segunda-feira, 6 de setembro de 2010

E essa massa ai...

Semana passada na Universidade Federal de Sergipe (UFS), ocorreu o show de Dado Vila Lobos. Eu achei muito bom ter ido ao show, pois Dado é uma figura da música brasileira que eu acompanhei em minha adolescência ao ouvir incessantemente a banda Legião Urbana. Mas eu confesso que apesar da satisfação de ver em minha frente um artista que marcou parte da minha vida musical, eu achei que o show deixou a desejar.

Quando eu fui ao show, eu estava motivado em conhecer algumas produções do Dado, mas o que percebi foi que Dado estava muito mais para Russo do que para Lobos. Caramba, o repertorio da Legião Urbana, apesar de ser excelente para mim, já conquistou tamanha popularidade que eu não vi a necessidade de Dado repetir tantas musicas! Eu sei que infelizmente Dado terminou por se tornar uma sombra de Renato Russo, mas uma coisa é a Legião Urbana, outra coisa é Dado. Não podemos misturar as coisas.

Mas essa tamanha repetição de repertório não foi sem justificativas. Ao chegar mais próximo ao palco, ouvi várias pessoas gritando pelas músicas da Legião Urbana. Quando Dado acabava de apresentar uma música, ouvia-se os gritos pedindo “Pais e filhos”, “Faroeste Caboclo”, “Tempo perdido”, dentre outras. A partir disso eu pensei: será que só eu que vim para o show para conhecer as músicas de autoria de Dado?

Mas essa verificação em relação ao público, ajudou-me a perceber o seguinte: qual foi o público que em sua grande maioria se encontrava naquele show de Dado? Para quem não estava lá, eu respondo sem medo de errar que claramente foi o público de perfil universitário, até por que a própria Legião Urbana marcou e marca nitidamente a memória desse setor.

Apesar de sabermos que muitos alunos que hoje freqüentam a UFS também sejam de realidades menos favorecidas socialmente devido ao sistema de cotas, é obvio que ainda insistimos no discurso de que as produções musicais geralmente mais consumidas e oriundas do povo sejam as musicas de massa, e o próprio público desse tipo de produção seja alienado e massivo. Mas eu pergunto: quem é a massa?

Para mim, a massa não significa apenas um grande contingente de público consumindo uma determinada música. A meu ver, massa diz respeito não só a um público que seja uma maioria dentro de uma determinada realidade sócio-cultural, assim como a todos os indivíduos que veneram muitas vezes de forma espetacularizada um determinado tipo de música ou mesmo um artista.

Vamos esclarecer: Legião Urbana se tornou uma banda ícone dos guetos universitários e por ser ícone, atende não só a veneração, fenômeno tão adorado pela cultura de massa, assim como agrega um numero grandioso de fãs em cima dela, o que podemos constatar estar extremamente de acordo com a expectativa da cultura de massa, uma vez que a aceitação muitas vezes não passa de espetáculos. Ou seja, o artista deixa de se fazer representado pela sua linguagem estética e pela sua contribuição na história da música, para se tornar um mero fetiche de tietes.

O espetáculo é algo tão claro entre os setores ditos intelectualizados que eu utilizo o exemplo também da Semana do Folclore ocorrida no município de Laranjeiras. A dita intelectualidade fala tanto em prezar o folclore, mas mesmo a Semana sendo divulgada nos meios midiáticos, não havia quase ninguém por lá, isso por que a intelectualidade só comparece aos eventos que ela já legitimou como espetáculo. Se fosse o tal do Lambe Sujo eles não perderiam, pois já virou badalação, diferente da Semana do Folclore.

Mas voltando ao show de Dado, eu queria trazer outro ponto: dizemos que o público consumidor da dita cultura de massa se comporta de forma mecanizada, padronizada, homogênea e rotineira, mas quem disse que no caso do show de Dado Vila Lobos o público não possuía também esse perfil? Para mim, um público que vai a um show com o intuito de apenas pedir as mesmas velhas e conhecidas músicas, prova ser um público educado para as linhas de montagem repetitivas e industrializadas da era capitalista.

