domingo, 23 de janeiro de 2011

O capitalismo libinal e as metanarrativas (Por Anderson Couto)

No epitáfio do rei Sarnadapalo encontrava-se a seguinte mensagem: "eu Sarnadapalo ... comi, bebi e fiz orgias, o resto não vale isso". O nome do rei figura então como um adjetivo de quem coloca o prazer acima de qualquer bem da vida. Na modernidade tardia, mais do que nunca, vive-se cada vez mais sob o império da endorfina e outras drogas do cérebro e o mercado sabe muito bem como deixar todos seres humanos nas teias da dependência dos neurotransmissores. O indivíduo, acostumado então ao estímulo do prazer insaciável, transforma-se em comprador compulsivo e quando não desempenha tal atividade tem crises de abstinência. Não existe nos tempos atuais algum fim estável da ação ou uma grande meta ideal de comportamento. Se um termo do desejo existisse, o estímulo necessário ao sucesso da propaganda esbarraria em limites e criaria uma estagnação da economia. As compras esbarrariam no homem satisfeito.


Se hoje o bem mais aplaudido consiste no prazer que é mirado pelas ações de todos os homens, em algum tempo atrás da história, tal bem não figurou como atributo indispensável do agir correto. Pensava-se que a vida mais correta no ser humano consistia em agir de acordo com sua faculdade mais excelente, em busca do fim mais supremo, a felicidade. No "República" Platão procurou demonstrar que a ética é um comportanto dirigido pelo intelecto e pelas idéias. Do mesmo modo, seguindo as tendências deixadas por Aristóteles, Tomas de Áquino descreveu que a ciência de deus traz o agir mais adequado para o homem e que a felicidade era granjeada pela ação de acordo com a ciência supremo do criador. Assim, toda a metafísica era um freio aos desejos humanos e colocava amarras nas aventuras do ser finito. Por isso o capitalismo quando surgiu precisou desmistificar o mundo, em um processo de desencantamento das explicações. Hoje ela destrói inclusive suas próprias promessas.


Dostoievski preconizou que com a morte de deus tudo seria possível para o homem. A morte da metafísica e o ecomio anárquico da vida prazerosa em detrimento de qualquer valor congelante traz consigo a possibilidade da renovação de desejos por um mercado ávido para produzir insastifação constante. A voz do russo foi aplicada, mas trouxe o avanço do capitalismo destruidor, sem limites, sempre renovado. A violência do capitalismo agora encontra mais espaço para fluir. Destruiu seus últimos limites, as idéias, os ideais de vida, as tradições, os mitos de felicidade, as ideologias de classe e de reconhecimento pelo trabalho. Decerto que ele ainda esbarra em algumas religiões do oriente. Elas ainda resistem, mas a endorfina pulsa por trás das burcas. Logo os irmãos do oriente caíram de vez nas teias da dominação do prazer.


Marx dizia que o capitalismo passaria por um crise estrutural e forneceria, por suas próprias contradições internas, o espetáculo do fim das relações sociais baseadas na mercadoria. Penso diferente. O capitalismo cairá por uma crise de overdose ou por um processo de "crackização" dos indivíduos. Outro assunto, outro texto, outras divagações. Mas penso que uma reabilitação dos ideias de vida traria pequenas crises pontuais ao sistema. A metafísica é um sistema de conhecimento oposto as tendências de mercado do capitalismo tardio. Por isso, um espertalhão viu bem, quando cantou o fim das metanarrativas. O capitalismo libidinal é inimigo do agir racional e da comtemplação intelectual, apesar de todo Shopping Center possuir um nicho de mercado reservado aos pseudo-intelectuais como eu.

12 comentários:

