quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Biológico x Simbólico - Freud e a Teoria das Pulsões

Olá, colegas! Trago-lhes aqui uma contribuição acadêmica no sentido de debater um tema recorrente no Torto, as questões que envolvem um homem biológico x simbólico.

Temos em relação ao sujeito afetivo grande colaboração da psicanálise acerca desta “fronteira”. Esta contribuição é melhor visualizada no conceito de pulsão dentro da metapsicologia freudiana.

Segundo Freud (1924), "a teoria das pulsões é a parte mais importante da teoria psicanalítica, embora, ao mesmo tempo, a menos completa". Trata-se de outro conceito que traz consigo as famosas e intrigantes questões de constatação fenomenológica que envolvem toda a psicanálise.

Nas palavras de Laplanche e Pontalis (2001), pulsão é um "processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal ( estado de tensão): o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir sua meta". A pulsão é, de uma maneira geral e na sua dinâmica, um vetor entre o psíquico e o físico, este vetor é, mais exatamente, o representante psíquico da excitação somática.Quando constituímo-nos sujeitos e passamos ao mundo significado, a pulsão se torna o representante das necessidades oriundas da ordem natural. Garcia-Roza (2003) nos fala da pulsão sexual, por exemplo, que esta "não visa a reprodução, mas a satisfação. O mínimo que podemos dizer da sexualidade humana é que ela não é natural, mas que se encontra necessariamente submetida ao simbólico. É do corpo submetido ao simbólico que Freud nos fala e não do corpo enquanto "natural" ou biológico".

As dificuldades de compreensão deste conceito se dão por várias razões, uma delas reside na tradução feita por Strachey do vocábulo alemão Trieb para o inglês Instinct, o que levou alguns a uma conjetura biologista. Esta conjetura se baseia no fato de que para a própria teoria psicanalítica, segundo Garcia-Roza (2003), "a pulsão se apoia no instinto não para confundir-se com ele, mas para desviar-se dele. A pulsão é fundamentalmente uma perversão do instinto. Essa perversão se dá por uma desnaturalização deste último na medida em que ela se desvia de seu objetivo natural, que é a autoconservação". Ou seja, para a prória psicanálise, o instinto está para a ordem natural, enquanto as pulsões, como já discutido, atuam na fronteira entre esta ordem natural e a ordem simbólica. Esta articulação entre natural e psíquico, aliás, também constitui um assunto particularmente complexo.

O funcionamento da mecânica pulsional é explorado por Freud num artigo de 1915 intitulado Os instintos e suas vicissitudes. Neste artigo, Freud destaca alguns elementos acerca da pulsão, como a força pulsional (Drang), que é constante e que se faz motor da pulsão, impelindo o organismo para o ato específico responsável pela eliminação da tensão. A finalidade ou objetivo da pulsão é, com certeza, a satisfação, uma vez que o aparelho psíquico age de acordo com o princípo do prazer, e este consiste no menor estado possível de tensão. Há também o objeto (Objekt) em relação ao qual ou através do qual o instinto consegue alcançar sua finalidade. A fonte (Quelle) da pulsão é somática e provavelmente seja proveniente de um órgão ou alguma parte parte de um corpo sexualizado pelo Outro.

Os possíveis destinos da pulsão são a transformação no contrário, o retorno contra o próprio sujeito, o recalcamento e a sublimação. Segundo Freud (1915), "As vicissitudes pulsionais que consistem no fato de a pulsão retornar em direção ao próprio ego do sujeito e sofrer reversão da atividade para a passividade, se acham na dependência da organização narcisista do ego e trazem o cunho dessa fase". A sublimação, segundo Laplanche e Pontalis (2001) é um "processo postulado por Freud para explicar atividades humanas sem qualquer relação aparente com a sexualidade, mas que encontrariam o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual. Freud descreveu como atividades de sublimação principalmente a atividade artística e a investigação intelectual. Diz-se que a pulsão é sublimada na medida em que visa objetos socialmente valorizados". Ou seja, é elevar o objeto à dignidade de coisa.

Ainda na teoria das pulsões, Freud descreve duas pulsões antagônicas, Eros, a pulsão relacionada à preservação da vida, e que engloba também as pulsões sexuais, e a pulsão de morte, Thanatos, que, segundo Laplanche e Pontalis, "designa uma categoria fundamental de pulsões que se contrapõem às pulsoes de vida e que tendem para a redução completa das tensões, isto é, tendem a reconduzir o ser vivo ao estado anorgânico. Voltadas inicialmente para o interior e tendendo à autodestruição, as pulsões de morte seriam secundariamente dirigidas para o exterior, manifestando-se então sob a forma da pulsão de agressão ou de destruição".

