segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Revisando Daniel Peixoto

Ao postar um texto sobre o clipe “Eu só paro se cair” de Daniel Peixoto semana passada, recebi uma série de críticas. No entanto, com um tempo, passei a reconhecer algumas lacunas graves deixadas nele. Depois de uma semana, encontrei mais pontos reprováveis acerca da minha analise sobre o trabalho desse artista, e por isso mesmo, resolvi trazer nesta semana, uma revisão de alguns pontos abordados por mim.

Um dos meus erros foi descrever o clipe como se Daniel Peixoto tivesse de fato a intenção de provocar tudo aquilo que eu havia dito. Por exemplo: quando eu disse que Daniel “preza pelo fútil legitimando o marginal, nega os modelos legitimados pelas convenções, ironizando ao mesmo tempo os dois”, óbvio que ai foi uma leitura minha, mas pareceu ser de fato a intenção do artista, o que não foi.

Não me importa se Daniel é o lixo de uma indústria como já me disseram, até por que para mim, o que mais vale na arte, é a leitura e as reflexões que o ouvinte faz acerca de suas ações e de seus valores através da música que ouve. Por isso que independente de qualquer coisa, insisto que o clipe pode trazer muitas reflexões interessantes para quem quiser fazer análises sobre a nossa atual conjuntura

Eu ainda acredito que o texto nós possibilita coletar um material muito importante para entendermos, por exemplo, o porquê da necessidade que a juventude tem de legitimar as maluquices vazias, assim como até que ponto essas maluquices representam de fato uma revisão de valores ou apenas perpetuam a intransigência de um mesmo conservadorismo com outra máscara.

Adoro esse tipo de estética como a de Daniel Peixoto, principalmente quando sei que determinadas propostas ditas "críticas", são tão presas a discursos clichês como as ditas estéticas “vulgares”. Muitas vezes ao conversar com alguns “críticos”, não vejo diferença entre eles ao falarem da desigualdade econômica com a forma como Daniel se expressa ao dizer: eu tô todo mi-mijado”.

Esclarecendo: falar que a TV Globo é uma empresa que manipula, apesar de estar criticando-a, não vejo esse olhar como algo critico. Seria critico se ele encontrasse outra argumentação que possibilitasse novas reflexões, e não repetindo o que muitos discursos já disseram. O que quero dizer com isso? Que o discurso “crítico” pode ser tão fabricado quanto o discurso que legitima o banal.

Não estou fazendo uma apologia às doideiras sem propósitos. O que eu acho, é que devemos nos comprometer com a realidade, mas devemos também deixar nosso lado reprimido se revelar. Nem cairmos na falta de limites, mas também não cairmos no falso moralismo das etiquetas sociais. Em uma postura torta, acredito que nós podemos ser comprometidos e descontraídos ao mesmo tempo.

Ou seja, transitando entre os dois lados, não partiremos para extremismos de um lado ou de outro, uma vez que ambos se conectam. Portanto, por um lado, nosso comprometimento será sadio por aprendermos a nos descontrair e não cair no falso moralismo; por outro, a nossa descontração também será sadia por não a castrarmos e nem fazermos dela um mero besteirol sem propósitos.

Entre a “criticidade” e a “banalização” existe uma linha tênue. Porém, como um cara que se entorta por também saber que inevitavelmente possui uma escolha, entre o vazio reprodutor dos ditos “críticos” e dos ditos “banais”, muitas vezes prefiro o dos “banais”, por mais que eu seja da opinião de que devemos trazer mais debates sobre até que limite essa “banalização” pode ser saudável e prejudicial para nós.

17 comentários:

  1. "Esclarecendo: falar que a TV Globo é uma empresa que manipula, apesar de estar criticando-a, não vejo esse olhar como algo critico. Seria critico se ele encontrasse outra argumentação que possibilitasse novas reflexões, e não repetindo o que muitos discursos já disseram. O que quero dizer com isso? Que o discurso “crítico” pode ser tão fabricado quanto o discurso que legitima o banal."

    Há de se tomar cuidado com esta afirmação. Que há muitas pessoas que são meras reprodutoras de discurso é escancaradamente óbvio. Porém este trecho do seu texto também pode ser encarado como "a insistência numa crítica por vezes levantada é necessariamente algo acrítico", o que definitivamente não procede.

