FRIBURGO
Ontem estive lá.
Senti o drama do povo do morro.
Os habitantes de encostas perdem sempre nas águas traiçoeiras.
Nunca faceiras, nem amigueiras, por demais primeiras.
Derradeiras águas de morte e dor.
Conheço sua história.
Um menino sofria sede no norte.
Os barrancos derretiam com o peso das águas do sul.
Triste sorte do forte e do nu.
Triste povo sem governo e muito imposto.
É um encosto nas encostas de Friburgo.
É uma herança deixada em Teresópolis.
É uma cara lavada com água malvada que desce sem piedade sobre gente de carne e de papel.
Eles não viram o céu.
Nem tiraram o véu.
Morreram patrioticamente.
Comeram de seu próprio mel.
Encontraram no final da ladeira um vaso cheio de lama e fel.
As vítimas do Brasil são silenciosas.
Sempre esperançosas.
Teimosas em acreditar.
No barranco próximo ao chão estendido ficou um braço de menino.
No bueiro da cidade emigrante jazia um homem ajudante de pedreiro.
As casas foram com o rio.
O rio levou o sonho.
O Brasil assistiu tudo.
O povo tomou café e foi dormir para depois trabalhar.
Ah, que azar!
Tem mais gente para enterrar!
Enterra as vítimas do acaso da desgraça da tirania!
Uma terra assustada.
Seus homens trabalham por nada.
Acreditam que tudo será diferente.
Até a próxima chuvarada e ventania.
Até enterrar o próximo parente...
Roosevelt Vieira leite.
50 anos vendo PESSOAS MORREREM EM enchentes...
"Acidente natural" é um discurso comum, o governo cita promessas e distancia cada vez mais das obrigação. Os que estam no morro, na exclusão de lugares seguros, a grosso modo, está mais seguro quem paga mais. Quando um acidente natural destrói. Assistimos (nós brasileiros) nos meios de comunicação que foi um "acidente" a fome também é um "acidente, falta de educação e de muitas coisas que abarcam a miséria vira "acidente", ou melhor, ENCHENTE. Enquanto isso é jogado de modo espetacular nos meios de comunicação como algo a ser assistido junto a metéria de moda. Todos assitem uma realidade como se fosse uma ficção distante. Espero que um dia mudemos-como nação-esse olhar espetacular das enchentes para algo sério, real e pode mudar, mesmo que distante.
ResponderExcluirExcelente texto!
Mais um coisa. Pelo papo que eu tive com Reuel a poucos minutos não culpo exclusivamente os meios de comunicação disso, ele seria um reflexo, assim como a política reflete uma totalidade. Essa coisa alienigena dos Brasileiros com a posição diante das coisas que acontecem é algo também cultural. Basta repararmos nosso crescimento como nação, assistindo nossa história em sua maior parte de braços cruzados, isso já existia antes mesmo da TV, rádio ou internet. o Brasileiro cresceu vendo o espetáculo da história, resquícios forte disso ainda estão presentes.
ResponderExcluirAlém de uma justificativa de classe, esse reflexo é histórico a construção da fábula dos moradores da nação do espetáculo.
meu caro miguel,
ResponderExcluirFazem 50 anos que eu espero, e quando eu tinha 12 anos meu pai me contou que meu avô disse para ele que esperava também. ou seja minha família espera a mais de um século alguém fazer alguma coisa. O europeu não espera a vontade do governo. Somos vira-latas.
Malditos vira-latas.
ResponderExcluiro q mais achei fantástico roosevelt, foi sua capacidade de informar, comover através da estética do seu texto. Assim como as manchetes, vc foi muito preciso e pontual. Não há mais nada do q vê na tv e se comover e não há nada mais do que esperar a proxima enchente engolir mais gente. No entanto, vc n se restrige a sensacionalizar os fatos, mas transforma em seu texto- poema um desabafo individual q se extende para cada um q lê e revê mais um epsódio da catastrofe natural, aliada ao descaso político.
ResponderExcluirpois é meu caro, desde qndo me entendo por gente e comecei a assistir o noticiário da tv, não paro de ver anualmente esse tipo de catastrofe. é um eterno retorno q abrange os quatro cantos do brasil e do planeta. só nos basta perguntar: qual será o próximo lugar?
um grande beijo!
e
ResponderExcluir765 mortos
alan