segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Música de Vanguarda e Educação II

Nesta semana resolvi dar continuidade ao tema referente ao diálogo da música de vanguarda com a educação. Gostaria de dizer que quanto mais sugestões eu receber, melhor, afinal, estou com o interesse em construir um artigo científico, e quanto mais observações, mais possibilidades eu terei em enriquecer meu olhar. Por enquanto estou apenas divagando sem necessidades de me apoiar em referenciais teóricos. Só futuramente pretendo selecionar de forma mais clara as minhas problemáticas e objetivos para dar inicio a uma pesquisa.

Apesar de eu ter trazido a experimentação como uma das características da vanguarda, gostaria de observar que essa música é marcada por uma experimentação diferenciada. Se não fosse assim, qualquer música seria classificada como música de vanguarda, uma vez que qualquer música se mistura e experimenta novos elementos. No entanto, a experimentação da música de vanguarda tem o intuito questionar os padrões musicais tradicionais, além de provocar formas de estranhamento, inquietações e tensões no ouvinte.

Outra observação é a seguinte: não é por que eu estou tentando articular a vanguarda com os propósitos da educação que necessariamente eu resuma apenas essa tendência musical a algo capaz de provocar senso crítico nos indivíduos. Um educador capacitado em inovar sua metodologia e que esteja interessado em provocar questionamentos em seus alunos, é alguém que se torna capaz de utilizar qualquer estilo musical para gerar entendimentos de seus discentes com relação à sua disciplina de forma crítica.

Quando chamo atenção para a música de vanguarda, é que eu acredito que ela por ter características como a experimentação e a quebra dos modelos legitimados, pode provocar no aluno um senso de requestionamento acerca das certezas legitimadas e oficializadas pelo sistema, além de fazer com que o conhecimento passe a ser visto por esse discente enquanto um enriquecimento de informações e uma construção crítica capaz de ser constantemente requestionada por novas interpretações, e não como algo acabado em si mesmo.

Para começar a entrar de vez no tema, eu gostaria de propor algumas problemáticas. Será que os artistas e o público-consumidor da vanguarda têm interesse de que essa música provoque uma condição crítica acerca da realidade? Será que a nossa educação está preocupada em possibilitar ao discente um olhar questionador? Acredito que tanto uma quanto outra não possuem interesses em provocar um olhar crítico, isso por que tanto por parte dos artistas e público da música de vanguarda quanto das instituições educacionais existe o poder.

Com relação à música de vanguarda na educação, o estranhamento provocado por ela, antes de produzir um olhar questionador, preserva a ordem, uma vez que é do interesse de muitos que a vanguarda se mantenha desentendida. Essa postura evita com que determinados setores se aproximem dela e possam desestabilizar a posição comoda de superioridade na hierarquia estética que seus consumidores adquiriram. Vale lembrar que o público da vanguarda frequentemente é proveniente dos meios universitários, ou seja, de um setor privilegiado pela sociedade.

No que diz respeito à relação da educação com a música de vanguarda, o que eu observo é que a educação muitas vezes não se interessa em construir olhares críticos, isso por que ela se encontra submetida aos interesses do capital econômico, e por isso mesmo, tenta formar indivíduos para atender o interesse do mercado de forma dócil, automatizada e prática, afinal, a educação atende a uma conjuntura dominada por uma elite econômica, e o que essa elite quer é o funcionamento harmônico da sociedade.

Portanto, para mim, a educação parece impossibilitada em dialogar com a música de vanguarda, pois enquanto as instituições educacionais se caracterizam pelo mecanicismo, pelo controle social e pela rotina viciada das pedagogias tradicionais fedidas a mofo, a música de vanguarda traz como características o espírito curioso e aventureiro. Eu não consigo encontrar compatibilidades na forma como a educação se organiza com a natureza da vanguarda. A educação se acomoda, a música de vanguarda se solta pelo mundo como ciscos nos braços do vento.

Acredito que a música de vanguarda também parece impossibilitada em dialogar com a educação, pois apesar de ter um espírito liberto, no momento em que os artistas e o público se deparam com a questão do poder, a vanguarda passa a ser algo que serve muito mais para a manutenção do poder e do prestígio estético de uma intelectualidade, do que para uma proposta capaz de fazer os indivíduos recriarem de forma crítica novas concepções acerca da realidade e de si mesmos.

Democracia falecida

Os protestos pipocam no Egito, sabemos que mais uma tentativa de abuso de poder. Nós, americanos ocidentais, abrimos o jornais e vemos isso tão frequente que não nos assustamos, afinal, isso é coisa deles mesmos. No nosso continente, desfazemos da discrepância hierárquica e optamos pela democratização civil. O Ocidente é alocado de diversos países assim, menos a ilha cubana. Ela é rodeada por cidadãos livres e felizes por não acordarem ao tom da voz de algum ditador. Isso não uma mera sorte nossa, mas não está muito em voga o regime ditatorial. Ele ficou para trás há 3 décadas sob efeito dominó no continente latino.
No Brasil, isso é uma piada. Desconhecemos uma figura que manda e desmanda em nossos atos. Estamos em tempos de liberdade política, de escolha, expressão e opinião. No dia que o nosso querido ex-presidente tentou sabotar um comentário indecoroso de um jornalista americano por chamá-lo de pinguço, uma onda de manifestações surgiu contra esse atentado a censura.

A ditadura política se foi, como diz Saramago, estamos da era da ditadura econômica, sob mando dos bancos centrais e FMIS. E só vermos que ocupa os principais lugares na ONU, até então, nenhum continente africano ou subdesenvolvido. Estamos sob mando do felino capital especulativo, desprovido de cabeça, mas dono de garras afiadas e estômago voraz. O mundo, principalmente o Velho Continente, não escapou da sua selvageria. A política cai no velho joguete das questões ideológicas, de quem seria a culpa? Do neo- neo- liberalismo ou da intervenção Estatal?

Diante dessas questões, insistimos na democracia e igualdade social. Preferimos acreditar que a ditadura e o abuso de poder só cabem aos islâmicos. Não percebemos que o Estado anda enfraquecido, nas mãos de dúzias de colarinhos brancos que assaltam a nossa previdência para por nas cuecas. No lugar que as antípodas do governo não alcançam, o poder paralelo toma conta das comunidades vulneráveis às suas leis selvagens. O Brasil é democrático, pois temos liberdade, a negativa, pois não temos ao menos o direito de elegermos o título da pobreza. Não precisamos de estruturas e nem instituições que possibilitem o exercício da civilidade, pois só nós temos o nosso jeitinho brasileiro que por muitas vezes “conciliamos” com a lei.

A nação é governada pelo coração im- pensante alocado no centro, Brasília, a capital planejada para se desenvolver 50 anos em 5. É lá que ele pulsa e pensa, de modo impreciso e acéfalo que só cabe às periferias ser reduto dos feitos da ineficácia da burocracia. E isso reverbera para todas as regiões. As periferias estão cheias de velharias sucateadas sustentadas pelo assistencialismo vazio do governo. Sim o assistencialismo é positivo, mas desde que seja respaldado para um projeto paralelo de desenvolvimento.

