sexta-feira, 29 de abril de 2011

BRECHA

Às vezes é assim a vida segue seu trânsito deslizando por meio de causas, ideologias, crenças e perspectivas. Quanto a mim? Não vejo o todo que vai além. Vejo plantas, vejo bichos, imagens paradas, músicas sofisticadas, uma vida regrada, emotiva, materialista, nem sempre lucrativa. Recheada de tristezas e alegrias, algozes e carrascos que escolhi para que me acompanhem vida afora. Também cultivo amigos, bem poucos. Nem todos são dignos de confiança, nem mesmo eu. Procuro respostas e encontro as minhas verdades em princípios éticos e valores pouco cultivados ao meu redor. Fico distante do fétido das relações que não vivi e das pessoas que não conheço. Essas que sentencio e descarrego todo o meu julgamento. Com muitos réus e nenhum inocente, condeno o mundo por me ter como seu cúmplice. Toda a possibilidade do que é o amor, do que é nobre escorrem pelo ralo. Torna-se um belo cenário da minha apatia, do meu medo e da minha vida. Tudo fica no escuro, todos estão no escuro, demônios existem e deus abandonou o barco. Sobra meu eu esburacado pelos estilhaços causados por essa falta. A lacuna desenhada naquele tronco é a minha brecha que nunca fecha. As folhas nascem e apodrecem, seguem o curso de suas vidas morrendo e renovando. E, eu? Prefiro o tronco petrificado com a brecha, vazio, sem nada, sem vida, úmida. Nada resta a não ser optar pelo sofrimento da árvore.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

FEITICEIRA

FEITICEIRA

Pela manhã abriu-se uma flor.
Sua visão despertou andarilhos de outrora.
Quando era jovem,
Sentia-se garboso,
Forte, corajoso.

Andava pelos jardins mundo a fora.
Nunca se queixou da vida.
Vida vivida nos trilhos.

Conheceu a moça galega.
Por ela deixou cair os muros.
Arrancou suas cercas.
Perdeu as estribeiras.
Enforcou-se no pé de coentro.
Trancou-se mundo a dentro.

Feiticeira!

Tu arrancaste do meu peito o alento.
A vida se tornou um tormento.
Sem você.
Sem teu hálito.
Sem de teus olhos o brilho.
Sem teu beijo gostoso.
Morri por dentro.

A estrada continua.
Ou para o norte, ou para o sul.
Para onde nasce o sol, ou onde este se deita.
Para a esquerda ou para direita.
A vida não nasce feita.

Só um pouco de fôlego.
Só uma dose de coragem.
Só uma chama ardente.
Acorda o vidente para ver de novo.

Nascem flores todos os dias.
De todas as espécies e odores...



ROOSEVELT LEITE, 28/04/11

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Malfadado Canto

Anseio por um canto
Para matar-me o afeto
Enfadonho encanto
Entregar-te meu cetro
Afastar-me o pranto
Desnudar o seu teto

Um fado vadio
Teu boné de oleado
O infame assovio
E o destino talhado
Em um canto vazio
Entoar meu achado

Fugir do arrepio
Centro do tornado
Caminhar nesse rio
Apinhar-me ao dedilhado
Um gostar arredio
O suor destilado

Um querer tão tardio
De invadir meu condado
Estilhaços de cio
Um encontro fadado
Ao sabor do covil
O infinito inventado

Mais uns Parágrafos

Às vezes as linhas nos correm tão livremente, tais quais os sonhos e os sonhadores, que quase nos esquecemos do ponto final. Doce prazer pueril era o de tentar reter a água do mar com as mãos. Impressionante como lutava por isto, mesmo em plena consciência acerca da efemeridade do meu êxito. Doce prazer que transcende barreiras etárias é dormir tarde, ainda que façamos grosso esforço para esquecermos o suplício que é acordar cedo. O sol nos surpreende na cama como se fosse uma verdade absoluta. Tal qual é a realidade e todo o seu vigor. Para informar que todo prazer será finito e toda loucura castigada.

Eu penso coisas tão bonitas, e do alto desta beleza que é toda minha e para mim, consigo emanar um brilho que se fragmenta com direito a desvios padrões e arredondamentos, mesmo que me pretenda o mais exato possível para o outro, este nunca sorverá até a última gota do cálice que ofereço e se embriagará o suficiente a ponto de sermos cúmplices.

O pior é não conseguir ser efusivo, nem tampouco introspectivo ao ponto de demarcar uma característica suficientemente decisiva ao meu respeito. Interagir com outras subjetividades é tão arriscado quanto brincar de roleta russa, mas amadurecer é mais lindo e gratificante que isto tudo; ou se torna cada dia mais sincero ou cada dia mais fechado em si. Como somos animais políticos...

Creio, então, que trazer para a vivência coloquial o luto inerente a cada simples esvaziamento de uma garrafa de vinho, é estar cada vez mais ciente da volta para casa, e aceitar de peito cada vez mais aberto o percurso que faremos na hora do ponto final final. E para isto devemos estar cada vez mais plenos de nós mesmos, afinal, a viagem só a nós pertence.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Jegues ordinários

A construção do espírito cientifico é um processo, porém, existem aqueles que optam em ser dementes e submissos ao senso comum, além de incapazes de exercitar o pensamento, preferindo a velha comodidade do óbvio. Esses miseráveis aprenderam a moral indigna e medíocre da civilização ao ter vergonha de mostrarem as xoxotas ou as picas, mas foram incapazes de se libertar dos espíritos de macacos. São tipos de animais que estudam pra caralho, mas não conseguem criar lógicas por conta própria.

Esses animais tendem a ser os queridinhos do senso comum justamente por serem senso comum, pois não praticam hábitos ditos condenáveis pela sociedade, negam-se a se confrontar com os valores vigentes, fecham os olhos ao aceitar a hierarquia de carne e osso e não reagem aos comentários idiotas dos velhos. São amados pelos grandões que chefiam a realidade expondo para os outros os grandes resultados mentirosos constatados nas estatísticas. São seres comprometidos com a responsabilidade, mas com medo de fugir da ordem. São seres que ajudam a manter os valores morais intactos, não entram em desordem, não provocam tormentas indagadoras, não assumem posturas que contrariam a ordem vigente, não reconhecem nada a um palmo de suas ventas de jegues ordinários, não requestionam verdades feitas. Nada!

Entram nas salas de aula, copiam o que é exposto, voltam pra casa, tomam banho, vêem um pouco da novela e não reconhecem um por cento das criticas que se podem ser feitas ao mundo através dessas novelas, assim como são incapazes de tecer críticas a eles próprios e ao que acabaram de ler, pois a leitura não é exercício emancipatório. Ao contrário, a leitura é dever de casa, e dever é labuta, e labuta é máquina, e máquina é cronômetro, e cronômetro é industria, e industria é tempo, e tempo é dinheiro, e dinheiro pulsando apenas em meio à labuta, à máquina, ao cronômetro e à indústria, significa burrice, uso sem sentido, estética sem ímpeto, sonho sem desejos.

Esses animais leram todas as apostilas e livros indicados pelos professores, porém pergunto: vão à biblioteca com fome de conhecimento pedir empréstimo de qualquer livro para gozarem da leitura em suas casas? Optam pelo menos alguns miseráveis minutos de suas vidas para irem a qualquer sebo de livros? Vão as livrarias? Esquecem do tempo ao pararem em qualquer banca de jornal? Não, afinal, eles estudam, mas não são curiosos, eles cumprem com suas responsabilidades, mas não reconhecem a importância do conhecimento. Não perdem uma aula, mas perdem a possibilidade de dialogar, de confrontar e de se contradizer com as relações que se constroem nas mesas de bares onde os vagabundos alcoolizados e odiados se encontram. Ao debaterem sobre algo que acontece nos ambientes educacionais, só sabem lembrar das exigências expostas pelos professores, isso por que são moribundos andando para tirar xérox de apostilas, são seres voltados para as técnicas e não enxergam nada além do que seja procedimento e mecanicidade.