A pulsão de morte pode ser interpretada também como essencial para a evolução da vida do sujeito em todos os seus aspectos. Por exemplo, para que se tome a pulsão de vida que o faria empreender uma submissão a um concurso público que o levaria a uma situação financeira melhor, o sujeito antes sofre a ação de uma pulsão de morte, que o faz sentir-se insatisfeito com a sua condição anterior.

REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigmund, volumes VII, XX e XIV, Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas, Imago Editora.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo, Introdução à metapsicologia Freudiana, Jorge Zahar Editor, 2003.
LAPLANCHE E PONTALIS, Vocabulário de Psicanálise, Martins Fontes, 2001.

13 comentários:

  1. Não sei se entendi direito. Passei o olho rápido e fiquei intrigado com uma questão, ela me ocupou tanto a cabeça que não consegui ler com total concentração, até por que tou no meio de uma aula aqui de Fotojornalismo. A questão é a seguinte: "não visa a reprodução, mas a satisfação. O mínimo que podemos dizer da sexualidade humana é que ela não é natural, mas que se encontra necessariamente submetida ao simbólico. É do corpo submetido ao simbólico que Freud nos fala e não do corpo enquanto "natural" ou biológico".

    Creio que o fato de obtermos alguma gratificação, satisfação, prazer do caralho é um mecanismo do fenômeno de reprodução, inclusive não só do gênero humano, mas dos Outros. Portanto, não artificial. Artificial seria se nós fizéssemos isso visando a reprodução pura, isso seria estranho. Um cão se esfrega em nossas pernas em busca de satisfação, não é? Ou seria uma deformação em seu comportamento por estar em condições anti-naturais?

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  2. Não, Igor. Ninguém falou em "artificial", trata-se da dimensão simbólica que está para o ser humano. E o autor está se referindo à pulsão, ou seja, à perversão do instinto pela ordem simbólica, e aí então uma sexualidade (do ponto de vista freudiano).
    Garcia-Roza quer se referir a uma sexualidade (necessariamente significada), e esta, freudianamente, não se resume ao coito com o fim imediato de reprodução. Faz-se importante, pra apreender melhor o que ele quer passar, observar com mais cuidado a parte em que ele se refere às pulsões como uma "perversão" do instinto, pois este iria, por exemplo, no sentido de hidratação, enquanto a pulsão poderia ir no sentido de única e exclusivamente uma coca-cola, ou seja, nossas "necessidades fisológicas" estariam, grosso modo, submetidas ao simbólico.
    Alguns animais não-humanos se masturbam (se foi isso que vc quis dizer) mas não trazem ao ato sexual qualquer tipo de ritualização (entenda-se aqui ritual não como o ritual de acasalamento, pois este visa selecionar o mais forte/apto à reprodução,s endo assim um fenômeno sem modificações no tempo e no espaço, mas sim o ritual do simbólico, o construído culturalmente) de fetichização, enfim, na visão de Freud, não estão submetidos ao simbólico ao ponto de se tornarem sujeitos. Mas, apesar de estar apenas apresentando um conceito freudiano, eu discordo frontalmente do que você colocou, como se o impresso na programação genética fosse o gozo do sexo e não a reprodução. Seria um erro grosseiro do ponto de vista da evolução. Um animal ao se masturbar está partindo de sua programação genética que o impulsiona, sim, à mera reprodução. Não se tem notícias de um cachorro que se senta no vaso pra puxar uma carga de significantes (a mulher do vizinho, a tia etc.) para satisfazer uma pulsão e, diga-se de passagem,quando um totó se masturba nas suas pernas ele descarrega aquela tensão reprodutiva de maneira aberta, mais uma prova de sua não-ritualização. Aliás, já ouviu falar em cio?
    Enfim, o que quero que fique bastante claro é que não se trata de uma sexualidade "artificial", apenas de instintos pervertidos. Uma bola chutada para o gol e desviada por um zagueiro, acertando então a trave, é a mesma bola, apenas sofreu uma perversão no seu sentido.
    Os sujeitos, ao menos os neuróticos, constróem finalidades e impõem condições culturalmente introjetadas até mesmo à reprodução. Aliás, talvez não tenha ficado claro que para Freud quando se fala em sexualidade, está se falando em dimensão simbólica. O homem poderia viver meramente para o coito com a finalidade exclusiva da reprodução, mas, desde que se entrou na cadeia dos significados, passando então a uma sexualidade e não a uma programação genética não o faz. Pelo contrário, ele precisa ritualizar o local em que realizará o coito, geralmente escolhe seu par através das prioridades estéticas de cada cultura e uma infinidade de outros exemplos do simbólico em torno da sexualidade humana.