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  2. "Não me importa se Daniel é o lixo de uma indústria como já me disseram, até por que para mim, o que mais vale na arte, é a leitura e as reflexões que o ouvinte faz acerca de suas ações e de seus valores através da música que ouve. Por isso que independente de qualquer coisa, insisto que o clipe pode trazer muitas reflexões interessantes para quem quiser fazer análises sobre a nossa atual conjuntura"


    O mesmo problema do texto passado. Ninguém disse que a obra de Daniel Peixoto pode ser depurada de sua disposição em um espaço e em um tempo, pelo contrário, é um dado que traz em si evidentes características gerais desses.

    O problema está aqui: o clipe TRAZ ou clipe pode DESPERTAR tais reflexões? Mais ainda, qual o nível de atenção dos sujeitos em que este clipe desperta estas reflexões? Entendê-lo como parte de um todo complexo é tarefa fácil a quem não exercita cotidianamente tais reflexões?

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  3. "Não estou fazendo uma apologia às doideiras sem propósitos. O que eu acho, é que devemos nos comprometer com a realidade, mas devemos também deixar nosso lado reprimido se revelar. Nem cairmos na falta de limites, mas também não cairmos no falso moralismo das etiquetas sociais. Em uma postura torta, acredito que nós podemos ser comprometidos e descontraídos ao mesmo tempo. "


    Apoiadíssimo. Aliás, talvez Daniel Peixoto não tenha se entortado.... rs

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  4. olá meus caros!

    acredito que houve um excesso de razoabilidade em seu texto, Vina. é coerente, mas vejo isso muito no plano teórico, pois quantas e quantas vezes fomos não tão razoáveis por dizer a massa, o enlatado, o besteirol é lixo, sem nos darmos conta do conteúdo q aborda por simplesmente cansar os nossos ouvidos. é interessante considerar os dois lados da moeda e repensar na crítica que atravessa o discurso de cada um ou até mesmo da maiora que é perpassada por uma ideologia macro.
    Enfim,ainda acredito que aquele q já foi repensado e repassado ainda tenha um apelo crítico. Acredito eu, que nem sempre consigo ser atualizada em meus discursos.
    Mas contemplo o seu apontamento quanto o teor q Daniel Peixoto traz em seu clipe. O excesso de non sense nos despertar para um estranhamento, uma sensação desconhecida que não encontramos em lugar nenhum.
    Devido a isso, não concordo com o questionamento de Josué quanto a preocupação se temos a capacidade ou se conseguimos despertar para o lado crítico desse conteúdo. Vejo isso como um comentário um tanto conservador e intelectualista que perpassa no campo de um interesse do discurso pensado e construindo nas linhas da racionalidade, baseado em alguma fundamentação teórica. Eu posso ver o clipe e não me atentar para o q vina diz do inovador, da transgressão das leis, mas tenho certeza que aos meus olhos o estímulo q me é passado é totaLMENTE diferente daquilo q estou acostumada a ver. Ou seja, mesmo q traga excessos de recursos tão familiarizados pela nossa fantástica sociedade de consumo ou massa ou visual, como queira, a minha reação e de estranhamento de algo revisado mas inovador. é isso já traz inovação. Vejo q a critica não é despertada somente através de uma consciência, mas de uma reação seja de espanto, cansaço ou simplesmente de está solto no vácuo. Sem nada a entender.

    bjos

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  5. Conservar inovando, inovar conservando...

    Partindo da premissa de que temos o critério sobre dado valor e uma representação de dado valor, tomando critério por característica de determinada representação e valor por desejo, vontade, necessidade, posso assegurar-me que o valor trazido pelo Daniel em sua representação se utiliza de critérios que me causam pouca atração (significam pouco ou têm pouco valor).

    Isto é subjetivo, de fato. Cairá sempre na discussão eternamente travada e, creio, alvo principal e objeto de foco do movimento: como distribuir valores, se deve-se distribuí-los desta ou daquela maneira, quais critérios são válidos etc.

    Pessoalmente, partindo também de uma postura que sei poder vir a ser julgada por não mais que uma perspectiva pessoal elencada por ideal via critérios subjetivos, considero este audiovisual em questão absolutamente desnecessário, baseando-me nisto:

    O vídeo acima promove qualquer melhoria moral, espiritual, tecnológica, comportamental ou material a um número significativo de atores sociais comumente interpretados como razoáveis?