Eles não são nada. E eu? Sou alguma coisa a mais além do mesmo nada que eles são?



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BLOG DE VINA TORTO NO CINFORM SOBRE MÚSICA E SOCIEDADE

Texto da semana: Entre a música de raíz e a música de vanguarda

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Uma noite apos a outra

Fui ate um bar e entrei. Quando sentei em frente ao balcao de bebidas, pedi vigorosamente um conhaque para me despertar do sono que perambulava a minha cabeca. Um homem apareceu.
Eu vi que ele tinha olhos verdes amedoadas e queixada dupla. Sorria constante para mim e para os clientes a sua volta. Devolvi o sorriso e ele me devolveu de volta. Fiz esse exercicio continuo por mais de 2 minutos e nao resolveu, nos final de tudo tive que pagar as minhas contas.
Como estava com poucos tostoes, resolvi colocar em um guardanapo o meu telefone para que ele me ligasse. Ele sorriu.

- Senhorita, esse numero e a conta do seu cartao.
- Nao, e do orelhao ao lado da minha casa.

Mais uma vez, ele sorriu.

- E as horas, aqui ao lado?
- E o momento que estarei acordada e voce deve me ligar.

Ele continuou sorrindo e seus olhinhos ficaram cintilantes.


Chegou o horario ideal para voltar para casa, minha cabeca estava quente devido ao conhaque borbulhante.
O homem me ligou no horario estabelecido. E logo apos ja estava na minha casa. Em poucos segundos no meu quarto. O meu estado era impressionante: cabelos assanhados, olhos remelados, blusa furada e unhas descascadas. Mas, ele continuou sorrindo.
Quando coloquei ele para dormir e baixei as suas calcas, seu animalzinho desmaiou.
Nao pude fazer mais nada.
Ele deitado, fechou os olhos e continuou sorrindo.

domingo, 24 de abril de 2011

A morte e o amor: O retrato da vida (Por João Paulo Corumba)

Quando o homem compreende realmente que está ligado à vida? Eu diria que parte de dois princípios: O princípio do se amar, amar o outro e ser amado e o princípio do saber que está perto de morrer seja pelo impacto causado pelo envelhecimento, ou seja, por uma notícia de uma doença fatal. Diante desses princípios citados, costumo refletir que o homem passa pela vida de maneira despercebida, e só depois que os seus desejos não são apenas desejos e sim direcionamentos, sentimentos, é que o homem se compreende um ser vital.Não costumo pensar sobre as necessidades fisiológicas, como a fome por exemplo, como uma estrutura primordial/inicial como pensa Maslow, que nos fazem sentir em contato pleno com a vida, mas sim como uma segunda parte de um processo para a construção dos impulsos que nos levam a tal pulsão de vida, pois a primeira parte desse processo é o próprio impulso para satisfazer as necessidades fisiológicas.

Analisando deste modo, é possível penetrar na infinita complexidade do ser humano, não totalmente, mas conseguir abordar algumas partes desse infinito humano que se classifica emocional e racional. A emoção existe por si só, não há esforço que lhe construa, não necessita de nada, possui uma vida por conta própria, enquanto para a racionalidade, o indivíduo precisa de um esforço para que possa emergir a um grau empírico que seja definitivamente válido. Diante da morte refletimos sempre sobre a morte do outro, e nunca sobre a nossa morte. Sigmund Freud, já dizia sobre essa nossa limitação para se pensar em nossa própria morte, pois se pensarmos ou sonharmos com a nossa morte, não poderíamos relatar tal pensamento/sonho, pois o que morre perde a voz, logo, não seríamos o protagonista da morte, mas sim espectadores dela, desse modo, jamais podemos pensar, sonhar com a nossa própria morte. Podemos então dizer que diante da afirmação dita acima, podemos provar que desde o primeiro pensamento sobre a morte (do outro) significa que já nos encontramos ligados à vida? A essa indagação, parte do segundo princípio dito no começo, o princípio do saber sobre a própria morte por meio do envelhecimento ou por uma doença fatal. O indivíduo como diz Freud, jamais conseguirá pensar/sonhar em sua própria morte, sempre que ele diz ter pensado/sonhado em sua própria morte, ele não tem consciência plena disso, porque no fundo o que ocorre é de fato um assassinato, e não um “suicídio”. Então, partindo desse pressuposto, o que se pode notar é que pensar na morte já é se sentir ligado à vida, mas por um meio muito vago se não levarmos em consideração sobre o sentimento do amor próprio, e os investimentos amorosos para um objeto.

O investimento libinal de objetos não aumenta o amor-próprio. A dependência do objeto amado tem efeito rebaixador; o apaixonado é humilde. Alguém que ama perdeu, por assim dizer, uma parte do seu narcisismo, e apenas sendo amado pode reavê-la. Em todos esses vínculos o amor-próprio parece guardar relação com o elemento narcísico da vida amorosa(FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo, 1914, p.46).

O fato de perdermos uma parte do nosso narcisismo quando estamos investindo em outro objeto, é de certo modo gratificante do ponto de vista de uma transformação no sentido evolutivo do ser humano, isto é, podemos então garantir um sentido a nossa existência por meio do que nos sugere a sobrevivência, um contato de dependência, pois é justamente pela dependência dos outros que sobrevivemos. Segundo Sigmund Freud, “quem não ama, adoece”, e é justamente nesse adoecer que o que nos liga à vida, se desconstrói, e uma nova realidade assume o nosso comando, sendo que esta por sua vez, possui um acesso a não-vitalidade. A reunião de seres humanos na própria existência constata que o olhar do outro é o espelho da nossa vida, pois é a partir do outro que nos orientamos, o outro nos serve como um mapa para o nosso estabelecimento no aqui, no agora. O amor nos garante a cura para suportar a vida, sendo assim, a possibilidade de ligação para com ela, e o saber sobre a própria morte por intermédio de uma aprendizagem vicária diante daqueles que já morreram. Estamos ligados à vida, quando estivermos convictos que a morte existe através da razão, e quando estivermos convictos que o amor em nós existe, através das sensações de perda de uma parte ou diminuição do amor-próprio, e de conquista pelo objeto desejado.

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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Mais uma Peripécia

Acordou resoluto. Neste dia decidiu-se por um viver contemplativo. Abriu mão de reclamações batidas, desgastadas e gratuitas. Esperou a banheira abarrotar-se. Preparou um banho como não havia preparado há alguns anos – todos estes, aliás, tinham sido no chuveiro.

Saiu de casa e deixou-se admirar com a plenitude do clarão dilucular. Entrou em seu carro e esperou as janelas fecharem-se automaticamente. Respirou a fim de sentir todas as notas daquele perfume de carro zero.
No caminho para a praia contemplou um azul que ainda se insinuava no céu. Deslizou as mãos no volantes ainda intacto, abriu a janela e respirou fundo – exótico e estonteante odor do mar...

Estacionou o carro. Tirou as sandálias e ao passo que sentia doce e lentamente o atrito do prazer arenoso em seus pés, enchia-se de júbilo: perpetuai o gozo desse dia, ó, senhor! Sentou-se levemente para meditar. Do mar parecia efluir toda a pureza breve dos dias. Tinha certeza de que seus sentidos já não o mais enganavam...

