segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vina TorTO

Pelo título, os leitores podem estar considerando este texto extremamente narcísico. No entanto, a necessidade de Vina TorTO falar sobre Vina TorTO não foi por acaso. Desde 2005 eu optei em usar o Torto como segundo nome, porém, até hoje em dia muitas pessoas param para me perguntar: afinal, por que torto? Esse é apenas um dos infindáveis questionamentos que me fazem corriqueiramente.

Tudo começou assim: enquanto eu fazia minha graduação em Ciências Sociais, eu percebi o quanto meu curso muitas vezes era limitado em algumas explicações sobre a realidade humana. A partir disso, eu recorri à psicanálise. Na psicanálise, eu percebi que o indivíduo era um sujeito dotado de desejos, e que a sua consciência não passava de uma camada minúscula diante de seu inconsciente. Buscando encontrar respostas, o sujeito por ser subjetivo, vivia re-significando tanto os valores sociais, quanto os seus valores e jamais conseguia captar a realidade de forma linear e totalizante.

Por esse período, eu também estava para me formar nas Ciências Sociais, e o objeto que resolvi pesquisar para a minha monografia foi a música brega. Para compreender o porquê dessa estética ser encarada como mau gosto, busquei referências sobre o grotesco, e lendo a respeito, percebi que se adentrar no grotesco significava reconhecer o nosso lado cocô de ser tão negado por nós. Com o grotesco, aprendi a aceitar mais a imperfeição das coisas, percebendo que no final das contas, eu vivia me entortando em um conflito entre o negar o meu preconceito e o não querer deixá-lo.

Por que me refiro a negar o preconceito e não querer deixá-lo? Bom, com a sociologia, percebi que nós enquanto seres sociais, também não podíamos nos culpabilizar de forma tão intensa pelos nossos preconceitos, pois inevitavelmente incorporávamos muitos dos valores que foram sendo construídos pela sociedade da qual fazíamos parte, e que isso fazia parte da formação social.

Como se posiciona a minha concepção do Torto diante disso tudo? O Torto vai questionar: apesar de saber que devemos repensar o nosso preconceito, por que eu tenho que me ver obrigado a negá-lo por completo se eu enquanto um ser social, passo por um processo de socialização na qual incorporo valores que são legados socialmente? Por outro lado, por que aceitar de forma naturalizada o preconceito que a sociedade me ensina, se eu também sou capaz de mudar essa realidade por eu ser um sujeito dotado de desejos?

Devido a minha leitura sobre a psicanálise, o Torto vai aceitar o lado subjetivo do humano, ou seja, seus desejos, percebendo que o humano é uma constante busca de si mesmo, e que devido a isso, ele é capaz de ultrapassar os limites dados pelas convenções sociais. Com as Ciências Sociais, compreendi que o Torto também vai admitir que apesar da subjetividade humana, inevitavelmente somos produtos de um meio, e que por sermos produtos, somos obrigados a aceitar as limitações dadas pela sociedade, assim como muitas vezes cobramos essas próprias limitações em nosso dia a dia, principalmente quando as coisas vão de encontro aos nossos interesses.

Depois de me embriagar com o grotesco, com a psicanálise e com as ciências sociais, passei também a querer usar o nome Torto para perceber até que limite os ditos “alternativos” eram capazes de pronunciar o nome torto de forma espontânea. O que constatei, é que eles, apesar de se dizerem tão livres das garras do controle social e amantes da subversão, sentiam-se extremamente desconfortáveis ao se referirem ao nome torto. Isso me serviu para confirmar que eles também eram seres tão controlados e fechados em seus mundinhos moralistas quanto eu e qualquer outro ser da espécie humana.

Portanto, é isso que eu entendo como Torto: um ser livre, porém, limitado, isto é, um ser que grita por liberdade, mas admite que não quer deixar seus escudos e suas quatro paredes; um ser capaz de criticar a realidade, de refutar a ordem das coisas, mas ao mesmo tempo um ser que aceita à mesma ordem a qual ele condena. O Torto é uma espécie de libertário classificatório, enfim, um confrontador adaptado aos regimentos sociais.

