quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Educação III
Quanto mais os anos passam mais vejo que o que Modin escreveu em seu livro Antropologia Filosófica é real. É bem verdade que dizemos coisas e que elas nos servem por um longo período de tempo até que alguém perceba que existe mais alguma coisa. Um homem pode ser visto como um ser auto-transcendente de diversas formas. Em todas elas, ele se manifesta como um novo fenômeno que surge diante de nossos olhos. Vemos que a criança pequena fala consigo mesma, trava um diálogo consigo como se existissem duas pessoas. Esta fala rudimentar serve para organizar o pensamento e ajuda a planejar ações. A fala egocêntrica, dizia Vygotsky, marca um momento de construção de uma subjetividade. Um momento de colocar os signos no lugar, experimentá-los e perceber que para dialogar com o mundo elas precisam de mais palavras. Embora não consiga fazer distinção de significado e significante, ela entende o que é dito a si mesma, e orienta-se no mundo por mediação de seu diálogo. Após esse período, a criança consegue elaborar outro tipo de linguagem, aquela em que as perguntas e o desejo de saber mais sobre as coisas e o que elas são, são marcas muito visíveis de sua natureza. O homem quer saber. O ser “aprendente” aparece no mundo dialogando consigo e depois com o mundo, e mais a frente percebe que é portadora de um monólogo e de um diálogo. A fala egocêntrica se transforma em uma voz interior que permanecerá conosco até o último suspiro. Essa voz interior recebe muitos nomes: Consciência, eu, anjo da guarda, Deus, etc. Mas para Vygotsky é apenas uma voz, a voz da mente, um resultado de nossa relação com o outro, de nosso aprendizado da linguagem, do uso dos primeiros signos, de funções cerebrais agindo sincronicamente com a atividade psíquica. Carl Gustav Jung pensou num fenômeno muito interessante. A nossa atividade visceral (Hormônios reguladores de funções orgânicas), e os nossos instintos produzem sentidos que se constituem em imagens psíquicas em nossa psiquê; os instintos são psiquificados. O instinto de procriar não tem mais um valor semântico apenas, ele pode representar outros e provocar emoções de todos os tipos. Parece que retornam para a atividade visceral, podendo transformar-se em uma sintomatização, uma patologia. O sujeito uniu-se a matéria de tal forma que não consegue viver sem ela. Só a morte os separa. A criança após o aprendizado da fala brinca de desenhar o mundo, começa a entender que pode riscar seus pensamentos no papel. O aprendizado da escrita na visão de Vygotsky deve levar em consideração que no início a criança não sabe a diferença entre o desenho e a escrita. Assim a escrita é outro desenho, um tipo diferente, é o desenho das palavras que ela fala e que o outro fala. A criança tenta desenhar o mundo que escuta e vê ao seu redor. É uma descoberta revolucionária para o pequeno aprendente: “Eu posso riscar meus pensamentos, a minha fala, a fala do outro”. O homem aprendeu a materializar o pensamento de forma tão natural como o organismo aprendeu a transformar emoções em energia orgânica que pode ser positiva ou negativa. A felicidade provoca a segregação de hormônios relacionados. Com o medo ocorre o mesmo. O nosso quadro psíquico é determinado por fatores viscerais e ao mesmo tempo o sujeito provoca a segregação de substâncias viscerais. O sujeito e a matéria ocupam o mesmo espaço. A criança aprende o código escrito e cria asas até o céu. Podemos assim perceber que a Educação é fundamental para o desenvolvimento da subjetividade humana, logo, o tipo de pessoas que constituem uma nação passa por esse caminho. A consciência de uma nação é forjada no binômio família/escola. Considerando a realidade sócio-econômica da maioria de nossas famílias, vejo a necessidade da inclusão da família nos projetos pedagógicos, e nas ações de governo. A família pobre necessita de amparo das autoridades quando seus filhos estão na idade da escola. Os projetos existentes melhoraram muita coisa, contudo, não são eficientes para solucionar o problema. Abraços tortos.
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Eu fico sempre fascinado com essa relação fisiológico-linguística. Penso até que a teoria espírita do magnetismo (fé, força de vontade, poder do pensamento) pode ter base nisso: na linguagem mesmo além corpo, no poder psíquico (neurológico) alcançando o fisicamente ainda improvável. Mas voltando ao texto e à Educação: sem dúvidas, um conteúdo riquíssimo e elucidante no que tange às relações metafísicas, sociais e fisiológicas do aprendizado. Meu comentário é pobre em referências pois ainda pouco sei desses temas. Grande Mestre Roosevelt!
ResponderExcluirPS.: Estou gostando deste lado ensaísta! Muito embora os contos sejam todos muito bons também.
É meu caro Lou, a teoria de Bakhtin e de Vygotsky esclarecem muito a relação sujeito/matéria, e se a gente relacioná-las com as teorias de jung a coisa fica para o povo espírita muito parecido com a doutrina.
ResponderExcluirRoosevelt,
ResponderExcluirAchei bastante pertinente a sua analise acerca da sociabilidade da criança em seu mundo de fantasias com seres imaginados que infelizmente nós adultos com nossa ignorância tendemos a reprimir por acharmos essa relação um tanto esquizofrênica aos nossos olhos. Não percebemos nós que nossos projetos sociais e profissionais não passam também de meras fantasias. A diferença é que temos uma independencia maior em estabelecermos contatos que se expandem para além da esfera da familia. No entanto, no final das contas, somos todos seres submetidos à criações ficticias as quais denominamos realidades. Realmente compartilho quando você observa a importancia da escola nesse dominio da ligação da construção signica com a cultura na qual se encontra inserida a criança.
Roosevelt, só uma observação: tenho gostado bastante de seus ensaios mas acredito que você se perdeu muito neste texto. Sei lá, você partiu da construção de um mundo social da criança, depois entra em debates referentes a relação do sistema linguistico com o fisiológico, depois do nada você entra em uma discussão acerca da relação sujeito/matéria, posteriormente a criação forjada de nação na escola,e como ultimo ponto, você desenvolve a importancia da inclusão da familia nos projetos pedagógicos. Enfim, captei elementos muito importantes neste ensaio, mas pelo menos para mim, achei que você trouxe uma miscelânea de discussões que por alguns instantes fizeram você se perder em suas próprias argumentações.
um abração