Mas houve desarranjo súbito naquele nirvana, e então ele sentiu um calor na espinha – era alguém.
“Aí, minha correntxi! Levanta djivagarinho e entra na porra da mala do carro! Você tá fudjido! Playboy  do caralho!“

O ar então houvera sido contaminado com um forte cheiro de suor do assaltante, o atrito agora era levemente gélido, o cano da arma em sua nuca, o sol até então tímido, agora era  motor do mais cálido inferno.

Por sorte o seguro lhe deu outro carro, após noites e mais noites perdidas com burocracia, e o ladrão apenas um tiro de raspão na perna – efeitos do craque.

A partir de então, acorda sempre irresoluto e cada dia menos sensível.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Quando às 8 horas não bastam

O corpo passa rápido. O corpo morreu rápido, não viu filhos, não via amor tentáculos. O corpo passou e agora? Sobraram as coisas penduradas. Profilaxia, terno, caminho, trânsito. Higienize o seu corpo cidadão! EMAGREÇA! EMAGREÇA! Corpo bom é corpo feliz. Parada, não há mais paradas, para alguns sobra a droga. Sou o corpo do corpo metálico, o contenho ou estou contido? Sentindo assim sei que nada para, nem eu vou parar, não se esqueça o corpo passa rápido não se esqueça, parar para sonhar é ver o corpo passar, se esqueça, mas não esqueça. É... final de semana eu vou comprar, semana toda trabalhar, pendurar tudo que tenho no pescoço e pensar que estou vivendo. Realidade paralela é o mercado que mais rende. Para, para onde, para quem, onde para isso? Para tudo há sempre não sei dizer nada! Como estou hoje? Hoje estou aqui? Quem está aqui? Será que minha bolsa sou ainda? Meus lábios e cabelos sou ainda? Essas coisas sou ainda? Como estão as coisas?

Vão mal, pois muitos aqui não merecem viver, não fazem falta, vieram para o mundo para não dizer nada, ao contrario, se ofendem com migalhas, lançam olhares avaliativos, bichos idiotas, perdidos em um mar sem sentido feitos macacos imitadores. Eu sou um deles, o mais ridículo de todos, pois poderia passar a existência calado e poupar esforços nessa minha saga cristã, de amor a verdade. Mas os pais da desarmonia cunham sua grafia no mundo, ecoam vozes de embaraço, e fazem me sentir em uma jaula onde os macacos a todo instante se agitam mais, ao ponto de não sabermos onde isso vai chegar. Sempre existiu essa tal violência, mas como posso eu não ter desafiado receber o ônus da batalha? Para o meu bem, prefiro falar. Ou não...

Santa,
Minha santa!
Você nos segura minha santa
Santa, tu és melhor que bolsa família
Emaculemos! Emaculemos! Ejaculemos
Pai, mãe, filho e tudo que houver
Ajudem antes da hora da bolsa estourar

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Um torto decidido e entortado

O torto, pelo menos em minha concepção, acredita que a vida é marcada por curvas tortas e mudanças, e por isso mesmo, neste texto eu vejo a necessidade de repensar algumas idéias expostas por mim. Essas idéias dizem respeito à relação do torto com a ambigüidade. Já me foram feitas muitas criticas sobre a concepção que faço do torto. Já disseram que minha lógica é a lógica da anulação das minhas próprias afirmações, assim como já chamaram atenção para a postura indecisa do torto. Confesso que muitas dessas criticas me fizeram repensar algumas de minhas opiniões.

Uma observação: a mudança de perspectiva que eu ando sentindo acerca do torto, além de ter sido influenciada pelas críticas, sugestões, refutações e observações dos leitores, é resultado também de minha experiência com a clinica psicanalítica. Na terapia, fui percebendo que muitos de meus discursos estavam carentes de significantes que refletiam questões mais práticas da vida. Notei que palavras como foco, eixo, projetos, principio de realidade, castração, decisão, foram palavras que não repercutiam nas minhas experiências cotidianas.

O que quero dizer com isso? Ora, a escrita é reflexo do pensamento do autor. Se eu, sem me aperceber, negava todas as palavras que me cobravam compromisso com as decisões na vida, é mais que óbvio que eu terminei por refletir isso em meus textos sobre o torto. O meu olhar mostrava uma postura que muitas vezes terminou por de fato anular minhas próprias afirmações, visto que a minha concepção afirmava e se negava. Mas percebi que essa ambigüidade era reflexo de um medo de assumir a decisão e poder pagar caro pelo preço dela.

No entanto, ainda insisto em defender certos pontos de vista. Esses pontos se referem à natureza oscilante da realidade e ao exercício de se avaliar a realidade por vários ângulos. Quando encaro a realidade como oscilante, reconheço a história e as mudanças culturais pelas quais sempre passaram os homens, aprendendo assim, a não me prender em posturas mofadas e inertes por admirar a dinâmica do humano, como acho que valiar a realidade sob vários ângulos também faz com que eu evite posicionamentos simplistas e limitados sobre minhas opiniões.

Portanto, não é por que eu percebo a necessidade de retirar o torto de uma postura ambígua, que eu deixe de admitir que a vida é feita de ambiguidades. Sei que a vida não deixará de ter seus dilemas, e que nem sempre o que é bom é de fato bom, e o que é mal é de fato mal, mas acho que o meu torto deve assumir um lado, mesmo sabendo que esse lado seja momentâneo e que não represente a única verdade do mundo e que o lado que eu assuma não necessariamente venha trazer resultados desejados por mim, até por que sei que essa vida é entortada.

Outra coisa: não é por que eu assuma um lado, que eu necessariamente deva achar que o torto deve assumir apenas um partido. Como eu disse, o que eu acho é que meu torto deve aprender a ter mais facilidade em tomar decisões, mas a partir do momento em que eu enxergo que a realidade é ambígua, reconheço de antemão que não existe verdade absoluta para me apoiar, e é por isso que mesmo que eu tenha tomado uma opção, não deixarei de negociar com o outro lado. Buscarei assumir escolhas, não me manter cego às minhas escolhas.

Para concluir, devo dizer o seguinte: o meu torto já se perdeu demais ao negar assumir suas decisões. Ele tem que aprender a enfrentar os preços de suas decisões e aceitar as perdas para trilhar os caminhos de suas novas conquistas. Agora é a hora dele encontrar seu foco e não se manter disperso em suas posturas. Por outro lado, sei que também é necessário que ele não perca de vista a natureza ambígua da vida para que não cometa os mesmos erros dessa humanidade simplista e intolerante. Enfim, é hora de ser um torto decidido e entortado.