Continuamos no país em desenvolvimento, dentro dos preceitos de uma modernidade tardia, onde é um lugar em potência de investimento, mas que se nega a repensar as suas estruturas políticas e econômicas. Quanto à democracia, vivemos ainda nela. Onde cabe o lema dito por Nelson Rodrigues de que toda unanimidade é burra. Ela nada mais é que uma decisão acordada por poucos, revestido de discursos ideológicos. Num país onde se encontra tanta diferença o que menos podemos pensar é na igualdade. Estamos entre a ditadura especulativa do capital e a democracia, segundo Saramago, “condicionada, amputada e seqüestrada”.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Alameda dos desesperados (Por Gustavo Navarro)

Corre pela alameda do desespero
Olha a hora, não há tempo de viver o medo
Encontra a merda do aconchego burguês
Se encosta na parede titânica da sociedade
Onde o elementar são os pecados que os convém
Medita com a hora do chá. Desanuvia...
Faça jus a sua carcaça e não se esconda atrás da porta
Suas revelações são as drogas
Pois atrás da porta está a Justiça se escondendo de vocês
Os amores desmedidos de que tanto adora.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

PROCURANDO UM ETHOS II

A busca por uma identidade nacional foi instrumento político utilizado por vários estados-nação. O objetivo era o de unificar territórios fragmentados em torno de uma entidade abstrata que reunia práticas, comportamentos, costumes, língua e normas comuns exercidas num determinado território e povo.

No Brasil, na década de 30, alguns elementos da nossa cultura foram elevados a símbolos nacionais, como o carnaval, a mulata, a capoeira e o samba. Exemplos como esse fizeram Benedict Anderson lançar uma obra intitulada de “Comunidade Imaginada” em que é discutida a construção abstrata do sentido da cultura nacional. Hobsbawm, em “Invenção das Tradições”, em que reconhece que as identidades são inventadas.

Sob a batuta desses dois autores continuemos exercitando o argumento sobre a sergipanidade. Essa condição que nomeia o ser sergipano e lhe atribui o caráter de existência num contexto sócio cultural e econômico nacional e mundial. O fenômeno da globalização consiste em trocas das complexas possíveis nos vários setores da vida social. Essa onda de intensos contatos cobra que apresentemos um diferencial e para isso torna-se necessário elencar aspectos das culturas locais que sejam peculiares para servirem como moeda de troca no mercado de bens culturais. Por outro lado, fora do discurso determinista econômico, está a condição processual de pertencimento e de auto-reconhecimento de etnias e nações. Na Espanha, vários grupos étnicos como bascos, catalães e curdos não se reconhecem como espanhóis. O Estado promove a unificação por meio do uso da burocracia estatal e pelo poder de polícia.

Quanto a sergipanidade. O que vem a ser de Sergipe torna-se uma questão complicada de se definir, tendo em vista que sofremos influências de muitos lugares desde muito tempo, seja da Bahia com seus carnavais fora de época e pelo cultivo da cultura negra, de Pernambuco por sua música, do Rio e de São Paulo por meio dos comportamentos reproduzidos pelas novelas, dos Estados Unidos através dos filmes e da música. Outro dia ouvi um produtor cultural de Aracaju dizer que contestava quando as pessoas que a banda de rock sergipana Snooze não fazia música sergipana. Ele afirmou que independente de a banda ter composições em inglês se tratava de música de Sergipe pelo fato de estarem imersos na sociedade sergipana e que esse meio de alguma forma influenciava na sua música.

Particularmente não discordo dessa perspectiva, já que essa banda, assim como outras de estilo semelhante constituem um grupo com preferências por esse tipo de música e estilo comportamental influenciados pelo rock, mas, que, por outro lado, residem e tocam no estado e contribuem para reproduzir essa prática em parte da população. Com isso, essas práticas já estão incorporadas a cultura sergipana.

Outro argumento é o de que a sergipanidade é fluída ela está constantemente em transformação e o que nos é apresentado como nossos símbolos culturais, como papagaio, Cacumbi, São Gonçalo, Caceteira, entre ouros são “invenções inventadas” (no sentido de Hobsbawm) elevadas a símbolo. São edições de uma pluralidade, afinal de contas, além da música “meu papagaio” ser veiculada como canção que representa o estado, a cultura do litoral é a que possui maior destaque nos meios de comunicação. Além do que, o sergipano, ao que me parece, está mesmo preocupado com o que vem de fora e estranha o que está ao seu redor. Isso reforça cada vez mais a nossa característica provinciana.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O OPRESSOR ARREPENDIDO

O OPRESSOR ARREPENDIDO
A PEDAGOGIA DA UTOPIA

A visão freireana de Educação aponta para uma relação dialógica com a realidade. Muito nos lembra a visão maiêutica no sentido de se conhecer as coisas por meio de um diálogo com o real que pode ser um monólogo/diálogo quando nossa voz interior trava dentro de nós um diálogo questionador dos fatos ao nosso redor (Vigotsky, formação da mente social). Freire viu a necessidade de uma educação que desvela os fatos e depois propõe uma crítica dialógica que em sua visão é libertadora do homem. Assim a pedagogia libertadora é a pedagogia do diálogo, da crítica, da proposta racional para uma despolarização da realidade (Barreto, 1998).

A teoria do pedagogo brasileiro acredita que a tensão entre as classes pode ser menor, portanto, o mundo pode ser melhor. E está na Educação a ferramenta maior de um processo de libertação, pois é ela que liberta o homem do medo. O medo de não conhecer, o medo de não superar a condição de homem inconsciente/inocente, o medo da liberdade de um homem em vigília/consciente de seu mundo, de seu lócus, de sua realidade enquanto vida material e simbólica produtora de múltiplos sentidos, inclusive o sentido político (Barreto, 1998).


Paulo Freire coloca o educando na condição de um ser político. Por esta causa sua teoria reflete sobre o papel da educação nas relações concretas ou nas relações materiais da sociedade. A educação libertadora é aquela que ver o educando em seu lócus político, é a educação da práxis, e a escola presente nesse lugar, busca nas contradições desvelar suas causas para que uma nova ordem surja entre os seres humanos (Barreto, 1998).

Freire sustenta que devemos sonhar e acreditar em nossos sonhos. O sonho do educador é a paz entre as classes para que a exploração e a dominação cessem entre eles, para isso, é preciso educar ambas as partes. Não são apenas aqueles considerados acéfalos pelas classes dominantes que necessitam aprender a apreender a realidade. Pois a tensão fere os dois lados. As classes dominantes também precisam despertar-se da utopia da dominação plena de lucro total. Freire deixa claro que o mal-estar entre as classes é causado pela dominação irracional das partes mais privilegiadas. Toda dominação é irracional, segundo Freire, contudo, ele viu a inevitabilidade de sua existência e a necessidade de um diálogo entre os homens para uma superação possível desse mal-estar. Um mal-estar cultural, pois sua gênese está na raiz das relações do homem com o meio e na significação do espaço natural em espaço geográfico, portanto, o espaço da cultura (Freire, 1970).


