quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A luz do dormir acordando e acordar dormindo

Sente uma estranha gravidade ampliada
Como um universo vazio do concreto
E sua matéria com a quimera acordada
Que a alma sobe e o corpo vai ao fundo direto

Um cometa que o arrasta em sua calda amarrada
E o clarão da manhã que nos olhos bate
Dopando também de uma luz drogada
Quer acordar, mesmo preso ao combate

Assim como a sombra se amplia no fim da declividade do ângulo do sol
E sua luz choca e espanta o sentir do corpo
Ver sonhar de uma morte profunda não sendo causa o etanol
A estranheza que se aparenta com um semimorto

Imagina um zumbi que não é mais humano, um vegetal
Que o corpo levanta e o leito vai junto
O cinza mistura o ciclo homogeneíza anormal
Perdeu a idéia do escuro e do claro, seria o se sentir defunto?

É o primeiro, o segundo, o terceiro, até o quarto ao quadrado
Quer deitar-se e levantar do túmulo, viver ou morrer
Quer dormir e acordar e sentir-se levantado
Expulsar o dia da noite e a noite do amanhecer

5 comentários:

  1. Olá miguel!

    Como todo bom poema, as palavras, os gestos e as emoções são reveladas no sentido artístico, fato que se esgotam na nossa dura rotina. Pois a nossa rotina ressignifica todos os nossos gestos para uma funcionalidade descabida a nós mesmos.
    é assim q consegui enxergar, palavras ou melhos denominaçoes a qual nós nos encontramos no dia a dia, que vc delatou tão bem. Posso dizer que aí está o nosso espírito, rotina e funcionalidade que não percebemos desde o amanhecer até o repousar dos corpos. Seja em vida ou na morte.

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  2. Miguel

    Querido, posso dizer que sua entrada como autor no torto já saiu entortando nossas cabeças hehehe. Muito do caralho esse seu poema, pois ele revela algo que pelo menos de acordo com minha opinião, retrata o que é ser torto, uma vez que você mostra o nosso cotidiano como se ele fosse um rabisco, um rascunho, um borrão no qual estamos o tempo inteiro reajustando as coisas. Damos sentidos a vida, perdemo-nos nesses próprios sentidos. O jogo que você trouxe do tempo, terminou provocando uma atemporalidade cronológica em minha forma de adentrar no seu grito, principalmente quando você coloca " O cinza mistura o ciclo homogeneíza anormal. Perdeu a idéia do escuro e do claro", ou seja, você traz uma idéia de percepções que ao mesmo tempo em que se mostram concatenadas, mostram-se fragmentadas. Enfim, nós be que temos a dimensão do que seja dia e noite, morte e vida, mas até em que limite estamos vivendo o dia, a morte, a noite e a vida?? Pô bicho, realmente entortou demais hehehe

    um excelente texto cara

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  3. Querida Maíra, a sua interpretação contribuiu muito, a noção de funcionalidade também nos geram conflitos e tensões que muitas vezes carregamos ate mesmo no tempo que poderíamos reservar ao descanso, que nesse caso, desorganizou o indivíduo da poesia, e como uma máquina que por operar em tantas coisas nesse mundo institucional, perdemos às vezes o nosso tempo para nos mesmos...

    Querido Vina! Escrevi essa poesia sem muita noção do que me representava. Sabia que era relacionada à minha paranóia com o sono, que de fato eu perdi meio que a noção do tempo do dia e da noite pelo cansaço e demais conflitos, o que era fragmentado p/ mim, tornou-se algo desconfigurado e uno, depois de muito tempo com a poesia já feita, descobri que o lance da "luz drogada q me dopava" era o astigmatismo que eu tinha e não sabia, pode ter outros significados também, dependendo. Outro elemento interessante é a ausência da pessoa, o sujeito é aberto a qualquer um interpretar da forma que quiser...

    O lance relacionado a morte," viver ou morrer" depois de refletir muito na minha insônia. Percebi q após meus colegas de apartamento me falaram que eu era sonâmbulo e urinava na janela do quarto do 1º andar, passei a dormir tarde posteriormente, por causa disso com medo de dormir e morrer (sem saber), e me acostumei esse habito e nem me toquei, virou um problema inconsciente q eu não soube trabalhar, ao tentar dormir cedo, eu tinha sensações ruins, voltei ao normal 1 ano depois q percebi o motivo do problema, pensei,: Caralho! Escrevi esse poema sem idéia nenhuma do que tava dizendo e que só vi um sentido externo depois de ter feito o mesmo e resolvido os problemas que consegui interpretar.

    Fantástico seu comentário Vina, de fato, transformei em linguagem boa parte dos meus conflitos e interpretações do meu mundo, com o propósito de solucionar-los, através desses rabiscos de um ser imperfeito como qualquer outro.

    Vejo que não é só isso que eu me descobri no meu próprio poema, mesmo sendo eu, ainda não tenho a totalidade da compreensão do que me represento, quero dizer tantas coisas em poucas palavras que as interpretações podem ser variadas e descobrimos aos poucos, sempre um sentido novo no entortamento das nossas cabeças ao transformar a visão do mundo em linguagem, alguém sempre descobre um sentido a mais nas palavras alheias, e isso é importantíssimo p/ dinamizar as coisas.

    Grande abraço e valeu muito pela calorosa recepção no Torto caro Vina! Valeu pelo comentário também Maíra, grande abraço e espero outros mais p/ nosso espaço Torto! hehehehe

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  4. E peço que perdoem-me por esse português não torto, mas troncho, vou tomar vergonha e melhorar! Um dia eu aprendo a escrever!

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