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COLUNA DE VINA TORTO SOBRE MÚSICA E SOCIEDADE

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O mal e suas censuras

Uma caracteristica marcante na cidade de Dublin e o cheiro continuo e progressivo de cigarro. Isso me pareceu uma marca nao so dessa capital metropolitana como das outras. Creio que em Sao Paulo seja assim. As pessoas adotam o cigarro como um amigo confidente das horas vagas ou mais convenientes. Um cigarro e mais companheiro que muitos outros que conhecemos no dia a dia, fora que so ele e capaz de aliviar as insuportaveis demandas da rotina. Dai fiquei pensando numa questao que ha um tempo vem me intrigando, para que diabos uma propaganda violenta atras da carteira? Isso nao passa de uma tentativa da politica moralmente obsoleta da Organizacao Mundial da Saude. Concluo isso, porque essa entidade so adverte, que tudo ao nosso redor que provoca vicio compulsivo nos faz mal. Certo, e faz. No caso, o cigarro ha quantidades de dioxido de carbono, nicotina e outras substancias que matam ate rato. Se e tao nocivo, por que a industria de tabaco produz fervorosamente e garante milhares de pacotinhos nos bolsos dos consumidores? Claro, como disse, a producao de cigarro e lucrativa e tem uma industria que mantem muito bem a producao, a venda e o consumo. Alem de estar intimamente atrelada com a industria farmaceutica, pois alguns milhoes sofrem vivamente na cama da enfermaria. Para evitar esse mal estar tao escancarado, a OMS, sempre adverte para consumir com moderacao. Isso tambem se estende a cerveja, depois de apresentar aquelas mulheres suntosas, ao lado da tv, e bem pequenininho, encontramos "apreciem com moderacao". Parece que esse fenomeno e mundial. Eu me pergunto quem ira consumir uma cerveja apenas para ir para sua casa tranquilamente por nao querer levar uma multa ou castigar o seu organismo pelo excesso de alcool? Quem depois de uma frustracao daquelas ou mesmo depois de uma rotina entediante nao ira procurar o seu conforto e consumi-lo ate estancar esse mal estar? Creio que todo mundo, excetos os neo- neuroticos pervertidos. Criar leis desmensuradas nao adianta. Sabemos que a censura e sempre desnecessaria. Vemos o caso da Lei Seca no periodo de 1920 a 1933, so fortaleceu o comercio do Al Capone e seus afiliados. O que faz mal todos estao querendo nao importa como, pois e esse mal que faz o bem. O bem nos seus diferentes termos. Acho que a OMS deveria se atentar para o trabalho. Engracado que numa entrevista de emprego, o contratante nao diz para o novo empregado trabalhar com moderacao, pois o trabalho assim como as outras drogas faz muito e muito mal a saude. Antes mesmo de receber a aposentadoria, ja estamos cheios de varizes, desvios na coluna, hipertensao e diabetes. Tudo para poder manter o pao e seu status quo de cada dia. E do trabalho que surgem os vicios, sem eles, as virtudes nao poderam andar em dia. Essa ordem de sustentar essa sociedade do consumo, vicios e mal estar se mantem ha muito tempo. As coisas continuaram como estao, nao da para ser coerente quando a demanda do capital e mais forte. O que faz mal que faca mal desde que nao haja prejuizos lucrativos. E quanto ao trabalho, ele continuara fazendo muito mal, pois no dia que inventarem uma Lei Seca para ele, como disse Woody Allen o assalto sera a principal forma de convivio social. E assim continua, o trabalho dignificando a alma humana.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mortes

Mortes
Dagalberto morou em um orfanato até completar a maioridade. Fez os cursos de técnico em eletrônica e de auxiliar de enfermagem. Aos 24 anos comprou uma casa em Tobias onde pôs sua oficina de concertos de eletro-eletrônicos em geral. Sua oficina, na Rua do Amparo, perto do cemitério, ficou muito conhecida. Dagalberto era um homem só, não tinha mulher, filhos ou amigos. Falava o bastante para ganhar seu pão e conquistar seus fregueses.
- E qual era o problema na televisão Dagalberto?
- Rapaz. É o tubo de imagem que está velho. Posso trocar umas peças, mas, num dou garantia, não. Respondeu Dagalberto como sempre. Sua voz era baixa e certeira. O rapaz não estragava as palavras.
A vida na Vila de Campos nas segundas feiras ganha um calor maior de que o de seu sol quente no mês de março. As pessoas correm para a feira e o formigueiro de gente toma conta da cidade. Vem gente da Barroca, de Monte Coelhos, Curtume, das cidades e povoados da Bahia. A feira de Tobias é muito grande. A Avenida Sete, e a Getúlio Vargas ficam sem espaço para o povo passar. Até na Rua do Amparo perto do cemitério se juntam pessoas que vieram visitar seus parentes ou apenas se alojarem durante a feira que começa no domingo e termina na segunda às seis da noite. Durante a noite Dagalberto tinha pesadelos. Muitas vezes sonhava com a mãe que nunca viu. Em estado de sonolência conversava com ela vários minutos. A finada Miralva que o diga, Deus a tenha. Miralva foi uma mãe para Dagalberto. O rapaz quando vivia no orfanato conheceu esta mulher idosa, e ela se agradou dele e continuou visitando-o até quando ele saiu. Ele foi morar com a velha, mas, cinco anos depois ela faleceu de morte morrida. Enquanto ele morou com Miralva nada lhe faltou e pode estudar terminando o segundo grau e fazendo cursos. Quando ela morreu, ele vendeu a casa dela, pois, ela não tinha parentes e veio,num sei porque, para Tobias. No dia em que o rapaz chegou à rodoviária, eu estava na academia de Jorge e vi quando ele desceu do ônibus. Achei estranho, um rapaz sozinho, veio fazer o que? Miralva deixou alguma coisa para ele, e ele comprou uma casa aqui, o povo vem para Tobias e traz suas estórias.

- Você conhece este rapaz, Rafael?
- Não. Deve ser vendedor ou representante. Sei lá?
- Calma, rapaz, cara nojento! Reclamou Thais com “th”, como ela gostava de dizer.

Thais e Rafael foram os primeiros tobienses a notarem a existência de Dagalberto em terras campenses. Depois desse dia, demoraram a ver o rapaz. Ele trabalhava de segunda a sábado em sua oficina e tinha muita clientela para atender, com o tempo, as pessoas de Tobias sabiam quem era Dagalberto.

