quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Retrato da Loucura

Corto os fragmentos destinados da irracionalidade
Contam para o meu ser o que deveria ou não
Os rios refletem ilusões que me fogem da realidade
Bombardeando de mim mesmo um jargão

Quero a lógica desses fluxos reais que me jogam
A suposta razão que se explode na exosfera
Assim correntes dos choques imaginários me sufocam
Ao mesmo tempo meu espírito não sabe mais o que gera

Vejo um sol, o maquinário, circuitos e janelas ligadas
Parecem ligadas numa só tomada do entendimento
Essa osmose me supersatura com milhões de telas conectadas
Com a energia e a matéria que transmutam o comportamento

Oh! Camas espaciais! Sobrevoam diversas esferas celestiais
Com o caixote humanóide que se transfigura
Empurrando-me o vento com imagens descomunais
Desde o primeiro devaneio até a última loucura

8 comentários:

  1. Miguel,

    Lindo pra caralho!!! Você trouxe um tema que bagunça sempre minha cabecinha calejada mental. Isso que você mostrou em riquezas de detalhes é que eu vejo como a natureza mais inerente da realidade. Pisamos no solido de terrenos liquidos, perdemo-nos nos fluxos, queremos nos apropriar da lógica, bagunçamos a lógica porque queremos o fluido. Enfim, somos alguma coisa que se toca por que não se atinge, somos as respostas definitivas sempre a serem completadas. É isso, somos o passado, o presente e o futuro em pulsações desnorteantes mas cabiveis dentro de uma cronologia sem fundo, sem volume, com tudo e com nada. Caminhamos e conquistamos o que nos esvai de nossas mãos, somos as determinações incertas, entortamo-nos, entortamo-nos pois negamos o que nos convém e aceitamos o que nos prejudica, assim como repudiamos o que nos prejudica e aceitamos o que nos faz bem. Somos donos de uma demarcação de território que ninguem vê inclusive nós mesmos, mas somos despossuidos das coisas por termos o dominio dos nossos limites. Pra finalizar eu pergunto: somos o que somos, mas somos o quê???

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  2. "Os rios refletem ilusões que me fogem da realidade"

    Nesse verso, que achei muito bonito e suave, imaginei você, sentado à beira do rio, contemplando, com olhar-filósofo, as lentes dos seus óculos sendo quase levadas pela correnteza, e perguntando-se: se Narciso soubesse desse degredo, haveria rejeitado Eco?

    Abrs,

    João Paulo dos Santos

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  3. Vina,

    Acho interessante esse confrontro das certezas, da lógica, da firmeza com essas questões que quebram o chão onde pisamos, a fluidez das convicções destroi essa temporalidade que queremos nos apropriar de tudo, do passado, do presente e do novo que virá, nossa cabeça por natureza própria joga eternas inconstancias que quebram aquilo que acreditamos ser o que queremos e acreditamos, ao tentar estebelecer esses territórios como vc diz, nos desapropriamos de outros, e ao buscar o que perdemos, acabamos perdendo o que já estavamos...O que nossa razão busca delimitar, ela mesma se destrói com esse fluido constante de percepções novas e retorno do antigo que ja perdemos. Estamos presos ao novo e o retorno de velho novo, menos às previsibilidades e a constancia das coisas...

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  4. João,

    Acredito que nem mesmo as paixões e conceitos que temos de nós mesmos não fogem dessa fluidêz, se narciso estivesse olhando um reflexo temporal, não viria sua imagem como viu ou talvez se assustasse com a distorção provocada no reflexo, poderia ver um monstro como o Dorian Gray viu em seu Retrato se tornar numa imagem assutadora que se transfigurou naquilo que ele agarrou e quis negar posteriormente...

    Abrs

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  5. Será que ele não se via temporalmente, já que era tão belo e se amava tanto que, querendo conservar sua beleza e reclicar o amor que por si mesmo mantinha, acabou sucumbindo nas águas do rio?


    João Paulo dos Santos

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  6. O primeiro devaneio se dá após o parto. A última loucura, frente à morte.

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  7. Sobre as palavras, o silencio e a "razão"

    As palavras são traiçoeiras, quando penso que as domino, elas estão mais presas a mim e ao mesmo tempo independentes do meu domínio..."Me Nego ao me afirmar e me afirmo ao me negar"...
    Antes tinha medo disso hoje em dia me surpreendo mas, sem exitar... Apenas me contradigo e passeio no meu canto mudo e no meu silencio poético... Furto as palavras dos outros e elas furtam muitas coisas de mim... E no final das contas, penso no meu universo olhando para o meu cachorro cotó girando atrás do rabo inexistente, e vejo o quanto ele é tão inteligente quanto eu, ou até mais por se divertir, não se preocupar e não se constranger...

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