Mete o focinho entre as gracinhas rechonchudas de qualquer shortinho. Escora o rabo no chão pra dizer coisas bonitas e fingir que não quer o osso. Lambe os caroços já chupados pelas rainhas tiranas. Fuça rosnando os cheiros de chocolate e de poupanças imensas. Arrebenta os dentes na carne desejada por querer preservar qualquer parte que lhe reste ou que lhe sobre. Papoca a cabeça do outro com um cocão, e por medo de viver a paz, ruma uma pedra em qualquer vidraça decadente humana.
É uma pena! Nem percebeu que a mulata do posto de gasolina sorriu pra ele por agradecer a preferência. Nem percebeu que a velha da esquina parecia uma velha porque envelheceu. Nem percebeu que o menino chorava por um brinquedo porque nasceu.
Olha o seu relógio, projeta o tempo e volta pra outro lugar que talvez nunca mais venha a voltar. Grita impaciente por um troco errado com uma linda senhorita que pacientemente tem que ouvi-lo. A senhorita se desculpa mesmo sabendo que ele também não está livre de seus erros, mas agüenta calada mesmo sabendo que terá que voltar pra casa, pegar a tromba, os tapas e o troco do seu macho que diz que é feliz com ela, mas que ela sente o seu sorriso se corroer em meio a fantasia inventada das belezas dos casais.
Nem mais se lembrando da senhorita, dispara um bicudo no pé da mesa do consultório, sente a pele oleosa pelo hambúrguer e pelo excesso de cevada, percebe que o corte novo do cabelo é apenas fruto do cansaço, que a barba feita ou não, não passa de uma ilusão de achar que conseguirá ser aceito pelo rebanho de um imenso latifúndio.
Acabado o dia, janta, coça a guela com a escova pra deixar a boca cheirosa, sente o cheiro do sabonete que usa pra ficar cheiroso, olha a estrada do mundo de sua janela, cai na cachaça, fica bêbado, esbagaça um vaso de vidro no chão, soca o espelho e ouve os pássaros cantarem avisando que o dia já nasceu.
Na janela de um quarto vizinho ao seu, encontra-se uma senhorita que não mais acredita no amor.
Me sinto mais proximo do que é ser humano nessas temáticas "miseráveis" do íntimo no indivíduo. O cara que angustiado com o mundo grita de forma grosseira para esconder seu lado mais frágil. Sendo que outras pessoas também sofrem e descarregam no mundo de outras formas aquilo que as angustiam, disfarçando um sorriso, que poderia ser retribuido e concretizado. Esse personagem poderia ver esses mínimos detalhes, mas os deixa passar meio que de forma egocêncentrica. Sinto nesses relações sociais uma natureza fiel e profunda do homem na sociedade. Seria esse motivo do título Vina?
ResponderExcluirMuito fodão seu o texto, adorei! abraços
um personagem perdido na imensidão da mata. mata sociedade. sociedade que mata. o urbano imerso na selvageria dos espaços, tempos e cotidianos.
ResponderExcluirUm cão- homem que age sem saber quem atravessa seu cotidiano. um cão-homem, um homem-cão. Será mesmo um ou vários? ou até mesmo um na multidão? Quantas senhoritas? a mesma que não acredita no amor? enfim, isso não importa. porque se trata de várias estórias que foram cortadas e coladas para contar apenas uma. Isso reflete um mosaico. um mosaico da mata urbana q personaliza e despersonaliza o indivíduo submerso na multidão.
Se vc pegar várias estórias e picotar ela em pedaços e depois colar, perceberá q todas até certo ponto são iguais. no entanto se diferente no instante que dependendo das pontas q podem ser coladas irá contar uma estória diferente.
uma estória fragmentada, pós-moderna, cheia de reflexos da realidade. Realidade onírica despercebida nos nossos olhos e encontros.
fantástico meu caro!
um grande beijo
Meu caro torto,
ResponderExcluirAdoro quando você aborda temáticas instigantes como essa, abraços.