Nesses dias, eu estava lendo a entrevista de Ferreira Gullar, da revista História da Biblioteca Nacional, e ele fazia apontamentos muito interessantes a respeito da arte. "A arte existe porque a vida não basta" foi uma das suas citações que pude notar, na sua fala, como a rotina reduziria os objetos em sua mera funcionalidade. Por isso que quando te foi perguntado o que ele acharia sobre a arte na atualidade, Gullar respondeu que na sua opinião a chamada arte conceitual ou contemporânea tem pouco a ver com arte. E a partir daí, ele define a diferença entre arte e expressão, a Arte é expressão, mas nem toda expressão é arte, em palavras mais simples ele cita "se eu pegar uma folha de papel e amassar estarei me expressando" o que não ocorreria na via contrária.
Essa definição talvez não cabe muito nos dias atuais como ele mesmo citou, pois as propostas artísticas se diluíram no meio do caminho. Diferente do quefoi dito em alguns movimentos nas décadas 60, 70 e 80, como os happings e o neo expressionismo. O primeiro satiriza a institucionalização da arte, pois essa era uma via para fetichizar o objeto em termos valorativos de bom e ruim. A arte poderia ser encontrada nos lugares mais recônditos, menos imaginavéis ou até mesmo nos meios mais banais, como o famoso mictório de Duchamps. Esse dadaísta desestabilizou grandes autoridades das correntes mais clássicas quando pôs o mictório invertido em uma das salas de exposição de um museu consagrado. Um objeto pronto, funcional, sem nenhuma inspiração artística, mas que carrega sentidos despercebidos em nosso cotidiano. Gullar cita, não exemplifica Duchamps, mas outros artístas mais contemporâneos, que algumas manifestações não caberiam no meio artístico como, por exemplo, colocar em exposição um frasco de larvas.
Outro ponto interessante é o seu questionamento quanto a própria institucionalização no meio dos happenings, "o cara ficar nu no museu é obra de arte; nu na rua vai preso", isso faz todo sentido, pois acho que não passa de uma atitude ambivalente. Ao mesmo tempo que se tenta contemplar os diferentes meios de expressões ou correntes artísticas, elas só se limitam nos muros da instituição, pois quando passa dessa fronteira, a arte passa a ser um atentado aos costumes cristãos.
A entrevista me ajudou a repensar em muitas questões que inclusive já havíamos debatido com uma certa frequência no torto, mas que em alguns instantes quando Gullar é mais incisivo nos pontos mais críticos, eu ainda tenho receio em manifestar a favor, principalmente quanto a sua definição clara entre expressão e arte.
Apesar dos happenings ser uma expressão passageira, essa manifestação conseguiu trazer olhares diferentes sobre a arte. O seu principal preceito era demonstrar que a arte tinha vida própria e que o autor, assim como Barthes argumenta,perdeu o seu pedestal. A arte tem seu tempo e ela só existe por causa da relação entre o momento de inspiração entre quem lança a idéia e aquele que contempla. Em casos mais radicais, o espectador participaria, mas sob efeito de narcóticos, pois a nossa consciência e percepção é muito reduzida para enxergar não o que seja propriamente o objeto artístico, mas o olhar lançado sobre todas as expressões.
O que acho interessante na arte conceitual ou contemporânea e até no neo expressionismo da década de 80 são os seus olhares sobre as dimensões do campo artístico. A arte não se esgosta nos limites apertados de uma série de cadeias valorativa entre o bom ou o mau gosto, ela é aberta para repensarmos quanto o seu sentido que pode interferir até mesmo nos nossos consagrados valores culturais.
*O texto foi baseado na revista HISTÓRIA da biblioteca nacional, ano 5, nº59, agosto 2010, págs: 50 a 55.
Maira,
ResponderExcluirSe quisermos reduzir a arte a um bem concretizado, poderiamos dizer que nem tudo é arte. Porém, levando-se em conta que a produção de sentidos, a valoração de um determinado estilo é provocado pelo olhar estetico que cada um faz das coisas, não podemos deixar de pensar na possibilidade de aceitar a arte em qualquer situação.