  1. Quem foi o espertalhão? Não foi Lyotard, sim?

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  2. Não considero o amigo torto um pseudointelectual. Essa autodepreciação é rudimento de seu tempo de cristão. Afinal, ao contrário do que os positivistas pensaram, incluindo entre eles o próprio Marx que "entendeu Deus muito mais que muitos teólogos", as religiões estão de vento em popa. O fenômeno religioso é muito confundido com a genuína fé em Deus. Já disse para um torto certo tempo que ele não estranhasse serem os teólogos os maiores ateus. A Umbanda completou cem anos em 2007, e arrastou com ela mais de um por cento da população brasileira. Apesar do massacre dos neo-pentecostais, a macumba está de pé. E para ela se deslocam um expressivo contingente de intelectuais brasileiros entristecidos com a performance da fé Calvinista. A "Teologia da prosperidade", arrasou com a pobreza e revoltou a nobreza, que agora prefere os cultos espíritas e de preferência aqueles de matizes afro-ameríndias. Meu caro Anderson torto,
    ainda está muito longe a extirpação dessa glândula psiquica chamada religião. O arquétipo do pai, ou grande pai reinará por muito séculos, porque nossa máquina depende dele para funcionar, seja vc ateu ou não. Deus está tão vivo quanto antes e tão presente em vc que vc age como cristão e não percebe. ironia, né. O pseudo, foi apenas um surto de humildade, hahaha, diria uma pomba gira amiga minha. Salve o torto, e que hajam macumbas ainda mais!!!!!

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  3. É essa interdisciplinaridade perceptiva que me encanta no Torto! Enquanto um está a falar das gaivotas pousando na Estátua da Liberdade, o outro percebe a unha encravada no dedão do pé esquerdo, digo, direito do observador...

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  4. Roosevelt,

    Compartilho com você ao observar o poder que as religiões ainda mantêm em nossas vidas. Como você bem alertou, os imaginários oriundos das constuções discursivas religiosas estão encrostrados em nosso inconsciente, e sendo ateu ou não, o individuo se esbarra na questão: Deus existe ou não?

    No entanto, eu gostaria de saber uma opinião sua, visto que a sua pessoa é uma estudiosa no assunto.

    Bem, nós sabemos que as religiões ainda demarcam territórios, mas você não acha que os ritos religiosos atualmente se encontram muito mais voltados para uma repetição mecanica de muitos dos seus adeptos do que necessariamente pelo reconhecimento acerca do papel da religião, ou seja, do que no reconhecimento que os individuos fazem de sua importância para a sua vida?

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  5. Não compartilho dessa opinião, permita-me explanar mais sobre o assunto. No capitalismo, quando ele surgiu no século XV e XVI, a cultura foi secularizada. As explicações de mundo não foram mais traduzidas na fúria divina. O desencantamento do mundo foi a substituição do saber teológico pelo saber científico. Houve, digamos, uma mudança de rumo das opiniões, uma tendência no senso comum. Nunca existiu uma abolição da religião, mas uma mudança do que enfoque do era feito no mundo e no modo de lidar com ele. Então, a religião, acompanhando a tendência da época deu uma repaginada, usou um botox. Hoje, do mesmo modo doutros tempos, a religião sofre influência do modo de viver consumeirista, guiado pela “instataneidade”, e revive uma espécie de calvinismo. A teologia da prosperidade surgiu sobre a influência de uma nova cultura, a cultura da aparência. Não precisa ter deus na consciência, basta-se um deus refletido na riqueza. Se o poder dos padres fora arrefecido pela ciência, hoje, digamos, eles são ultrajados de pedófilos e ainda perdem poder para um nova religião de conselheiros, os especialistas, aqueles dos livros de auto-ajuda. É uma tendência. Ninguém traz a perspectiva aqui de que o discurso religioso acabou, mas sim que as tendências apontam, com grande poder hegemônico, para a influência cada vez maior de outros tipos orientação dos comportamentos. O livro de auto-ajuda guiado para situações rotineiras do dia-a-dia substituirá a bíblia. Se já não substituiu de vez, ao menos, nas grandes cidades, como deixa claro o texto de Vina mais acima. Muita gente não vai a igreja pela fé no criador, mas em busca de uma segurança de grupo não mais vista na cultura do eu narcisístico, ou para pegar muié ou para conquistar oportunidades de emprego, network, essas coisas de capitalismo tyotista.

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  6. LOu,

    O espertalhão foi Lyotard. Mas nas descrições de mundo atual tenho sofrido mais influência das leituras de Bauman, Baudrillard, Zizek e Jameson, embora tenha bastante consciência que as análises feitas por esses autores combinem mais com grandes cidades e não com nosso pequenino estado.

    abs

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Essa coisa do mau-estar nos dias atuais é uma consequencia desencadeada do que Weber colocou como gaiola da racionalidade do mundo moderno. No renascimento, a racionalizaão permitiu o desenvolvimento das ciencias exatas, dos calculos, ex: Newton, Descartes. Ao mesmo tempo em que o mercantilismo impulsionou a industria, a produção em massa, desenvolveu-se as engenharias junto as ciencias. Na política apareceram teóricos como Maquiavel, dos quais grandes como napoleão tiveram acesso. Existiram pensadores do contra-sistema como Marx, Bakunin. Mas Maior parte estava a serviço do capital e do estado como Adam Smith e Ratzel.