Mas, é importante considerarmos que a educação para chegar a este grau de emancipação dos “agentes do poder” necessitaria que esses agentes fossem alvos da mesma, e transformados por ela. Não me arrependo de dizer que vejo marcas de Cristianismo no trabalho de Freire, o chamo até de Pedagogia da Utopia. A utopia cristã que acredita na possibilidade dos homens viverem em harmonia, do opressor que muda a sua condição por uma crise de consciência provocada pela educação. Até rimou! E o meu egoísmo, por meio da educação, ser trocado por uma crise de altruísmo, no mínimo, isso é coisa de fé. Pois o poder não abre mão de monologizar o discurso sobre educação. São eles que criam as grades, os planos e regulam as ações e sobre tudo da formação do educador à formação do educando e controlam a verbinha. Com todo respeito, não sou crente no que diz respeito à existência de um opressor arrependido. A história nos ensina que a Índia fez uma revolução (Gandhi) pacífica. Entretanto, meus caros, vejam o que sobrou! Os ingleses não precisam estar lá para ditarem as regras do jogo. O que me preocupa é: Como sair do discurso monológico se o discurso dialógico de Freire deixa brechas para a ordem continuar? Salve o torto.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O crepúsculo da certeza

Não sei, penso que sei

Imagino o que não sei

Porque sei o que não sei

O que poderia imaginar?

Não meto a bomba em Deus,

Nem sei quem ele é, nunca o vi

Porém no homem sim, ele é concreto

Apesar de que estaria me explodindo também

Os metódicos pensam estar mais próximos da certeza

Fariam um laudo de neurose e debilidade mental a mim

Diriam: Vamos ao barco da ciência!

Ela nos salvará da ilusão das incertezas

Poderia estar mais longe dela que outro

Faço parte da incerteza!

Antes disso, responda-me o que é realmente certo?!

TODOS possuem papéis somatórios

O pensador se afoga e emerge a todo instante

Todo mundo se afoga, emerge e transmite o nado ao futuro

Morreremos! E a ilha da certeza?

Um, diz que está distante! Será que ela existe?

Perguntarei a quem veja! Pode ser que alguém a encontre

Aquela especificamente que não sabemos qual é

Para que serve, se define e cabe-se a todos nós?

Entortarei aquele que afirmar ser o único capaz de achá-la

O Inconsciente (Das Unbewusste) III

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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Meu momento sagrado

Luz. Mas que luz é essa? Pergunta o senhor na calçada, o mesmo acende seu cigarro e olha fixamente a luz. Parece não se incomodar afinal a luz é clareadora e alegre, mesmo que o deixe cego, é sempre a luz divina. O senhor é um oráculo? Mentalmente perguntei-lhe. O oráculo estava sentado na calçada, fumava seu cigarro e naquele momento ele era o show, a luz de um carro batia branca e sagrada em seu rosto. Seus gestos eram como de uma pergunta encarnada, parado olhava para o nada, apenas se preocupava com seu cigarro aceso, e a multidão em êxtase passava e olhava-o... Mesmo que todos se percebessem como substancias diferentes do oráculo, tinha alguma coisa em comum ou anônima em todos naquele lugar. Até eu que mantinha uma conversa secreta e mental dentro de um confortável veículo.

De repente o oráculo começa a reclamar de alguma coisa, como é comum o oráculo se revestiu de sapiência, por isso gritava para o nada. Seu lugar reside nas conversas interiores, a mais digna de orgulho, pois as verdades congeladas sem o atrito e calor da dúvida, posteriormente são compradas frias em algum ar-condicionado com alguma pompa em formato de flor, para vivermos assim como o nosso oráculo um momento sagrado juntos. Especificamente naquele momento, o oráculo nada mais passava da mesma substancia que flutuava no ar, individualidades gritando pro nada. Vivenciavam um momento sagrado onde se permitiam também ser oráculo e inventar o absurdo. Por isso que naquele momento o oráculo não era percebido, a informação que ele correspondia era de um senhor parado que fumava um cigarro distraído. Seu lócus lótus.

O que diferenciava-nos ali era nada mais que a cor, todos ali inclusive eu éramos tons que variavam do amarelo ao vermelho, já nosso senhor era plenamente azul, sem grandes pretensões. Seus dedos juntamente com o seu corpo faziam movimentos, preocupados com aquela gente toda que desvairada, perturbava sua conversa em meio à madrugada, com o sagrado. Este homem sabia que em meio à selva os dejetos sempre são deixados na estrada, aqueles que não possuem força suficiente para prosseguir inocente. Assim a multidão resvala nele como um objeto, uma informação decodificada, logo passível de ser desprezada. O sagrado é paisagem. É o lócus da lótus, dedos para quem não quero.

Por fim, podemos dizer que o nosso senhor era o homem mais verdadeiro dessa Terra. Afinal sua loucura não o deixava mentir, dentro dele era tudo verdade. Diferentemente de mim, que fiz de um encontro banal com um senhor com problemas mentais, que estava sentado em um posto de gasolina próximo ao pré-caju, uma historia falaciosa como essa. O senhor era o oráculo e eu o mentiroso.






segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Música de Vanguarda e Educação

Neste texto eu vou tentar propor um diálogo da música de vanguarda com a educação. Apesar de eu ter sérias críticas acerca da música de vanguarda, principalmente a que se refere à apropriação que a intelectualidade faz desta, eu gostaria de informar aos leitores que eu não tenho nada contra a essa estética musical. Ao contrário. Quem já ouviu o meu trabalho musical “Psicodélicos e Psicóticos” percebe que eu trago uma influência dessa tendência.

Antes de iniciar o debate acerca do tema, acho necessário mostrar aos leitores o que eu entendo como educação. Para mim, educação não se resume apenas ao processo de aprendizagem. A educação se manifesta nas alternativas que os individuos encontram em abrir suas próprias possibilidades interpretativas e criticas. A educação é um processo pelo qual o individuo vai aprendendo a olhar o mundo por conta própria sabendo repensar a validade do que é dito como certo e errado sem precisar ser manipulado pela opinião de outrem.

Já a música de vanguarda para mim é toda aquela música que traz como característica mais evidente a predisposição ao experimentalismo. Esclarecendo: uma música que tem como objetivo requestionar os modelos musicais vigentes. A vanguarda tenta expor outras formas de combinações melódicas, temáticas e harmônicas. Outro ponto da vanguarda é a irreverência de seus artistas. Por trazer o rompimento dos modelos até então consagrados, o artista de vanguarda termina sendo visto como a alguém “além do tempo”.

Requestionando os modelos musicais, para mim a música de vanguarda termina possibilitando ao ouvinte um olhar mais liberto e predisposto a repensar seus valores cristalizados. Acredito que legitimar o desviante possibilita que a gente saia da naturalização da verdade. Desnaturalizando as verdades, passamos a estranhar o mundo e o estranhamento é importante para passarmos a rever as coisas sempre por vários ângulos e não apenas aceitando-as como dogmas eternos.

A partir de agora eu chego na relação entre a música de vanguarda e a educação. Vejamos: quem consome esse bem cultural geralmente é um público oriundo dos meios universitários. Porém, a universidade mantém um abismo com os setores menos prestigiados, e a música de vanguarda, antes de estimular uma conscientização entre os indivíduos como o repensar os modelos legitimados, torna-se algo exótico e inútil para a maior parte da população.

Não estou compreendendo a intelectualidade como a salvadora do universo. Só acho que seria bastante interessante que a música de vanguarda não se mantivesse apenas presa nas muralhas universitárias. Também não quero fazer da música de vanguarda um engajamento irritante, só acho que ela pode gerar novas reflexões por ela requestionar os modelos, e por isso mesmo, provocar uma conscientização do indivíduo em relação a sua condição no mundo.