O que eu percebo é que a turminha velhota, residuos do CPC da UNE, parou no tempo ao insistir na velha concepção modelar para classificar arte e não-arte. Um corpo com larvas é arte, assim como uma escultura é arte. Cabe a nós transitarmos nos sentidos e darmos alguma carga de valor a determinada coisa para ser arte. Os velhotes resistem na concepção de arte para tudo aquilo que implique mudanças sociais, mas na minha concepção, o repudio que sinto por algo é social, pois implica um valor. O que a esquerda aobsoleta quer forçar a barra é que o social se refere a tudo que implique apenas ao sindicalismo ou opções partidárias. O fato de minha pessoa mijar no pneu de um fusca vai provocar uma série de expressões, de mudanças sociais. Gullar... o mesmo do vanguarda e subdesencolvimento, o mesmo que não consegue enxergar periferias e internet, o mesmo que siplemente remonta a paisagem do mundo a partir de uma ótica imbecil e previsível, ou seja, a ótica no velho simplismo de achar que pobreza nao implica lógicas matemáticas, que o homem do campo só é homem do campo por carregar uma enxada e jamais ir a um cash fazer um saque.
Parabéns pelo texto
vina!
ResponderExcluirvc consegui concretizar o que ao menos eu vejo na arte, principalmente na proposta contemporânea. Não nego que a crítica do Gullar quanto a incoerência no meio institucionalizador da arte foi precisa. Mas vejo que a arte transcende as expectativas de objeto, ela vai muito mais além disso. Ela só existe, antes de estar além da vida, por que nos possibilita a ver a vida em infinitas combinações de olhares e perspectivas. é isso aí! as vanguardas só fez sentido por que nos fez pensar sobre um viés diferente das perspectivas mais clássicas. A arte não precisa ser bela, nem mesmo uma criação de um trabalho árduo. Pode vir de um espasmo, de um momento de surto ou do acaso. Ela está aí, para abrir sentidos e jamais envernizar as nossas percepções. Vou ao encontro do Brecht, a arte, antes de tudo, como no teatro e no cinema, é para nos causar estranhamento, ultrapassar as enferrujadas concepções valorativas do classicismo em que o feio e o belo tem o seu lugar apropriado.
eu penso o seguinte sera que operario ( dito do povao) e campones isolado no campo sabe o que e arte ,quem so sabe o que e arte e uma pequena camada da populaçao , entao se so uma pequena camada sabe o que arte ,ela n tem muita importancia ja que a maoria do seres humanos morrerao e nao saberao o que e arte .
ResponderExcluirAlan
oi alan!
ResponderExcluirpara mim, todo mundo sabe o que é arte, pois quem já não ouviu falar nessa famosa frase "quer fazer arte?" das nossas avós quando tínhamos uma atitude leviana? Já ouvi gente do campo, esquizofrênico, todas aquelas que não pertence ao meio cult distrinchar muito bem sobre isso, inclusive opinar idéias impensadas nas grandes academias de Belas Artes. Como eu e vc, sabemos que isso não é legitimado, pois não são idéias nascidas dos grandões. Puro fetichismo! Egocentrismo infantil da elite artística. Se não, muitos , ainda que números bemtímidos, que pertencem a classe "inculta" não seriam ovacionado em alguns concursos que existem pelo mundo a fora.
Alan,
ResponderExcluirSerá que ninguem conhece a arte ou será que muitas pessoas podem não entender a arte da forma como determinados guetos sociais a entendem? A expressão é algo inerente a qualquer ser humano, e o ser humano faz arte independente de sua realidade sócio-econômica ou cultural.
Como pensar que a arte não é tão importante por que a maioria não conhece? Saber ler e escrever é importante? Ora, em um país subdesenvolvido como o Brasil, a maioria não sabe nem ler e nem escrever. A partir disso eu repito minha pergunta: saber ler e escrever é importante?
ler e escrever são apenas funcionalidades de uma determinada cultura. Um dia desses tava lendo sobre fotografia e deu uma reportagem sobre o que um determinado povo da cultura africana achava disso. por mais que a fotografia seja um material objetivo, eles não se viam, n se reconheciam nela, isso prova que é leitura, pode ser esrita ou visual, é um ditame cultural. Vina, vc colocou muito bem quando se refere a necessidade humana sobre a expressão. O que penso é que a palavra ARTE remete ao termo moldado, institucionalizado que reproduz valores , crenças e comportamento sobre tal aspectO, como se as expressões fora desse conceito legitimado não tivesse nenhum valor. bjos!