- Ele é um gato! Comprou uma moto novinha!
- É mesmo mulher, Dagalberto é solteiro e tem seu pé de meia. Por que não? Vanice e Risia riram um bom tempo planejando uma estratégia para fazer Dagalberto abrir a boca para conversar. Numa terça feira elas chegaram à oficina com um liquidificador velho nas mãos. Elas disseram que queriam que ele desse um jeito.
- Dagalberto! Gritou Risia com voz de gatinha mimosa. O rapaz não levantou a cabeça.
- Sabe Risia não somos bem-vindas aqui. Disse Vanice. Vanice usava um short curto, exibindo suas carnes de forma muito agressiva. E por cima, ela tinha um tomara que caia que por vezes caía mesmo, deixando seus seios expostos. Dagalberto olhou por cima de seus óculos de fundo de garrafa e diz:
- Estou ocupado, deixa aí que depois eu olho. As meninas saíram com muita raiva comentando o fato assim:
- Esse tabaréu, só porque veio da capital que dá uma de educado! Disse Vanice.
- Será que ele é gay? Perguntou Risia.
- Mas que ele é um bofe é. Completou Vanice. As duas meninas desceram a Rua do Amparo e estava havendo um enterro no cemitério. Vanice ficou curiosa para saber das coisas e foi com Risia acompanhando a entrada do caixão na terra santa. As pessoas choravam; havia muita gente e logo o cemitério foi tomado pelas pessoas.
- Vanice, quem morreu foi Anacleto de Rosalva, mulher! Disse Risia assustada.
- Não acredito! Mas acredito porque estou vendo! Mulher que é isso agora os homens morrem assim, e ninguém sabe como? Ele estava ontem bebendo no bar de Walter na avenida!
As moças ficaram até as tantas e não perderam uma cena se quer. O povo de Tobias deixa o cemitério somente depois que a cova é fechada e enquanto isso as pessoas aproveitam para comentarem a morte.
- Dizem que acharam evidências, como é? A palavra é essa mesmo? Perguntou Adão do posto de lavagem.
- É, continue! Disse curioso o professor Lindalvo do Risca Faca.
- Pois é, acharam evidências que ele fez sexo anal antes de morrer. Concluiu Adão.
- Rapaz, bem que eu desconfiava de Anacleto. Um dia o vi discutindo com Dagalberto na oficina quando ele morava lá. Desconfiei que houvesse algo errado porque ele nunca fala e naquela noite Dagalberto falava alto e gesticulava, parecia uma bicha. Dagalberto quando se estabeleceu comprou outra casa e foi morar com uma senhora idosa chamada Herculana. A família dela a pôs no asilo, mas, Dagalberto muito católico, pediu a família para cuidar da velhinha. Herculana era uma velhinha que tinha tido um derrame, não falava e passava a vida numa cadeira de rodas. Vanice e Risia ouviram comentários como esse e ficaram ainda mais curiosas. Perto de um jázigo grande, de mármore escuro, estavam duas senhoras a conversar.
- Mulher este é o quinto caso de homem casado morto com marcas no ânus. Primeiro foi Tião da madeireira, depois foi Raimundo do açougue, depois o Zé Carlos que trabalha no supermercado, e em seguida foi o anãozinho da rodoviária. Todos com marcas nas costas e no ânus. Será que os homens de Tobias tão virando...?
- Deixa disso mulher! Cortou a conversa a vereadora Maria de Melo, mulher de Chico, o motorista do prefeito. Vanice e Risia cresceram ainda mais a curiosidade e quando fecharam à cova, elas foram para a Praça do Cruzeiro colocar a fofoca em dia.
- As marcas foram todas por trás. E o ânus dele, como comentaram, estava forçado. O que sugere que foi feito sexo.
- Você está sabida, Vanice. Disse Risia acrescentando que havia mais quatro homens com os mesmos sinais e todos foram estrangulados por trás.
A cidade não comentava outra coisa. Um pastor pregou no domingo que tudo era a prova da volta de Cristo e que o diabo estava desesperado. Já o padre apelou para as famílias guardarem seus filhos em casa. As ruas e avenidas da cidade estavam cheias de cadeiras e quando o carro da policia passava o povo se levantava e observava que direção ele tomava, depois, a conversa iniciava novamente.
- Eu acho que estas mortes estão ocorrendo devido à fúria de alguma mulher que descobriu a vida amorosa de seu marido. Isso é vingança de mulher. Disse Paulo de dulcinha.
- Então Paulo, a corna pirou e saiu matando os homens? Perguntou Alice da farmácia.
Passaram os meses. Os anos vieram logo e nada do assassino. A cidade esqueceu a estória. Aqui e ali alguém comentava o caso. Chamaram, nas santas missões, os franciscanos para benzerem os quatro cantos da cidade. E pediram a Nossa Senhora sua benção.
“Que Deus abençoe nossa terra. Aqui é um lugar de gente boa e decente”. Disse frei Gustavo com muita emoção.
O tempo continuou passando quando a primavera de 1988 chegou trazendo para Dagalberto muita tristeza. Herculana ficou pior. A mulher que nada falava agora deu para chorar e chamar pelos parentes.
“Muié amarra a pindoba aí, cadê Sebastião! Gritava a velha”. Diziam os parentes que eram lembranças dos tempos do Rio Real. Herculana fora casada com Sebastião, um vendedor de feira livre.
Outras vezes a mulher gritava: “Dagalberto, deixe sua mãe em paz, menino!” Dagalberto negava o fato, mas não tinha mais o que dizer. Herculana começou a dizer coisas bem esquisitas.
“Esse moço briga com a mãe toda noite, meu fio. Eu num gosto dele, não, ele faz coisas com a mãe dele”. “Miralva! Oh, Miralva!” Dagalberto achava coincidência Herculana chamar por uma pessoa que ela não conhecia.
O povo ouvia as estórias e nada levava a sério. A velha morreu. Seu enterro foi simples e poucas pessoas acompanharam o cortejo. A velha foi enterrada ao lado de Anacleto. Quando os coveiros foram fechar a cova, o caixão da velha caiu e isso revoltou Dagalberto. O moço entrou em um estado de fúria e pegou a pá de um dos homens e partiu para bater neles com violência. As pessoas não deixaram, tentando acalmar as coisas. Dagalberto xingou os coveiros com tanta raiva que todo o povo comentou o episódio. Consolado da morte de Herculana Dagalberto fez preparativos para ir morar em Nova Sores na Bahia. O pessoal da paróquia convidou o rapaz para homenageá-lo com um jantar de despedida. ”Um rapaz pobre que veio de fora, morou em orfanato, trabalhou, deu bom exemplo, ajudou os pobres, um irmão que dificilmente vamos esquecer”.
- Miralva, você acredita nisso?
- Não!
A despedida da Vila de Campos foi calorosa. As pessoas desejaram a Dagalberto toda a felicidade do mundo. Nova Sores dista pouco mais de uma hora de Tobias. O amanhecer de sábado trouxe Dagalberto e sua bagagem para a Bahia de todos os Santos.

- Olha! Como vai? Não sabia que você ia me encontrar aqui?
- Deixe disso Dagalberto. E meu cabelo como está, gostou?
- Arrasou Rafael, você está um gato. Vamos!
Dagalberto entrou no carro de Rafael. Nunca se sabe ao certo sobre as coisas. As mortes em Tobias nunca foram explicadas. Nem as de Nova Sores. Na Bahia os homens foram amarrados antes de terem seus pênis mutilados. Rafael reclamou muito das noites que passou com Dagalberto em Sores. “Ele brigava a noite inteira com a mãe, a chamava de puta e que tinha abandonado seu pai”. Rafael voltou para Tobias são e salvo.
- Miralva!
- Sim, Herculana!
- Mulher, Deus é justo...
Dagalberto continuou vivendo sozinho em Sores na Bahia. Rafael o deixou devido as suas crises de sonambulismo. O jovem Dagalberto alguns anos depois foi achado morto em sua casa com hematomas em todo o corpo incluindo o ânus.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sutil Precisão

Era preciso não sorrir
O canto de boca de amarga alegria
Tentar não ser, não querer
A ternura enclausurada na displicência
O brando palavreado sem cortesia

Era preciso arrancar o conforto
Para uma incompreensão tão austera
Inventar o não saber, não falar
Do que se entende, por nem isso entender
Insaciar o deleite e esperar, quem dera

Era preciso jogar a rede
E emaranhar-se nela e nela viver
Deixando-a proteger, dos ímpetos
Do ir, da inconstância, da insistência
Não rasgar o fio sem aprender a coser

Era preciso tudo aquilo romper
Mudar o sim e o não, o choro, o riso
O sabor, o medo, o cheiro, o calor
Uma pena sem a carta, o improviso
Mudar a fúria, o fim, mas não o início

Era preciso apostar, prever, encarar
A máscara da insensatez, e apreciá-la
Amá-la, nela encrustar o brilho
Usá-la, dançar com ela e encantá-la
Nela pincelar a cor do desejo, do devir

Era preciso a sutileza do sonho
As interrogações com pouca graça
A meninisse travestida de maturidade
Que a ninguém engana, faz rir, disfarça
Rir daquele vazio, que tão denso é

Era preciso quebrar o salto, o palco
E, o conserto, montar peça a peça
Sentir a falácia dos olhares
Reter o mistério dos ouvires
Mastigar as claves dos tocares

Era preciso sair, fugir, cair
Mas com a volta sempre às mãos
Com a luta coreografada em ensaios
Fazer o infazível, obedecer à inquietação
Na ânsia voraz, bordar o drama

Era preciso conduzir o dissabor ao gosto
Pela mira, alvo, tiro, erro e pelo ato
Atos como uma composição, os sons, as cenas
Percalços, efeitos de um fino trato
De um frasco e suas essências

Era preciso esconder a essência
Uma divina e inexplicável precisão
A essência do medo recôndito
Era preciso esconder o medo
O medo era a essência

Literatura: um fantasma visível?