Dialogando a música de vanguarda com a educação, poderiam ser trabalhadas inúmeras questões como: até em que limite as convenções representam de fato a verdade? Até em que limite é aceitável a manutenção da ordem social? O fato de nós refutarmos uma estrutura instituída nos faz pessoas anormais? O manter-se preso aos modelos consagrados nos torna melhores para nós mesmos e para a cultura na qual estamos situados?

A predisposição à experimentação da vanguarda possibilita uma formação critica, emancipa-nos e abre leques para diversas interpretações de nosso olhar em relação ao mundo. Compreendendo as experimentações da vanguarda, buscaremos evitar o comodismo cego e submisso às regras sociais, construiremos uma postura questionadora ao invés de nos alienarmos ao naturalizarmos os modelos e padrões legitimados apenas como certos e imutáveis.

a materialidade do Nada

Acabei de sonhar com o nada. Parecia ser constituído de uma materialidade, mas como foi um sonho não consegui após ter me acordado descrevê-la. Instantaneamente, fiquei pensando sobre ele e cheguei a conclusão de que muitos pensaram sobre o nada e acabaram não se certificando de coisa alguma. Afinal, o nada é constituído do nada, da falta de alguma coisa, uma coisa que poderia ser uma poeira vista a olho nu.
O nada intrigou tanto que pensamentos sobre ele não se esgotaram até hoje. No entanto, a partir do instante que se pensaram sobre o nada, a ele era atribuído diversas denominações

Vejamos, nos tempos dos primórdios foi pensado como algo exterior a eles, algo que movesse a natureza e o tempo. A partir daí, o nada era mais forte que as próprias forças dos hominídeos, pois só o vazio da existência impulsionava o trânsito das estrelas. O tempo se passou e a Antiguidade rechaçou o nada, nada estaria dominando a mente humana, afinal a dominação era consubstanciado pela consciência. Nos Medievos, o nada definitivamente não existia, pois nada estaria além do Bem e do Mal.

A falta de materialidade do nada implicava tanto a esses homens e até nós que por um bom tempo eles deixaram de lado. Mas a histeria feminina foi tão forte que o nada retornou do subsolo do vazio para ganhar materialidade: eu tenho braços e pernas que não tem vida e muito menos uma origem doentia em sua organicidade. Agora, passamos a pensar em um nada dentro de uma materialidade, sem concretude, ou seja, não tocamos ou se quer vemos, mas sentimos constantemente as suas pulsões. Os freudianos insistiram em não apostar numa organicidade, o que estaria em jogo é uma energia que insiste constantemente em se satisfazer. Inúmeros conteúdos estão circulando em nossa psique, mas escondendo o que não resolve nada, pois tal conteúdo sempre retorna em forma de assombrado reprimido, até mesmo quem sabe pela negativa. E por falar em negativa, ando negando muito nas linhas anteriores...

Isso não é invenção apenas dos grandes neuróticos da psique, passemos para o jogo da maçã do Newton e de um outro físico, nos meus 17 anos gastei tanto tempo para lembrar nas fórmulas de química que agora ele evaporou de uma vez da minha memória, que constatou que o nada, ou melhor, o ar era constituído por uma massa , a mesma que desloca os lençóis estendidos no varal. Daí a vez é do Einsten quanto a sua teoria da relatividade o que piora muito as coisas. O nada fica cada vez mais in-substantivado, pois o tempo e o espaço não regem dentro de uma proporção gráfica. Entre a modernidade e o agora, ele se apoderou de uma vez, até mesmo foi preciso instaurar uma fórmula para alegar que o invisível opera entre os nossos olhos e comportamentos sob a doce anatomia política disciplinar.

Depois das histéricas, as bulêmicas declaram que existe o nada, ou melhor, algo revestido de nada, que impulsionam para um comportamento nervoso e obsessivo. Não só elas, mas até entre os alicerces arquitetônicos o “vazio” sustenta as cidades invisíveis de Calvino, alguns trens- balas distribuídos entre Ocidente- Oriente e o inconsciente coletivo de americanos e russos. A Revolução Industrial trouxe a tona várias máquinas, com o passar da hora derivou em pequeníssimos aparelhos retroalimentados por micro ondas. Por falar em micro ondas, vemos que literalmente dispensamos a grande invenção dos nossos ancestrais.

Nos grandes dispositivos visuais, houve um aparato para despertar a nossa consciência através do papável. Consciência voltava a ser sinônimo de conhecimento. Artaud desmistificou novamente essa constatação, nas salas projetivas é o nada que despertará a nossa consciência entre as lacunas e clivagens do conteúdo a nossa frente.

Vejamos que é uma tarefa muito árdua, pois ver o que está no buraco é difícil, mais ainda quando não se tem nenhuma lanterna por perto.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O capitalismo libinal e as metanarrativas (Por Anderson Couto)

No epitáfio do rei Sarnadapalo encontrava-se a seguinte mensagem: "eu Sarnadapalo ... comi, bebi e fiz orgias, o resto não vale isso". O nome do rei figura então como um adjetivo de quem coloca o prazer acima de qualquer bem da vida. Na modernidade tardia, mais do que nunca, vive-se cada vez mais sob o império da endorfina e outras drogas do cérebro e o mercado sabe muito bem como deixar todos seres humanos nas teias da dependência dos neurotransmissores. O indivíduo, acostumado então ao estímulo do prazer insaciável, transforma-se em comprador compulsivo e quando não desempenha tal atividade tem crises de abstinência. Não existe nos tempos atuais algum fim estável da ação ou uma grande meta ideal de comportamento. Se um termo do desejo existisse, o estímulo necessário ao sucesso da propaganda esbarraria em limites e criaria uma estagnação da economia. As compras esbarrariam no homem satisfeito.


Se hoje o bem mais aplaudido consiste no prazer que é mirado pelas ações de todos os homens, em algum tempo atrás da história, tal bem não figurou como atributo indispensável do agir correto. Pensava-se que a vida mais correta no ser humano consistia em agir de acordo com sua faculdade mais excelente, em busca do fim mais supremo, a felicidade. No "República" Platão procurou demonstrar que a ética é um comportanto dirigido pelo intelecto e pelas idéias. Do mesmo modo, seguindo as tendências deixadas por Aristóteles, Tomas de Áquino descreveu que a ciência de deus traz o agir mais adequado para o homem e que a felicidade era granjeada pela ação de acordo com a ciência supremo do criador. Assim, toda a metafísica era um freio aos desejos humanos e colocava amarras nas aventuras do ser finito. Por isso o capitalismo quando surgiu precisou desmistificar o mundo, em um processo de desencantamento das explicações. Hoje ela destrói inclusive suas próprias promessas.


Dostoievski preconizou que com a morte de deus tudo seria possível para o homem. A morte da metafísica e o ecomio anárquico da vida prazerosa em detrimento de qualquer valor congelante traz consigo a possibilidade da renovação de desejos por um mercado ávido para produzir insastifação constante. A voz do russo foi aplicada, mas trouxe o avanço do capitalismo destruidor, sem limites, sempre renovado. A violência do capitalismo agora encontra mais espaço para fluir. Destruiu seus últimos limites, as idéias, os ideais de vida, as tradições, os mitos de felicidade, as ideologias de classe e de reconhecimento pelo trabalho. Decerto que ele ainda esbarra em algumas religiões do oriente. Elas ainda resistem, mas a endorfina pulsa por trás das burcas. Logo os irmãos do oriente caíram de vez nas teias da dominação do prazer.


