Estava eu em frente ao mar, regurgitando minhas penas. Inesperadamente, que coisa, passava perto da água uma mulher com um violão. Seus cabelos me cegavam, seus acordes enchiam a praia. Quando eu era eu, estava eu e o mar; quando reparti esse pedaço de mim, a praia se encheu. Agora era eu, o mar, a dama e muitos que dela se projetavam no momento. O nome dela não seria diferente: era Maria. Ah!... O meu cansaço era a praia, a minha pena seus cachos. Envolvi-me, enfim. Dois lapsos surgiam no ar, o momento não cabia e as palavras cantadas por essa Maria me levavam para o mar, para me afogar.
Neste instante, eu como um todo me sentia apenas uma ostra. Que canto era aquele? Admito: sou fraco, não resisto a mulheres que jogam poesia como um fluido, que das águas do mar não se distingue. Eu queria sentir apenas aquele ir e vir, acrescentar mais uma metáfora para o rei das nostalgias, quando me aparece, por um lapso, a moça que tocava notas com seus cachos, ensaiando seu burburinho.
Fiquei, por fim, a admirar a cena, que com o passar do tempo era só mais uma alusão que o mar me teatralizava. Não me atrevi a chegar até a moça. Afinal, nada seria mais injusto do que isso: seria a supressão do paraíso – não por ausência de desejo; são coisas de um espírito velho. Queria, sim, a possuir até o espírito, mas o que me apaixonava era o mar, a moça, o eu e as pessoas que da boca dela saiam.
De repente, caiam brasas vivas do mar. O fogo tomou a praia, baleias encalhavam na praia e eu a ver o mar. O céu esbravejou, chovia, relampejava – eu a ver o mar. A mulher desintegrou-se em bolinhas pequenas, que voaram no ar turvo de fumaça e cinzas. Eu ainda a ver o mar. Após uma forte pressão atmosférica, virei uma esfera. Posteriormente, cada átomo de mim flutuava no ar, fui-me diluindo. Até virar, enfim, a praia, o mar e a moça.
Neste instante, eu como um todo me sentia apenas uma ostra. Que canto era aquele? Admito: sou fraco, não resisto a mulheres que jogam poesia como um fluido, que das águas do mar não se distingue. Eu queria sentir apenas aquele ir e vir, acrescentar mais uma metáfora para o rei das nostalgias, quando me aparece, por um lapso, a moça que tocava notas com seus cachos, ensaiando seu burburinho.
Fiquei, por fim, a admirar a cena, que com o passar do tempo era só mais uma alusão que o mar me teatralizava. Não me atrevi a chegar até a moça. Afinal, nada seria mais injusto do que isso: seria a supressão do paraíso – não por ausência de desejo; são coisas de um espírito velho. Queria, sim, a possuir até o espírito, mas o que me apaixonava era o mar, a moça, o eu e as pessoas que da boca dela saiam.
De repente, caiam brasas vivas do mar. O fogo tomou a praia, baleias encalhavam na praia e eu a ver o mar. O céu esbravejou, chovia, relampejava – eu a ver o mar. A mulher desintegrou-se em bolinhas pequenas, que voaram no ar turvo de fumaça e cinzas. Eu ainda a ver o mar. Após uma forte pressão atmosférica, virei uma esfera. Posteriormente, cada átomo de mim flutuava no ar, fui-me diluindo. Até virar, enfim, a praia, o mar e a moça.
Astronauta,
ResponderExcluirPara mim, uma das maiores dificuldades que muitos tem em compreender a lógica do torto, é que a sua lógica possui uma natureza plural, fragmentada e imprevisivel. Porém, um dos motivos para tamanha estranheza, refere-se a essa postura como você desenvolveu em seu texto, isto é, uma postura que a primeira vista perece esquizofrenizada mas ao mesmo tempo demonstra ser de uma lucidez absurda, isso por que a esquizofrenia e a dita lucidez transitam e cambaleiam em linhas frágeis entre elas. Se por um lado, você em seu texto vai constituindo, desenhando uma série de elementos, concretizando-os de forma exterior a você, por outro, o que eu senti em seu texto é que toda essa externalidade é fruto de suas próprias representações, e a diversidade que você mapeia "fora" de você, não passa de uma diversidade que é você.
Muito bom o texto
Fantástica a sua percepção Vina. Parabéns e muito obrigado pelo belo comentário!
ResponderExcluir"...e a diversidade que você mapeia "fora" de você, não passa de uma diversidade que é você."
É isso aí mesmo e é uma das coisas mais nítidas no final do texto. Abraço.
Reuel Astronauta.