14 comentários:

  1. Depois de me embriagar com o grotesco, com a psicanálise e com as ciências sociais, passei também a querer usar o nome Torto para perceber até que limite os ditos “alternativos” eram capazes de pronunciar o nome torto de forma espontânea. O que constatei, é que eles, apesar de se dizerem tão livres das garras do controle social e amantes da subversão, sentiam-se extremamente desconfortáveis ao se referirem ao nome torto. Isso me serviu para confirmar que eles também eram seres tão controlados e fechados em seus mundinhos moralistas quanto eu e qualquer outro ser da espécie humana.
    cabuloso
    gostei
    Alan

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  2. Achei de suma importância estas explanações ao esclarecimento do leitor desavisado. Ora, creio também que, se o indivíduo alternativo sente repulsa por algo, é porque conhece este algo por outro viés. Comumente se vê a palavra sob outra conotação, que desagrada até aos que subvertem. Subversão esta, aliás, que diz-se reivindicante de qualquer espécie de melhora em suas condições próprias e, frequentemente, de camadas mais pobres da sociedade. Afinal, lidar com semântica é sempre correr o risco de um mal entendido. Possivelmente, a ideia de "subversão" que faz deles seja tão equivocada quanto a ideia de "torto" que fazem de ti.

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  3. Meu caro Vinatorto,
    seu texto explica de forma bem didática a proposta torta dos autores deste blogsite. Roosevelt

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  4. Maira,

    A necessidade de falar sobre mim mesmo, foi muito mais devido a uma necessidade que eu tive em explicar o porquê de Vina Torto, do que necessariamente por um narcisismo, porém, o leitor pode fazer a interpretação que quiser.

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  5. Lou,

    O que eu quis dizer a respeito dos alternativos, é que eles se dizem contrários a qualquer forma de preconceito, terminando por externar um discurso que soa como livre de qualquer convenção. No entanto, eu quis chamar atenção de que eles são tão cheios de pudores como qualquer outro. Se fosse de fato alternativos, predispostos a alternar, tanto fazia torto quanto reto, quanto certo, quanto errado. Outra coisa: a idéia de subversão que faço deles, é a partir da ideía que eles querem expor pra mim.

    Ah, e eu não os critico por se sentirem desconfortáveis por falarem o nome torto não, afinal, está claro que você não entendeu,mas eu vou repetir: o torto admite também ser produto de um meio e as palavras que ele introjeta são carregadas de sentidos construidos socialmente. Portanto, bem sei que a associação do torto a algo pejorativo é fato.

    O que eu quero mostrar é que essa turminha que se diz aberta, é massacrada pelo moralismo que ela mesma introjetou. São rebeldes, são maluquinhos, mas terminam sendo tudo isso apenas no limite de uma giria ou de uma indumentária. Chegando no nivel de requestionar a moral, são tão merdinhas de nada e tão caretas como as gerações que eles tanto condenam.

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  6. Desde o início entendi a sua colocação quanto à pluralidade de sentidos que o termo possa adquirir. Por de fato entendê-la é que questionei a surpresa que lhe causou a repulsa "moralista" que sentiram pelo nome. Afinal, o que eles querem é atestar para o fato de que ser "doidinho" é algo possível, normal, e não "torto". Aceitar o termo em questão, que já vem carregado de uma má impressão, acabaria, possivelmente assim entendam, por torná-los ainda mais rechaçados pelos moralistas de quem eles supostamente se defendem, obviamente, por ignorância de ambos. Eis a possível causa da questão de o negarem. Ademais, tanto o termo "torto" como o termo "alternativo", como já debatemos, traz uma porção de conotações, que podem ser entendidas de formas distintas por cada um.

    De toda maneira, essa é uma discussão que talvez jamais termine, pois não há como abarcar a todas as verdades sobre o tema em tão curto espaço de tempo. Entendo que ambos contribuímos para a construção da diversidade de perspectivas, igualmente.

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  7. Exposição de extrema importância para o site, meu caro.
    Abordou desde a questão das inveitáveis representações sociais, que dizem tanto respeito à nossa constituição enquanto sujeitos cognoscentes à provocação instantânea que a denominação provoca mesmo nos mais "dialeticamente esclarecidos".

