segunda-feira, 4 de julho de 2011

A favor da militância

Por eu costumar tecer muitas críticas em relação à militância, quem costuma ser apressado em suas reflexões, tende a me classificar de direitista dentre outras adjetivações. Entretanto, apesar de eu já ter pedido cuidado com as interpretações que essas pessoas fazem acerca de minhas idéias, eu vou mostrar o porquê que eu não me vejo como um anti-militante, mas sim um crítico que termina por desacreditar nessa militância.

Como eu disse, não sou contra a militância. O que eu sou contra é a forma como os ditos militantes acreditam que vão atingir seus objetivos. Para mim, um dos erros da militância é ficar tentando agregar multidões insistindo em acreditar na totalidade em meio a um contexto recortado por múltiplas formas de interesses. Para mim, esse tipo de militância é do tempo onde as diferenças de interesses não se faziam tão plurais como atualmente.

Essa necessidade pela totalização faz com que haja uma necessidade entre os militantes de levantarem bandeiras e o cidadão fora da militÂncia é que termina prejudicado, pois quando se pensa o movimento político como totalização e bandeiras, há a intolerância de um grupo em relação aos outros que possuem princípios ideológicos diferentes. Nesse caso, a militância, antes de representar os interesses coletivos, torna-se uma arena de disputas de grupos que se encaram como oponentes e não como universos que por serem diferentes, podem contribuir com novas questões e elaborações de novos projetos.

Também não acredito na forma como a militância enxerga a mudança na conjuntura social. Não acho que se é quebrando uma estrutura da noite para o dia que as coisas funcionam. Antes, faz-se importante reeducar hábitos e valores que foram se relacionando com essa estrutura, do contrário, repetiremos o esquema das dietas mágicas que fazem o indivíduo perder 30 quilos em 15 dias e depois o “magrinho” engorda mais 40 quilos semanas depois! Ou seja, quebra-se as estruturas, mas por não quebrar o hábito, a estrutura anterior termina voltando.

Outra crítica que faço à militância diz respeito a esse imediatismo. É muito estranho perceber que um dos grandes valores da sociedade de consumo tão criticados por eles que é o imediatismo se faz revelar em seus discursos. Outro ponto que eles criticam, mas que reproduzem, é o de encarar a política como propriedade privada e não como bem coletivo. Isso a gente vê quando os militantes levantam bandeiras para seus partidos, esquecendo-se de que a política é algo que deve se voltar para o interesse público.

Por isso que para mim, os militantes devem reconhecer que por mais críticas que se possa haver em relação ao capitalismo, eles também possuem valores capitalistas incorporados. Eu acho que a militância também deveria reconhecer a diversidade de interesses no contexto atual; acabar com essa idéia de dogmatismo ideológico e se abrir para a diversidade de opiniões de outros grupos ao invés de se prender nessa concepção de grupo fechado e homogêneo, para que assim se possibilite um olhar mais complexo e mais crítico acerca das injustiças (e que não são poucas) provocadas pela conjuntura atual.

Caso os militantes tenham de fato o objetivo de alterar a realidade, eles não podem se perder nessa doutrinação mofada e parada no tempo. É importante a militância fazer uma leitura mais crítica da realidade, re-atualizando o seu discurso, pois querendo ou não, o contexto é outro. Quando a militância me provar ter atingido uma postura mais madura e menos birrenta, pode contar com o meu apoio torto, pois estarei disponível. Do contrário, preparem-se para mais críticas.

10 comentários:

  1. Como sempre seu texto bem explicativo. Tao explicativo quanto as defesas que vc faz no seu ideal identitario de torto. O que me parece ser: Um ser torto sempre muito maduro e provido de inumeras respostas,quase um dono da razao, ou ate mesmo, um super eu desenvolvido, capaz de analisar quem faz pontuacoes apressadas a sua pessoa, ou melhor, as suas questoes ditas "conservadoras".
    quanto as questoes que vc expoe sobre militancia "mofada" e presa as conjuturas um pouco anacronicas, digo que vc foi extremamente maduro. A militancia e interessante qndo coloca as questoes que possam ser pensadas pelas suas diversas ramificacoes e ambivalencias.

    um bjao

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  2. Maí,

    "Um ser torto sempre muito maduro e provido de inumeras respostas,quase um dono da razao"

    Vixe, essa adjetivação foi grandiosa demais para um ser confuso e cheio de lacunas como eu rsrs. Vamos dizer assim: acredito que sou torto por saber que minhas verdades não são infalíveis nem que as minhas certezas são eternas. Por isso mesmo eu pelo menos tento (apesar de ser bastante difícil), aceitar as minhas oscilantes afirmações e enxergar no outro mais uma outra lacuna que se faz viva, e por isso mesmo tento compreender que se há uma coisa que não existe nessa realidade, é alguém dono da razão e com um eu tão desenvolvido. Por admitir ser um torto, não sou tão pleno assim. O fato de corrigir as analises apressadas que fazem acerca de mim é um fato que qualquer um faz independente de qualquer coisa.

    "A militancia e interessante qndo coloca as questoes que possam ser pensadas pelas suas diversas ramificacoes e ambivalencias."

    Perfeito! Você e suas análises maduras e críticas.

    bjão

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  3. Concordo com a ideia aparentemente durkheimiana de que a moral antecederia o material como ferramenta efetiva de reforma/revolução (não que sejam a mesma coisa, mas têm o mesmo objetivo).

    Aliás, fez-me remeter àquela nossa conversa acerca do psicossomático. De fato, para mim, é mesmo necessário certo imediatismo quando a degeneração é aguda, e daí direcionamo-nos ao valor especificado (eficácia, imediatismo, instantaneidade) não como estritamente capitalista, mas que abraçaria a própria sobrevivência (tanto objetiva, fisiológica, material; como subjetiva, social, imaterial).

