terça-feira, 5 de outubro de 2010

Rosa Elze e UFS: um relacionamento aberto

O Rosa Elze é um bairro que possui uma imagem muito atrelada a Universidade Federal de Sergipe (UFS), e seu processo de diferenciação sócio-espacial a tem como ponto de partida. Apenas com uma simples observação podemos constatar que o solo urbano do Rosa Elze se valoriza ou se desvaloriza, dependendo da aproximação com a universidade. O comércio que se estabeleceu em frente à universidade denota isso, que não obstante, possui serviços que atendem a demanda da própria universidade e não necessariamente ao dos moradores do bairro.

Quando chegamos à praça observamos que, serviços mais diferenciados como o de venda de materiais de construção e de móveis, já se estabelecem, a meu ver, apesar de não serem serviços restritamente voltados para universidade como casa de xerox, papelaria, restaurantes e lanchonetes; tais serviços diferenciados que se encontram na praça principal do bairro se valorizaram por conta do referencial da universidade, uma vez que, a demanda por serviços de construção e moveis se atrela a povoação do bairro, que se intensifica a partir da Universidade. Porém, observamos que os serviços das mediações da praça e da própria praça têm uma demanda mais exógena a UFS, como padarias e pequenos supermercados.

A cabo que entramos na zona mais afastada da UFS, o que se vê é um nítido contraste, que a mascara da zona mais valorizada próxima a UFS esconde. Ruas sem calçamento, pessoas paupérrimas, esgotos a céu aberto, um verdadeiro processo de marginalização sócio-espacial. A interface entre o centro do Eduardo Gomes, que tem o G Barbosa como referencial e o Rosa Elza, é uma zona onde casas precárias, pobreza e problemas sociais diversos se estabelecem.

A população do Rosa Elze, tendo como referencial a pequena amostra que observamos, possui um contingente grande de estudantes universitários; migrantes do interior do estado; moradores antigos; a população na sua maioria é mestiça ou negra. Além disto, percebemos que o Rosa Elze já possui uma estrutura urbana semi-complexa, já possuindo instituições: religiosas, político-comunitária, de serviços e educacionais (além da universidade). Mesmo que necessitando de outros bairros com relação a serviços burocráticos do estado, ou mesmo, alguns recursos bancários e de serviços em geral, já possui uma vida interna que não necessariamente se aliena a outras localidades. Podemos destacar em termos culturais e econômicos, a realização nas quartas feiras de uma feira livre no bairro, que começa ao cair da tarde, na praça central do bairro.

Tentamos por fim, observar a totalidade desse espaço urbano em seus aspectos econômicos, sociais e brevemente seus aspectos culturais. E fazemos questão de enfocar a má relação da universidade para com o bairro, uma vez que, é exíguo o conhecimento que a universidade produz que chega até o bairro. Não conseguimos observar nenhum projeto social, educacional e etc. Apesar de saber por colegas estudantes da existência de alguns, mas acreditamos que isso se dê de forma pontual.

6 comentários:

  1. Meu caro reuel torto,
    O texto é pertinente porque a nossa Universiade precisa desperta para o diálogo com a comunidade e deixar de ser esta ilha no meio de um oceano de perguntas. Roosevelt

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  2. Mais um pouco do Oceano seu Roosevelt

    São Cristóvão

    Títulos históricos, Patrimônio Mundial, "etc, etc e tal"

    Gente passando fome, pisando no esgoto, problemas urbanos, sociais...Pra quem serve a Ciência? A política? A democracia existe? São tão alienígenas a essa realidade em que os rios de dinheiro no sabado passado, lavaram esse municipio e mais, junto desse dinheiro, 4 anos a mais de miséria e de esquecimento foram condenados a viver...Outros lugares eu vi

    Eu vi!
    Eu vi!

    A Venda da miséria!

