quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O OPRESSOR ARREPENDIDO

O OPRESSOR ARREPENDIDO
A PEDAGOGIA DA UTOPIA

A visão freireana de Educação aponta para uma relação dialógica com a realidade. Muito nos lembra a visão maiêutica no sentido de se conhecer as coisas por meio de um diálogo com o real que pode ser um monólogo/diálogo quando nossa voz interior trava dentro de nós um diálogo questionador dos fatos ao nosso redor (Vigotsky, formação da mente social). Freire viu a necessidade de uma educação que desvela os fatos e depois propõe uma crítica dialógica que em sua visão é libertadora do homem. Assim a pedagogia libertadora é a pedagogia do diálogo, da crítica, da proposta racional para uma despolarização da realidade (Barreto, 1998).

A teoria do pedagogo brasileiro acredita que a tensão entre as classes pode ser menor, portanto, o mundo pode ser melhor. E está na Educação a ferramenta maior de um processo de libertação, pois é ela que liberta o homem do medo. O medo de não conhecer, o medo de não superar a condição de homem inconsciente/inocente, o medo da liberdade de um homem em vigília/consciente de seu mundo, de seu lócus, de sua realidade enquanto vida material e simbólica produtora de múltiplos sentidos, inclusive o sentido político (Barreto, 1998).


Paulo Freire coloca o educando na condição de um ser político. Por esta causa sua teoria reflete sobre o papel da educação nas relações concretas ou nas relações materiais da sociedade. A educação libertadora é aquela que ver o educando em seu lócus político, é a educação da práxis, e a escola presente nesse lugar, busca nas contradições desvelar suas causas para que uma nova ordem surja entre os seres humanos (Barreto, 1998).

Freire sustenta que devemos sonhar e acreditar em nossos sonhos. O sonho do educador é a paz entre as classes para que a exploração e a dominação cessem entre eles, para isso, é preciso educar ambas as partes. Não são apenas aqueles considerados acéfalos pelas classes dominantes que necessitam aprender a apreender a realidade. Pois a tensão fere os dois lados. As classes dominantes também precisam despertar-se da utopia da dominação plena de lucro total. Freire deixa claro que o mal-estar entre as classes é causado pela dominação irracional das partes mais privilegiadas. Toda dominação é irracional, segundo Freire, contudo, ele viu a inevitabilidade de sua existência e a necessidade de um diálogo entre os homens para uma superação possível desse mal-estar. Um mal-estar cultural, pois sua gênese está na raiz das relações do homem com o meio e na significação do espaço natural em espaço geográfico, portanto, o espaço da cultura (Freire, 1970).


Mas, é importante considerarmos que a educação para chegar a este grau de emancipação dos “agentes do poder” necessitaria que esses agentes fossem alvos da mesma, e transformados por ela. Não me arrependo de dizer que vejo marcas de Cristianismo no trabalho de Freire, o chamo até de Pedagogia da Utopia. A utopia cristã que acredita na possibilidade dos homens viverem em harmonia, do opressor que muda a sua condição por uma crise de consciência provocada pela educação. Até rimou! E o meu egoísmo, por meio da educação, ser trocado por uma crise de altruísmo, no mínimo, isso é coisa de fé. Pois o poder não abre mão de monologizar o discurso sobre educação. São eles que criam as grades, os planos e regulam as ações e sobre tudo da formação do educador à formação do educando e controlam a verbinha. Com todo respeito, não sou crente no que diz respeito à existência de um opressor arrependido. A história nos ensina que a Índia fez uma revolução (Gandhi) pacífica. Entretanto, meus caros, vejam o que sobrou! Os ingleses não precisam estar lá para ditarem as regras do jogo. O que me preocupa é: Como sair do discurso monológico se o discurso dialógico de Freire deixa brechas para a ordem continuar? Salve o torto.

5 comentários:

  1. O mais engraçado é que essas ações de interesse social na pratica viram, ao invés de ações coletivas em pro de mudanças efetivas, se processam como ações individuais muitas vezes da classe media pra tirar da conciência alguma culpa, e assim ter alguma paz de espirito. Pois penso que cobrar do Estado o seu dever não é uma questão de cristianismo ou solidariedade, mas sim uma noção básica do que seria vida em sociedade. Portanto não podemos achar que isso seria uma utopia (e creio que o escritor do texto não considerou dessa forma), mas sim uma questão de avanço historico, afinal nosso Brasil por mais que seja uma republica democratica, na pratica não se comporta como tal. Agora a proposta politica desse tipo de educação já é uma outra coisa, que depende portanto de um interesse social, que não cabe eu aqui dizer se é possivel existir ou não. Abraços e parabéns pelo texto.

