segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ridículo de merda

Pisei na bosta e escorreguei. O grande problema é que quando escorreguei, nem lembrei da bosta. Fiquei foi esparramado em cima da ética com aqueles olhos irritados de mãos dadas com a ordem! Fiquei na desordem. Atravessei a rua meio desligado de tudo. Na verdade, aquilo ao meu redor me doía por eu pensar em como me esquecer da bosta por causa da bosta da ética da ordem de merda.

Chupei uma bala. Não, na verdade a mordi e a triturei insaciavelmente sem lembrar que nessa vida existia gosto. Nesse desconcerto total, encostei-me em qualquer parede de esquina e comecei a pensar:

“Meu Deus, afirmo pra Ti com todo o receio, receio esse, que sei que o Senhor enquanto meu Pai entenderá, mas não tem outra vida, nem alma rodando, nem céu, nem 1000 princesas, a não ser estrume de nós mesmos enquanto vivemos. Esse ar é gosmento, essa gola, essa manga interrompendo a definição do limite do seu corpo te incomoda seriamente a ponto de você mandar o seu grande e eterno amor tomar no cu e ele pensar que você não o ama. Teria outro espaço pra eu me aventurar e perambular de novo?”

“Por favor, diga que minhas eternas dúvidas e meu falho reconhecimento de que se estou vivo é só aqui e depois eu viro pedra. Diga!!! Por favor, se for pra voltar pra isso que chamam de vida, deixe-me ser uma pedra!!! Prometo deixar me pegar, me rumar no meio do mato, ser utilizado para quebrar um vidro ou para qualquer brincadeirinha inocente de amarelinha das lindas crianças. Se eu for uma pedra eu permito tudo.”

... o grande problema é que fiquei asfixiado e sem compartimento no mundo quando escorreguei na merda mesmo sabendo que já estava na merda.

... se eu fosse uma pedra poderia até ficar em cima de uma merda, mas sem tempo, sem fluxo, sem tudo, sem nada. Mas não. Foram justamente essas mãos de cidadão que quebraram uma vidraça do meu peito ao me apedrejar com ressentimento do ridículo de merda.

6 comentários:

  1. Ainda bem que tudo é movimento meu caro Vina, enquanto dormimos tudo se transforma e o nosso corpo, é o mesmo que nos aprisiona e que nos liberta esquizofrênico a se movimentar a todo instante. Um dia seremos tudo o que você imagina, até os bytes que acabo de utilizar nesse computador hahhaha transmutemos!

    Agregar desagregar
    Construção desconstrução
    Ordem desordem
    Morte Vida
    Círculo
    Convecção

    ResponderExcluir
  2. "se eu fosse uma pedra poderia até ficar em cima de uma merda, mas sem tempo, sem fluxo, sem tudo, sem nada. Mas não. Foram justamente essas mãos de cidadão que quebraram uma vidraça do meu peito ao me apedrejar com ressentimento do ridículo de merda."


    Cara! Quer me fazer chorar?
    Saiba que tens um companheiro aqui que compartilha de cada gota deste ódio existencial! Nas noites em crises de pânico, neste pânico de vida viver.

    Um grande abraço, meu nobre poeta!

    ResponderExcluir
  3. Puta que pariu...

    O que é a Vida? Quem Sou eu? Quem é deus? o Que é a morte? O que é o mundo?..............Queremos a certeza e somos atingidos pelo contrario. Buscamos o sólido, e nos deparamos com essa "pedrada no peito" que nos destroi e nos limita a merda de nossa impotencia de não encontramos respostas. O vácuo dessas questões nos assombrará o resto de nossas vidas meus caros amigos.

    Belíssimo texto Vina, grande abraço!

    ResponderExcluir
  4. "Na verdade, aquilo ao meu redor me doía por eu pensar em como me esquecer da bosta por causa da bosta da ética da ordem de merda."

    O eu-lírico pretende esquecer a bosta, pois a ética da ordem na qual a merda, que é (ou não) a própria bosta, estava inserida causava-lhe dor ao pensá-la. Há uma relação de transferência do cheiro de merda da ética para a ordem da bosta através da dor no desligamento?

    A pedra com a qual agredimos a merda da ética e da ordem, volta contra nós trazendo todo o mal cheiro de seu contato fétido com o esdrúxulo. No final, nos juntamos ao grande e imprudente conluio Divino em prol da estrumação ética da ordem apedrejada.

    ResponderExcluir
  5. Olá !faço as minhas palavras a de Reuel! ainda bem que tudo é movimento. Antes de ser uma pedra, podemos transmutar, mudar, evoluir, involuir para algum lugar mesmo que seja para um movimento ilusorio condicionado pela inércia. Ser uma pedra... estar na merda... ética e ordem. tudo se confunde, se retroalimenta, se conflue. o peso, a densidade e a sua leveza.

    bjos!

    ResponderExcluir