sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

TRANSPIRAÇÃO

Seus olhos impávidos não esboçaram reação.
Decalque de um sentimento antes guardado num papel
A sede estava molhada a medida que o toque se aproximava da derme. Digitais em terreno (des)conhecido.
Deixou que tudo acontecesse naturalmente, inerte, sem interferências.
Qualquer resto de inocência já havia sido deflorada a um bom tempo.
Naquele momento se permitiu sentir aquelas sensações estranhas. Seu corpo queimava e ela sabia. Havia lido em alguma revista adolescente e na conversa com as amigas de como acontecia. Aproveitou para abrir a sua caixa particular de fortuitas fantasias. Sentia secura na garganta e a escorrer líquido por entre suas pernas.
Encharcou-se de um suor até então desconhecido por seu corpo.
Em transe proferia palavras e gemidos sem qualquer recato.

Seus olhos cerrados acompanhavam as contrações, que ora tentavam despistar a dor que deveras sentia.
No púlpito do leito de sua iniciação proferia grunhidos monossilábicos que ecoavam dor e volúpia.
E ainda a procura por um fim os seus músculos tremiam e ela via escorrer por sua pele a transmutação dos sentidos que pareciam até então externos a sua existência.

5 comentários:

  1. Professor Alysson,

    o que mais me chamou a atenção no seu texto lírico foram as palavras "iniciação", "transe", "transmutação" e "externos a sua existência". Com elas, percebe-se que a experiência sexual tem um "je ne sais quoi" de secreto, de ritualístico, de ser necessário passar por algumas etapas antes de uma iniciação sem volta. O personagem feminino construído tinha conhecimento dessa ordem secreta da qual ela não fazia parte, mas tencionava fazer, também secretamente, já que estavam em uma caixa, ou seja, hermeticamente guardadas, suas fantasias. Então, quase como em uma experiência alquímica, a transmutação, faz com que ela adentre esse universo o qual beirava. O não fechamento do texto também me parece interessante por fazer com que o leitor, a partir de suas experiências e existência, signifique tal transmutação. As sensações ficam por conta de cada leitura, por conta de cada iniciação particular.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom o seu poema, meu caro. Numa análise íntima, acho que ele perde um pouco do seu ritmo concupiscente e absurdo na segunda e última estrofe. Porém, nada que possa atrapalhar o seu logro com esse poema.

    abrs,

    João Paulo dos Santos

    ResponderExcluir
  3. Minha cara Renata, suas análises são pertinentes e podem levar o texto aos caminhos do que seria essa transmutação, principalmente, por que a relação entre sensação e sentido acompanham essa experiência. Concordo com o final do texto em aberto. Lendo com esse olhar ele realmente deixa essa brecha para as sensações e sentidos dos leitores.

    ResponderExcluir
  4. Obrigado, João. Lendo melhor, realmente, o poema perdeu o ritmo. Ele ficou mais seco na segunda estrofe. Porém,essa era para ser a característica do poema, transitar entre a secura e o lirismo. A intenção era mostrar o que essa experiência traz, ou seja, ao mesmo tempo que é a satisfação de uma necessidade fisiológica, o sexo, também ganha sentido no mundo dos seres humanos.

    ResponderExcluir
  5. Meu irmão tou ereto. Faz bem para a coluna!

    ResponderExcluir