quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Forças

Morri? Que cansaço é esse?

Membros e pensamentos não respondem

Desejo, olho... Isto é água?

Estou totalmente consumido

Busco comer a vida, mas ela parece me repulsar

Tapando com sua mão a minha boca faminta

Perco as forças e a resposta do corpo

Quero seguir! Recuso-me a parar!

Não quero te dizer adeus!

Quero te ver todos os dias

Cheirar as flores que brotam no jardim e no esgoto

Quero me deliciar dos momentos de prazer e desprazer

Porém, parece óbvio a imprevisibilidade previsível

Que não tem mais graça rir e sofrer, depressão? Não

Alguma doença psicogênica? Talvez

Mas assim que te ver... Abraçarei e darei mais um bom dia

Andarei com essas pernas arrancadas

Mesmo que rasteje sem estimulo

Recuso-me a parar!

Quando olhar para trás, perceberá o quanto cresci

Não quero morrer nas desilusões

Apenas passar as estações e não mudar o que já fiz.

Quero mesmo viver o eterno círculo do existir.


http://www.serousoulivre.blogspot.com/

5 comentários:

  1. Miguel,

    É engraçada essa observação que você fez do eterno circulo do existir. É muito conturbada a sensação que nos temos ao tentarmos definir o que faz parte dos nossos desejos e o que faz parte das limitações impostas a esses desejos. Acredito que seja devido a esse "vai e volta" das nossas ações, que nós, mesmo buscando aperfeiçoar o que para nos é considerado como errado, em tempos futuros sempre estaremos novamente predispostos a cair em outro erro. Não sei se estou me fazendo entender, mas esse jogo de emancipação e culpa nos persegue o tempo inteiro, e a sensação da plenitude e da merda de ser é a nossa principal indentidade. Somos Reis e Rainhas Bostas. Não há como fugirmos disso. Acertamos, melhoramos, pioramos, erramos, acertamos novamente e assim vamos indo. O mais louco nisso tudo é que apesar de sabermos que somos seres imperfeitos, nós cobramos do outro uma perfeição a qual somos educados a acreditar. Obviamente que isso não é errado, mas que é estranho é, uma vez que nós sabemos que assim como o outro, nós nos encontramos disponiveis para o desvio o tempo inteiro, mesmo tendo aprendido com nossas experiências passadas a importancia de não errarmos. A cobrança que todos nós fazemos ao outro é muito mais fruto da nossa própria repugnancia de admitirmos que fazemos o que nós mesmos condenamos do que pelo fato de cobrarmos ao outro alguma coisa por não sermos capazes de fazer.

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  2. O círculo do existir, ao qual você se refere, como o concebo, que é como você também o concebe no poema, afigura-se como vida. O tédio recheia de beleza as coisas do mundo. E a existência não se finda na infelicidade lógica, mas na ironia insana, na qual a possibilidade do riso está presente.

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  3. A consciência do existir do colega torto transcedeu a morte? Sorte de tua morte. A consciência do colega torto não sobreviveu? Então quem falou? Quem desejou?
    Sempre as palavras traidoras, e nós pessoas sofredoras tentamos dizer, sim dizer...

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  4. Penso a morte nessa interrogação como uma questão simbólica do fim, como parar no tempo limitando as ações, sentimentos, projetos, cair em frente as dificuldades. Dou mais ênfase ao prosseguir nesses altos e baixos, é querer engolir a vida de tudo que ela possa nos dar de ruim e bom, a fome de barriga cheia, nem sei se posso dizer isso, mas da p ter um idéia no recuso-me a parar. Querer ambiciosamente chegar à algum lugar novo, mas ao mesmo tempo entender o passado como um processo, não algo de afirmação ou negação.

    Tenho essa coisa de "transar" com o mundo, mas as vezes ele não me dá tesão, ou um fora. Mas tento novamente, enfim, sou um doente que tenta descarregar minhas tensões e vejo na poesia uma maneira de soltar-las e ler esse encadeamento de palavras desorganizadas da minha cabeça.

    Tento dizer alguma coisa nesse sofrimento que o Roosevelt fala...

    Abraços tortos

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  5. ideias saltitantes dos ditames da mémoria! lembranças que consomem, que atormentam e consolam. Um eterno círculo de existir não existindo.Não existindo e existindo.
    muito bom texto meu caro!
    um abraço

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