segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Quanto vale uma vida?

Quanto vale uma vida? Mais que um alguém.
Uma vida não se sustenta apenas do funcionamento orgânico do corpo. Ela depende de uma gama de relações, perpassada na inter-individualidade ou social do sujeito. Isso fica nítido quando nos damos conta que, de algum modo, a nossa vida está por um fio. Basta vermos na fila de transplantes. Vemos de perto, o desejo da morte do outro para que tenhamos algo pulsando novamente em nós.
Em "21 gramas", filme do mexicano Alejandro Iñarritú, poucas gramas, mais precisamente 21, é o tanto que perdemos quando estamos na beira da morte. Equivalente a um coração pulsante de um beija-flor ou mesmo um inocente pedaço de chocolate.
Assim como em "Mar adentro" do espanhol Amenabar, 26 anos é tempo de uma vida que talvez perdida. Perdida no sono do desejo da morte, pois só ela poderia fazer um alguém sair do pesadelo chamado vida. Uma vida repleta de aparelhos em que um corpo não tem mais sua funcionalidade de respostas, mãos que não sentem, pés que não tocam. O que resta é uma consciência lúcida de que a morte, depois de longos anos, é bem -vinda. Assim como diz o personagem (vida real) Ramon "A vida é um direito e não uma obrigação".
Portanto, por que insistimos tanto na idéia de que vale a pena viver, mesmo diante do sofrimento alheio que não suporta conviver numa condição tão limitada. Mesmo que não seja ditada pelos limites do corpo, porque manter a vida se alguém já desistiu dela? Talvez porque os dias andam em linha reta sem qualquer alteração das estações do tempo.
Definitivamente percebemos uma relação direta entre a vida e a liberdade. A liberdade só nos cabe quando temos condições de escolha, ou melhor, capacidade, suporte para atingir uma vontade. Caso não, somos brutalmente renegados.

No caso da eutanásia, a vida do indivíduo fica nas mãos dos familiares, do Estado, das instituições sociais, menos dele próprio. Esse tema vem trazendo grandes discussões no que concerne ao conceito de viver. Inventaram milhares de fórmulas para estender e até mesmo criaram possibilidades para eternizar a nossa existência na terra. Mas falar do contrário nos soa um absurdo. Por que será? Porque ela vale muito mais... mais de muitos sacrifícios humanos.

3 comentários:

  1. Antes que nos percebamos vivos, já morremos distraídos com as interrogações. Bjão Maira, foi um prazer te conhecer.

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  2. Mai,

    Sentir a vida é um jogo de ambiguidades, coerencias e ao mesmo tempo de muitos paradoxos. Tem dias que nos acordamos e a vida é uma merda; ja outro dia achamos que a vida é tão boa que a fatidiga sensação de mal-estar que ela nos fez sentir outro dia, já não nos serve.

    Muitos falam que a questão da polemica da vida ocorre devido aos valores cristãos introjetados em todos nós, outros dizem que se deve a necessidade de se preservar a própria espécie.

    Enfim, acredito nisso tudo, mas acho que a questão da vida em um sentido mais cotidiano e mais sentido e vivodo possivel decorre da necessidade do medo de perdermos o vinculo com aquele ou aquela de quem gostamos muito.
    Você pode perguntar, mas o que o Estado sentiria por você, um dado meramente representado na fria e esquematica estatística do IBGE? Nada, no entanto, eu sou um humano que o recenseador se lembra do seu filho ao me ver. Termina que eu sou aquele a quem remete a memória de outra pessoa a quem o alheio a mim se ve impossibilitado em aceitar a perda.
    Não nego o poder dos valores religiosos em nossa vida, mas acho que a polêmica da vida não se encontra por que apenas eu como um individuo educado sob preceitos cristãos, ache que Deus me deu a vida e não quer que eu a tire, até por que se assim fosse, por que tantos representantes da fé e seguidores do grandioso Deus levaram à fogueira, à forca, quem se encontrava contrário as suas "verdades"?? Se fosse assim, por que tantas mulheres depois de abusadas pelos padres foram mortas? Por que tantas criancinhas sumiram "do nada"?

    Sim, pode ser pelo preservar a espécie, mas não por que eu seja igual ao outro meramente. Se assim fosse, todo mundo viveria só chorando por cada alma que a cada instante se vai! A preservação está muito mais relacionada a representação que o outro reflete em mim. O que o incomoda não é alguém deixar a vida, é ver nesse alguem alheio a ele, a possibilidade de alguem que ele ama, passar por uma situação tão complicada como a que esse outro está passando.

    A negação da morte está ligada a dificuldade de aceitarmos as perdas da gente e a de quem amamos.

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  3. Nossa relação com a morte é tão antiga quanto a nossa relação com a merda. O bicho se eternizou inventando o tempo (cronos). Existe até a ilusão de dizermos: "Estamos correndo contra o tempo". Que tempo porra! O valor de um ano depende do tamanho da órbita do planeta em que estamos. Assim, os anos são maiores ou menores nos diversos planetas de nosso sistema solar. Logo, dias, semanas, e meses são diferenres em cada um, e é bem verdade que as horas também. Dizem que inventaram a contagem do tempo depois que Adão morreu. Crendices!! Assim como fizemos com o tempo também fizemos com a vida. A morte é uma ilusão. Vemos uma massa orgânica deixar de funcionar, mas sua matéria quântica e sua energia não se perde, apenas como a água corre do plano para o inclinado, a nova vida corre para seu plano afim. A lei de lavasier explica(desculpe o francês chula). "Na natureza tudo se transforma, nada se perde". Acho que o cara tinha razão, um dia desses conversei com um cara que havia morrido em São Paulo, depois peguei um resfriado...

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