segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Estendendo a teia da globalização

Devido ao texto brilhante de Miguel " A teia da globalização" , aproveito para fazer alguns apontamentos no que refere a influência industrial no campo cultural, principalmente no que concerne ao cinema. Antes mesmo da chegada do século XX, logo depois da invenção do cinematógrafo dos irmãos Lumierè, 1896, já se discutiam sobre uma essencialização no cinema como meio de auto-afirmação artistíca. Muitos também se oporam a essa idéia, afinal o cinema é filho legítimo da industrialização remanescente e devido a isso, nada se poderia constituir como artístico, pois o autor desconhece todo o processo da sua obra devido a gama de setorização no ramo.
No entanto, como o nosso colega bem argumentou, muitas mudanças ocorreram com a entrada da Revolução Industrial, e isso não foi diferente na esfera cultural. O que poderíamos considerar como arte? Com a entrada da modernidade, neo-pós-realismo- modernidade, e milhões de outros prefixos, sabemos que a arte não é bela, muito menos autoral, está aí o dilema do cinema. Embora muitas obras cinematográficas, entre as décadas de 50 e 60, foram consideradas autorais, como de alguns cineastas: Hitchcock, Resnais, Fellini, Godard, Truffout, logo se soube que era inviável controlar toda a produção de um filme.
Outra questão, foi quanto a super popularização do cinema, ou seja, um produto artístico contemplado numa sala escura por muitos espectadores ao preço irrisório. Os frankfurtianos, dentro da concepção adorniana, viam no cinema uma impossibilidade de que seu produto poderia virar arte, pois no grande momento de ascensão, digo a ascensão Hollywoodiana, era impossível os espectadores em pouco tempo ter alguma consciência da imagem até porque pertenciam às massas. A massa não pensa. A massa apenas reproduz. Responde a um sistema alienante. Frustrante, pois os grandes cineastas da década de 20, acreditavam na potência do cinema. A sua técnica e imagem poderia criar o que o russo Eiseinsten chamaria de "monólogo interior", ou seja, os espectadores tomariam consciência da sua realidade social através do dispositivo. Antes de aliená-las, ele serve para alerta não as massas, mas um coletivo personalizado, um coletivo pensante.
Um apontamento interessante é a falta de criatividade que nós estamos. Digo isso, não por ser minha opinião, mas pelo que já me foi dito por muito tempo. Com o estouro da informatização, tudo para nós está pronto, construído. Estamos na verdadeira era da Cultura Visual, dita pelo norte- americano Stam. A narrativa literária perdeu o sabor, ela foi vencida pela telas projetivas. Uma estória tem agora, cheiro, sabor, cor, textura e imagem. Quando os personagens encenam, eles roubam a cena criada pela nossa imaginação. A partir disso voltamos para o ponto inicial, o cinema não poderia ter essência, como a pintura está para as tintas e a literatura está para os livros, porque esse é o conjunto das composições de outras modalidades artísticas. O que não percebemos é que mesmo o cinema induzindo o olhar pelo cineasta, ele é um meio de "expressão aberta" , segundo Metz, pois infinitos significantes são produzidos através da vivência de cada um. Apesar de sua "natureza" ser analógica, ser um registro, captura da realidade, a linguagem nunca será denotada, pois o cinema lhe dá diretamente com um público atravessado por uma cultura.
Enfim, acredito que essas mudanças, apontadas pelo torto Miguel, provoque também uma crise de olhar com a chegada da globalização. Parece estarmos sempre ressentidos com o novo, pois ele inflama o velho, ao mesmo tempo, que é fruto desse seu antecessor. Podemos considerar isso na literatura por Walter Benjamim. Esse autor acreditou que a literatura enterraria a figura do narrador, pois não haveria mais um contador de estória. Há poucas décadas atrás Saramago nos diz ao contrário, o narrador é aquele que está no livro contando uma estória lida pelo leitor. O leitor sempre captara o pensamento proposto pelo autor, como se fosse ele o contador daquela estória que soa nos seus ouvidos.

4 comentários:

  1. Mai,

    Veja: não estou me referindo ao seu texto não. Ao contrário. Porém, sinceramente eu acho uma babaquice ainda se insistir nessa ideia de que se uma coisa é arte ou não. Mesmo aquelas pessoas que tem como função preponderante em seu trabalho, a esfera técnica, em determinadas circunstâncias ele ou ela vão precisar criar novas estratégias para lidar com a situação vivida em seu papel.

    Para mim, arte é criatividade por parte de um autor e provocadora de expressões para os receptores. Obviamente que por ser oriunda de uma criatividade, ela é produto da expressão do autor também, e se provoca expressões nos receptores, é por que ela gera criações de fantasias. Portanto, expressões, criatividades constituem um dos infaveis elementos do que eu penso como arte.

    Esse lance de que não conhecer o produto por inteiro, como no caso do cinema, não é arte, é idiotice. Mesmo cada um fazendo uma parte, essa parte é pensada, refletida, construida para que possa se interligar no todo. Esse papo de dizer que conhecer uma parte sempre diz respeito ao trabalho alienado é coisa de ideias simplistas tipicas do marxismo ortodoxo. Não to dizendo que todo o trabalho feito parcialmente não imlique alienação. Estou dizendo que não necessariamente setorizar a construção de um produto significa dizer que não está havendo criatividade espontaneidade e sinceridade na contrução dele.

    Eu sei que muitos irão me criticar de generalizações, ironicamente inclusive, quem sabe, até aqueles que adoram me crucificar de relativista, mas para mim tudo é arte, cabe apenas que algo seja construido de acordo com as táticas e estratégias de seu criador. Esse negócio de belo, perfeito, simétrico e o escambau do bacalhau já tá ultrapassado. Acredito que padrões de gosto todos nós temos, mas esse papo de melhor ou pior arte, de arte verdadeira ou falsa, é coisa de prepotencia elitista que ja não mais me convence.

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  2. oi vina,

    apesar de ter tido várias mudanças sociais, políticas, inclusive culturais, alguns conceitos permanecem irredutíveis. Creio q seja a ropagem q o novo adota, sempre violento ao olhar das velhas estruturas. Daí percebemos o quão é resistente haver uma abertura para novas acepções.

    um beijao

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  3. Maira


    Mudou muita coisa mesmo, basta olharmos para a evolução dos aparelhos auditivos e visuais dentre de nossas casas, filmes e musicas são construidas com tecnicas cada vez mais sofisticadas. A globalização, pelo menos na questão artística ou cultural é perceptível que é impossível de distanciar muitas vezes das novas tendencias técnicas e estéticas que se inserem.
    O novo não significa que tudo será transformado e o anterior destruido e que todos simplesmente estaram a mercê do novo e a morte sólido, alias, acredito na tese que defende que as coisas não se eleminam, mas se misturam, divedem opiniões em que pelo menos cada um atribui um significado que couber atribuir ao novo.

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  4. sim Miguel,

    perfeitamente. Acredito q o novo é filho legitimo do velho. Os fatos s e renovam e dispersam e se inserem de modo contínuo, deixando uma sensação de etrno retorno.

    um bjo

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