quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Postura Agregante de Caetano Veloso: Estratégia ou Espontaneidade?

Agradecendo de antemão a contribuição do colega Lou, trago minha concepção sobre esta interessante questão, numa compilação de minhas respostas ao texto anterior.

Minha conclusão inicial é a de que, apesar desta mente receptiva de Caetano, vejo muito pouco oportunismo nisto. Aliás, a postura segregadora foi o que impediu os intelectualmente prestigiados de não enxergarem quem sustentava suas gravações requintadas e caprichosas na época da Odeon - os segregados artistas do Brega.

Caetano sempre esteve na contramão disto tudo, compôs sem tensões com Odair José e escandalizou a elite cultural. Sim, ver isto como uma estratégia de mercado me parece tão subjetivo quanto afirmar que isto lhe é uma postura natural, em que eu dou, aliás, muitos mais pontos a esta última assertiva, devido aos vários acontecimentos em que Caetano esteve envolvido que me vieram ao conhecimento.

Caetano foi preso na época da ditadura, exilado, causou estranheza a ponto de estar às margens do prestígio social.

Acho que o problema de se trabalhar com formas puras é a generalização. Hibridiza, logo é um estrategista de mercado. Acho que um melhor conhecimento das posturas assumidas pelo artista ao longo de sua carreira ajudasse a afastar a crítica mais fácil de todas - a preconceituosa.
Caetano não é filho de Sérgio Buarque de Hollanda,pelo contrário, teve a vivência com o popular desde que nasceu. Fala tão naturalmente do que acredita que acaba sendo algumas vezes mal interpretado, como no caso “Lula é analfabeto falando", que foi o mais recente.

Gravou Michael Jackson numa época em que o superestimado ufânico Ariano Suassuna clamava por uma purificação na cultura. Quando ferozmente criticado por este, respondeu-lhe elegantemente, reconhecendo-lhe inclusive a genialidade.

Aliás, por este grande depurador da cultura, nem o respeitado mangue beat teria existido. Justamente por apresentar características tão HÍBRIDAS. Chico Science vendeu bastante, não renegou o mercado em hipótese alguma, mas é tão festejado nos simpósios dos que criticam por criticar para afirmarem pra si mesmos que têm algo de críticos.

Mas ainda assim, há de se pensar o fato de que hibridizar para vender não seria condenável, seria-o, ao contrário, se se tratasse de mascarar tensões sociais. Esta é a faceta da hibridização que me parece altamente problemática e que certamente não é o caso de Caetano, dado seu engajamento em várias letras de sua autoria, bem como sua postura política quase sempre publicada.

Afinal, Mozart fazia música por encomenda, Villa-Lobos usava pseudônimo para vender músicas populares e Chico Buarque não doa seu imenso lucro por completo a instituições de caridade.
Por fim, tenho de forma segura que, apesar de o que Caetano está disposto a incorporar também coincida com o que se chama "comercial", creio que o faça de maneira espontânea.

Por todos os argumentos apresentados, por conhecimento dos primórdios de sua biografia, em que ele ficava vislumbrado com Caubi Peixoto, Luiz Gonzaga entre outros. E tudo isto somado ao fato de que, apesar de não possuir dados estatísticos, o que vi no olhômetro em seu último show foi muito de indiferença, muito de reação negativa e bem pouco de positiva ao fato de ele ter aberto o show com uma música de Psirico. Dançou no momento desta música (inclusive o Kuduro), divertiu-se nítida e intensamente no que me pareceu um êxtase sincero de sua sensibilidade.

Ainda que ele esteja agregando maior público por causa disto, não acho que seja estratégico. Aliás, compartilho um bocadinho desta biografia, pois no meu caso, em particular, dos meus 23 anos de idade, dez deles estão amalgamados com o envolvimento direto com a música clássica, chegando, inclusive, aos 14 a incorporar o coro que cantou trechos de ópera na inauguração do Teatro Tobias Barreto. Ainda assim, tenho em minha biografia recente a regularidade em ouvir Leandro e Leonardo, em pagar para ir a um show de Calcinha Preta e Calypso, a ter descoberto recentemente o Zouk e fazer dele até mesmo inspiração para composições, não obstante suas letras água com açúcar etc. Tudo isto me faz lembrar momentos de minha formação enquanto criança, faz-me ter momentos altamente nostálgicos da vivência com familiares etc.

Ademais, penso que um artista já consagrado até mesmo internacionalmente, há muito tempo já regravado por artistas popularíssimos, na figura-mor de Roberto Carlos, tenha muito pouco motivo para fingir ser o que não é pra ver se ganha mais espaço na mídia.

4 comentários:

  1. Nunca entrei no mérito dessa crítica que se faz a Caetano Veloso. Tangerine Dream agregou às suas músicas elementos eletrônicos e ficou ótimo. Há, por aí, verdadeiras misturas que também são ótimas. A crítica que fazia, sobretudo no período em que me inclinei loucamente ao marxismo cultural, diz respeito ao significado do que se agrega e em que ocasião é agregado. Embora não me contente, procuro naturalizar essa propensão pop de Caetano, afinal pode ser que ela seja o incremento principal de sua estética. Acho que os fãs dele deveriam fazer o mesmo, deixando os desafetos do baiano se morderem. Mas entre um e outro grupo há muitas paixões.

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  2. Numa hipótese, independente de ele ter sido espontâneo ou não, ele sabia quem era Odair e Roberto. A espontaneidade, de certa maneira, se fazia mouca perante um fator econômico que conflitava com um fragmento de seu eu ideológico (o lucro advindo de um público "assumidamente conformado, ainda que explorado"), dentre outros, e aí se inclui o artístico. Não discordo de que a legitimidade tenha muito mais a ver com o ímpeto individual do que com uma interpretação de esquerda do contexto sociopolítico em voga no período em que tal ímpeto foi invocado, mas não descarto que Caetano, sendo quem era, soubesse o que estava a fazer e as opiniões que daí derivaria, importando-se, concordando, ou não, com elas.

    Por favor, é tão só uma sugestão. Nada de absoluto.

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  3. Quem fala bem sobre Caetano é Tom Zé.

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  4. Acho que de certa forma Lou tem razão. É como eu descrevi no comentário que fiz ao texto dele sobre a sociedade de consumo. Ou seja, há realmente uma tendencia atual em querer associar hibridação como marketing. Entretanto, sabendo da longa história de Caetano na música brasileira, eu não o vejo com essas intenções. Óbvio que ele pode a partir dessa postura dele, projeta-se no mercado, mas Caetano em si, realmente o que vejo é uma personalidade de perfil crítico, independente, requestionador dos modelos viciados e quebra rapidamente discursos simplistas que soam como armas criticas e cults.

    Realmente: em um país no qual tudo se cópia, não deixando escapar sequer a intelectualidade colonizada, comportamentos como os de Caetano tendem a agredir aos valores limitados e maniqueistas da juventude academica brasileira que me enche de orgulho com seus ares e discursos muitas vezes apressados e mal interpretados da Escola de FrankSTEINfurt.

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