quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A Feira

-Olha a macaxeira, batata e inhame!

-Aqui! Aqui! DVDs baratinhos!
Danielzinho e Forrozão quarto de Milha,
Lady Gaga, Asas Morenas e Metallica!
2 reais cada!

-Remédio milagroso, 3 reais
Cura tudo! passe 4 vezes por dia
e adeus dor na junta, osteoporose, dor nas costas,
bico de papagaio, tuberculose e tudo mais!

-Ei moço! Ei moço! Me dá um real!

-Arreios de couro aqui, tudo que você precisar em couro!

- Candieiro, pote e e fogão em Barro!

Liquidação! Camisa da Nike, 80 real. Tênis Adidas, 150 real!

-Moça, quer um frete?
Sim menino, até o outro lado da cidade te dou 3 reais
-Tá certo

-Promoção! Promoção!
Tudo em aparelhagem eletronica!
Aparelho de DVD, Video Game, Celular e Iphone

-Olhe a maçã, laranja, pêra e Jaboticaba!

-Rifa-se uma moto, 1 real o bilhete!

-Dá uma esmolinha pelo amor de Deus!

Enquanto esse cruzamento de realidades soam no território da feira, nas barracas de rocha divulgam:

- Notebook da Apple, Dell e Positivo.
Tudo em 10 vezes sem Juros aqui no Gbarbosa,
nossos funcionarios irão te atender, é só chegar!

-Promoção! leite em pó de 500 Mg e manteiga 150 Mg da Natville, por apenas 7 reais.

-Cama, sofá e Guarda-roupa, monte sua casa por um preço pequinininho! Aqui na movelaria Glória.

Um encontro:

-Olá comadre, tudo bem? como anda a família?
-Tudo certo. E no seu sítio, como tá? choveu por lá esses dias?
-Não, mas com fé em Deus e São Pedro, vai dar um bom feijão nesse ano!
-Vamo andando Mazé, que o caminhão vai sair daqui a pouco,
antes de voltar pra roça vou passar no ali na "Norma" pra comprar o tamanco na promoção de 200 real!
Semana passada comprei um Nokia N97 de 8 GB pra minha fia, guarda foto que é uma beleza, só compro coisa boa!
...

-Olhe a maçã, laranja, pera e jaboticaba!

-Carne de boi, frango e peixe!

http://hacasoseacasos.blogspot.com/

10 comentários:

  1. Assim é o espetaculo da vida, todos vão se distraindo, até a hora da sua morte.

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  2. Miguel,

    O que consegui captar de seu texto é que estamos cotidianamente cercados de signos por todos os lados. São informações vazadas e vindas de algum lugar e que muitas vezes nem sabemos. Estamos ai nos degustando e perdendo nossas referencias devido a esse oceano infinito de mensagens, sentidos, sinais e por ai vai. Enfim, é a velha marca de um mundo globalizado. O mais engraçado é que apesar desse fluxo de informações incessantes, os discursos, apesar de aparentemente diluidos no espaço, estão codificados, objetivados. Tanto é que você conseguiu captar o anuncio do vendedor, do esmolé, etc. Dentro do fragmento existe a integridade, assim como co-existindo com a integridade se encontra o fragmento. É o mundo torto kkkkkkkkkkkk

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  3. estou so esperando ver a transformaçao desse mundo globalizado ou ate msm o fim da globalizaçao . para isto ocorrer nem precisa de uma vida inteira e so eu esperar 10 ou 20 anos . a sociedade em conjunto com o modo de produçao sempre estao em mudanças.
    recomendo um documentario global metal ele retrata de uma forma interesante a globalizaçao ,fica a dica
    vina axei bastante interesante como vc colocou a globalizaçao no seu comentario realmente atualmente e isso
    Alan

