segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Em um show de forró

Era um mega show de forró eletrônico.

Pra variar, ela estava linda com aquela sua calça apalpando todas as dobras carnudas de seu rabo. Naquele dia em especial, ele percebeu algo a mais. Ela ao se virar pra tomar sua caipirinha, postou-se bem próxima a ele com uma blusa tão justa que apertava os seus seios quase que para fora.

“- hum, que delicia...” ele pensou.

Ele já tinha visto a divina provocação carnal em alguns lugares, mas nunca em um show de forró. Na verdade, ele nem gostava de show de forró, mas tinha resolvido cair na muvuca daquele show, pois tinha como objetivo, encontrar um lindo pomar pra comer as frutas que pudessem aparecer em seu caminho.

Acontece que ele já conhecia a linda carne de muitos anos. Ela estudava no mesmo colégio em que ele estudava em sua adolescência. Porém, no tempo que ele estudava no tal colégio, a menina era simplesmente uma menininha brincando no parquinho e correndo a beijar sua mamãe cheia de areia acumulada das brincadeiras com seus amiguinhos, arrastando sorridente sua lancheirinha pelo chão.

Sim. Ela era uma menininha. Era apenas uma menininha. Porém, a areia do parque ficou apenas na lembrança dele e a lancheira passou a ser o que ela trazia como um delicioso lanche aos olhos de muitos meninões.

Ela sabia o quanto ela era gostosa, e bem sabia o quanto muitos garotos depois da labuta técnica do mundo, trancavam-se no banheiro e descabelavam o palhaço suadinhos e escorados nos vasos sanitários. Por ela saber o quanto ela era cobiçada pelos seres famintos das ruas, ela optou por aparentar ser uma garota difícil (pra não dizer, inalcansável).

Depois de ter ingerido muito álcool na cabeça, ele resolveu chegar junto dela no seu grupinho de amiguinhas forrozeiras. Tentou estimular algumas opiniões, mas ela se portava apenas como a mulher mais impossível do universo. Ele inclusive falou que lembrava dela estudando no seu antigo colégio, porém, ela não respondia nada. Sequer olhava ou dava dois minutos de diálogo com ele.

De forma muito clara, ela foi puxando o grupinho para outro lado do show. Ele terminou ficando novamente sozinho no meio daquela multidão (se é que em algum momento, ele conseguiu se socializar com alguém)

Acabado o show, ele foi até o estacionamento se sentindo extremamente frustrado e humilhado por ter se deixado submeter-se às vaidades dela, ao invés de poder ter investido em tantas outras garotas tão gostosas quanto ela que estavam naquele show. Ao sair com seu carro, ao virar à direita, ele viu uma garota sentada no acostamento do estacionamento com as mãos cobrindo com suas próprias mãos, seu rosto avermelhado de tanto chorar.

Ele estava de saco cheio das pessoas e do mundo, mas como viu se tratar de uma garota deliciosa, ele resolveu exercitar sua postura humana de amor ao próximo.

Encostando o carro mais próximo da garota, ele perguntou: a menina linda quer ajuda? A menina linda era justamente a menina que antigamente era simplesmente uma menininha. Sim, a mesma garota tão prepotente e vaidosa.

Ela estava chorando porque seu ex-namorado a tinha humilhado em meio ao público. Ela estava muito bêbada. Tão preocupado com a situação da linda mulher, ele ofereceu uma carona para ela. Depois de conversarem bastante, ela resolveu aceitar a carona. Cambaliando, ela se levantou do acostamento. Ao entrar no carro, ela pôs a mão no bolso e percebeu que tinha perdido a chave. Ele bastante preocupado com a indefesa mulher propôs:

- Bom, como já está tarde, você dorme em minha casa. Você dorme em meu quarto e eu durmo no sofá da sala.

Como ela a partir daquela conversa passou a acreditar na boa intenção do rapaz, aceitou dormir em sua casa sob aquelas condições.

Por eles terem conseguido construir uma intimidade naquela ingênua e doce amizade, começaram a conversar sobre as aventuras vividas por eles no colégio no qual eles haviam estudado. Ela falou de suas melhores amiguinhas, de suas tias e de suas traquinagens. Ele falou de suas brincadeiras, das peladas com seus amiguinhos, etc, etc, etc.

No fim, ele perguntou se ela tinha saudades de sua infância. Ele afirmou com aqueles intensos olhos brilhando de saudades. Para tornar a noite mais agradável, ele propôs que eles se lembrassem de algumas brincadeiras da infância. Empolgada, ela aceitou. Ele mandou ela fechar os olhos pra adivinhar o que ele tinha em mãos. Ela acertou tudo que ele tinha encontrado para ela descobrir.

Porém, foi no momento que ele pôs um pirulito em sua boca que ela mais gostou. A partir daí a noite se tornou inesquecível, uma noite nostálgica de lembranças da infância, com muitas brincadeiras e muitas traquinagens.

Depois de se cansar de tanto brincar, a menininha olhou para ele, sorriu, foi fechando aos poucos seus pequeninos olhos vermelhos de tanta cachaça e dormiu.

É, ela cresceu.

Levantando-se do lado da cama, ele foi ao banheiro, olhou-se diante do espelho, olhou para baixo e pensou: - eu também cresci, mas ele também cresceu e como cresceu!



(Este texto foi publicado pelo autor no site www.euautor.com.br no dia 14 de novembro de 2009)

2 comentários:

  1. seu modo de descrever a realidade dos mocinhos e das mocinhas pós puberdade é adorável! texto literário, mas cheio de elementos do dia-a- dia. Não tem quem não se lembre de algum ponto de um momento seja agora, na infância ou na adolescência. Ao mesmo tempo, vc coloca sua própria entonação naquilo que é simples e cotidiano. Crítico, voraz e inteligente.

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