Os resultados das eleições 2010 apresentaram surpresas. Vimos à impressionante subida de Marina Silva que alcançou quase 20 mil votos. Com uma campanha modesta e com discursos pautados no desenvolvimento econômico sustentável, Marina demonstrou simpatia e foi elevada ao patamar de uma terceira via em relação aos candidatos do PSDB e PT. Por outro lado, algumas figuras repetidas se elegeram, a mulher de Paulo Maluf, em São Paulo e a família Sarney continuam com a dinastia no Maranhão. Mas nada chamou mais atenção do que o fato de o candidato a deputado federal Tiririca ter sido eleito com mais um milhão de votos, sendo assim, o deputado mais bem votado do país.
Com uma campanha digna dos programas de humor que o palhaço está acostumado a fazer, funcionou como marketing eficaz para que o eleitorado digita-se o 2222, com a música de fundo Florentina. Houve quem dissesse que a candidatura foi uma estratégia do partido para aproveitar a popularidade do palhaço e puxar outros candidatos por meio da legenda. Isso realmente aconteceu. Por outro lado, falou-se em votos de protesto do eleitorado brasileiro. Alguns consideraram até que a eleição de Tiririca foi o símbolo de revolta da população brasileira diante da política brasileira e o seu histórico de falcatruas.
Não discordo da possibilidade dos votos de protesto, mas generalizar mais de um milhão de votos como de protesto constitui para mim um exagero tremendo. O fato é que o nosso eleitorado ainda utiliza diversos parâmetros para votar e, muitos desses, pouco afinados com o regime democrático. Refiro-me a democracia como prática cultural e não apenas a imposição/execução de normas. Seja da idéia reproduzida pelo senso comum que vê os políticos como corruptos; ou das práticas de compra e venda de voto; ou mesmo, das práticas coronelistas, em que eleitores são coagidos a votarem pela troca de favor por um cargo para o parente ou amigo. E isso ocorre independente de classe social.
De outro lado, aqueles que pedem votos se utilizam da sua empatia ou da empatia do candidato para convencer o eleitorado. Ou seja, os padrões democráticos de voto intransferível e das campanhas incentivadas para que sejam conhecidos os históricos dos candidatos ficam em segundo plano. A característica relacional ainda fala mais alto na hora do voto. O nosso tratamento com as eleições ainda está distante do que possa vir a serem eleições com práticas democráticas. E para existir revolta ou protesto, essas ferramentas teriam que ter um domínio de ambos os lados, tanto de quem elege quanto de quem é eleito. Por ora, somos uma jovem democracia aprendendo a engatinhar.
Engatinhar é um bom começo. Um bom texto.
ResponderExcluirAly Soul,
ResponderExcluirQue de fato nós ainda não temos maturidade em lidar com a politica, nisso eu concordo; no entanto, eu acho que o fato de votarmos em troca de cargos públicos não reflete apenas o não-entendimento sobre o que é democracia. Acho que a não-compreensão do que seja um regime democrático vem em mão dupla.
Esclarecendo: a conjuntura se encontra viciada com cargos pessoais de compras de votos. Mesmo que eu queira pensar em uma outra alternativa, a corrupção instalada nessa conjuntura já esta tão deturpada que ela é mais parecida com um fato social Durkheimiano, isto é, uma coerção, pois não adianta buscarmos outros caminhos, se no final das contas, estamos presos a essa sujeira conjuntural hehehehe.
Não estou com isso querendo naturalizar a politica brasileira, porém, antes de pensarmos a democracia como cargos politicos conquistados por compras de votos, devemos pensar uma conscientização acerca da democracia também para quem tá la dentro do aparato publico. A falta de conhecimento democrático está nos dois lados.
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Meu caro Vina, ao longo do texto defini a democracia como prática cultural e parto da visão que os eleitores, candidatos e assessores possuem acerca da prática política. Esses comportamentos, no meu ponto de vista, se distanciam das normas instituídas pelo regime democrático, pois somos um país que possui a sua cultura política construída a partir de resquícios de regimes anteriores.
ResponderExcluirEm relação a falta de conhecimento dos dois lados. Concordo com você quando diz que os dois lados fazem parte desse contexto. E ainda permaneço com a concepção de que faz parte da nossa cultura política.
Aly Soul,
ResponderExcluirIsso mesmo. Veja, eu concordei com sua analise em seu texto, só tinha deixado um complemento. Reconheço que deixei uma lacuna em meu comentário a não observar que era apenas mais uma pontuação, mas concordo plenamente com você.
Tranqüilo, Caro Vina.
ResponderExcluirAcho que o próprio Tiririca é uma sátira ao que se refere a política brasileira. "pior do que já está não fica" uma citação clara, objetiva e cheia de deboche, mas ainda quando se suspeita que o candidato não sabe lê e nem escrever. Afinal, para quê? se ele como milhões de brasileiros sabem o que se passa nessa atualizadissima realidade que insiste em rebuscar estrategias obsoletas para angariar o voto.
ResponderExcluirPois é, a democracia virou uma piada, um motivo de riso. É isso que podemos fazer enquanto não nos mobilizamos para tomar o trajeto diferente. Rir quando vemos o programa eleitoral enquanto o café esfria, o pão esquenta...
um abraço! bom texto!