segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Eram algumas vezes

Era uma vez...
um dia eu estava andando meio sonolenta no escuro. Andei, andei até que percebi que estava andando demais. Mas, continuei andando e tropecei num buraco.

Eram duaz vezes...
Duas noites seguidas eu estava bebendo entediada num buraco. Bebi, bebi até que percebi que estava bebendo demais. Mas, continuei bebendo e fiquei desacordado.

Eram três vezes...
Três noites consecutivas que eu estava lendo no hospital. Li, li até que percebi que estava lendo demais. Mas, continuei lendo e me esqueci de telefonar.

Eram quatro vezes...
Quatro tardes interpoladas que eu estava apostando na sala de estar. Apostei, apostei até que percebi que estava apostando demais. Mas, continuei apostando e me esqueci de calcular.

De repente um desconhecido apareceu, perguntou se eu tinha alguma lupa. Eu disse que não, mas então resolvi comprar. No dia seguinte, eu via dois poros abertos nos meus dedos e não consegui estancar.

Daí comecei a contabilizar,

Era uma vez...
Um dia que vi...

4 comentários:

  1. Olha, possa ser que seja uma sacada surrealista ou mesmo de poesia contemporânea, mas juro que tentei captar a idéia do texto, principalmente da parte final, e não consegui. Tentei conectar o número de vezes pra ver se desvendava algo e também não desvendei nada. Talvez a idéia central seja o gozo estético. Esperando as impressões de Vina sobre o poema... ou de outras pessoas, claro. =]


    João Paulo dos Santos

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  2. Maira,

    Adorei essa brincadeira que você fez durante o seu texto. O que eu pude interpretar nele, é que ao longo de nossa vida, vivemos entre o jogo dos limites e dos desejos. Percebemos que precisamos nos impor limites, mas a nossa natureza desejante vai de encontro a tudo isso. Devido ao nosso excesso, ganhamos como resultados, alguns tapas na cara para aprendermos a não mais perder os limites das coisas. E assim vamos nos entortando, ganhando e perdendo, optando uma coisa e se arrependendo, assim como optamos as coisas que nos dizem ser erradas e acertamos e erramos e erramos e acertamos... e ai vamos fazendo nossa história. No final de tudo, nem calculamos, caimos no buraco e não temos em mão uma lupa, mas tendo a lupa, percebemos algo que estava tão a nossa frente mas que não haviamos observado ate então

    bjs

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  3. olá joao paulo!

    legal o seu comentario. Quando fiz esse texto pensei em umas sacadas surrealistas no intuito de dar uma tonalidade nas minhas idéias difusas.
    Acredito que o não sentido das coisas tem muito mais sentido. Nesse caso, o não sentido segue por outra logica que não estamos acostumados.
    Primeiramente tentei utilizar aquele velho chavão de início de estória ERA UMA VEZ. A gente sempre, principalmente qndo se é criança, se preocupa em criar uma linearidade nos fatos. Então pus esse era uma vez para introduzir uma idéia nem um pouco linear. Pensei numa sátira como os nossos modos viver as vezes são tão desconexos com nos mesmo e nem percebemos.Pelo menos no que se refere a nossa subjetividade.
    Em termos psicológicos, se formos rotular, é uma manifestação tipicamente neurótica. Não que nos não tenhamos nenhum traço de neurose, ao contrário, temos uma puta mania de organizar os nossos esquemas. E mais outra característica que nós neuróticos temos, é , ao mesmo tempo, que tentamos organizar, nós nos desorganizamos no meio desse esquema.
    E para tentarmos nos organizar, desistimos do meio e sempre inciamos qualquer processo. Nesse caso, as enumerações são as nossas tentativas de controlar os nossos pensamentos e limitaçoes. E quando aparece um outro elemento de natureza desconhecida nos desestruturamos por completo.
    É um modo de pensar sobre as nossas ordens desordenadas . ; )

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  4. vina!

    meu caro eu adorei o seu olhar! em palavras simples disse tudo. Tentamos ordenar aquilo que não está no nosso alcance e não percebemos que as vezes somos grotesco quanto a isso! um beijao!

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