sábado, 4 de setembro de 2010

PARA QUE SERVE A DEMOCRACIA? EU TAMBÉM NÃO SEI.

O horário político eleitoral é palco de diversos personagens com várias características, motivações e posturas diferentes. Promessas, caras novas, caras velhas, uma ajudinha do pai político para o filho que está começando, projetos para a melhoria de praticamente as mesmas coisas, melhoria na educação, saúde, meio ambiente e emprego. Isso já se tornou clichê e o que falar dos personagens da política, aqueles que nos faz acreditar que a política brasileira não deve ser levada a sério, mulher pêra, Romário, Bebeto, Batoré, Maguila, Kiko (KLB) e Tiririca.

Inclusive, quando soube da candidatura de Tiririca pensei logo em como Clodovil e como a eleição dele para deputado federal motivou outros artistas, humoristas e atletas aposentados a se candidatarem. Não que eles não possam se candidatar, afinal estamos numa democracia e eles preenchem os requisitos legais para se candidatarem a cargos públicos no Brasil, mas o que chama a atenção é o discurso e a apresentação. Mas voltando a Tiririca. Encarei, inicialmente, como um circo e ele como mais um dos candidatos que divertem o eleitorado durante o horário político. Mas será que os slogans da campanha de Tiririca não são um alerta num protesto trajado de ironia e comédia? Como as frases de Tiririca mexem com o imaginário social do eleitorado brasileiro?

Vamos a algumas frases do candidato retiradas do horário político: “- Você sabe para que serve um deputado?” Pergunta Tiririca em seu exíguo tempo no horário político. E ele mesmo responde: -“eu também não sei, mas vote em mim que eu te conto”. Ou em outro pronunciamento, “pior do que está não fica, vote em Tiririca”. O candidato mexe com a representação que o brasileiro faz dos políticos, trazendo o humorismo como instrumento de ironia e, por que não, a indignação da não compreensão do funcionamento da democracia, pois entendo a democracia não apenas como regime político, mas como prática cultural. Desse ponto de vista, a democracia é tomada como a hibridização de antigas práticas políticas como clientelismo, coronelismo e assistencialismo.

Por outro lado, podemos interpretar como um protesto velado que acompanha as transformações estruturais da política brasileira, que normalmente são comandadas pelas elites. Basta lembrar episódios como a revolta da vacina, as passagens de monarquia para república e o golpe militar, a população só participou do processo depois que tudo estava pronto e tiveram que se adaptar ao seu modo.

“...Estou aqui para pedir seu voto pus[sic] eu quero ser deputado federal para ajudar os mais necessitado[sic], inclusive minha família... se vocês não votarem eu vou morrer!” uma combinação de humor e ironia. Fugindo dos discursos pré-fabricados das assessorias de marketing e da postura de apresentação dos candidatos que se trajam de terno e gravata buscando atingir os valores do eleitorado, como a crença em deus, a luta contra a ditadura, a origem humilde, a emotividade ou mesmo a gozação. Dentre outras caracateristicas sobressae a nossa herança moral cristã galgada na oralidade. A democracia garante as liberdades individuais o direito de expressão, cobra, por outro lado, o domínio de algumas ferramentas básicas como a leitura e a escrita e o poder da argumentação para a escolha de qualquer candidato. No entanto, nossos critérios estão influenciados por outros fatores.

E como diz Tiririca: “você está cansado de quem trambica? Vote no tiririca para deputado federal ... pus que você votando em mim eu vou estar em Brasília e vou estar, na realidade, fazendo o coisa da vida de nosso Brasil, a nossa vida, o nosso momento, o nosso... tipo de coisa que nós temos...” Tá claro, né!?