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  2. Reuel: a utopia está justamente na crença desse avanço. Não acontecerá tão cedo, segundo o autor (e concordo). A ironia na comparação entre a possibilidade do que chamou de "noção básica" e a fé, é justamente a sua condição prática, creditada pelo autor como somente possível através de uma mão invisível, mas não pela conscientização social/intelectual humana. Isto é, só Deus para fazer com que a educação não seja monológica, mas dialógica, como quer e acredita ser melhor o Freire, segundo Roosevelt. E o Deus que o autor concebe não é esse Deus da instantaneidade do cristianismo tradicional, assim penso.

    Contudo, a longo prazo, penso que possa ocorrer neste sentido. Mas voltamos a questão há pouco travada no blog: será que esse diálogo é realmente benéfico? Não é melhor que mantenhamos determinadas verdades, já que a liberdade permitirá um número tão grande de verdades que a educação se tornaria demasiado desnorteada?

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  3. Roosevelt

    A ideía de uma alternativa em propor uma relação dialógica na escola e a tentativa de provocar no educando um senso critico, é algo que não só compartilho, como também tento aplicar em meu cotidiano de educador. Contudo, não acredito em revolução na pedagogia. Acredito em reformas a longo prazo.

    Veja bem: as vezes o próprio educador esquece de fazer a seguinte pergunta para ele mesmo: será que de fato a realidade sócio-cultural de alguns alunos o motivam a buscar alcançar o Ideal que eu acredito como o mais importante? Será que esse Ideal não é o meu? O senso politico e critico faz parte das prioridades de meus alunos? Não estou querendo dizer que devemos simplesmente aceitar a condição e mantê-la enquanto tal. O que estou querendo dizer é que a própria noção dos alunos no que diz respeito à educação, ao conhecimento, passa muito longe do que nós educadores estamos buscando. Muitas vezes os alunos oriundos de realidade populares e periféricas não estão nem ai pra diálogos, nem muito menos para reconhecer qual a dimensão do conhecimento para a vida deles.

    Devemos saber aplicar esse diálogo de forma freiriana, ou seja, articulando-o com as necessidades e anseios doa alunos, e não com a concepção de diálogo que eu percebo muitos professores quererem cobrar ao corpo discente achando que estão de fato seguindo uma pedagogia dialógica proposta por freire. Não!!! Muitas vezes o que vemos é simpplesmente a perpetuação de um modelo intolerante, impositivo.

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  4. Roosevelt

    Continuando: quanto a questão da utopia freiriana eu compactuo com você. Não que eu negue que uma das grandes causas provocadoras do mal estar esteja na condição impositiva de determinados setores sobre outros, mas o que eu enxergo em freire é uma expectativa que beira a ingenuidade franciscana.

    Fazer os setores dominantes reconhecer as perdas de suas explorações? óbvio que quem explora também recebe suas consequências, mas acreditar que um setor dominante queira se negar a exercer seu poder para com isso alcançar um objetivo de harmonia com os ditos oprimidos, é querer abdicar de reconhecer a também inevitavel natureza ambiciosa e autoafirmativa do humano.

    Para finalizar, vou repetir a sua pergunta final do texto, uma vez que acredito que ela indaga acerca das duas colocações que fiz em meus dois comentários: "Como sair do discurso monológico se o discurso dialógico de Freire deixa brechas para a ordem continuar?"

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  5. oi roosevelt!

    seu texto me lembro da critica contra a educação bancaria de paulo freire. Consumimos aquilo que nos foi passado como ideal e certo, nunca poderiamos acreditar q ao nosso redor percebemos a nossa verdadeira realidade que nos traz muito mais questionamentos do que respostas prontas. Pensei sobre isso, qndo vc relata sobre o Gandi. E vc foi feliz nesse comentario, pois vejo que se tivessemos um pouco mais de senso critico, se as instituiçoes escolares nos desse uma nova forma de "ensino", poderiamos questionar sobre os nossos direitos, sem muitas vezes apelar pela contenção ou selvageria que ocorre no meio urbano, que sabemos claramente a raiz d todo o problema.

    bom texto.
    grande bjo!

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