Marx dizia que o capitalismo passaria por um crise estrutural e forneceria, por suas próprias contradições internas, o espetáculo do fim das relações sociais baseadas na mercadoria. Penso diferente. O capitalismo cairá por uma crise de overdose ou por um processo de "crackização" dos indivíduos. Outro assunto, outro texto, outras divagações. Mas penso que uma reabilitação dos ideias de vida traria pequenas crises pontuais ao sistema. A metafísica é um sistema de conhecimento oposto as tendências de mercado do capitalismo tardio. Por isso, um espertalhão viu bem, quando cantou o fim das metanarrativas. O capitalismo libidinal é inimigo do agir racional e da comtemplação intelectual, apesar de todo Shopping Center possuir um nicho de mercado reservado aos pseudo-intelectuais como eu.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

PROCURANDO UM ETHOS I

Vibrações positivas, já dizia um apresentador/empresário do Pré-Caju. Pois é, com essa história de turismo em Sergipe a população está em alerta, afinal de contas isso pode ser o sinal para um caminho futuro de Aracaju para cidade grande. Tudo bem posso estar exagerando na minha afirmação, pois a relação turismo e desenvolvimento nem sempre fazem os locais crescerem todos os meses do ano. É só por um tempo, durante o verão e nas festividades juninas. É preciso compreender que isso é bom para o Estado, mais geração de renda, empregos diretos e indiretos, gente “bonita” na cidade, enfim falou na melhoria de renda e as pessoas ficam tocadas.

Nesse discurso todo, esqueci de mencionar que existe a premissa da valorização da cultura local, daí na programação não pode faltar visitas a cidade histórica de São Cristóvão e ao fragmentado encontro cultural de Laranjeiras, além da guerra de cabacinhas de Japaratuba. Mas nosso foco é o Pré-caju e como a cidade fica movimentada, os ares provincianos de Aracaju ficam aflorados e ao mesmo tempo se sentem ameaçados. Aflorados, pois a mais de vinte anos sempre sugamos estilos e modos de vida provenientes de outros lugares. Como a bola da vez é o formato de carnaval baiano realizado em diversas cidades, municípios e “buracos” do Brasil, com bandas baianas ou que reproduzem esse modelo, trios elétricos, abadas, cordinhas e “pipocas” assistidas por camarotes luxuosos e pessoas nas arquibancadas.

Durante esses dias estive lendo sobre civilização e cultura, em que o autor, Norbert Elias, relata a empreitada expansionista de ingleses e franceses desde o século XVII, em contraposição, a postura alemã de afirmação de uma identidade localizada. As duas concepções são vistas como comportamentos de sociedades com perspectivas diferenciadas quanto a sua visão de mundo. De certo modo, esse comportamento pode ser visto nessa fase de intensa interação das nações motivada pela tecnologia da informação, informática e redes de comunicação também denominadas de Globalização ou mundialização. Quero dizer que todo esse processo macro se reproduz de forma localizada nos países e em suas regiões. Mesmo acreditando na intersecção entre culturas não se pode desconsiderar que nesses contatos as trocas podem vir a ter um peso maior de uma sociedade em relação à outra, principalmente, por que nesses contatos a relação de poder se estabelece por meio de trocas econômicas, políticas e culturais. No nosso caso o expansionismo do carnaval baiano para terras sergipanas foi denominado por mim de exercitando a baianidade. Não se trata de opressão de outras culturas, critica a perda de características da cultura sergipana, mas da característica provinciana do sergipano e a busca de uma identidade legitimamente sergipana. A sergipanidade passou a ser promovida pelos meios de comunicação, intelectuais, folcloristas, poder público e artistas como pratica genuína do povo sergipano, no entanto, fica a minha pergunta, até onde o sergipano médio se identifica com esse discurso da preservação da tradição, do patrimônio material e imaterial, enfim de uma cultura sergipana que seja uma em sua diversidade?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

FRIBURGO

FRIBURGO



Ontem estive lá.

Senti o drama do povo do morro.

Os habitantes de encostas perdem sempre nas águas traiçoeiras.

Nunca faceiras, nem amigueiras, por demais primeiras.

Derradeiras águas de morte e dor.

Conheço sua história.

Um menino sofria sede no norte.

Os barrancos derretiam com o peso das águas do sul.

Triste sorte do forte e do nu.

Triste povo sem governo e muito imposto.

É um encosto nas encostas de Friburgo.

É uma herança deixada em Teresópolis.

É uma cara lavada com água malvada que desce sem piedade sobre gente de carne e de papel.

Eles não viram o céu.

Nem tiraram o véu.

Morreram patrioticamente.

Comeram de seu próprio mel.

Encontraram no final da ladeira um vaso cheio de lama e fel.

As vítimas do Brasil são silenciosas.

Sempre esperançosas.

Teimosas em acreditar.

No barranco próximo ao chão estendido ficou um braço de menino.

No bueiro da cidade emigrante jazia um homem ajudante de pedreiro.

As casas foram com o rio.

O rio levou o sonho.

O Brasil assistiu tudo.

O povo tomou café e foi dormir para depois trabalhar.

Ah, que azar!

Tem mais gente para enterrar!

Enterra as vítimas do acaso da desgraça da tirania!

Uma terra assustada.

Seus homens trabalham por nada.

Acreditam que tudo será diferente.

Até a próxima chuvarada e ventania.

Até enterrar o próximo parente...





Roosevelt Vieira leite.

50 anos vendo PESSOAS MORREREM EM enchentes...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Globalização: Uma ótica do poder global.

Estive lendo a "Globalização: As consequências humanas" do Zygmunt Bauman (sociólogo) nestes últimos dias. Gostaria de tocar em alguns pontos pertinentes que encontrei nesta obra. Aproveitando um pouco das informações extraídas do meu texto anterior. Defendi a idéia de que as culturas não estariam sofrendo uma homogeneização. Mas uma conexão a diversos meios de informação interligados pelos aparelhos de comunicação em fluidez constantes. Puxo um pouco desse debate para as questões espaciais, políticas e econômicas dessa vez. Agora são os figurantes de domínio global e território-nação.

Bauman afirma que: Em vez de homogeneizar, a Tecnologia polariza a condição humana. Anulando o espaço/tempo, os indivíduos Globais (extraterritoriais) ultrapassam seus limites físicos através dos meios de transportes e de comunicação emancipando os limites impostos e criando uma nova lógica que impõe aos indivíduos locais a degradação e a dependência para gerar seu próprio território.

O Estado nesse sentido perde boa parte de sua soberania devido à nova lógica global das relações de poder, o econômico. O ser global dominante e o estado (político) fragmentado, um “secretário prostituído” a essa nova lógica refizeram a construção social do espaço e território. Antes disso, a segunda guerra mundial foi o ultimo marco de disputas territoriais em grande escala militar. O mundo guerra fria vem posteriormente para atrair as atenções de duas grandes forças para o domínio global do sistema capitalista x socialismo. O liberalismo vence a quebra de braço e impulsiona uma nova forma de gerir o espaço:

"No mundo pós-guerra espacial, a mobilidade tomou-se o fator de estratificação mais poderoso e mais cobiçado, a matéria de que são feitas e refeitas diariamente as novas hierarquias sociais, políticas, econômicas e culturais em escala cada vez mais mundial.” Pag.16

Bauman afirma também que o a idéia de distância é uma construção social, que os seres “globais” ou extraterritoriais possuem a liberdade de ultrapassar seus territórios aos diversos locais e implantando de sua força financeira e ideológica sobre os seres locais impossibilitados de acompanhar essa nova forma de exercer o domínio sobre o território. Os globais flutuam através das “barreiras” e limites em velocidades que são proporcionais a forma de controlar num capital cada vez mais livre e desvinculado ao local e das responsabilidades conseqüentes aos seus efeitos.

