terça-feira, 19 de outubro de 2010

Diário amoroso de um Rei Bosta

Estava eu senhor Rei Bosta, a procurar internamente algo em mim, algo que suplantasse uma lacuna existencial enorme, esse algo era nada mais que um par de olhos brilhantes e inteligentes. Minha fissura por mentes fantásticas é um caso velho, meu pai deixou esse legado ignóbil, porém que me gera apresso sobremaneira quando manifesto em mulheres. Joguei-me embasado por um estereótipo consagrado por meu cunhado, a um bela moça que mora em uma cidade um tanto excitante aos meus olhos. Esse maldito estereótipo somado a minha predisposição a encará-lo como verdade me projetou para uma paixão explosiva e estonteante.

Falo que me apeguei ao estereótipo porque, simplesmente o que encontrei foi um poço em que o senso comum resvala sobremaneira. Mas seria pedantismo meu, julgar uma pessoa por uma simples ação mecânica do cérebro ou uma simples apropriação de um aparato técnico e teórico de retórica. Já embriagado então, busquei ver os talentos e aptidões, bem como, é claro, o caráter dessa moça. Obviamente por outro lado, suas aptidões cognitivas que se sobressaiam não poderiam ser também um determinante para me fixar a um alguém, sem que se possa contar o quesito “caráter”.

Contarei um pouco da historia desse processo. Tentei levar a coisa com a mais perfeita hombridade, tirando relapsos momentos e falhas pontuais minhas, tentei ser fiel aos meus sentimentos e erroneamente transparente. Mas, o que a garota processou de tudo isso foi um ser para suprimir sua carência interna. Afinal, o que se pode pensar de um ser que mesmo posta as claras que o Rei Bosta está apaixonado, reconhecendo o momento do outro coração que contempla, explica seus pontos, se esforça para deixar claro que queria algo a mais mas entendia a conjuntura e portanto se abstinha de cultivar coisas futuras; mesmo com esse esclarecimento todo, recebe ressalvas que solapam seus sentimentos. - Olha Rei Bosta você é apenas meu amigo! Nos acariciamos, mas é só isso! O Rei Bosta se pergunta: Mas não tinhamos conversado isso?

Rei Bosta finalmente descobre que está diante de um coração convulso e confuso, tenta esquecer em outros colos, relações efêmeras instantâneas, porém descobre que seu castelo ruiu, e que assim como ele existiram outras pessoas que passaram e que passam simplesmente. O Rei Bosta finalmente tenta se distanciar e se abster do sofrimento, a aí é cobrado pela moça, onde está tuas palavras meu Rei Bosta? Onde escondes os teus carinhos? Pois bem o Rei Bosta retorna a tortura emocional.

O Rei Bosta compreende que infinitamente, por motivos idiotas as mulheres não se sentem a vontade com homens que expõem suas deficiências, pensamentos, emoções, desejos e etc. Ele compreende também, o quão efêmera se baseava toda a conjuntura do seu relacionamento com a moça, pois a contradição entre o que se colocava diante dele (no caso os tratamentos dóceis, a carência pela atenção) e o que a moça sentia de verdade, era tão brutal, que chegava a ser convulsivo, nojento e outros adjetivos mórbidos que se possam dar.

Chega-se a ter pena da pobre moça, afinal como ela irá continuar a viver, enganando a se mesma por um quinhão de carinho, corroborando para efemeridade de se mesma. Afinal, doar o corpo é diferente de doar afeto, esse que no caso não necessariamente precisa ser real, apenas simbolicamente entendível ao outro, como foi supracitado, carinho, atenção, palavras, atitudes e gestos. Afeto para o Rei Bosta seria a demonstração dessas coisas. E tal moça, aos meus olhos não conseguia equalizar tais afetos. Pois bem, o Rei Bosta acabou se encontrando em um estado hermético, seus afazeres de bosta o trancaram na clausura. Contudo, ainda restavam 2 mg de fé que algum respeito e carinho existiam na moça, afinal em um lugar de bosta, no centro da cidade de merda, ouviu palavras bonitas sorrateiras da moça, que a todo instante demonstrava seu carinho, e além disso perguntava: estás apaixonado seu bosta? Responde: claro que sim moça. O que me fez rir foi a nossa despedida, pois sabia da falsidade das palavras da moça, mas ela fez questão de reforçar uma coisa que não existia: Gosto muito de você Rei Bosta!

