sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Pior do que está não fica

Os resultados das eleições 2010 apresentaram surpresas. Vimos à impressionante subida de Marina Silva que alcançou quase 20 mil votos. Com uma campanha modesta e com discursos pautados no desenvolvimento econômico sustentável, Marina demonstrou simpatia e foi elevada ao patamar de uma terceira via em relação aos candidatos do PSDB e PT. Por outro lado, algumas figuras repetidas se elegeram, a mulher de Paulo Maluf, em São Paulo e a família Sarney continuam com a dinastia no Maranhão. Mas nada chamou mais atenção do que o fato de o candidato a deputado federal Tiririca ter sido eleito com mais um milhão de votos, sendo assim, o deputado mais bem votado do país.
Com uma campanha digna dos programas de humor que o palhaço está acostumado a fazer, funcionou como marketing eficaz para que o eleitorado digita-se o 2222, com a música de fundo Florentina. Houve quem dissesse que a candidatura foi uma estratégia do partido para aproveitar a popularidade do palhaço e puxar outros candidatos por meio da legenda. Isso realmente aconteceu. Por outro lado, falou-se em votos de protesto do eleitorado brasileiro. Alguns consideraram até que a eleição de Tiririca foi o símbolo de revolta da população brasileira diante da política brasileira e o seu histórico de falcatruas.
Não discordo da possibilidade dos votos de protesto, mas generalizar mais de um milhão de votos como de protesto constitui para mim um exagero tremendo. O fato é que o nosso eleitorado ainda utiliza diversos parâmetros para votar e, muitos desses, pouco afinados com o regime democrático. Refiro-me a democracia como prática cultural e não apenas a imposição/execução de normas. Seja da idéia reproduzida pelo senso comum que vê os políticos como corruptos; ou das práticas de compra e venda de voto; ou mesmo, das práticas coronelistas, em que eleitores são coagidos a votarem pela troca de favor por um cargo para o parente ou amigo. E isso ocorre independente de classe social.
De outro lado, aqueles que pedem votos se utilizam da sua empatia ou da empatia do candidato para convencer o eleitorado. Ou seja, os padrões democráticos de voto intransferível e das campanhas incentivadas para que sejam conhecidos os históricos dos candidatos ficam em segundo plano. A característica relacional ainda fala mais alto na hora do voto. O nosso tratamento com as eleições ainda está distante do que possa vir a serem eleições com práticas democráticas. E para existir revolta ou protesto, essas ferramentas teriam que ter um domínio de ambos os lados, tanto de quem elege quanto de quem é eleito. Por ora, somos uma jovem democracia aprendendo a engatinhar.

6 comentários:

  1. Aly Soul,

    Que de fato nós ainda não temos maturidade em lidar com a politica, nisso eu concordo; no entanto, eu acho que o fato de votarmos em troca de cargos públicos não reflete apenas o não-entendimento sobre o que é democracia. Acho que a não-compreensão do que seja um regime democrático vem em mão dupla.
    Esclarecendo: a conjuntura se encontra viciada com cargos pessoais de compras de votos. Mesmo que eu queira pensar em uma outra alternativa, a corrupção instalada nessa conjuntura já esta tão deturpada que ela é mais parecida com um fato social Durkheimiano, isto é, uma coerção, pois não adianta buscarmos outros caminhos, se no final das contas, estamos presos a essa sujeira conjuntural hehehehe.
    Não estou com isso querendo naturalizar a politica brasileira, porém, antes de pensarmos a democracia como cargos politicos conquistados por compras de votos, devemos pensar uma conscientização acerca da democracia também para quem tá la dentro do aparato publico. A falta de conhecimento democrático está nos dois lados.

    www.twitter.com/vinatorto

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  2. Meu caro Vina, ao longo do texto defini a democracia como prática cultural e parto da visão que os eleitores, candidatos e assessores possuem acerca da prática política. Esses comportamentos, no meu ponto de vista, se distanciam das normas instituídas pelo regime democrático, pois somos um país que possui a sua cultura política construída a partir de resquícios de regimes anteriores.

    Em relação a falta de conhecimento dos dois lados. Concordo com você quando diz que os dois lados fazem parte desse contexto. E ainda permaneço com a concepção de que faz parte da nossa cultura política.

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  3. Aly Soul,

    Isso mesmo. Veja, eu concordei com sua analise em seu texto, só tinha deixado um complemento. Reconheço que deixei uma lacuna em meu comentário a não observar que era apenas mais uma pontuação, mas concordo plenamente com você.

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  4. Acho que o próprio Tiririca é uma sátira ao que se refere a política brasileira. "pior do que já está não fica" uma citação clara, objetiva e cheia de deboche, mas ainda quando se suspeita que o candidato não sabe lê e nem escrever. Afinal, para quê? se ele como milhões de brasileiros sabem o que se passa nessa atualizadissima realidade que insiste em rebuscar estrategias obsoletas para angariar o voto.
    Pois é, a democracia virou uma piada, um motivo de riso. É isso que podemos fazer enquanto não nos mobilizamos para tomar o trajeto diferente. Rir quando vemos o programa eleitoral enquanto o café esfria, o pão esquenta...

    um abraço! bom texto!

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