quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O homo Sapiens

O Homo Sapiens

A razão humana é uma cadeia crescente de elos formando uma imensa corrente que se perde no infinito. Ela é humana, é natural. É uma ferramenta desenvolvida pelo homem ainda nos primórdios de sua ancestralidade. A razão se questiona, pergunta a si mesma sobre si, descobre seus mitos, suas fantasias, e depois retoma a autodisciplina para explicar as formas. Somente ela consegue perguntar: “Isto é racional?” (Pai Joaquim)

A história das ciências e da filosofia nos desvela o caminho da razão. Sabemos por onde ela passou até chegar aqui. Um Preto Velho sábio disse: “Assim é o homem, assim é sua razão”. Ela é inconstante, por vezes escura, outras tantas clara como a luz do sol. Ela sabe conviver com seus erros, pois ela consegue enxergá-los. A razão entende que o diálogo entre o erro e o acerto é enriquecedor. Para ela, a tensão entre o conhecimento e a ignorância produz mais conhecimento, e esta tensão nunca cessa no bicho homem. (Popper)

A razão atua na dimensão do consciente, entretanto, possui raízes no mais profundo do sujeito epistêmico. Se este não erotizar o objeto, o conhecimento não surge. O objeto a ser desvelado deve ter força para atrair o sujeito a si. Por esta causa, vejo uma relação erótica entre o sujeito da razão e o objeto epistêmico. (Freud)

Como tudo que é natural, esta é uma marca original na razão, pois ela não caiu do céu como fora dito no passado, a razão nos leva a falência, ou a riqueza, ao sucesso, e a glória, ou a desgraça e a pobreza. A razão cria alimentos, aparelhos que salvam vidas, e infelizmente ela mata, provoca guerras, bombas atômicas. A razão quando atua na lógica do caos e da desgraça humana é conhecida como desrazão.

A desrazão é o uso maléfico da razão. O homem usa a razão contra si, contra os outros e contra a natureza. O animal, homo sapiens desenvolveu a razão e a desrazão, sua irmã gêmea. Contudo aprendemos com o diálogo do louco. O discurso do louco, do alucinado também produz razão, pois este é construído historicamente. (Foucault*)

O mito e a razão nasceram na mesma caverna, são filhos da mesma mãe. “Um dia uma loba tentou comer meu filho mais novo. Eu não sabia o que fazer, só meus instintos respondiam, então tomei uma vara e afugentei a loba. Entendi que o animal temia a vara. Associei”. Vó Inã sempre me contou suas estórias. Depois as duas irmãs seguiram estradas diferentes. A razão foi pela via sistêmica e disciplinada, o mito seguiu a intuição, a imaginação, a fantasia dos homens. Um dia vi que as duas irmãs sempre se encontravam ao por do sol para conversarem. A razão também é sonhar, um sonhar acordado. (Bachelard)

O mito dialoga com os homens sobre seu inconsciente. A abordagem racional do mito destranca portas de bronze e mostra escombros antigos. Ali estavam o arco e flecha. A funda de Davi para matar o gigante foi encontrada nesse mesmo entulho. (Jung)

Sendo assim, estou com sono preciso voltar a dormir.

*Não sei se a escrita é essa.

5 comentários:

  1. Brilhante! Acabei de comentar algo resumidamente parecido com esta ideia no embate entre tu e Vina, que tratava, aparentemente, do mesmo tema, no último texto do Reuel.

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  2. É meu caro, espero que agora esteja claro o que nós achamos da razão e do mito. Roosevelt

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  3. Roosevelt,

    Adoro esses seus textos que você aborda sobre essa relação da razão. Concordo plenamente com a sua pessoa ao chamar atenção para a armadilha de nosso próprio racional. É isso mesmo. A razão sempre engana a ela própria. Nossos conceitos são tão sólidos quanto um algodão doce em nossa boca.

    Porém, eu acho que essa frase, "...a razão quando atua na lógica do caos e da desgraça humana é conhecida como desrazão." tem algo que não comungo plenamente. Eu fico a me questionar: até em que limite eu posso definir o que seja razão ou desrazão? Se eu tenho um caminho que acredito ser o melhor, outra pessoa pode fazer eu reconhecer que na verdade, o que era bom para mim nao seja possivel. Tentei fazer um bem, mas será que foi uma desrazão?

    Outra coisa: o caos não é antônimo da ordem, por mais que nós aprendemos a pensá-lo como tal. Se pensarmos como separado, estaremos colocando o caos como algo ruim e a ordem como algo bom, no entanto, nós sabemos que muitas vezes a ordem que nos querem impor como boa, nao é boa para todo mundo. Inclusive, muitas vezes nao é boa para a maioria. Nós como professores, sabemos que a ordem tao venerada pelas politicas educacionais, é aquela que pede o acomodamento dos alunos diante das estruturas sociais, e nós sabemos muito bem que uma dosagem de caos é fundamental para reconstruirmos o que dizem pertencer a ordem natural das coisas. Enfim, aquilo que causa caos é razão e desrazão, até por que caos e ordem andam de mãos dadas em constante divórcio.

    OBS: tenho plena consciencia de que eu fiz uma observação a um fragmento micro do seu texto. A idéia em geral dele eu comungo plenamente. Parabéns pelo texto! Muito bem fundamentado, e pra variar, bem escrito

    abraços

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  4. Meu caro vina torto,
    A idéia foi essa. Dizer alguma coisa sobre a razão. O foco colocado pelo colega sobre o caos e a ordem é pertinente. E salve o torto.

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