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  3. Enfim, é lógico que se pensarmos que há uma busca de satisfação por parte do animal, a resposta será positiva no sentido de que a maneira de o instinto agir no sentido da reprodução (do ponto de vista evolucionista a autoconservação da espécie) é sobrecarregando de tensão o animal que buscará a descarga.

    mas o que Garcia-Roza informa é um pressuposto lógico. Ora, se o instinto sofreu a perversão, ele mudará seu objetivo. Creio que o filme "A guerra do fogo" mostre uma suposição de como era o ato sexual na pré-história. Se atendêssemos apenas aos nossos instintos, se não o significássemos, o estuprador não se incomodaria em estuprar uma vítima na cara de um batalhão da choque.

    Você pode até dizer "sim, mas no fundo o que está gritando no ser humano é tb o instinto de autoconservação", e ninguém está dizendo o contrário, apenas está se afirmando que este instinto se submete à dimensão simbólica gerando assim uma pulsão, da maneira que já foi cansativamente exposta. Ou seja, há aqui uma sexualidade, com sua carga de fetiches e restrições culturais e não uma mera busca por reprodução.

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  4. "Creio que o fato de obtermos alguma gratificação, satisfação, prazer do caralho é um mecanismo do fenômeno de reprodução, inclusive não só do gênero humano, mas dos Outros."


    Acredite, dizer que é uma gratificação, uma satisfação etc. já um juízo de valor. E afirmar que é fenômeno já é relegar à dimensão simbólica. O animal não constrói juízo de valor em relação a esta descarga de tensão. Aliás, como já disse, esta tensão é meio que a programação genética encontrou de impelir alguns animais com terminações nervosas apuradas à reprodução. Aliás, um ponto bom pra discutirmos, já ouviu falar que mijar depois de um xixi preso é orgasmático?

    "Artificial seria se nós fizéssemos isso visando a reprodução pura, isso seria estranho. "

    E quem disse que a reprodução estaria "depurada" se não houvesse o que você denominou "Prazer do caralho"? Peraí, ela é intríseca ao ato ou foi Deus que a colocou como um adorno para que o ato sexual não ficasse "artificial" (que, aliás, da maneira que vc colocou soou como 'frio').


    Enfim, sempre colocações mt pertinentes as suas, espero que desenvolva e refute minhas colocações pra que possamos travar uma dialética aqui!

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  5. Obrigado pelo esclarecimento. Mas, o que eu achei equivocado, se é que eu entendi bem a exposição dos conceitos, foi no 5° parágrafo onde o autor afirma que a pulsão se desvia do instinto por que visa a satisfação e não a reprodução. Não acredito que isso seja uma distorção do ato sexual, mas parte fundamental e responsável por esse fim. Nenhum ser vivo copula com intuito de ter filhotes, não a nível consciente. Mecanismos biológicos nos preparam, incentivam, induzem a tal através do prazer, do sensual. A satisfação é artifício da reprodução e não um desviante, muito pelo contrário. O que seria um desvio na minha reles opinião, seria a seleção artificial e os valores estéticos e culturais que influenciam todo o processo como você bem disse.

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  6. Obrigado pelo esclarecimento. Mas, o que eu achei equivocado, se é que eu entendi bem a exposição dos conceitos, foi no 5° parágrafo onde o autor afirma que a pulsão se desvia do instinto por que visa a satisfação e não a reprodução. Não acredito que isso seja uma distorção do ato sexual, mas parte fundamental e responsável por esse fim. Nenhum ser vivo copula com intuito de ter filhotes, não a nível consciente. Mecanismos biológicos nos preparam, incentivam, induzem a tal através do prazer, do sensual. A satisfação é artifício da reprodução e não um desviante, muito pelo contrário. O que seria um desvio na minha reles opinião, seria a seleção artificial e os valores estéticos e culturais que influenciam todo o processo como você bem disse.

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  7. Eu aprecio muito o trabalho desse rapaz, josué. Embora ele seja ainda muito noviço na psicanálise, está ouvindo o galo cantar e não sabe onde. O que se torna comigo é o debate. os debatentes nada entendem do assunto e querem debater. É a velha baixaria desse movimento de vcs. Sabe o que vcs devem fazer? Estudar...

