segunda-feira, 11 de julho de 2011

Música e excesso de metáforas II

Esta semana uma leitora fez uma crítica ao meu texto “Música e excessos de metáforas”. Para essa leitora, o texto trouxe algo de forçado, uma vez que para ela, os pontos que eu propus discutir não estavam fazendo ligações com minhas argumentações. Acredito que isso possa ser verdade, até por que eu tenho que confirmar que minhas idéias acerca desse tema ainda estão embrionárias. Entretanto, nesta semana eu vou ver se consigo esclarecer meu pensamento.

Antes eu faço questão de reiterar acerca de minha definição do que seja o setor médio. Para mim, é o setor que não detém grandes capitais econômicos, mas também não sofre de forma extrema as exclusões sociais, assim como sofrem os setores periféricos da sociedade. Enfim, é um setor que vive transitando entre um lado e outro, uma vez que, se por um lado ele não faz parte da elite, também não é pobre, e por outro, se não é marginalizado como os pobres, também não é rico.

Recebi uma observação acerca da heterogeneidade dos setores médios universitários. Porém, não é minha intenção questionar se outras músicas são consumidas pelo setor médio, e sim o porquê da MPB ter esse setor como o seu principal consumidor, afinal, apesar de haver uma heterogeneidade, a MPB ainda se faz presente nele. A diferença é que novos artistas da MPB passaram a ser consumidos como Paulinho Moska, Lenine, Ceumar, dentre outros.

Preciso dizer que para mim, apesar da heterogeneidade, não há como desvincularmos a música do contexto social de seu público. A forma como determinado grupo social se comunica com seus membros, como se relaciona com o mundo, a forma de falar, de traduzir sua realidade, são fatores importantes para a relação de identidade que esse grupo estabelece com determinada música e é a forma como ele vai se ver assemelhado a determinadas canções.

Como a música reflete o contexto de seu consumidor, para mim, a MPB é a ambigüidade do setor médio refletida nas canções, visto que a MPB geralmente não se expressa de forma fácil de ser traduzida. Isso reflete a condição do setor médio, uma vez que, por se encontrar na posição intermediária da pirâmide, esse setor se expressa de forma indireta para não prejudicar os seus interesses, nem os interesses antagônicos que ele tem que integrar no seu jogo político.

Só para confirmar que a MPB reflete essa condição ambígua dos setores médios, o discurso que costumamos ouvir de seus artistas e consumidores é que a MPB é uma música preocupada com a realidade social, ou seja, uma música em defesa dos setores periféricos da sociedade; mas por outro lado a MPB é valorizada pelo seu requinte vocabular e melódico, ou seja, uma música que se distancia do povão e se aproxima da estética elitista da sociedade.

É por isso que para mim, essa forma de expressão ambígua da MPB e do seu consumidor ao se referir a MPB nada mais é do que a forma como geralmente o setor médio tenta se expressar e negociar com os demais setores. Ou seja, um setor que faz aliança com o setor periférico porque igual a ele, não possui a riqueza material, mas faz aliança com a elite, pois, por não ser um setor tão marginalizado como o setor periférico, usufrui-se do prestígio social.

Portanto, a MPB é a música que traz aquilo que a elite classificou de requintado, mas pelo setor médio também se aproximar do povão, esse tipo de música só é legitimado por ele por trazer questões que falam da violência e da exclusão vivenciadas pelos excluídos, os quais ironicamente ouvem em seus cotidianos as músicas classificadas pelos seus companheiros dos setores médios de ridículas, de chulas, de mau gosto, dentre outras palavrinhas a mais de amor.

Um comentário:

  1. Vina,

    Concordo com cada vírgula do seu texto. E acrescento ainda o fato de ser imposta pela mídia através das suas diversas vias nestas classes sociais.

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