quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Globalização: Uma ótica do poder global.

Estive lendo a "Globalização: As consequências humanas" do Zygmunt Bauman (sociólogo) nestes últimos dias. Gostaria de tocar em alguns pontos pertinentes que encontrei nesta obra. Aproveitando um pouco das informações extraídas do meu texto anterior. Defendi a idéia de que as culturas não estariam sofrendo uma homogeneização. Mas uma conexão a diversos meios de informação interligados pelos aparelhos de comunicação em fluidez constantes. Puxo um pouco desse debate para as questões espaciais, políticas e econômicas dessa vez. Agora são os figurantes de domínio global e território-nação.

Bauman afirma que: Em vez de homogeneizar, a Tecnologia polariza a condição humana. Anulando o espaço/tempo, os indivíduos Globais (extraterritoriais) ultrapassam seus limites físicos através dos meios de transportes e de comunicação emancipando os limites impostos e criando uma nova lógica que impõe aos indivíduos locais a degradação e a dependência para gerar seu próprio território.

O Estado nesse sentido perde boa parte de sua soberania devido à nova lógica global das relações de poder, o econômico. O ser global dominante e o estado (político) fragmentado, um “secretário prostituído” a essa nova lógica refizeram a construção social do espaço e território. Antes disso, a segunda guerra mundial foi o ultimo marco de disputas territoriais em grande escala militar. O mundo guerra fria vem posteriormente para atrair as atenções de duas grandes forças para o domínio global do sistema capitalista x socialismo. O liberalismo vence a quebra de braço e impulsiona uma nova forma de gerir o espaço:

"No mundo pós-guerra espacial, a mobilidade tomou-se o fator de estratificação mais poderoso e mais cobiçado, a matéria de que são feitas e refeitas diariamente as novas hierarquias sociais, políticas, econômicas e culturais em escala cada vez mais mundial.” Pag.16

Bauman afirma também que o a idéia de distância é uma construção social, que os seres “globais” ou extraterritoriais possuem a liberdade de ultrapassar seus territórios aos diversos locais e implantando de sua força financeira e ideológica sobre os seres locais impossibilitados de acompanhar essa nova forma de exercer o domínio sobre o território. Os globais flutuam através das “barreiras” e limites em velocidades que são proporcionais a forma de controlar num capital cada vez mais livre e desvinculado ao local e das responsabilidades conseqüentes aos seus efeitos.

Quem seriam esses seres invasores do território alheios? Esses ditos globais são os seres por trás de toda trama do capital globalizado ou transterritorializado, 350 bilionários que teriam mais da metade da riqueza equivalente a ¼ da população mundial pobre somada, controlando o sistema financeiro e gerindo sugando os fluxos dos micro locais, e ainda mais, produzindo riquezas em cima de sistemas abstratos que movimentam o dinheiro. As conseqüências estariam mais distantes de seus causadores. Pois, seu domínio físico central distante protege-o, ao mesmo tempo em que sua imagem simbólica, força e ação sobre o globo penetram os diversos lugares afirma Bauman:

“A autoridade destes últimos é garantida por seu próprio distanciamento; os globais não são diretamente “deste mundo”, mas sua flutuação acima dos mundos locais é muito mais visível, de forma diária e intrusa, que a dos anjos que outrora pairavam sobre o mundo cristão...” Pag. 61

Então meus queridos. Existe uma “tal” de teoria chamada de “fim da geografia” que afirma que os limites geográficos são cada vez menos sustentados no mundo real. Diz o Paul Virílio.

Esses limites existem sim, os territórios são modificados, ou melhor, re-territorializados. Invadidos por esses ditos alienígenas globais que condicionam o estado misturando-se a construção significativa dos diversos locais. Mais a imagem do discurso que afirma muitas vezes que o povo é pobre porque quer. Que fome e a pobreza são tratadas da mesma forma. Esquecem, ou melhor, escondem que além da fome, existem milhões de famílias sem escolas, sem saúde e em condições precárias isoladas numa miséria complexa. Muitos tentam ir aos locais que matam a fome ex.: EUA, Europa, aqueles que podem sair e que na maioria são impedidos de entrar no território dos globais e voltam ao próprio local isolado, segregado e hierarquizado.

O Estado-nação fragmentado serve de segurador para as grandes empresas que ultrapassam seus territórios. Sendo que os “globais” através dos meios tecnológicos de comunicação e transporte tornaram ainda mais veloz a diferença entre ricos e pobres. Segregando e excluindo cada vez mais os indivíduos locais de adentrarem na euforia dessa coisa chamada de globalização.