    Se percebo que, no contexto atual, não é frequente que as atitudes dos artistas deste vídeo (supondo uma média de comportamento habitual das sociedades em geral) tragam felicidade duradoura (leia-se: conforto psicológico durável) - não me apetece validá-lo.

    Não pela certeza de que estas demonstrações, de fato, sejam nocivas moralmente, já que tais predisposições, se sabe, variam e transmutam; mas baseando-me numa generalidade moral aceita.

    Tudo isto, claro, interpretando as ideias do autor de uma maneira pouco vertiginosa, não dada à excessos de transliteração, isto é, tomando "tô todo me mijado" por "tô todo me mijado" e não por "estou numa situação amarga, infeliz" ou "estou despreocupado com o resto do mundo", por exemplo. Mas isso é apenas minha opinião.

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  6. Porra! Osso acompanhar essa discussão! hehehe
    Existem "espistemólogos" que afirmam que a arte não transmiste conhecimento. Penso nesse conhecimento como algo que sofresse poucas mutações como a ciencia, que possuem objetos de estudos especificos, metodos e tecnicas totalmente distintas da arte em promover um discurso sobre uma determinada leitura da realidade. Pensar a proposta desse Video é complicado mesmo. Percebo que o debate não foi algo para interpretar o que o Daniel QUIS dizer, mas o que entendemos sobre o consumo artístico, e pensar 2 caracteristicas extremas de ética social e cultural que buscamos elementos no video tratado...

    Adorei o texto

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  7. Queridos,

    Daniel Peixoto traz uma arte que sendo ouvida sem nenhuma analise mais profunda, limita-se a zueira, ao oba oba. Porém, isso não quer dizer que em seu trabalho nós não podemos enxergar um bom material para uma análise. Não coube em meu texto a pretensão de questionar se a arte de Daniel é entendivel no sentido critico pela maioria das pessoas. Só observei que apesar de não ser uma obra dita engajada, se olharmos com mais minuciosidade, nós podemos encontrar elementos interessantíssimos para fazermos uma analise. Quanto a intenção do clipe, eu ja admiti meu deslize não só neste texto, como nos comentários do meu texto publicado na semana passada.

    Não sou dessa concepção da arte mais importante, a mais saudável, a que gera uma reflexão maior de acortdo com a moral "geral" da sociedade. Isso é higienismo estético e tende a cair na intransigência. A arte, antes de ser só o discurso exposto pela letra da música por exemplo, é algo vinculado a um convivio social, e dentro desse convivio, nós podemos estabelecer diversas práticas,trocas de visoes de mundo, assim como a construção de diversos valores na sociedade. Como eu não posso pensar que ela não é util, independente do que eu conceba como algo bom ou não para mim? Recomendo inclusive um texto de Alysson publicado aqui no torto acerca do papel da música nos ambientes sociais. Creio que foi uma publicação no mês passado.

    Acredito que a gente deveria perceber o seguinte: dentro da lixeira também se encontra joias preciosas, e não apenas urubus, e cabe a nós buscarmos alternativas. Afinal, as garrafas pets, mesmo sendo entupidas de lixos na mistura quimica do refri, podem ser consumidas, e mesmo indo para o lixo, elas podem ser recicladas hehehe. Sem contudo deixar de reconhecer que dentro do lixo também existem materiais nocivos a nossa saude, afinal, mesmo consumindo a mistura quimica do refri, sabemos que ela não é a mistura saudável para o nosso corpo, assim como mesmo sabendo que pode ser reciclado, quando não, o lixo se acumula no solo, deteriorando o andamento saudavel da natureza e nos gerando horriveis consequências.

    Obrigado pelos comentários

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  8. Se há intransigência na higiene, há também no vandalismo estético. Como é repetido, tudo é relativo e pessoal. Eu creio que haja critérios: não é como o preconceito para com todo Russo alcoólatra, mas se é para ser Dostoiévski, permitamo-lo. No caso do Daniel, é uma via de desastrosa mão única.