Enfim, acho que as universidades não podem mais ficar se auto-afirmando como o único espaço de seres críticos e diferentes do dito público massivo que ouve arrocha ou Calcinha Preta. A intelectualidade também adora seus fetiches, assim como adora viver de repetição. Ou seja, a intelectualidade não suporta o diferente que ela diz prezar para se diferenciar dos demais setores. Como eu disse, não que Dado não devesse cantar músicas da Legião Urbana, principalmente em uma cidadela como Aracaju que muito raro recebe um artista de projeção, mas daí aceitar que os fãs pedissem e aclamassem só para as produções da Legião também é demais.

Mesmo sabendo que os meninos universitários são formadores de opinião por compreenderem a complexidade da realidade, eu pergunto: essa massa ai é boa??

15 comentários:

  1. Não é boa, por diversos motivos que se agregam ao que foi esboçado por você no texto. Lembrei do poema do Augusto dos Anjos quando li a sua constatação, uma vez que, no caso do Dado, a mesma mão que lhe afagava aquiescendo o seu show, era a mesma que lhe apedrejava ao querer que ele se transmutasse no Renato Russo e tocasse, sem delongas, músicas, como você diz, massificadas - que dizem respeito a uma época remota de sua carreira.

    Só mais um detalhe: o final da sua redação ficou cômico. rs.

    abrs,

    João

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  2. soooooooooooooo
    subversao e vanguarda e o que n existe na ufs
    otimo texto
    Alan

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  3. Concordo com você meu caro Vina,
    Não posso dizer nada sobre o show, contudo acho sua análise bem lúcida. Roosevelt

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  4. O conceito do "novo" de acordo com Pedro lira na arte na sua essência é puramente acadêmica, e por sua vez, defendido pela própria massa acadêmica, é contraditório, nós defendermos o novo justificando-nos diferentes, as vezes superiores, à outros tipos de arte e públicos musicais, e ao mesmo tempo produzimos uma massa insistente e mais cristalizada no velho, na mesmisse e ainda por cima, impedir o novo e diferente...


    MIGUEL

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  5. É só ver a playlist dos shows que antecederam a apresentação da UFS que todos vão ver que Dado desde o inicio da sua tour toca mais Legião Urbana do que suas musicas solo. Tipo: ninguem nunca ta satisfeito, né? E pra ser sincero, seu texto ta bem cansativo, enfadonho...

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  6. Renison,

    Obrigado pelo comentário e posso dizer sem sombra de duvidas que muito mais cansativo é o tipinho de seu discurso.

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  7. Não. essa massa NÃO é boa.

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  8. Renison

    A sua interpretação carroceira passou longe de refutar os argumentos trazidos pelo texto.
    Melhore a a SUA faculdade de intelecção e venha desconstruir a problemática.

    No mais, concordo com Vina; mais que cansativo é o esteriótipo que você representa.

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  9. Excelente texto!
    Já há algum tempo que não encaro o ambiente universitário como celeiro de massa crítica e pensante. Em linhas gerais, há na parte docente um conservadorismo gritante, e na parte discente uma alienação latente, fruto não da condição universitária, mas talvez da perda de valores e referências que parte expressiva da nova geração sofreu. E isso independe de meio social ou mesmo intelectual, uma vez que os arrochas da vida faz sucesso da periferia à classe média dita pensante, da escola pública de ensino fundamental às universidades.
    Sobre a questão da repetição, recordo-me ainda quando estudante universitário, e via tipos caricatos que pareciam órfãos de woodstock, bem do tipo rebelde sem causa. Me faz lembrar Belchior na voz da Elis: "nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não".
    Parabéns pelo texto!