As investigações acerca de uma possível essência da música brega empreendida pelo sociólogo e colega de site Vina Torto me trouxeram uma série de reflexões acerca das delimitações de tudo que está posto na realidade.


Tenho percebido que, embora a literatura seja um fenômeno que se vive, que se debate, que afeta, que lê o mundo e que até mesmo influencia ações dentro deste, se formos a fundo numa questão ontológica, no sentido de termos de forma altamente visível o que é a literatura, frustramo-nos na identificação da característica essencial imanente deste fenômeno.


Mais à frente,certamente, acharemos arranjos de poder envolvendo tal definição, não à toa temos conceitos como paraliteratura, que, segundo sugere brilhantemente o site www.dicio.com.br trata-se do "conjunto das produções textuais (foto-romances, histórias em quadrinhos etc.) excluídas pelo julgamento social da literatura propriamente dita". Ou seja, tal como o nosso caro pesquisador Vina identifica problemáticas acerca de QUEM define o Brega, podemos indagar a respeito de quem diz o que é a literatura. Mas comecemos com prévias considerações ontológicas.


Há uma série de problemas acerca da detecção de características decisivas da literatura. Os formalistas russos, no início do século XX, buscaram a essência do literário no estranhamento. Caberia, então, à literatura, deslocar um discurso cotidiano, impregnando-o de uma dimensão nova, tornando-o estranho. Os formalistas buscavam, pois, a literaturidade, os usos especiais da linguagem. Não a toa Roman Jakobson afirmava que ‘a literatura consistira numa forma de escreve que violentaorganizadamente a linguagem ordinária.
Entretanto, há de se convir que este estranhamento depende do olhar do sujeito, o que coloca em evidência a legitimidade desta pretensa característica essencial. Ora, em primeiro lugar: qual é a linguagem ordinária a se fixar como padrão, a que obedece a norma culta? Não, uma vez que esta é corrompida a todo instante em todos os meios, de forma mais ou menos grosseira. Há de se falar portanto numa pluralidade da linguagem ordinária. Pois esta varia de acordo com a classe social, com o Gênero, dentre outras variáveis.  Aliás, reforçando tal argumento, profetiza com maestria Terry Eagleton, “não há recursos “literários” -metonímia, sinédoque, (...) etc. - que não se empregue continuamente na linguagem diária”.

Outro caminho seria  o fato de se tratar a literatura de um discurso com fins pragmáticos, ou como uma verdade em si. Isto se esbarra no fato de que muito de que o que hoje é considerado literatura não pode não ter nascido com tal pretensão e vice-versa (não se esquecendo de outras formas linguísticas como a piada). A carta de Pero Vaz de Caminha pode nos parecer, hoje, deveras poética, embora provavelmente não houvesse intenção do autor num fazer poético.

As questões de ordem axiológica são mutáveis no tempo e no espaço. O que é hoje filosófico, pode ser amanhã literário, e vice-versa. Mesmo aparentemente cada vez mais desprovidos de metafísica, nós, seres da conteporaneidade, criamo-nos e baseamo-nos em nossos próprios mitos. Quem garante que a imanência de hoje não será tratada daqui a mil anos da mesma forma com que tratamos os pressupostos transcendentais dos medievais?

Aliás, Terry Eagleton, marxista, põe o seguinte questionamento: “Karl Marx se preocupava em saber  o porquê de a arte da antiguidade grega conservar seu “encanto eterno” ainda que fizesse muito tempo que houvera desaparecido já as condições que a produziram. Pensemos bem, uma vez que não tenha a história já terminado, como poderíamos afirmar que tal arte será, de fato, “eternamente” encantadora? Suponhamos que, graças a expertas investigações arqueológicas, descobrisse-se muito mais sobre o que a tragédia grega em realidade significava em seu tempo, e fosse constatado um enorme vão entre como tal arte interessava ao público contemporâneo a esta e como nós hoje nos interessamos e , então, revelássemos tais obras à luz de um conhecimento mais profundo. O que se poderia dar por resultado – entre outras coisas – seria deixarmos de apreciar estas tragédias e comédias. Quiçá chegarmos a pensar que um dia tínhamos gostado, porque, inconscientemente, costumavamos lê-las à luz de nossas próprias preocupações”.

Enfim, estas são apenas problematizações iniciais. Espero enriquecimentos...

Referência: EAGLETON, Terry. Una introducción a la teoría literaria. Buenos Aires : FONDO DE CULTURA ECONÓMICA, 1998.

*A tradução dos excertos foi minha

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O medo do divã

Muitas vezes alguns indivíduos por não quererem expor o medo de enfrentar um divã, usam discursos carregados de críticas à psicanálise. Muitas dessas críticas são infundadas. É óbvio que existem os críticos que possuem argumentos elaborados e é claro que não é proibido ser contrário aos métodos das clinicas psicanalíticas, até por que esse discurso de crítica e refutação é uma perspectiva defendida pela própria lógica da psicanálise.

Um dos receios ocorre por que somos educados a esperar diagnósticos dos profissionais. Na análise, o analista não assume o lugar do saber, mas sim o próprio analisando que passa a resignificar seus próprios sintomas. Tanto é que na psicanálise, o termo paciente é descartado, pois implica passividade. Na clinica, a autonomia é do analisando, tendo este a liberdade até mesmo de determinar o momento de se finalizar a sua própria análise.

O outro receio em encararmos o divã, é que nós insistimos em acreditar que todo profissional tem que nos dar uma resolução definitiva para os nossos problemas, pois estamos habituados à cultura do mestre. Para a psicanálise, o analisando ao fazer análise, já vem inundado de conflitos, e se o inicio da terapia surge com o conflito, não há por que se terminar sem ele. A diferença é que o analisando vai se encontrar mais capacitado em resolucionar seus problemas.

Também tememos o divã, pois, por estarmos em um contexto marcado pela extrema rapidez de produtos para serem consumidos, não estamos dispostos a aceitar projetos que impliquem tempos longos. Como na clínica os indivíduos não buscam resolucionar seus problemas simplesmente fazendo uso de medicamentos, e sim, confrontando-se com suas próprias contradições, obviamente que as suas resoluções serão gradativas e não resolvidas da noite para o dia.

Essa dificuldade em esperar resultados de longo prazo, faz com que a gente se adapte a um modelo prático de viver, fugindo dos nossos próprios problemas, afinal, se perder nos emaranhados das contradições, faz a gente “perder” tempo. Ora, em um ambiente como a clinica onde o analisando é quem busca desvendar suas próprias contradições, é mais que óbvio que muitos prefiram a tarja preta para esquecer seus problemas.

Outro ponto se refere ao nosso etnocentrismo corriqueiro. Ao fazer análise, eu busco resolver questões que me desagradam. Nem sempre essas questões são visíveis aos outros, e os problemas que os outros enxergam em mim, não necessariamente são problemas que eu enxergo. Os outros, por acharem que os problemas que eles enxergam são os problemas que devem ser resolvidos, acham que a análise não surtiu nenhum efeito em minha vida.

