terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Meu momento sagrado

Luz. Mas que luz é essa? Pergunta o senhor na calçada, o mesmo acende seu cigarro e olha fixamente a luz. Parece não se incomodar afinal a luz é clareadora e alegre, mesmo que o deixe cego, é sempre a luz divina. O senhor é um oráculo? Mentalmente perguntei-lhe. O oráculo estava sentado na calçada, fumava seu cigarro e naquele momento ele era o show, a luz de um carro batia branca e sagrada em seu rosto. Seus gestos eram como de uma pergunta encarnada, parado olhava para o nada, apenas se preocupava com seu cigarro aceso, e a multidão em êxtase passava e olhava-o... Mesmo que todos se percebessem como substancias diferentes do oráculo, tinha alguma coisa em comum ou anônima em todos naquele lugar. Até eu que mantinha uma conversa secreta e mental dentro de um confortável veículo.

De repente o oráculo começa a reclamar de alguma coisa, como é comum o oráculo se revestiu de sapiência, por isso gritava para o nada. Seu lugar reside nas conversas interiores, a mais digna de orgulho, pois as verdades congeladas sem o atrito e calor da dúvida, posteriormente são compradas frias em algum ar-condicionado com alguma pompa em formato de flor, para vivermos assim como o nosso oráculo um momento sagrado juntos. Especificamente naquele momento, o oráculo nada mais passava da mesma substancia que flutuava no ar, individualidades gritando pro nada. Vivenciavam um momento sagrado onde se permitiam também ser oráculo e inventar o absurdo. Por isso que naquele momento o oráculo não era percebido, a informação que ele correspondia era de um senhor parado que fumava um cigarro distraído. Seu lócus lótus.

O que diferenciava-nos ali era nada mais que a cor, todos ali inclusive eu éramos tons que variavam do amarelo ao vermelho, já nosso senhor era plenamente azul, sem grandes pretensões. Seus dedos juntamente com o seu corpo faziam movimentos, preocupados com aquela gente toda que desvairada, perturbava sua conversa em meio à madrugada, com o sagrado. Este homem sabia que em meio à selva os dejetos sempre são deixados na estrada, aqueles que não possuem força suficiente para prosseguir inocente. Assim a multidão resvala nele como um objeto, uma informação decodificada, logo passível de ser desprezada. O sagrado é paisagem. É o lócus da lótus, dedos para quem não quero.

Por fim, podemos dizer que o nosso senhor era o homem mais verdadeiro dessa Terra. Afinal sua loucura não o deixava mentir, dentro dele era tudo verdade. Diferentemente de mim, que fiz de um encontro banal com um senhor com problemas mentais, que estava sentado em um posto de gasolina próximo ao pré-caju, uma historia falaciosa como essa. O senhor era o oráculo e eu o mentiroso.






3 comentários:

  1. É Reuel, vamos a shopping todos os dias e nem percebemos, num é?

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  2. Não entendi seu comentario.

    Reuel Astronauta.

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  3. Reuel,

    Você há de convir que este texto amassa um pouco o que nos resta de neorônios.

    No entanto, obviamente que isso parte de uma leitura minha, o que eu traduzi ao longo de sua explanação, é que o sagrado se torna algo sagrado a partir do instante em que ele não é pensado, mas sim vivido. No instante em que todos estavam criando seus próprios absurdos, o senhor deixou de virar o palco para ser apenas alguém com um cigarro na mão. Enfim, parece que começamos a fazer parte de uma mesma substância a partir do instante em que nos damos o direito de reinventarmos o nosso próprio absurdo. O sagrado está por ai pelo que todos acometem em suas ações mas que ninguém enxerga justamente por ser tão óbvio. Bom, essa foi a minha leitura que produzi acerca do sagrado, isto é, aquilo que passa despercebido aos nossos olhos mas que contribui com cada parte que compõe esse todo chamado realidade.

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