Bauman, Zygmunt, 1925 – Globalização: As conseqüências humanas/ Zygmunt. Bauman; tradução, Marcus Penchel. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1999

7 comentários:

  1. Pois é! Mas eu não colocaria 1/4, não. Colocaria mais, ainda que de maneira intuitiva.

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  2. Tem toda razão!! Esses números foram um equívoco. xD

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  3. Achei esse dado aqui, de 2005, pra acréscimo:

    "De acordo com a pesquisa, 1% dos brasileiros mais ricos - 1,7 milhão de pessoas - detém uma renda equivalente a da parcela formada pelos 50% mais pobres (86,5 milhões de pessoas).
    (Ana Paula Ribeiro, da Folha Online de 01/06/2005, em Brasília, DF)."

    http://www.pucrs.br/mj/entrevista-09-2005.php

    E isso porque é a Folha quem está dizendo...

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  4. oi miguel!
    gosto muito do bauman. Em certo ponto ele e muito atual qndo fala da globalização inserida em uma modernidade líquida. E isso não deixa d ser verdade, a todo instante percebemos essa fluidez, é só ver a questaõ, como vc citou, entre os espaços, velocidade e tempo.A fluidez é tanto q qndo tentamos pensar nos nossos direitos a coisa muda. Ate pq as leis são um tanto estruturais, falo isso devido aos Direitos Humanos, na sua passagem em relação a perda d soberania de Estado. Perda, talvez, mas vejo q as relaçoes e negociaçoes de poderes andam nos jogos de intereses entre o Estado e a comunidade internacional.
    bjos

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  5. quanto ao virilo...
    quem sabe haja futuramente uma congestão de estacionamentos de carros, pois ninguem mais vai querer sai d suas casas, pois um mundo real- territorial perdeu pelas virtualidades do plamas e lcds. Afinal, a desterritorialidade na informação alcança um mundo impenssavel em nossos olhos, jamais vivida por nós. kkkk

    bjao

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  6. Eu tive uma overdose de informação quando o li. Ele coloca que após a revolução tecnológica, o espaço-tempo foi reduzido para poucos, aqueles que o Bauman chama de “turistas”, ou seja, os empresários, políticos e aqueles indivíduos que se inserem dentro da economia global que utilizam os serviços tecnológicos da informação e transportes. Eles se comunicam e transportam-se no mundo numa velocidade menor, é a redução do espaço-tempo a serviço daqueles que possuem dinheiro. Enquanto a classe menor (local), que ele coloca como "vagabundos” são os excluídos, eles também possuem informações do global (da propagandas, das marcas, dos produtos e modos de vida), porém estão presos no local com a imagem da referencia mundial de padrão de vida. Eles também estão dentro da lógica do consumo assim como todo mundo, o que diferencia são os privilégios e poder de compra. Essa classe presa ao local, muitas vezes desempregada - ao contrário dos "turistas" globais - está presa ao tempo e espaço. Vejamos por exemplo aqueles que tentam migrar, muitos que querem não saem do local nem mesmo por condições, assim como a legislação dos países mais ricos não permitem essas pessoas. Ou seja, a Para haver Dominador dever existir excluído, e esse, deve desejar ser como o dominador (querer ter aquela vida de privilégios). Ao mesmo tempo em que as classes poderosas se defendem construindo condomínios fechados e vivendo e áreas segregadas longe da barbárie, temem o os excluídos, basta olharmos a construção estratégica de Brasília, o Baumam também cita, longe das massas e da revolta. O que vemos também hoje em dia é a desmetropolização. Grandes metrópoles como Rio e São Paulo estão saturadas. Elas possuem suas grandes influencias, ainda são pólos da informação e serviço, porém, as indústrias estão fugindo às áreas mais estratégicas visando baratear os custos, os impostos, fugir do movimento sindical e o trânsito caótico, fragmentar as classes mais baixas, precarizar o trabalho, criar empregos temporários, além da mudança constante do capitalismo, os ricos temem vir a serem pobres. Assim todos vivem num estado de insegurança, de incertezas, o mundo "liquido" pós-moderno do consumo joga esse sentimento filho da puta a todos. Todo mundo é consumidor forçosamente, e tememos ficar cada vez mais excluídos dessa lógica. O Bauman não trás nenhuma proposta p/ salvar o mundo dessa lógica, mesmo porque está todo mundo inserido, a proposta dele é fazer essa denuncia que muitos escondem através de uma imagem boa da globalização, nós muitas vezes somos condicionados a não questionar. A proposta dele é de questionamento mesmo. O Milton Santos ele era mais engajado na idéia...

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  7. *Eles se comunicam e transportam-se no mundo numa velocidade MAIOR...

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