    Edson
    http://www.edsoncosta.blog.br

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  10. O problema é que essa análise é extensível a quaisquer outras "gerações". cria-se um engodo ao acreditar que a classe universitária de HOJE é alienada, enquanto uma outra (a sua?) era consciente.

    Ademais, não se trata de estar preso a algo que já gorou. As músicas do Legiao sao beeeem atuais. E isso, acredito, também fala do posicionamento político da nossa geração...

    E por fim, claro que quem foi ver o Dado queria ver o Legião. Senao vejamos, se lhe fosse possível assistir a uma apresetação de Engels, voce não iria querer que ele falasse em Marx?

    Lazaro

    oideeu@hotmail.com

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  11. Lázaro,

    "não que Dado não devesse cantar músicas da Legião Urbana".

    Percebe-se neste trecho, que em meu texto, eu não nego o interesse que o publico tenha ao ouvir musica da Legião Urbana indo assistir ao show de Dado, assim como você expressou em sua comparação com Marx e Engels.

    "As músicas do Legiao sao beeeem atuais."

    Concordo plenamente com a sua pessoa. Porém, quando eu quis me referir às músicas da Legião, eu quis dizer acerca da falta de paciência e de interesse que o publico universitário tem em conhecer musicas que não estejam tão popularizadas e corriqueiras como as da Legião. Ou seja, que não deixa de ser um público que goste do que ja se conhece. Ah, e se fosse por ser atual, o amor, um tema tão explorado pelas musicas conhecidas como massivas, também não deixa de ser atual. Pode andar pelas ruas, conversar com as pessoas e perceber que as problematizações acerca das frustrações amorosas fazem parte das angustias cotidianas de uma cultura.

    "cria-se um engodo ao acreditar que a classe universitária de HOJE é alienada, enquanto uma outra (a sua?) era consciente."

    Que eu saiba, em nenhum momento eu disse que a universidade de hoje é pior que a de ontem. Tenho plena convicção de que muitos dos sabidos universitários que gritavam histericamente nos festivais da Record nos anos 60 por Chico Buarque ou Elis Regina, eram tão idiotas e tapados quanto os bons jovens que adoram se promiscuir, submetendo-se aos louvores da massa acadêmica atual ao falar sobre Los Hermanos.

    obrigado pelo comentário

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  12. Vina, Parabéns pelo texto... Fantástico!

    Expõe o quão robótico nós somos. Uma vez associada imagem de um artista, a um determinado grupo musical parece impossível dissociá-los.
    Somos educados como os cavalos, temos nosso campo de visão reduzida para que não enxerguemos o que há de novo, pois assim continuaremos imersão na obscuridade satisfazendo e mantendo como está, este país “democrático”.

    Parabéns!!!

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  13. Nascente,

    Pois é, o que eu acho é que o setor dito intelectualizado, antes de focar apenas suas criticas e repulsas as musicas e aos ditos consumidores que aprendemos a entender como massa, deveria primeiramente reconhecer que infelizmente, a massa se expande para todos os setores, ou seja, tanto do público do Calypso, quanto do público do Otto.

    obrigado pelo comentário

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  14. Edson, é isso mesmo. Pessoalmente, acho que o fato do arrocha ser degustado também nos ditos meios universitários algo positivo. Se reconhecermos um pouco a importância de sabermos que ouvir o arrocha, poderemos compreender de forma mais clara os anseios de um determinado setor, afinal, mesmo sabendo que o arrocha se encontra diluido em outras realidades como você bem observou, temos que reconhecer que de uma forma mais regular, o arrocha é geralmente mais oriundo e consumido pelos setores mais perifericos da sociedade.

    O problema é que degustamos dessas produções antes mais fechadas em determinados setores, mas não sabemos reconhecer a importância desse contato e continuamos a insistir nas velhas práticas propotentes, mantendo assim, a velha prática do poder excludente, criticando de forma pejorativa esse outro público, como se nós não fizéssemos o mesmo. Não existe a massa, existem massas.

    obrigado pelo comentário

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