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  8. Só para acrescentar: Minha pulsão é dizer que este torto de vcs, não passa de um movimento conservador e que vcs passam o tempo produzindo abrobinha para aparecerem na mídia. Vcs não têem a menor credibilidade. kkkkkkk

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  9. O mínimo que podemos dizer da sexualidade humana é que ela não é natural, mas que se encontra necessariamente submetida ao simbólico. É do corpo submetido ao simbólico que Freud nos fala e não do corpo enquanto "natural" ou biológico".

    eu não disse, o cara nada sabe do assunto e quer da opinião. Meu amigo, se toque, você é um idiota nesse assunto, melhor é ficar quieto, babaca...kkkk viva o torto reto...O que sai do reto?

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  10. Hahahaha!!!! Muito pertinente a sua colocação. Esclarecedora! Se em algum momento eu tive um erro de interpretação, me desculpe por te ofender. Se eu desconheço o assunto abordado, você tem absoluta razão. Nem por isso deixei de me aventurar nessa leitura, inclusive para aprender. É através de um diálogo que encontramos as nossas falhas, seja ele exterior ou interior. Eu não sou do Movimento e aliás, discordo de muitos posicionamentos abordados aqui nesse espaço, inclusive quanto a própria definição de movimento. Se você espera uma resposta aos insultos, infelizmente isto não poderei lhe dar. Seria fácil demais.

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  11. Anônimo

    "É a velha baixaria desse movimento de vcs. Sabe o que vcs devem fazer? Estudar..."

    Baixaria é a sua pequena intelectuaóide de merda. Nem adianta aparecer como anonimo que nós ja sabemos quem é. Seu papo é antigo. Você, apesar de seus textos macabros, enfadonhos, sem vida, sem ironias, sem ludicidade, insiste em um modelo co saber enclausurado. Enfim, todos têm que meter um caralho de um nome para justificar uma opinião. Você é um alienado e submisso aos conhecimentos teóricos sua coisinha pequena!!! Outra coisa: quem é você pra dizer que aqui a gente precisa estudar? Você conhece o nosso dia a dia? Você sabe o que eu ando fazendo da minha vida? Olhe meu querido, eu leio porque gosto de ler, mas não leio pra me autoafirmar e empurrar uma miscelanea de idiotas cults pra mostrar que meu texto é verdade pois tem teóricos vomitando merdas que eu sou incapaz de vomitar!!! Antes de falar suas merdas muito comins de sua boca de bosta, você tem que ter cuidado para não receber comentários de volta que eu tenho certeza que seu ego de merda não gostaria de receber. Caia fora menina

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  12. Igor,

    Eu me empolgo bastante em saber que outras pessoas discordam do movimento e da ideia que aqui se faz de um movimento, até por que os leitores que tem uma frequencia de leitura aqui no site como a sua pessoa, ja deve ter percebido que, apesar do torto possuir tentativas de definições, uma coisa que ele não consegue atingir e nem quer, é uma definição precisa, pois ser torto implica em entortar e o entortar implica em movimento, mutabilidade, flexibilidade, elasticidade, etc.

    Gostaria de agradecer inclusive as suas contribuições para o movimento. Como você bem sabe, adoro seus textos e sou tão fã de suas produções que lhe fiz um convite para você escrever aqui como autor, mas infelizmente você avisou de antemão não ter disponibilidade de tempo para postar com tamanha frequencia.

    Gostaria de aproveitar a ocasião e pedir que você traga mais textos, e que traga inclusive textos que rebatam o torto, pois o torto precisa disso, uma vez que o torto adora o exercicio do se entortar.

    Quanto a questão de determinadas reações, reconheço que em determinadas ocasiões o movimento torto extrapola em seus insultos como foi o caso das replicas e tréplicas desse texto. Inclusive, se você vasculhar os arquivos deste site, verá que eu sou famoso nisso hehehe. No entanto, por acreditar no torto, vejo o torto como humano, e por ser humano, o torto sabe ser do caralho como sabe ser um perfeito ridiculo.

    Porém, reconheço que as pessoas têm que aprender a exercitar receber opiniões que venham a refutar suas ideias. Temos que aprender a admitir a incapacidade de externarmos o que queremos dizer de forma plena. As vezes essa dificuldade de aceitar a lacuna vista pelo outro, termina gerando um tipo de resposta que ironicamente, por tentar engrandecer o ego, sai com conclusões horriveis!!

    abração

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