segunda-feira, 11 de outubro de 2010

os seus reflexos

aquilo que se vê no espelho são apenas imagens.
imagens retorcidas, difusas
frutos da sua percepção delirante.
procura-se outra coisa qualquer que te possa completar
seja um lápis, um cigarro, uma bebida
ou um alguém.
sabe que te falta, mas não sabe exatamente o quê.
o umbigo atesta uma ferida
um corte
uma cicatriz
uma marca infrigida pelos deuses.
Está condenado a não ser o que é
E ser aquilo que não se espera.
Essa é a lei relativamente absoluta
que te rege.
o que te resta é a espera de uma imagem
que te afronte, que te subverta
que faça te esquecer
qual seria o seu real pertencimento.

4 comentários:

  1. Nunca somos quem queremos ser, e o que somos não compreendemos por completo, o "é" não existe?!
    Precisamos sempre de algo que nos complete, sempre desejamos o novo. Algo que mate o tédio e que fuja do vácuo da existência, um reflexo de mim no outro e do outro em mim que mudam a todo instante e desfocam uma linha de previsibilidades, entortando o indivíduo a todo instante...

    Lindo poema!

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  2. Maira,

    Lindo!!! Apesar de buscarmos a todo custo preencher a nossa lacuna com qualquer objeto que esteja em nossa frente, no final das contas, o que nós queremos mesmo é evitar o caminho que nos faça chegar ao nosso real pertencimento hehehe.

    Evitamos seja por que somos uma cadeia infinita de signos que se recombinam com outros formando uma imensidão complexa opaca de definições do que somos; seja por que no fundo, nós trazemos subterraneamente em nossas lacunas, a nossa propria falta de entendimento sobre nós próprios.

    Enfim, é o primeiro rompimento que tentamos resgatar, mas não temos palavras para nos elucidar sobre o que de fato queremos, afinal, no rompimento do cordão como você bem expôs, não tinhamos acesso ao sistema de linguagens, e, portanto de significações para traduzirmos a nossa falta.

    Somos a noção da integridade em buscas estilhaçadas de desejos. Eu sou eu, sem saber sequer o que é qualquer coisa. Sou a realidade da minha RG e a miragem em meus atos. Sou o concreto abstrativo de algo sólido que se esvai por rápidos instantes. É isso. Sou a certeza amedrontada pelas suas logicas desviantes e imprevisiveis, pois o que eu quero, não sou e sou; e o que eu não quero, eu sou e não sou.

    www.twitter.com/vinatorto

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  3. olá!
    perfeito miguel! é isso ai.
    adorei seu comentário, vina "no final das contas, o que nós queremos mesmo é evitar o caminho que nos faça chegar ao nosso real pertencimento". Sempre que podemos fugimos de alguma essência que denota que somos. Isso atesta o quanto somos escorregadios.
    Falta, é uma sensação que sempre teremos e mais do que nunca nessa realidade pós-moderna, que impõe diversas alternativas, mas no final concede um preenchimento vazio.
    nada se completa. A sensação de completude é passageira, as coisas se encaixam, mas se deslocam na mesma intensidade. O que nos restam são os nossos vícios, as nossas manias.
    E a nossa miragem, sim Roosevelt, é sempre tendenciosa. O olhar nunca é preciso. É sempre obtuso.

    Beijos a todos!

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