Quem seriam esses seres invasores do território alheios? Esses ditos globais são os seres por trás de toda trama do capital globalizado ou transterritorializado, 350 bilionários que teriam mais da metade da riqueza equivalente a ¼ da população mundial pobre somada, controlando o sistema financeiro e gerindo sugando os fluxos dos micro locais, e ainda mais, produzindo riquezas em cima de sistemas abstratos que movimentam o dinheiro. As conseqüências estariam mais distantes de seus causadores. Pois, seu domínio físico central distante protege-o, ao mesmo tempo em que sua imagem simbólica, força e ação sobre o globo penetram os diversos lugares afirma Bauman:

“A autoridade destes últimos é garantida por seu próprio distanciamento; os globais não são diretamente “deste mundo”, mas sua flutuação acima dos mundos locais é muito mais visível, de forma diária e intrusa, que a dos anjos que outrora pairavam sobre o mundo cristão...” Pag. 61

Então meus queridos. Existe uma “tal” de teoria chamada de “fim da geografia” que afirma que os limites geográficos são cada vez menos sustentados no mundo real. Diz o Paul Virílio.

Esses limites existem sim, os territórios são modificados, ou melhor, re-territorializados. Invadidos por esses ditos alienígenas globais que condicionam o estado misturando-se a construção significativa dos diversos locais. Mais a imagem do discurso que afirma muitas vezes que o povo é pobre porque quer. Que fome e a pobreza são tratadas da mesma forma. Esquecem, ou melhor, escondem que além da fome, existem milhões de famílias sem escolas, sem saúde e em condições precárias isoladas numa miséria complexa. Muitos tentam ir aos locais que matam a fome ex.: EUA, Europa, aqueles que podem sair e que na maioria são impedidos de entrar no território dos globais e voltam ao próprio local isolado, segregado e hierarquizado.

O Estado-nação fragmentado serve de segurador para as grandes empresas que ultrapassam seus territórios. Sendo que os “globais” através dos meios tecnológicos de comunicação e transporte tornaram ainda mais veloz a diferença entre ricos e pobres. Segregando e excluindo cada vez mais os indivíduos locais de adentrarem na euforia dessa coisa chamada de globalização.

Bauman, Zygmunt, 1925 – Globalização: As conseqüências humanas/ Zygmunt. Bauman; tradução, Marcus Penchel. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1999

O Inconsciente (das Unbewusste) II

São considerados três pontos de vista sobre a atividade psíquica, um deles é o dinâmico, que abrange principalmente o inconsciente, por exercer uma ação constante, pedindo, consequentemente, uma reação também constante, para que não occorra o acesso à consciência. Laplanche e Pontalis, em seu Vocabulário da Psicanálise (2001), observam ainda que "Clinicamente, este caráter dinâmico verifica-se simultaneamente pelo fato de encontrarmos uma resistência para chegarmos ao inconsciente e pela produção renovada de
derivados do recalcado".

Um outro ponto de vista seria o tópico, que, nas palavras de Freud, nada tem que ver com a anatomia; refere-se não a localidades anatômicas, mas a regiões do mecanismo mental, onde quer que estejam situadas no corpo. Ou seja, metaforicamente, tratam-se de lugares psíquicos que nos podem fornecer uma representação disposta espacialmente.

É na primeira tópica freudiana que ocorre a diferenciação entre Inconsciente, Pré-consciente e Consciente. Já na segunda tópica são descritos o id, o ego e o superego, todos estes tendo ao menos parte inconsciente. E, por fim, o ponto de vista económico, sem o qual, para Freud, segundo Laplanche e Pontalis, "não seria possível a descrição completa de um processo psíquico" (2001, p. 121).

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ode ao pessimismo

É que nesta noite transgrudenta apetitosatriste sei que vou morrer. Mas não de um rito banal. Minhas memórias só me fazem mal, me quebram e segam o que poderia ser então vida. É a morte de um espírito coxo. Afinal, quantas ações poderiam ser minha morte e minha vida e seriam saudáveis feitas a pulação de um inconsciente gato? Pensar o passado feito melancolia de algo bom que hoje não volta e se frustrar, ou então, olhar o mesmo e ver que o que fiz estava errado. Mas vamos lá! Tudo tem remédio e projetemos o futuro, que ao passo do mesmo me castrarei dando bom dia à querida fudição de viver devido ao ônus dos sonhos que quero galgar, que bela frustração pra viver um orgasmo!

Se estamos no labirintarte de viver devemos concear o que se tem de vida, dando margem a bela dicotomia: se aproxime sempre do certo então a escolha errada velada pela norma será sempre aceita, por mim, por vocês e por todos. Não me julgo um visionário das grandes verdades, apenas admito que também erro, diferente dos que ecoam sua voz mais alta, e assim todos riem. E quando erram estão tranqüilos porque do erro não lhes cabe o julgo. O julgo maior pra esses é a própria vida, o movimento supracitado que dilacera.

A querida noite me trás um medo, esse que não devo ter e que sem o mesmo não vivo. Mas por que se quer tanto viver? Medo da morte que desejo. Vidamortalhadesejante voltemos ao parto, para podermos criar e criar e criar... Para isso existe o medo, tudo isso acaba virando palavra. Mas não pensem que escrevo porque tenho medo, apenas escrevo pra fazer que as coisas deslizem em minha boca deixando a palavra virar adubação, perfeito! Mais uma idéia brilhante! É o que penso agora, mesmo que ouça barulhos no quintal. Será a morte ou a idéia dela? Não... É apenas a pulação da um gato.

E para quê tanto barulho? Será que não queremos apenas evitar que a morte seja um rito banal? No começo falei do passado, agora é do presente que falo, porque o bicho sempre me acompanha e não preciso ter ciência de nada, escravo do tempo que sou.

Parafrasearpalavramedocastolibertandoadordetudo > Síntese.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Boneca de Hans Bellmer II





Corpo belo,

lascivo
e escuso.







* Hans Bellmer
La Poupée , 1935. Vintage gelatin silver print
9 3/8 x 9 1/4 inches (23.9 x 23.6 cm)
(BELL 21)


* Caros leitores e amigos do Torto,
Peço desculpas pelo meu atraso motivado por falha técnica. Um beijão para todos!

Uma crítica aos adeptos da arte nonsense

Quando a dita arte influenciada por uma proposta nonsense escreve “nada com nada”, não significa dizer que essa arte tenda a considerar o vazio como um vazio em si mesmo. Quando a arte nonsense mostra que o mundo é permeado de não-sentidos, não significa afirmar que essa manifestação estética admita que inexista qualquer vinculo com uma dada realidade palpável. Quando essa forma de arte diz que não há por que concebermos a legitimidade de uma verdade, não necessariamente ela clama pela impossibilidade de que paire em nossas vidas, a total ausência de verdade.