    Claro, não deixando de concordar, a contraposto, que, como bem salientou, o apressado come cru. O militante seria uma espécie de atolado numa areia movediça: estabana-se em prol da sobrevivência, tanto maior o alvoroço para lográ-la.

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  4. Foi o que comentei certo dia na comunidade da UFS no Orkut sobre a ocupação da reitoria: saíram vitoriosos, ao menos em tese (o reitor/ministério se comprometeram a fazer as reformas, e só acreditarei quando as vir feitas); contudo, pegando o ônibus de volta, lá estavam dois meninos negros maltrapilhos de aproximadamente dez anos, num dos bancos, aparentemente chapados de crack.

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  5. Lou,

    Concordo com a sua pessoa no quesito imediatismo. Realmente existem situações que se fazem bastante emergenciais, principalmente em um país caracterizado pela extrema desigualdade como O Brasil. A minha crítica se direciona quando esse imeditatismo implica uma visão de alteração conjuntural a qual foi se consolidando ao longo da história. Essa projeção de longo prazo, essa ideia de totalização, lembra-me os valores iluministas de possibilidade de se controlar o futuro.

    Talvez devamos pensar a moral e o material se entrelaçando, pois como você bem observou, existem situações nas quais o imeditatismo é imprescindível e a alteração imediata só ocorre por via da alteração material. Entretanto, acredito que em um projeto de longo prazo, o reexercício de uma construção moral, de uma conscientização, de um pensar acerca da importância da coletividade, deve ser semeada e intentada todos os dias.

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  6. Lou,

    Sobre essa sua observação acerca da ocupação da reitoria e dos garotos maltrapilhos, eu quero fazer algumas observações: primeiro que é por uma conquista dessas que eu não acredito que a militância seja inútil. Segundo é que é por nós encontramos outras problemáticas sociais além das exigidas na ocupação da reitoria que eu acredito que devemos começar a pensar na idéia de manifestações de forma mais categórica e circunstancial. A realidade é complexa demais, e um problema resolvido é apenas mais um diante de uma infinidade de outros a se resolver.

    Se fôssemos pensar a idéia de multidão para resolver todos os problemas do mundo, o estado ia ter que encontrar uma forma para bancar a sobrevivência dos cidadãos enquanto eles abandonam seus postos de trabalho para se dedicar exclusivamente às manifestações. Os interesses são particularizados. Cada qual luta pela sua categoria, pelas suas angustias. O que há de individualismo nisso? Olhe, diante desse mundo fragmentado e plural, devemos acabar com a idéia de associar a multidão como manifestação legitima, até por que, como nós sempre vemos, quando uma manifestação agrega milhões, ela tende a virar espetáculos, pois os interesses vão se tornando mais dispersos cada vez que os agregados vão ficando maiores.

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  7. "corrigir as analises apressadas" para um ser cheio de lacunas, nao e nada apressado. Um ser cheio de lacunas que, talvez, jamais vai expor as suas intencoes magnanimas. Para um discurso inteligente, nada mais cabivel que, de vez em quando, por as sombras o verdadeiro interesse.

    Assim faco, uma pequena barganha, dono da razao, para um simplorio ser torto, transbordado de lacunas.

    um bjao

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  8. Mai,

    "Pôr as sombras os verdadeiros interesses"

    Acho que você como uma psicóloga deve saber que o que externamos em nossos discursos são apenas feixes do que realmente queremos dizer. Não precisamos ter discursos inteligentes para tal construção discursiva.

    "corrigir as análises apressadas"

    Bom, o corrigir fica pra você. Em nenhum momento eu usei tal palavra. O que eu fiz foi expor meus pontos de vista para provocar uma revisão acerca do meu olhar para as coisas. Se eu digo que as verdades são questionáveis, que direito tenho eu de CORRIGIR? O máximo que posso fazer é de me utilizar de argumentos para tentar reconstruir determinadas concepções simplistas e cheias de psicologismos e de classismos acerca de minha pessoa kkkkkkkk.

    bjão pra você

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  9. As sombras n s frutos do dinamismo puramente inconsciente. O discurso intencional sempre e bem vindo para aquilo que nos causa desprazer, seja da ordm inconsciente ou consciente. Assim como vc discorreu sobre a militancia, e acredito que vc usou pontos sociologicos intercalando contra as pontuacoes classissistas quanto a sua pessoa, usei pontos, apenas pontos de algum conhecimento do meu terreno mais usual.
    Depois de ter escrito em defesa da militancia, devido a pequenas criticas, como defesa imediata, nao deixou de utilizar determinadas conepcoes simplistas e cheio de classismos acerca daquilo que vc julga o que eu julguei da sua pessoa.
    Tai ai, somos tortos. A relativizacao em excesso, as vezes nos causam falhas.

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  10. Mai,

    Óbvio! A totalização e a relativização em excesso nos causam falhas. Por isso que é de fundamental importância transitarmos de um lado para o outro pois todo o excesso anula o outro lado. Entretanto, mesmo transitando, o movimento faz que com perdamos algumas partes e mesmo assim deixamos nossas lacunas. Excessos e não-excessos deixam margnes a novas interpretações, pois a vida em si é um sonho e uma brincadeira na qual a cada momento inventamos novas regras como forma de evitarmos o inevitável: a falta que é nos é inerente. Por isso que volto a dizer: não busquei corrigir ninguém. Não é do direito deste homem falho e inimigo de si mesmo achar que tem o direito de corrigir alguém.

    bjão certeiro igual a sua argumentação

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