não esperamos e nem queremos nenhum tipo de realidade dentro do espetáculo, pois ele está para ocultar qualquer ferida exposta encontrada nessa dita realidade.

    Estou c vina:
    "a mesma Brasil afora. São tantas meninas sem rosto".

    Fora do sério!

    bjão

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  3. Caro, Roosevelt, gostei do seu texto. Ele traz a versão do circo no seu sentido mais humano, sem aquele espírito mágico criado em torno dele e de outros espetáculos. Nas outras indústrias da alegria, como o carnaval e as festas juninas, por exemplo, é construída uma fachada com interesses particulares. Um texto com uma análise torta.

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