Os críticos classificam a clinica psicanalítica de burguesa por acharem que o objetivo dela é uma mera adaptação do analisando ao contexto. No entanto, a análise, reflete-se em um caminho de emancipação e de auto descoberta. Classificam a clinica de elitista pelo preço das análises, mas em qual profissão não existem profissionais que cobram caro por seus trabalhos? Sem contar que existem tembém projetos de analises populares.

Se esses críticos não gostam da clínica por dizerem que a psicanálise é burguesa, assim como os burgueses, eles adoram a hierarquia e o poder ao selecionar e legitimar apenas alguns como donos do saber. Ao não suportarem a dor das próprias contradições em uma análise, adaptam-se ao modelo adorado da burguesia ao preferirem o complô com a sociedade de consumo fazendo uso de medicamentos por terem pressa, afinal, tempo é dinheiro.

VISITEM:

Blog Pensando a Educação: www.pensandoaeducacao.blogspot.com

Blog de Vina Torto no Cinform sobre Música e Sociedade
www.cinform.com.br/vinatorto

"Diva II"

Apesar das diferencas culturais, as pessoas sao repetitivas; seja na dor, nos conflitos, e nas insegurancas. A indecisao,dispersao e foco sempre constante. Castracao e perda do objeto sempre invariavel. Mal- estar... indissoluvel , sempre perene nas relacoes- independente do denominador seja ele economico, social ou politico. Vamos ao diva, pagamos para nos sentirmos aliviado na esperanca de termos respostas para aquilo que nao se tem qualquer acordo. Ou mesmo no desejo oceanico de que um dia tudo ocorrera bem que de repente nos acordaremos mais satisfeitos e amigaveis, capazes de suportar as dores do mundo, como se os principios do prazer e da realidade fossem entrar definitivamente num acordo. Eu diria que se eu me levantasse agora do diva, estaria cansada, confusa e mais infeliz, principalmente se eu soubesse que meu muso, meu divo morreu. Uma dor que repudio, mas nao desejo abdica-la. ***Texto feito e pensado sobre o texto do meu amigo torto Vina.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

CABOCLA DO RIO

CABOCLA DO RIO

Havia uma estrada na roça.
A roça sempre esteve lá, mas eu não.
A estrada que vi na roça, era uma estrada de roça.
Deve levar a algum lugar.
À mandioca, ao milho, ao feijão.
E a verdura beija o chão, e no inverno saudamos a São João.

O apóstolo Pedro não se vexa, pois logo sua missa é rezada.
Povo na praça, crianças em roupas de gala, tem até primeira
comunhão!

Havia uma morena na roça.
A estrada a encantou.
E a morena me cegou.
Foi como fitar a lâmina do Sol zangado.
Apaixonei-me, fui um coração atordoado.

A cabocla era da beira do rio.
Tinha cheiro de mato.
Seu hálito era de jardim bem cuidado.
Sua silhueta juvenil me dava febre, e de olhá-la calafrio.

Tomei a estrada da roça.
Passei por muitos pastos.
E não sei por que não me lembro mais o caminho de volta.

A cabocla virou sereia e me levou para o fundo rio...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma Provocação

Recenetemente, numa aula de Antropologia I, um nobre colega  fez uma interferência enquanto o professor explicava o uso atual do termo transculturação ao invés de aculturação, uma vez que aculturação sempre implicará a afirmação hegemônica de uma cultura. Tal interferência deu-se da seguinte maneira: o  colega falou que não caberia à antropologia inventar novos termos, uma vez que sempre haverá uma cultura hegemônica.

Tomei a liberdade de dar a contrapartida afirmando que não deveríamos nos ater ao ser das coisas, que a crítica deve existir e que as palavras, bem como todos os símbolos, podem ter força normativa. Portanto no caso de se substituir um termo que, embora igualmente carregado de ideologia, pense a não-naturalização de um proselitismo, da não-estigmatização de uma cultura a fim de subordiná-la, é extremamente válida, uma vez que se trata de um dever-ser, de uma prescrição.

Ora, amigos, isto me lembra da discussão acerca da concepções constitucionais. Entre estas, destaco aqui  a concepção sociológica de Lassalle, que advogava ser a Constituição mera condicionada pela cultura. Se a Constituição escrita não fosse espelho do ser de uma sociedade -  o que, para Lassalle, seria a Constituição real -, seria relegada a “mera folha da papel”. Em contrapartida, o alemão Konrad Hesse reconhecia na Constituição também uma força normativa, ou seja, ela também seria condicionante, uma vez que prescreve um dever-ser, aponta para um rumo, quer ele já esteja sendo seguido, quer não o esteja.

Não precisaria nem ir tão longe para provar o que Hesse afirma. Ora, eu vivi a construção da obrigação  de se usar cinto de segurança no Brasil, e isto que agora é costume teve seu ponto inicial numa lei ordinária. Hoje, não usar o cinto de segurança é, na visão de muitos, não só uma infração, mas algo moralmente reprovável. Outro exemplo disto seria o estacionamento em vaga destinada a deficientes etc. Obviamente que esta leis trouxeram consigo discussões oficiais e não-oficiais por parte do próprio governo, da mídia e foi posto, certamente, até mesmo nas mesas de bar, mas isto não extingue o fato de que primeiro elas tenham tido de ser postas.
A assertiva do nobre colega trazida no início do texto de que “que não caberia à antropologia inventar novos termos, uma vez que sempre haverá uma cultura hegemônica” se esbarra nisto tudo. Ora, vamos a mais um simples exemplo, a lei brasileira que sanciona o racismo ainda não o fez extinto, é fato. Mas daí dizer que ele nunca o será? Será que na época em que o país vivia a coisificação do negro, que desde seu transporte nos navios negreiros era submetido à ingestão de, dentre outras coisas, ratos in natura, e que estava exposto à arbitrariedade penal dos senhores e congêneres havia a cogitação da possibilidade de uma lei que reputasse o racismo a crime inafiançável?

Voltando à problematização inicial do texto, portanto, temos, através da remodelagem de certos termos antropológicos, uma tentativa de prescrição de um dever-ser, afinal, este pode ser perfeitamente atingível, tendo em vista os exemplos supracitados.

Tendo em vista o assunto dar ainda muito pano pra a manga, vamos ao debate.

terça-feira, 5 de abril de 2011

A dificuldade do bicho de ser bicho

Prossigo assim calado
Vendo ascender às palhas
Cada uma queimada pelas mãos dos homens
Palavras sempre palavras
É o berro da manada
Coisa que vejo quando meus olhos vagueiam em aglomerações.

Tilintar de verbos
Pompa, roupas e versos
Dividem mundos
Fosso ignóbil do medo
Maneira sutil de proteger a carniça.

Quando eu sair dessa prisão
Certeza viro um verme
Mas não para corroer recônditas reentrâncias
Como o filho do carbono
Mas para dissolver a superfície incrustada
Há muito tempo.

Queremos apenas um lugar onde nada seja a todo tempo nem eu nem você.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

BBB11: entretenimento e subjetividade

Eu sei que esse papo sobre até que ponto um meio massivo de comunicação como a rede globo pode produzir senso crítico ou não, parece ser um tema um tanto cansativo, no entanto, por eu ouvir de forma cotidiana a insistência em apenas visualizar emissoras como a globo de forma reprovativa, atrevo-me a insistir acerca desse debate perguntando: até que ponto os telespectadores assíduos das mídias comerciais podem ser reduzidos a alienados e repetitivos?

Ouço de forma bastante freqüente um discurso que já se tornou um lugar-comum referente à capacidade de escolhas dos telespectadores. Esses telespectadores são classificados de alienados, que priorizam o consumo ao invés de uma escolha mais subjetiva. Para mim, o telespectador, antes de ser pensado como alguém que só aceita programações semelhantes e repetitivas, deve ser visto como alguém que possui autonomia suficiente para aceitar ou não o que é enviado para ele.