7 comentários:

  1. Alysson

    A democracia no Brasil é uma piada em um pais desigual que atende aos privilégios de setores ricos da sociedade. Essa galera que se posta como você disse, de acordo com os direcionamentos de marketeiros, expondo discursos sérios, tem cansado o eleitorado, até por que nós já andamos descrentes com as boas intenções na politica há muito tempo. Realmente eu vejo que Tiririca é um sintoma claro do nosso olhar para a politica, no entanto, apesar de eu ver esse carinha se candidatando e enxergando formas de resistências e criticas para com a nossa estrutura política, eu não deixo de conceber que esse tipo de candidato também representa um caminhar para a banalização das atividades públicas de um Estado vagabundo e putinha dos interesses dos setores privilegiados da sociedade. Devemos tomar cuidado ao observarmos uma postura como a de um Tiririca, pois se por um lado, ela expressa um desencantamento; por outro lado, esse desencatamento se for levado como mero desencantamento e piada para com a nossa realidade, pode tornar a política como uma instituição mais banal do que ela já é, e afinal de contas, nós sabemos que é importante a sociedade reconhecer a importância das funções públicas em um tempo em que cada dia que se passa, o nosso estado se torna cada vez mais incapaz de responder aos anseios plurais da sociedade civil.

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  2. Eu vejo que o Brasil já teve alguns avanços na prática democrática institucional. Como sabemos a ação politica é importante, no entanto, as mudanças na cultura politica são lentas e sabemos que dependem de várias ações sincronizadas numa melhor estrutura social, educação, saúde, que efetivamente funcionem e possam atender aos anseios plurais da sociedade.

    Quis me referir com esse texto a banalização que o processo eleitoral ganha com a candidatura de algumas personagens sem perfil algum para ocupar cargos públicos tão importantes e que utilizam da própria cultura politica do eleitorado e de critérios herdados de antigas práticas politicas, além da forte influência que a indústria cultural e seus símbolos possuem para um roteiro bastante hibrido (anti) democrático, ou quem sabe, de um modelo hibrido de decisão.

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  3. (risos)

    Eu sempre desconfiei desta ironia tiririquense... Nunca entendi direito o que ele quer, ou porque ele se submete a programas tão ruins como aquele do Tom Cavalcante, mas, no horário político, ele está se provando como um inteligente homem de circo.

    Quanto ao ponto de vista democrático, aí a coisa fica muito mais complicada de se entender... Eu ouso não me meter nisso! (risos)

    WPC>

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  4. Democracia é uma bricolagem de várias práticas políticas que atendem aos interesses diversos da política contemporanea. O problema é como democratizar a informação à política de maneira que não manipulem ideologias político-partidárias. O mais interessante seria se soubessemos evitar o velho discurso "rouba, mais faz". Existe então o imaginário da sociedade e o interesse político tão disperso em nossa prática cultural cotidiana e no momento do voto.

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  5. "Desse ponto de vista, a democracia é tomada como a hibridização de antigas práticas políticas como clientelismo, coronelismo e assistencialismo."

    Perfeito! Não importa que a estrutura pareça funcionar democraticamente, se a prática ainda consiste, em essência, das derivações estruturais anteriores, tidas como bárbaras, injustas, tiranas. É como se pegássemos um coronel e trocássemos o esteriótipo do chicote e da cara feia, por um com mentiras e sorrisos.

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  6. Alysson e Lou,

    Concordo com vocês sobre esse ponto de vista! Embora ressalvo que não devemos generalizar. A democracia permite com maior flexibilidade novas formas de governar um Estado. Difere-se das práticas políticas totalitárias (das esquerdas e direitas) que incorreram na Europa e América Latina, restando somente Cuba como a última "ilha" deste tipo de poder. No Brasil, sem uma democracia como vivemos hoje, não teríamos nunca a representação política de Luiz Inácio na presidencia. Aqui não faço coro ao presidente nem ao seu governo, pois não vem ao caso (isso se discute em tópico separado). Mas vejamos o quanto foi importante observar a ascensão de um metalúrgico - e esse ponto retoma o texto do Alysson - à casa civil. Sua figura é tão forte que elege qualquer sucessor. Mas, uma coisa é certa, ele retirou das mãos de uma elite política brasileira a chance de afundarmos mais ainda em pobreza. Sem essa flexibilidade e troca de representantes não teríamos a chance de experimentar este governo, qual seja nossas opiniões. O problema é que muitos vão votar em tiriricas da vida...

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  7. Ressalto que a bricolagem democrática da qual vivemos trata-se de um processo de estabelecimento das prática. Como disse no texto, não vejo apenas como instituições postas para desempenhar o seu papel. Busquei interpretá-la como prática que ainda não faz parte da cultura política dos eleitores. Tiririca foi apenas representação para entender quais os possíveis critérios que o eleitorado brasileiro utiliza para eleger seus representantes.

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