Principalmente nas chamadas semanas de provas do ensino médio, encontramos com uma certa freqüência, aqueles velhos e conhecidos alunos que não se encontram preparados para fazer a prova e tentam levar os famosos pedacinhos de papel com anotações referentes ao conteúdo da avaliação. Esses alunos são conhecidos como colões e em geral as escolas agem de forma punitiva em relação a eles.
Como professor, sei que muitos leitores podem achar o titulo e o conteúdo deste texto extremamente irresponsável, mas sou contra a punição que fazem acerca da cola. Porém, como um cara que adora se afogar e se salvar nas ondas bruscas do oceano torto, também compartilho da proibição do ato da cola. Para esclarecer esse paradoxo, resolvi trazer ao leitor passo a passo de minha argumentação.
Primeiro: por que sou a favor da proibição da cola? Se pensarmos a cola como um tipo de comportamento considerado proibido ao regulamento institucional, acredito que é importante cobrarmos determinadas condutas aos alunos, uma vez que a proibição ensina o discente a ter limite diante de seus atos, e para vivermos em sociedade, gostando ou não, temos que aprender a tolher o nosso excesso de liberdade.
Segundo: por que sou contra a proibição da cola? Gostaria de me prolongar mais nesse ponto. Para começar, gostaria de falar do discurso que construímos acerca do ensino médio. Sempre mostramos aos alunos que o ensino médio é a ponte para o ensino superior, porém, sabemos que as universidades prezam pela pesquisa, e para se fazer pesquisa, precisamos de várias fontes para fundamentar nosso conhecimento.
A partir do instante em que proibimos a cola, nós não exercitamos o aluno à pesquisa, e, portanto, ao ensino superior, pois não há como se fazer pesquisa sem exercitarmos o ato de recorrermos às diversas fontes para elucidarmos nossas questões. Quando proibimos a cola, empobrecemos o aluno por limitá-lo a uma fonte restrita ao livro geralmente indicado pela escola. O aluno não pesquisa, guarda o conteúdo e faz a prova.
Quando proibimos o aluno de ter acesso a outras fontes, não estamos possibilitando um bom aprendizado, pois não há um bom aprendizado sem vários pontos de vista contradizendo e enriquecendo determinado conteúdo. Enfim, estaremos apenas limitando o aluno a reconhecer a grandiosidade do conhecimento, pois ele passa a acreditar que o entendimento acerca da disciplina se reduz ao fazer bem uma prova.
O aprendizado só surge através do intercâmbio estabelecido pelos sujeitos com outros sujeitos, pois são deles que surgem as negociações, os conflitos, e, portanto, novas questões. A proibição da cola só amputa a possibilidade do aluno reconhecer a importância de saber dialogar com o outro aluno, visto que o discente não percebe que o aprendizado se enriquece a partir do instante em que ele dialoga com diversas realidades.
Os educadores insistem em mostrar aos alunos a importância de se viver coletivamente, mas a partir do momento em que se proíbe a cola, estamos proibindo o aluno de exercitar a prática de aprender a conviver com os outros, afinal, proibir a cola é perpetuar a velha idéia do cada um por si, mantendo assim, o modelo do individualismo tantas vezes criticado por eles.
Claro que esse tipo de cola defendido por mim, não é a cola que leva o aluno a simplesmente reproduzir uma determinada questão por simplesmente não encontrar outro caminho para responder uma prova. A cola que eu defendo, é a cola sem seu sentido pejorativo, ou seja, a cola que possibilita o acesso do aluno à prova do colega por ser uma cola não no sentido de ser copiada, e sim por implicar trocas de informações.
Acredito na cola que faça o aluno se reconhecer como um indivíduo participativo e crítico, e não na cola individualista que serve apenas para a ambição do aluno dito “melhor’ querer perpetuar seu prestigio na hierarquia, e por concorrência, não cooperar com o outro; e o dito aluno “pior” ter que optar pela falta de sinceridade com o educador, ao invés de estabelecer uma relação amistosa e amiga com ele.
Eu colei bastante nos tempos de escola. Doces tempos...
ResponderExcluirEu só colava em último caso. Mas sempre fui um nerd do fundão.
ResponderExcluira única vantagem em proibir a cola é q ficamos mais espertos. Criamos inúmeras estratégias para burlar a lei. Nesse sentido- para alguns q se prezam a isso- nos tornamos mais criativos ao adotar o famoso "jogo de cintura".
ResponderExcluirFazer uma cola, necessita de um processo. De início- momento anterior a prova.
Meio- no instante da prova- aí é que necessitamos de habilidade para q o professor não nos veja colando.
Fim- o exito por colar. A nota q almejamos.
adorei tal comentário, "Quando proibimos a cola, empobrecemos o aluno por limitá-lo a uma fonte restrita ao livro geralmente indicado pela escola."
bjo
Maira,
ResponderExcluirPois é. Reconheço que esse seu olhar abre brecha para repensarmos outras possibilidades de ganhos com a proibição da cola. No entanto, infelizmente esse ganho perpetua apenas exercitar um jogo de cintura tendencioso a buscar alternativas para aquilo que a instituição classifica de errado.
Com esse seu comentário fiquei a pensar acerca de algumas coisas, e uma delas foi a questão referente à corrupção. O mais cômico é que a educação diz querer formar cidadãos responsáveis e éticos, ou seja, uma geração de indivíduos comprometida, mas a partir do momento em que enxerga a cola como um instrumento que serve apenas como algo punitivo e não como um diálogo, a própria escola instiga o individuo a lidar com a educação de forma corrompida
Enfim, a proibição possibilita com que o aluno apenas reelabore sua postura desviante diante da estrutura, e não o requestionamento acerca de sua condição diante da estrutura, uma vez que geralmente as instituições educacionais não estabelecem um diálogo com os alunos acerca dessa punição da cola.
sim, é verdade. A cola nada mais é que uma estratégia que infringe a lei. Acredito que ela traga mais benefícios que as propostas que a instituição prega. A gente estuda para marcar pontos como se isso fosse avaliar o nosso conhecimento. Enfim, vejo q a cola e corrupção, como vc demarcou, se assemelham. E vejo a partir disso, que essa postura reflete a própria decadencia da instituição. A fragilidade política da educação que se estende em outros ramos, incluindo a deslavada politicalha brasileira.
ResponderExcluirbj