Por exemplo: Nina Ramos em seu texto “Opinião BBB 11: Maria, simples assim”, opinou que a semelhança das provas e a repetição da Banda Jota Quest no último dia do programa, como uns dos fatos para justificar a queda de audiência do último BBB. Leo Dias no site Pronto, Falei! diz que segundo dados prévios do Ibope em São Paulo, o BBB 11 marcou 30 pontos. Já o primeiro BBB teve 59 pontos! Pergunto: se o telespectador quisesse apenas o óbvio, o BBB 11 teria queda de audiência?

Outro ponto se refere a atual campeã do BBB 11. Esse fato me instigou a pensar sobre uma questão: o telespectador é tão previsível assim? Muita gente sequer imaginou que Maria ganharia. Ao comentar sobre o resultado final, Ale Rocha fez a seguinte observação sobre suas hipóteses: “Wesley poderia vencer. Afinal, ele atendia aos requisitos do macho-alfa brasileiro (branco, jovem, bonito, heterossexual), típico vencedor de BBB.

Mesmo com esses atributos, a vitória foi de Maria. Os leitores podem dizer que Maria é uma garota que possui padrões estéticos previsíveis para ganhar o BB, mas querendo ou não, os votos não caíram nas hipóteses de Ale Rocha e de muita gente que acreditou que a vitória seria de Daniel. Não que não haja valores previsíveis, mas sou da opinião de que as escolhas dos telespectadores implicam questões muito mais subjetivas do que uma simples manipulação.

Também acredito que não podemos negar que a mídia tende a ser repetitiva em suas programações, e que se ela se sustenta, é por que parte do seu consumidor dialoga muitas vezes com o mais do mesmo, mas que apesar disso, o consumidor necessita também de coisas que tragam novas perspectivas. Como disse Bial: o conservadorismo da audiência brasileira não sumiu da noite para o dia. No entanto, como disse o próprio Bial, “as coisas são mutáveis!”.

Não podemos insistir na natureza previsível do telespectador dos meios de comunicação privados, afinal, eles são humanos cheios de vida e não seres inanimados. Acredito que mesmo que se prepondere o discurso clichê da mídia, quem a assiste são sujeitos dotados de escolhas, de gostos próprios, e que isso não pode ser negado. Se pudesse, como explicar a queda da audiência de um programa popular como o Big Brother Brasil?

E como explicar as várias telenovelas que saíram do ar por falta de Ibope? Não insistem que as novelas expõem sempre a mesma trama? Não nego o previsível enredo delas, mas acho que ao invés de nos acomodarmos com discursos classificatórios e reducionistas, deveríamos avaliar esse tipo de fenômeno por um viés que implica um jogo que envolve uma malha muito mais complexa e contraditória de identidades e de valores sociais.

Referências

DIAS, Leo. 'Big Brother Brasil' termina com a pior audiência de sua história. Disponível em: Acesso em 30 de março de 2011

RAMOS, Nina. Opinião BBB 11: Maria, simples assim. Disponível em: Acesso em 30 de março de 2011.

ROCHA, Ale. Maria e minha dose de otimismo. Disponível em:

A sombra do Cinema Novo

As primeiras hist'orias contadas no cinema eram relativas a super centralizacao cultural e o imperialismo. Nao era de se estranhar, pois estava em vigor nessa epoca da Historia grandes "civilizacoes" colonizarem os paises ditos mais fracos. E e claro, que no meio proto- midiatico nao iria ser diferente: mocinho euro-americano sendo o heroi armado indo ao combate dos indios inapropriados para a terra. Esse enredo vigorou por muito tempo, e se pensarmos no classico do cinema mudo ,"O nascimento de uma nacao", do americano Griffith, vemos claramente a relacao estabelecida pelo imperialismo do inicio do seculo XX.


As decadas foram se passando e as vanguardas foram ficando de saco cheio das narrativas nada inovadoras que so engessavam o pensamento do publico. Para os paises do Primeiro Mundo, os cineastas nao tinham nada a reclamar, pois o poder ideologico estava nas maos deles. Enquanto que nos paises do Terceiro Mundo, os diretores acreditavam que se podia pensar no cinema diferente, mais politico e autonomo. Caso muito discutido no Brasil, nos anos 60, no cinema Novo de Glauber Rocha.


Nao que essa ideia foi criada essencialmente pelos cinema-novistas brasileiros, mas ela ja vinha sido pensada e repensada em outros paises como na Franca, pelo Godard e Truffaut, na Alemanha, pelo Fassbinder e Herzog, Argentina, pelo Fernando Solanas. Todos eles almejavam uma estetica e etica diferente da linha ideologica holywoodiana. E quanto aos paises terceiro-mundistas, havia mais um adicional: a questao da auto afirmacao nacional do paises. Pensar no cinema enquanto meio de producao de politica nacional. No Brasil, houve uma relacao estreita entre o cinema e o Estado em que Getulio Vargas, 1930, criou uma lesgislacao, que so tomou impulso nos anos 60, para conter a legislacao internacional de Mercado.


Aproveitando os incetivos do governo, o Cinema Novo aproveitou para propagar as suas ideias e intencoes. Encontramos o regionalismo barroco do Glauber em "Deus e o diabo na terra do sol" e "Terra em transe" e o nacionalismo urbano de Nelson Pereira do Santos em "Boca do Lixo". Mas o reinado nao durou muito para eles, pois apesar de terem em comum a proposta de um cinema autentico, divergiam quanto a questao nacionalista do Cinema Novo. Assim, surgia o cinema Marginal brasileiras. Ambos pregavam o o baixo custo da producao, mas a marginalidade do cinema Marginal ultrapassava qualquer intencao politica de nacionalidade do pais. Abusavam na critica do nacionalismo, colocando personagens pouco intelectuais e pertecentes da escoria urbana: a prostituta, o bandido- heroi, a mocinha mal carater e por ai vai, muito bem representado pelo "Bandido da luz Vermelha" do Rogerio Sganzerla.


Como todo partido, a fragilidade e contradicoes de ideias sempre aparecem. E nao foi diferente no cinema Novo. Mas no entanto, os conflitos ideologicos fizeram o cinema como arena de ideias que sao colocadas e requestionadas a todo instante. O que na contemporaneidade, claro que nao aconteceu por completo, mas o publico e os cineastas tenham se preocupado muito em atingir um modelo americanizado enfeitado pelos efeitos especiais. Concordo que tenhamos que estar pulsando nas veias do mercado, pois antes de ser arte, o cinema e uma industria apoiada pelo tripe da producao, distribuicao e exibicao. Mas que por isso, as ideias inovadoras, e as vezes politicas, poderiam ser concorridas na sala multiplex e nao apenas os "E se eu fosse voce"s. Acredito nas palavras de Silvio Tendler, em uma entrevista na Tv Brasil sobre o seu filme mais recente "Utopia e Barbarie", quando diz que nem os cineastas estao mais dispostos para produzir o cinema politico, como a maioria dos espectadores nao estao dispostos a verem nada mais que se distancie do produto internacional introduzidos pelos efeitos especiais.


Parece que a lei do mercado e mais forte e muito dos sentidos. Forte, que perpetua, depois de algumas idas e vindas das propostas vanguardistas, a ideia proposta anteriormente no cinema mudo.



* meus caros,


desculpas pelas falhas de pontuacao. meu teclado ainda nao tem disponivel a configuracao em portugues.



um beijo a todos!