    "O capitalismo libidinal é inimigo do agir racional e da comtemplação intelectual, apesar de todo Shopping Center possuir um nicho de mercado reservado aos pseudo-intelectuais como eu."


    Por mais que criticamos o capital e blá blá blá
    todo mundo é consumidor, os analfabetos, os intelctuais, os militantes, os militares trabalhadores, políticos e etc. Estão todos abarcados, inseridos no universo do consumo, uns mais outros menos. Permitimo-nos o gozo do fetiche do novo, até as ideias do contra, inclusive as nossas, possuem um valor de consumo concreto e embutido na idéia em si... Pode parecer loucura mas por exemplo: Eu posso estar defendendo uma tese atacando o capitalismo na intenção de produzir academicamente. Assim terei currículo, assim, mais dinheiro. xD

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  9. Miguel,

    A tendência atual também aponta para o relaxamento da gaiola de ferro de Weber. Se o mercado trabalha com o desejo, ele precisa de passarinhos aptos ao voo com maior liberdade. O mercado não forma mais gaiolas rígidas e grandes viveiros, no máximo utiliza pequenos cubucos e depois ele mesmo solta as presas que caem nas armadilhas. Tipo uma pesca esportiva daquelas que o cara pesca só para tirar uma foto com o peixe. O poder se economizou novamente. O marketing não entra nas descrições Weberianas da Razão Instrumental, muito menos prefere o homem frugal da ética protestante. Outros tempos, novas tecnologias de comportamento.

    Att,
    Anderson Eduardo

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  10. Tem razão caro Anderson,

    Weber não pegou a TV e a internet.
    hehehe

    Hoje a coisa realmente está mundial e "Plasmatizada" assim dizendo. Para o capital se sustentar é necessario que haja consumo de fato, ninguem nos obriga a comprar os objetos, porém tudo aquilo que é objeto dos nossos desejos é engolido pelo mercado.

    Até a Deso que fornece água que empurra nossas merdas boeiro abaixo, pagamos por esse consumo ainda transporte, casa, comida, lazer, etc. Quase tudo é anunciado. Quando não, nosso meio nos informa sobre coisas que nos despertam desejo, uma revista, filme, Viagens. O mercado está diretamente ligado ao nosso querer, nos permitimos a tal fetiche, cada um de sua maneira.

    "...só para tirar uma foto com o peixe."

    Num sentido semelhante o Bauman fala que ao obter o objeto desejado, acaba a graça da coisa, sendo assim o mercado sempre trabalha no novo para nos chamar atenção, despertar outras "aventuras" do consumo. Não queremos diretamente o objeto, mas o próprio querer colecionar experiencias, sendo assim mantemos o mercado constantemente. Caso contrário, supondo se todos negassem o consumo de coisas não excencias como alimentos, provavelmente as empresas entrariam em falencia. Então o marketing trabalha na simbolização da coisa, meio que cria a cerveja com a mulher gostosa da propaganda sempre diferente. Ou seja, o consumidor é um mulherengo insaciável. hehehe

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  11. Corrigindo: eSSenciais ao invés de "excenciais". Eu iria colocar "exceto", dai a confusão.

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  12. Olá Anderson,

    seu texto me fez refleti sobre a nossa condição de escolha. Escolha p morrer e ir direto p o inferno. é isso que a nossa cultura oferece, pois qndo se renega a isso, se tem uma crise de abstinencia. Se nasce e vive para ser sustentado pelos vicios ofertados pelo capital
    pela cultura do espetaculo q criam alternativas onde n se tem como optar por s abster.
    é ai o poder da ditadura das ofertas do prazer,
    cabe a vc a escolha de quais são os seus melhores vicios pq sem vicios ninguem vive. Vejo como uma questão psicologica
    a qual nossa cultura hipermoderna se apropria muito bem. Como bom negociador, acerta em cheio no nosso calcanhar de Aquiles.

    um beijo

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