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  3. Pois é caro Reuel. O princípio da Universidade seria o tripé: ensino, pesquisa e extensão. Existe até mesmo uma pró-reitoria que deveria cuidar disso, a Proex. Mas o problema não é somente hierárquico. Os próprios integrantes dessa universidade, quando raro aparece uma oportunidade para por o princípio da extensão em prática, acabam deixando correr frouxo. Muitas vezes são até mesmos alunos de outras instituições que acabam utilizando a verba de extensão devido a apatia do aluno da UFS. E sabe o que acho mais engraçado nisso? É como a UFS foi para onde está (falo com relação ao espaço físico). Devido a ditadura militar, a Universidade foi construída longe do centro da capital para tentar enfraquecer o movimento estudantil. Hoje a universidade é no Roza Elze, pra mim, é centro e também é periferia e o movimento estudantil não sabe se centro, se periferia. Ao menos fosse torto...

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  4. Reuel,

    Neste texto que você nos apresentou esta semana, possibilitou-me uma serie de questões acerca da forma pela qual são construidos os espaços.

    Como você bem observou, o lugar no qual se concentra uma maior parcela de universitários, nos podemos notar uma circularidade maior de comercio, uma atenção maior do poder público, enquanto o lado do roza elze habitado na maior parte pelos não-universitarios, encontramos o descaso.

    Este texto para mim serviu como forma de chamarmos atenção para algo que muitas vezes os acadêmicos não querem ver que é a relação de prestigio elitista que eles têm em relação aos outros setores que muitas vezes eles insistem em dizer que se horizontalizam e que buscam alternativas.

    Enfim, no habitat da turminha do Campus, encontra-se nitidamente uma definição de fronteiras claras entre os privilegiados e os não-privilegiados. É obvio que nós sabemos que os moradores do lado esquecido também frequentam o outro espaço, no entanto, é inevitavel percebermos o quanto a universidade não atinge resultados mais interessantes para aquele outro lado tão vizinho ao seu.

    Paradoxalmente a universidade é que diz que estende o seu saber laboratorial e teórico para os dos Santos andarilhos das ruas esburacadas e profissionais de um mercado que o coloca a uma condição de escravo por não ter o titulo igual aos daqueles que dentro de sua nave chamada ensino superior, estão a favor dos interesses populares.

    No final das contas, é o velho bla bla bla alienigena.

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  5. Dois esquecidos, que continuarão assim por longa data.

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  6. Pois é queridos, estamos ainda no engatinhar das coisas, a pesquisa na UFS é uma coisa recente, quem dirá a extensão, a pesquisa em forma de iniciação científica tem apenas +- 20 anos, começou no inicio da década de 90. Porém não essa falta de maturidade que vai obliterar nossa reflexão e interesse por esse bairro que, não obstante, tem muito a contribuir com a universidade. Penso que muitos projetos culturais, políticos, tecnológicos, de desenvolvimento econômico-social poderia ser manifestado no bairro, e de forma simples. Uma das possibilidades simples é a ocupação da praça do rosa elze, que poderia ser muito bem palco para amostras culturais bem como poderia ser utilizada com palco de extensão dos cursos de nutrição, economia, administração e etc. Tendo como objeto a feira livre do rosa elze, que se dá na praça tb. Dentre infinitas possibilidades que poderiam ser efetuadas com a iniciativa individual e do dinheiro publico oriundo do Governo Federal.

    Mas, para uma universidade elitizada e oriunda de uma ensino restrito, com baixo teor critico, voltado apenas para um vestibular que pede sobretudo memorização e quem ganha é quem memoriza mais, e não aquele que reflete criticamente sobre o que estuda. É natural vermos, sendo piedoso com o termo, essa ojeriza pelo bairro e pelos membros dele. Os próprios integrantes dos cursos das humanas, supostamente lócus do conteúdo critico de nossa instituição tem receio de circular pelo bairro, nem que seja, pela zona onde o solo urbano é mais valorizado, que seria teoricamente mais seguro.

    Agora vejo o Rosa Elze como um centro sim, que foi fruto como falei no texto por um referencial claro, porém, se torna periferia quando esse referencial se ofusca. É sobremaneira torto, é um paradoxo harmônico que com o passar do tempo irá se homogeneizar mais, pois acredito eu, afinal, essa massa excluída vai ser expropriada ao passo que a especulação imobiliária e as pessoas de mais alta renda se apropriarem do solo urbano. Afinal, o espaço urbano, é fruto da divisão social do trabalho e de como é apropriada a riqueza social através da evolução das forças produtivas (obviamente entendendo que essa é apenas uma dimensão do fenômeno).

    E Diego, estou muito feliz em saber que está por aqui! Abraços.

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