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  8. o pessoal alternativo na sua maioria sao cheios de preconceitos e dao uma de esclarecidos , mas seus preconceitos mostram como sao uma farsa os alternativos nos seus pensametos ditos esclarecidos e inteligentes . apesar de gostar do estilo , vejo que nele possui muitas pesssoas falsas e um estilo com tendencias ao artificialismo de mercadoria . enfim axo que esta bom parar por aqui
    Alan
    bah n gosto de seguir o cliche alternativo

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  9. Pelo que compreendo do torto em si, enxerga que a contradição da moral e a subversão não depedem simplesmente da escolha do certo ou errado, elas existem por si só no indivíduo, que acha que escolhe o correto, os bons costumes, ou a liberdade e a independencia da escolha, mas ainda é preso ao outro e ao contrário. Compreendo que é por isso que agente se "entorta", para tentar compreender os varios ângulos da mesma moeda que não dependem de nós para existir. Más penas lidar com elas, talvez...

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  10. Miguel,

    "Compreendo que é por isso que agente se "entorta", para tentar compreender os varios ângulos" Putz cara, particularmente, é assim que eu concebo o torto. Acho que você conseguiu trazer de forma muito didática a ideia.

    Porém, gostaria de fazer um complemento a respeito de um trecho seu quando diz "não dependem de nós para existir." Eu penso que ser torto implica em reconhecer as escolhas, a diferença é que as opções mudam de acordo com cada momento. Por exemplo: eu quando adolescente, achava que quem frequentava uma religião era idiota, ou seja, naquele instante minha opção era de entender que o bom não era ter doutrina alguma. Hoje em dia, eu ja acho que triste de mim que não tenho nenhuma referência com o sagrado pra me apoiar. Ou seja, o bom e o mal continuaram existindo, porém, o que era bom ontem é mal hoje e nada me garante que em tempos futuros esses lados mudem novamente de posição. E por isso que, assim como você bem explanou em seu comentário, vamos entortando por estarmos constantemente escolhendo novos caminhos, optando por outras decisões. Porém, o que fazemos é determinado por nós. Temos culpa, alegria, medo, coragem, mas tudo isso vai se ajustando de acordo com as situações de cada momento. Não andamos em linhas retas, na vida as coisas não são previsíveis. Elas se entortam hehehe

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  11. Alan,

    Acho que o alternativo enquanto mercadoria também pode ser visto como espontâneo, uma vez que estamos inseridos em um sistema da publicidade e da venda. Porém, concordo com você quando observa que muitas vezes os ditos alternativos forçam a barra para se auto afirmarem em suas diferenças e terminam se tornando clichês. Esse é o problema, pois para mim, ser alternativo é saber alternar e saber alternar é saber reconhecer o que é bom e o que não é, mas sabendo admirar mesmo que de forma às avessas o que não se compactua. Não existe indivíduo plenamente livre. Querendo ou não, estamos submetidos a um sistema moral, politico, cultural, econômico e aceitando ou não, temos que reconhecer que temos nossas classificações. Acho que alternativo é aquele que exercita buscar caminhos alternativos para se relacionar e entender as coisas. E entenda que caminhos alternativos implicam em novos caminhos e não na reprodução massiva de um gueto que se diz diferente simplesmente por que grita aos quatro cantos do mundo que a rede globo é uma merda por que é capitalista. Tá, isso já está desgastado e repetitivo em demasia. Sejamos alternativos, estejamos predispostos a encontrar outras justificativas capazes de argumentar com um olhar que seja mais impar as coisas, ao mesmo tempom sejamos alternativos admitindo pra nós mesmos que temos nossos preconceitos, somos presos as nossas próprias vontades.

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  12. Vina...
    Depois desse texto, me sinto um ser totalmente "open mind", já que sempre te chamei de vina torto com naturalidade...
    Bjos

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  13. Vina,


    De fato nós escolhemos e mudamos a percepção das coisas, que muitas vezes se contradizem com o tempo, quando eu falo, não dependem de nós para existir, penso que mesmo que escolhemos o certo, podemos ver como errado, ou o errado como certo posteriormente, são tantos acasos que é impossível traçar essa linha reta para viver, até para os mais tradicionais e "equilibrados" ou os aventureiros da vida, possuem uma ? ao colocarem a cabeça no travesseiro, com relação as escolhas e planos, essa linha de escolhas e percepções as vezes se negam, questionam, arrependem.
    E a percepção torta procura captar esses desvios que tranquiliza e intranquiliza ao mesmo tempo
    Pq não podemos prever todas as coisas, e nem tudo é da forma que queremos, acreditamos e planejamos que fosse.

    Concordo com vc:

    Não podemos deixar as escolhas...
    E entortando nossas cabeças vamos dobrando essas curvas e espirais que a nossa cabeça faz com as nossas escolhas e o nosso próprio imprevisível impactante...hehehe

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