Em relação ao último ponto, gostaria de lembrar que para o nonsense, a verdade está constantemente em modificações bruscas e provisórias. No que diz respeito ao nada com nada, o que as manifestações amantes do desconexo querem mostrar, é que justamente essas nossas verdades não passam de futuras re-definições que vamos fazer dessas próprias verdades, e que por isso mesmo, as re-definições dessas verdades não passam de presentes lógicas que amanhã podem se tornar tão carentes de evidências quanto as maiores mentiras. Já em se tratando dos não-sentidos, o que os admiradores do nonsense muitas vezes insistem em observar é que por nossa verdade gerar inúmeras outras verdades em um tempo volátil e rápido, uma vez que essas verdades podem ser re-questionadas enquanto o seu estatuto de verdade a todo instante, o não-sentido pertence à vida e por isso mesmo, não deve ser desprezado.

O grande problema da arte nonsense é quando essa arte acha que consegue ser revolucionária trazendo simplesmente o vazio pelo vazio, ou quando os adeptos dessa forma de manifestação colam etiquetas para definir o nonsense em um campo fechado. Ora, na proposta nonsense não encontramos aceitação no que se refere a hierarquizações e classificações. Tudo vale, mas tudo vale porque o que é dito inútil, na verdade, tem sua beleza e sua utilidade. Qualquer leitura que o observador fizer sobre determinada obra é válida, assim como qualquer reação que esse mesmo observador venha a ter com essa arte, seja ela de aprovação ou de repulsa, é válida também. O inferior e o superior, o belo e o feio se horizontalizam e exercitam uma simbiose constante entre eles.

Acontece que os artistazinhos de cabeça de espertezas caralhudas fazem da proposta nonsense algo intelectualóide o bastante para ser atingido por outro público que eles consideram careta e raso, criando classificações e hierarquizações que o próprio nonsense condena. Não basta dizer que gostamos do nonsense meramente como forma de tentarmos consolidar distinções deixando essa forma de arte pertencer unicamente aos seres dotados de especializações acadêmicas. Para esclarecer o nonsense, faz-se necessário ter espírito aberto e não carimbos de adeptos do nonsense.

Entender a arte nonsense pede uma clareza aos olhos daqueles que não compactuam com essa forma de arte muitas vezes por não entenderem a sua proposta. Mas que fique claro que essa clareza não sugere uma espécie de mestria, de catequização ou de nojentos paternalismos. Para tornar a arte nonsense mais compreensível, cabe trazermos a intromissão do absurdo dentro da aparente verdade das coisas, ou seja, mostrar a possibilidade do surgimento do erro no que é convencionalmente estipulado como certo, e mostrar que o que é dito fora da realidade também pertence ao funcionamento da ordem. Enfim, trazer questões do tipo: quantas vezes a justiça não decide de forma tão justa assim? Quantas vezes acertamos sem querer acertar, e quantas vezes planejamos fazer o melhor e terminamos provocando um resultado totalmente contrário ao que estávamos desejando? Quem é que acerta? Quem é que erra?

Nonsense admira a aparente doidice, mas não é meramente doidice. Enfim, o que essa forma de arte busca é fazer com que nos sintamos conscientes das inúmeras conseqüências que podemos dar em nossas vidas diante dos inúmeros contextos nos quais estamos inseridos.

( Este texto foi publicado no dia 02 de fevereiro de 2009 no site do Cinform Online www.cinform.com.br/vinatorto )

domingo, 16 de janeiro de 2011

Lulu consensual ou será o Bolinha? Parte II (Por Tatiana Rocha)

Lá vem a Lulu com várias cogitações sobre o universo e a consistência do plasma. As possibilidades de o corpo ocupar dois espaços simultaneamente ainda paira na cabeça da cientista conhecida mundialmente como Lulu a esquisitona da Lapa.

No outro lado da cidade está Bolinha carimbando mais um papel do sistema mais enfadonho e cheio de adeptos para tentar deixar o sistema burocrático mais aceitável e menos lento com a inovação do sistema tecnológico. Bolinha não agüenta mais ficar horas com a bunda esquentando os pentelhos, visto que, antes de sair de casa não fez o que fazia em alguns dias dava escova nos pentelhos para ficarem lisos e não incomodar tanto as regiões baixas.

As suas vidas estão tomando rumos diferenciados não é bem o que queria o Bolinha, no entanto, ele tá acomodado, vai para o trabalho pelo mesmo caminho e não muda, não tenta algo novo, ele virou um robô do sistema ineficaz em tratar as subjetividades. Já a Lulu perdida em tantas construções abstratas não sabe mais ter sociabilidade, vive dentro do laboratório pesquisando sem parar, ela precisa tirar as dúvidas que atormenta o seu sono.

Depois de seis meses de trabalho intenso e as pesquisas ainda estão no mesmo nível, Lulu está tão envolvida que não reparou que um jovem cientista bem mais novo que ela e está apaixonado pela sua chefa de departamento de física quântica.

Em certo dia o rapaz tomou coragem e fez um convite para jantar em um restaurante chinês. Lulu fez de conta que não ouviu e permaneceu no laboratório até mais tarde. O jovem rapaz ficou numa tristeza sem fim, deixou a barba crescer e os cabelos, voltou a beber intensamente pela segunda vez desde a morte do seu pai, ele não bebia tanto assim.

E o Bolinha o que será que aconteceu nestes seis meses? Pois é... Bolinha está saindo com uma mulher 26 anos mais velha do que ele, ela é uma servidora de outra repartição que todos os dias passava na repartição do Bolinha para conquistá-lo, fez tanto que conseguiu namorar com o Bolinha mesmo escondido ela não deixa ele em paz. A coroa é muito fogosa, já foi casada 5 vezes e tem 3 filhos.

O jovem rapaz em uma manhã chuvosa recebe a visita de Lulu, o motivo da visita é que Lulu não aceita que o rapaz tenha abandonado as pesquisas para viver em casa enchendo a cara e sem motivação.

Passaram dias e Lulu tentava convencer o rapaz a voltar às pesquisas, Lulu percebe que alguma coisa está mudando sua visão sobre o rapaz, os seus sentimentos sobre ele são outros, a afeição que tinha por ele está se transformando em amor. O que deve fazer Lulu? Deve quebrar as barreiras e armadura e se render a esse amor? Já o Bolinha estava em casa de férias bebendo brejas e assistindo o seu flamengo esperando “sua amada” chegar com as comprar do supermercado. Praticamente casado Bolinha engordou 8 quilos, além da barriga saliente ele deixou a barba crescer. O que não imaginava que poderia acontecer mais aconteceu o Bolinha se apaixonou pela filha mais velha da coroa. O que deve fazer o Bolinha? Deve contar a verdade para a coroa e se declarar para a filha dela?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

HOJE

Hoje é dia de deixar a rua, o vento, o sol e a lua abrirem meus rumos.
Hoje não quero acreditar em nenhum tipo de salvação.
Hoje quero ficar aqui deitado nessa cama.

Recebo um convite sugestivo, tão bonito, e eu nem quero saber se o dito cujo ainda está com você.
Eu sigo o caminho e deixo coisas a fazer, procrastino o tempo...

Eu, impessoal, creio que assim não pode ser
E o e-mail me trouxe correntes enferrujadas não sei para que. Quebro todas.