ResponderExcluirMaira,
ResponderExcluirSe ficarmos nessa coisa de acharmos que uma coisa não é importante por que outros não sabem o que é, nada é importante e nada deveria existir então. Se for assim, para mim a fome não tem importância, pois eu, um individuo de classe média urbana nunca passei fome, e por isso mesmo eu não a conheço. Eu acho que deveriamos era parar de achar que quando algo afeta o pobre, esse algo nao tem importância. Existem outros humanos além dos pobres e com outros problemas, pois não existe humano sem problemas. Não significa dizer com isso que eu não veja a necessidade de pensarmos nas condições dos despossuidos, o que quero dizer é que tudo é importante pois se algo pode não ser tão frequente em determinado grupo social, o é para o outro. Quanto a funcionalidade, eu acho que devemos ter cuidado ao relativizarmos as coisas. As pessoas exploradas, injustiçadas, excluidas, são as pessoas que não possuem escolaridade, pois em um contexto urbano- industrial ocidental, escolaridade é prestígio. Não venham me dizer que as pessoas são felizes por que simplesmente não sentem falta da leitura e da escrita e cortam macaxeira melando o dedão para "assinar" um documento. Quando eu me referi a relação de ser importante ou não, eu quis mostrar que não necessariamente algo que a maioria desconhece, de fato é menos importante.
Primeiramente, fui buscar um conceito de arte mais generalizado. Encontrei este:
ResponderExcluir"A arte é uma criação humana com valores estéticos (beleza, equilíbrio, harmonia, revolta) que sintetizam as suas emoções, sua história, seus sentimentos e a sua cultura. É um conjunto de procedimentos utilizados para realizar obras, e no qual aplicamos nossos conhecimentos. Apresenta-se sob variadas formas como: a plástica, a música, a escultura, o cinema, o teatro, a dança, a arquitetura etc. Pode ser vista ou percebida pelo homem de três maneiras: visualizadas, ouvidas ou mistas (audiovisuais). Atualmente alguns tipos de arte permitem que o apreciador participe da obra. O artista precisa da arte e da técnica para se comunicar."
Com isto, concluo que minha opinião sobre o conceito de arte é tão incomum que nem mesmo eu conseguiria descrevê-lo. Mas proponho um desafio. Já que resumimos em uma única palavra conceitos tão subjetivos, qual seria a palavra que melhor definiria o antônimo de "arte"?
entao possa ser que o grande numero de pessoas sem a educaçao avançada tenham outra conceçao de arte ?
ResponderExcluira importancia de ler e escrever vem da importancia de um grupo de seres humanos controlar outro grupo de humanos . n to fim de escrever muito . mas esse ponto que vina colocou da importancia que ler e escrever coincide com um filme que assisti semana passada ``O LIVRO DE ELI ´´ quem poder assisti , sera bom para refletimos a importancia do conheciento e sua principal fonte o livro , tambem serve para sabemos o que realmente e necessario para nossas vida e mostrar + ou - pra onde nossa sociedade desnecessaria podera nos levar . enfim ta bom parar por aqui
Alan
olá!
ResponderExcluirLou achei seu questionamento muito interessante a respeito do antônimo da arte. Que fica no plano das especulações, porque respostas definidas não teremos sobre, pois como vimos o conceito de arte desperta diversos posicionamento.
Quanto a Vina, não concordo muito, acredito que nós damos importância naquilo que é legitimado culturamente. E ca para nós meu caro, a fome é uma questão muito mais absoluta, específica.
alan, Acho que arte é arte nas coisas que eu vejo e considero que pode ser totalmente diferente do olhar do outro, mas não deixa de ser arte. Isso tudo e muitissimo subjetivo.
ah! boa sua recomendação, abraços a todos
Maira,
ResponderExcluirSim, nós damos importância aquilo que é legitimado culturalmente, e por isso mesmo, não posso dizer que a escolaridade não seja válida por que a maioria desconhece. Justamente por ser legitimado, é que mesmo a maioria não sabendo ler e escrever, legitima quem sabe ler e escrever. Pus esse exemplo para mostrar a Alan que nao podemos duvidar da existência da arte por que a maioria desconhece. Quem disse que a maioria desconhece? Como você bem disse, as pessoas produzem arte.
VINA: " Se ficarmos nessa coisa de acharmos que uma coisa não é importante por que outros não sabem o que é, nada é importante"
Não quis dizer que a fome não seja importante minha linda, o que eu quis dizer é que se for para considerarmos de importância apenas aquilo que se conhece, por eu nunca ter passado fome, não consideraria a fome importante. Não quero dizer com isso que eu estou dizendo que a fome seja algo que não devemos pensar. Vamos com calma.