Continuando sem tempo, o Rei Bosta se isola mais ainda, e continua sendo solícito ao sentimento que o escravizava doando seus pensamentos e ligações para a moça. Um belo dia, ocorre de haver uma brecha em seu tempo, acaba indo para um tal lugar, lócus do primeiro encontro do casal, nesse mesmo lugar o Rei Bosta vê a moça com outro Rei Bosta, os dois Reis Bostas se falam se compreendem em uma sinestesia perigosa. O Rei Bosta que vos fala, ri de toda situação, pois se concretizava tudo que ele havia pensado, afinal por debaixo de tanto afeto que a moça o depositou, com direito a reforçar que a mesma lhe tinha um carinho mesmo que não fosse paixão, a moça apropriasse de outro Rei Bosta sem o menor tato, receio, preocupação com todas as palavras ditas e inferidas do Rei Bosta que vos fala, tão pouco com os seus sentimentos saturadamente expostos.

Eu que não sou besta, usei meus artifícios artísticos e pedantes e quis ao máximo ficar na presença dela disfarçando meus sentimentos, e ouvindo ela sussurrar – Amiga leva o Rei Bosta daqui! Ah! Isso foi um gozo pra mim, afrontar a moral dela, pra que ela pudesse ver a efemeridade que é um beijo, e que diferente disso trair a se mesmo é muito mais deplorável , trair suas palavras de forma tão hedionda ao menos fosse por inconsciência... Daí o Rei bosta ria, por que enxergava a efemeridade humana, a contradição de um discurso fundamentado em dois meses. Notou-se por fim, que a moça não era mais uma moça, era uma Rainha Bosta que atira no pé pensando que atira nos corações alheios.

4 comentários:

  1. Simplesmente brilhante. Esse é o tipo de excerto fictício que me regozija. Parabéns!!!

    PS.: Só um pouco mais de atenção com a sintaxe.

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  2. Reuel,

    As osilações pelas quais você descreveu ter passado, confere com o personagem que eu penso do Rei Bosta. Enfim, é aquela euforia sem limites caindo ao mesmo tempo em um poço sem fundo de desastres. É o poder= Rei, e é o seu declinio= Bosta. Voce descreveu de forma esplendida o jogo da empolgação e da desilusão andando de mãos dadas e se degladiando. Em um momento você era a Majestade Suprema, no outro você era o subalterno mais anonimo do mundo.

    No entanto, ao você perceber que o outro era uma Rainha Bosta, você teria que admitir que não só ela jogou com você e saiu perdendo em muitas dessas jogadas; assim como ela também ganhou muitas vezes o jogo. Se ela é uma Rainha Bosta, assim como o Rei Bosta, ela ao mesmo tempo que se frustra com a própria emancipação, ela também se emancipa.
    Me pareceu que no final do seu texto, você associou a Rainha Bosta apenas ao fato dela se enganar no final das contas. Pelo menos na criação imaginária que eu tenho do que é ser uma Rainha Bosta, é justamente a ideia de alguem que ganha e perde, mas que perde e também ganha, e não apenas como alguem que apenas "atira no pé pensando que atira nos corações alheios."

    Enfim, a Rainha Bosta também dá um tiro certeiro e sai pulando com seus lindos pés saudaveis pelo mundo hehehehe

    www.twitter.com/vinatorto

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  3. De fato meu caro Vina, mas a desilusão levou o Rei Bosta a ver exatamente esse lado dual da Rainha Bosta, esse jogo de perdas e ganhos, virtude e leviandade. Porém, obviamente um dos dois lados tinha que pesar para que o Rei Bosta se separasse da Rainha Bosta. Abraços.

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  4. Reuel,

    "um dos dois lados tinha que pesar para que o Rei Bosta se separasse da Rainha Bosta."

    hummm... bem interessante. É isso mesmo. Apesar reconheermos a inevitabilidade da existencia de pelo menos dois lados, no final das contas inevitavelmente também optamos por uma decisão, afinal, os projetos da vida continuam.

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