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  9. Lou

    Cuidado para não se exceder em extremos. Quando eu digo que há intransigência no higienismo, eu não quero dizer que analisar e aceitar uma arte dita menos futil seja algo invalido. O que eu quis dizer é que podemos TAMBÉM cair no erro de sermos intolerante por negarmos outras posturas estéticas. Que há vandalismo estético, isso eu não duvido. Volto a dizer: minha observação se direciona para a questão de sabermos que dentro do mais do mesmo a gente pode colher elementos importantes para uma analise, ao invés de nos prendermos em moralismos higienistas estéticos. Afinal, nas seriedades também encontramos mesmices.

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  10. Li isso do Azenha, achei que seria válido acrescentar aqui:

    "Vivemos numa sociedade crescentemente midiatizada, que submete o conteúdo à forma, o íntimo ao público, a razão à emoção. É o narcisismo coletivo e instantâneo. Chocar para aparecer ganha ares de expressão artística. Nunca vivemos nada parecido antes no campo da comunicação de massas."

    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=624JDB010

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  11. Lou

    Não acredito que seja a sociedade midiatizada que provoque tudo isso. O que nós devemos refletir é sobre o que levou a midia a assumir tamanho poder na sociedade e trazer todos esses aspectos. Ou seja, será que ja não havia uma predisposição cultural em aceitar essas relações invertidas consolidadas pela midia? Tanto é que se não houvesse a predisposição, a midia não teria força em submeter essas relações observadas por Azenha.

    "Chocar para aparecer ganha ares de expressão artística."

    Ridículo!!!! A arte sempre teve uma natureza chocante aos olhos da sociedade. Não é o contexto midiatizado que faz com que o artista busque chocar para gerar expressões artísticas.

    abraços

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  12. Certo. Mas convenhamos que com a massmidia as exigências e os critérios são fraquíssimos. Hoje é mais fácil encontrarmos "qualquer coisa" tornando-se referência popularizada. A igreja, outrora, por exemplo, conseguia isso; até mais, censurando a ciência, coisa que a TV não faz (diretamente, mas indiretamente, omitindo e substituindo por efemeridades). Mas é fato que tanto ela quanto o Daniel (já que se fala dele) são casos de proliferação de assertivas estúpidas ao alcance de um grande número de pessoas sem critérios, por assim dizer.

    De toda forma, é um assunto polêmico do cabrunco.

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  13. Lou,

    Não sei se qualquer coisa. Eu só acho que atualmente os canones são mais vulneráveis e com o acesso mais fácil a informação, o que antes se era dificil de encontrar, hoje se encontra com mais facilidade e de forma mais rápida. Não acho que seja por que a midia simplesmente torna as coisas efemeras.

    Também não acho que a arte hoje em dia seja de menor critério. Se voltarmos a história da musica por exemplo, veremos que o maxixe foi recriminado e foi considerado como algo sem muito critério, assim como o lundu, o samba, o blues dentre outras coisas. O que torna as coisas válidas ou não é o tempo e não a coisa em si.

    O que acontece é que infelzmente tudo aquilo que tende a ser consumido com maior frequencia por setores mais periféricos da sociedade tende a ser considerado ridiculo, mau gosto, sem critério.

    Só para concluir: o que é que você determina como algo feito de assertativas estúpidas ao alcance de pessoas sem critérios? Que eu saiba, a banda Velhas Virgens é um tipo de música ouvida e consumida geralmente por pessoas ditas inteligentes ao cubo das universidades com muitos critérios, e sinceramente não vejo grande diferença entre o repertório das Velhas Virgens com a letra "Só paro se cair" de Daniel Peixoto.

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  14. É, digamos que eu tenha meus próprios critérios e que sejam demasiado elitistas, então... =)

    Todavia, daqui da Torre de Marfim, não representamos uma maioria, ainda que divirjamos.

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  15. Lou

    Com certeza que não representamos uma maioria. A nossa forma de olhar, independente de se assemelhar ou não, é nitidamente construida de acordo com um repertório teórico mais explorado.

    Também não vejo você como um elitista. Eu encaro você como um cara que as vezes tenta classificar o gosto e os consumidores, como se motivações e identificações fossem coisas que pudessemos colocar em um termometro ou em uma forma. Apesar de enxergar seus discursos dessa forma em alguns momentos, eu também não vejo você tão preso a classificações. Seu torto. Contudo, há de se reconhecer que em se tratando de parametros estéticos, você consegue ser capaz de visualizar uma regua que eu não consigo.

    abraços

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  16. Herança do metal, que é mestre em elencar pela técnica e pela estética o bom e o ruim, talvez.

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