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Pois é Vina


    Estamos inseridos no circuito global dos meios de comunicação e valores diluidos com as necessidades locais. Se transformando e recombinando com o tempo, está tudo conectado pelos meios de comunicação e difundindo valores constantemente. Somos bombardeados por diversos meios como vc coloca, recorrentes à esta lógica de mercado macro e micro, o circuito das lojas e produtos de empresas que estão distribuidas pelo brasil e pelo mundo, por outro lado, o circuito da galera underground permanente no local, marginalizada e ainda no circuito... Como observei no trabalho de campo da monografia da minha irmã, saquei tbm essa mistureba artística inserida nesse meio, vc vê em varias barracas o dvd pirata do cara do brega junto com o Justin Bibier num caldeirão cultural e mercadológico dos circuito Global paralelo ao local dentro de um terrítório de mercado livre, que são as feiras...



    Alan, assim como a cultura local, os efeitos da globalização não irão acabar, veremos ele transformar para outros meios ou num processo histórico para uma outra lógica, mas acabar propriamente dito, fica uma questão complicada.
    De qualquer forma ela muda. Valeu pela contribuição...

    [Miguel]

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  6. Meu caro Miguel,
    a feira tem de tudo até o bode preto e gracinez. hahaha.

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  7. Esse confronto de realidades sociais são bastante interessantes, tendo em vista, a diversificação dos signos e símbolos que nos rodeiam a todo instante, seja na linguagem, no mercado informal,no mercado formal, e por aí vai.

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  8. Tradição e terceira revolução industrial convivendo em um mesmo espaço físico, coisas que as metanarrativas clássicas terão trabalho em esmiuçar.

    Ótimo texto, caro Miguel!

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  9. Vou tentar revisar algumas correntes da geografia analisando esse fenômeno brevemente...


    Na geografia clássica, tendemos a imaginar o espaço como homogêneo, com características marcantes de uma paisagem uniforme com funções determinantes ou condicionantes, por sua vez tendenciosa à um objetivo específico.

    A Teorética quantitativa montaria uma análise conjuntural de números de barracas, pessoas, mercadorias e construiria gráficos, tabelas e outras formas de quantificar o espaço lendo suas relações através dos números num método hipotético-dedutivo...

    Os Geógrafos críticos pensariam o exemplo como um território de consumo, de um circuito inferior aos de escala global, competindo também com as empresas que fazem o monopólio do comercio e da industria local, ao mesmo tempo vemos a fome. Seria um território de contradições, ao mesmo tempo de relações inferiores aos monopolistas, os feirantes migram de cidades para as mais próximas para conseguirem vender o estoque.

    A Geografia Cultural pegaria esse fragmento da feira e analisaria os valores, modo de construção das barracas, pedaços vivos da história que ainda permanecem no sec. XXI em uma cidade do interior e suas relações sociais estreitas, objetos, utensílios, hábitos linguísticos peculiares nessas relações misturadas com culturas de várias categorias do espaço, até o global.

    A Geografia Humanista buscaria captar dentro da subjetividade de cada indivíduo analisado, sua relação afetiva com o espaço da feira. Sendo como lugar de trabalho ou de lazer, ou um ambiente do qual sempre teve o habito de frequentar e manter uma relação próxima com amigos que encontram. Se tratando pessoas da zona rural ou urbana. É um espaço para os que frequentam, constroem laços de emoção e afetividade.

    A "Nova Geografia" ou "Geografia pós-estruturalista": Pega esses diversos recortes de histórias e relações específicas e monta um mosaico "impresso" de um espaço múltiplo de construção heterogenia, cada ser humano constrói sua uma relação pessoal com a paisagem, monta uma história dentre outras que dividem e misturam nesses recortes. Um fragmento do real que cruza com milhares de outras realidades que transcendem a homogeneidade das relações econômicas e culturais. Cada um constrói a paisagem, ao mesmo tempo em que absorve através das relações sociais e da linguagem grafadas pelos outros no espaço.



    Acho que é isso... Valeu pelas contribuições, pessoal. Grande abraço!

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