Daí meu juízo fica bravo
Saio na rua, sem direção

Volto ao meu quarto, deito na cama, pego um livro pra me fazer companhia.
Hoje não consigo ouvir mais nenhuma palavra, nem mesmo as que saem de mim.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O circo

O circo

Lá vem o circo.
A criançada alegre fica.
Hoje ninguém briga.
Vai ter palhaço no picadeiro.
Pipoca, bala, e muita risada.
O homem-bala foi lançado.
O menino de olhos arregalados sonha um dia poder voar.
A menina faceira morre de medo da monga.
O povo está na praça.
Nem se vê quem passa.
É tudo ligeiro.
Hoje tem mulher elástico.
Tem muita palma para o Zé sabido.
Esse macaco só falta falar.
Vai indo o final de semana perfeito.
Nossa gente é boa.
É boa gente.
Ela saiu de perto dos seus.
Nem olhou direito.
Foram alguns segundos.
Mãe e pai cegaram ante o fascínio das horas.
Ela desce da praça.
Há um parque.
Seguida foste pobre anjo.
No teu pescoço deram um gancho.
Abriram-te as pernas sem dó.
Amordaçaram tua voz.
Tu estavas só no dia de tua hora.
Ali ficaste até que virastes notícia de trinta segundos.
O circo se foi.
Ele também
Você também.
E eu não esqueci de contar tua estória.
É a mesma Brasil afora.
São tantas meninas sem rosto.
Mas você não chorou.
Foi?...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O Inconsciente (das Unbewusste) I

*********** Amigos, por problemas na minha internet,estou postando este texto num turno errado, pois posto à tarde. Peço-lhes prévias desculpas pela inconveniência. ___________________________________________
 Lançarei um texto sobre o inconsciente em Freud nesta e nas próximas duas semanas (ou seja, em três partes). Afinal, já muito me utilizei de sua gnosiologia nos textos que trouxe ao Torto.

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Em seu texto de 1915, intitulado "O Inconsciente", Freud elabora o seguinte quesito: "Como devemos chegar a um conhecimento do inconsciente?', a que ele logo responde, "Certamente, só o conhecemos como algo consciente, depois que ele sofreu transformação ou tradução para algo consciente". Ou seja, aqui nos é apresentado um conceito que embora seja tratado ainda nessa obra como um sistema autônomo, com leis próprias de funcionamento, não possibilita uma constatação fenomenológica. Como tão bem nos informa Garcia-Roza, "Uma fenomenologia do inconsciente é uma tarefa impossível. Ele poderá, quando muito, ser inferido a partir de seus efeitos na consciência, ou, melhor ainda, a partir de seus efeitos no discurso manifesto, mas jamais ser objeto de observação direta." (2008, p.211). Esta impalbabilidade e a autonomia do inconsciente corroboram o status da psicanálise na contramão da psicologia da consciência. Para esta e para outras conjeturas anteriores, feitas inclusive por alguns filósofos, o conceito teria um caráter adjetivo, era descrito como propriedade da consciência.

 Ainda no seu texto de 1915, Freud propõe que tudo que é recalcado deve permanecer inconsciente, mas que o conteúdo recalcado não é todo o inconsciente. Propõe ainda que questionar a existência desse conceito seja necessário, pois, para além da constatação das parapraxias e dos sonhos, a atividade psíquica consciente deixa ainda muitas lacunas. E que este questionamento é também legítimo por, nas palavras dele, "não nos estarmos afastando um só passo de nosso habitual e geralmente aceito modo de pensar".

O pai da psicanálise agrava ainda a ferida narcísica que o conceito por ele proposto causou no homem na seguinte passagem: "Hoje em dia, nosso julgamento crítico já se põe em dúvida quanto à questão da existência de consciência nos animais: recusamo-nos a admiti-la nas plantas e encaramos como misticismo a suposição de sua existência nas coisas inanimadas... A suposição de uma consciência neles se apoia numa inferência, e não pode participar da certeza imediata que possuímos a respeito de nossa própria consciência". Argumento que reforça utilizando-se, inclusive, do pensamento de Kant, quando este propõe nossas percepções como subjetivamente condicionadas, portanto não devendo ser consideradas fidedignas à coisa.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

2011

Assim como muitos outros dias, eu tenho me acordado e me mantido em silêncio. Tenho tido noites desagradáveis. Aquelas noites que a gente se acorda de hora em hora assustado com qualquer sonho que nem sabemos qual foi. É meus caros leitores, aquelas noites cansadas e tensas. Noites sentidas por muitos animais humanos dotados de culpas e de ansiedades.

De tanto cansar em tentar descansar, hoje fui até a janela, meti a cara para fora e me deparei com a poesia irritante daquele sol me avisando que havia chegado mais um novo dia. Novo? Para quem? Tentei evitar me entorpecer com pensamentos nocivos para a minha existência, mas não deu: era mais uma manhã de 2011. Sim, mas e daí? E olhe que o ano sequer começou...

Fico me questionando sobre minha existência. É difícil admitir que a vida possui um ciclo interminável de imprevisibilidades. Caramba, sequer eu tenho a mínima noção de onde eu vim! Caralho, eu sou resultado de uma corrida de infindáveis espermatozóides! Poderia qualquer outro espermatozóide ter atingido o óvulo, mas não... a junção deu essa pessoa que sou eu!!

Ao me envolver com essas questões, começo a sentir um ódio rasgando meu peito. Puta que pariu! Não posso comer picanha devido ao colesterol, não posso gritar, pois tenho que ser gentil. O pior é que nem pedi pra nascer. A vida é uma comédia de mau gosto. Ela nos impõe obrigações sem sequer termos tido a escolha de aceitar ou não o fatídico cotidiano de se viver.

Neguinho sai gemendo gostoso na cama, e ai por mágica divina, a gente vem pra cá. Esse papinho de que somos os abençoados por estarmos nessa linda aventura chamada vida é balela. É discurso de gente que tenta se desviar das inevitáveis quotas de sofrimento que é viver. Se somos abençoados por estarmos aqui, então Deus é o Demônio. Inferno pior não existe para mim.

Sinceramente: um Deus que pune, um Deus que nos arranca qualquer possibilidade de encontramos a nossa plenitude e ainda nos exige uma série de cumprimentos para vivermos nessa merda, é um Deus que nos deu de mãos beijadas o inferno. Temer o inferno?? Se houver inferno pior do que esse de viver no aconchegante planeta Terra, Deus é pior do que eu imaginava!

Por isso que eu não quero engravidar ninguém. Eu já sabendo da merda que é a vida, é muita sacanagem insistir em ter um pimpolho. Pra que ter um filho? Pra exceder o mundo de gente mais do que já está? Já não bastam as frustrações que inevitavelmente todos carregam na vida para ainda pôr um pivete pra lutar nesse mistério frustrante chamado vida?

Alguns leitores podem estar indignados com as minhas opiniões, mas e daí? Não quero fazer boa política com ninguém. Não estou nem um pouco interessado em negociar comodidades discursivas. Tomo no cu todo dia mesmo sem gostar de dar o cu. Talvez fosse até melhor eu aprender a dá-lo, pois só assim compensava o prazer com a fuleragem inevitável da vida.

Porém, reconheço a grande sorte em ter a família que eu tenho e sei que em alguns momentos, viver vale a pena. Feliz 2011 para todos já que a vida é felicidade, que os sonhos se realizem, já que a vida significa a capacidade para realizarmos nossos Ideais. Vocês precisavam me ver neste instante para conhecerem um sorriso sincero. Espero dormir melhor hoje à noite. Beijos.