“E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão”
(Caetano Veloso, O quereres)
Nos grossos emaranhados de velo do Veloso Caetano parece haver espaço para o céu e para o chão ( desde que estes não criem problemas com a amplidão, ratifique-se).
Eis a realidade complexa de um artista que não se limita a ser arauto da contracultura, pelo contrário, abraça-a e não a toma em detrimento final do que está canonizado ou desprestigiado.
Poderia se tratar de um estilo “mãezona” ou paternalista, mas Caetano parece estar pouco preocupado em tomar as dores dos segregados e incompreendidos, antes, sim, parece ter já sobrepujado esta coisa de hierarquias, de modo que soa tão espontâneo o baiano de Santo Amaro, admirado por legitimados da estirpe de Wisnik, Luiz Tatit, Almodóvar, Torquato Neto e inúmeras figuras congêneres, chamar o líder de uma banda tão desprestigiada pela elite cultural (Márcio Victor, Psirico) de “gênio da música”.
Sim, é bem verdade que sua postura já canonizada na História recente do Brasil (um dos cabeças da Tropicália) parece a priori advogar a ruptura com os padrões socialmente legitimados de então. Mas fato é que a imensa obra deste polêmico artista mostra que a ruptura teria de vir, antes de tudo, para que o outro fosse “também” aceito e não “O” aceito. Trata-se, pois, de uma postura que antes agrega que enterra. Que antes mete no bolo, sem ultrapassar.
Estamos falando de um artista que sincretiza discursos. De alguém que assume uma postura artística híbrida. De um brasileiro preocupado com o movimento da História, prezando pelo que afeta, mas assumindo, concomitantemente, seu “saudosismo”.
Exemplo disto, aliás, esteve para quem pode ver nos shows de sua última turnê “Zii e Zie” em que Caetano nos traz a proposta do transamba, algo como uma mudança rítmica e melódica nas células consolidadas do samba. A guitarra tem mais responsabilidade, ainda que se fale de samba, que o violão, porém este ainda está lá, fraco, mas intacto. Aliás, interessante o fato de que o show desta turnê, aqui em Aracaju e em algumas outras cidades, foi aberto com Psirico e teve em seu desenrolar uma música do hiperconsagrado João Bosco, e algumas da fase tropicalista, por exemplo.
O desprestigiado, o consagrado, o incompreendido. Afetar sem apagar. Encontrar a “liberdade na amplidão”.
Em breve muitas outras considerações do gênero....
- Que pensas disso, Melchior?
ResponderExcluir- Pois é, rapaz, pra comer do mercado tem de hibridizar; mas com destreza, para não causar muita estranheza e cair no ridículo. Sabe como é: vender a alma a prestação atrai um número maior de clientes. E o produto, ora, eis o raciocínio: novos e velhos, gregos e troianos. Todavia, não se pode ter tudo.
Bem, apesar desta mente receptiva de Caetano, vejo muito pouco oportunismo nisto. Aliás, esta postura higienista foi o que impediu os caralhudos de não enxergarem quem sustentava suas gravações requintadas e caprichosas,na época da Odeon - os segregados artistas do Brega.
ResponderExcluirCaetano sempre esteve na contramão disto tudo, gravou sem tensões com Odair José e escandalizou a elite cultural. Sim, ver isto como uma estratégia de mercado me parece tão subjetivo quanto afirmar que isto lhe é uma postura natural, em que eu dou, aliás, muitos mais pontos a esta última assertiva, devido aos vários acontecimentos em que Caetano esteve envolvido que me vieram ao conhecimento.
Caetano foi PRESO na época da ditadura, exilado, causou estranheza a ponto de estar às margens do prestígio social.
Ele, aliás, antes perde ponto com os "críticos de massa", expressão do nobre colega Vina, ao assumir esta postura de trazer o que o afeta aos shows.
Acho que o problema de se trabalhar com formas puras é a generalização. Hibridiza, logo é um estrategista de mercado. Acho que um melhor conhecimento das posturas assumidas pelo artista ao longo de sua carreira ajudasse a afastar a crítica mais fácil de todas - a preconceituosa.
Caetano não é filho de Sérgio Buarque de Hollanda,pelo contrário, teve a vivência com o popular desde que nasceu. Fala tão naturalmente do que acredita que acaba sendo milhares de vezes mal interpretado, como no caso de Lula analfabeto", que foi o mais recente.
Gravou Michael Jackson numa época em que o superestimado ufânico Ariano Suassuna clamava por uma purificação na cultura. Quando ferozmente criticado por este, respondeu-lhe elegantemente, reconhecendo-lhe inclusive a genialidade.
ResponderExcluirAliás, por este grande depurador da cultura, nem o respeitado mangue beat teria existido. Justamente por apresentar características tão HÍBRIDAS. Chico Science vendeu bastante, não renegou o mercado em hipótese alguma, mas é tão festejado nos simpósios dos que criticam por criticar para afirmarem pra si mesmos que têm algo de críticos.
Chico Buarque, pai dos críticos que se dizem de esquerda, não deixou sua fortuna e suas festas em Paris em momento algum. E mesmo que crítico que é, não deixou de gravar um CD inteiro com o "hibridista de mercado" em questão, fazendo-lhe bela homenagem na hora de citar o que há de bom na música brasileira, em sua música Paratodos.
ResponderExcluirEntão, eu penso que, mesmo que de fato Caetano colocasse Psirico num patamar visível para arrecadar mais dinheiro (?!?!?!), gostaria de saber QUAL O ARTISTA CONSOLIDADO na música brasileira que tem NEGADO TODAS as estratégias do mercado.
Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas
ResponderExcluirE uma menina ainda adolescente e muito linda
Não olho pra trás mas sei de tudo
Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo
Mas eu não desejo ver o terno negro do velho
Nem os dentes quase não púrpura da menina
(pense Seurat e pense impressionista
Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda
Mas não pense surrealista que é outra onda)
E ouço as vozes
Os dois me dizem
Num duplo som
Como que sampleados num sinclavier:
"É chegada a hora da reeducação de alguém
Do Pai do Filho do espirito Santo amém
O certo é louco tomar eletrochoque
O certo é saber que o certo é certo
O macho adulto branco sempre no comando
E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo
Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita
Riscar os índios, nada esperar dos pretos"
E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento
Sigo mais sozinho caminhando contra o vento
E entendo o centro do que estão dizendo
Aquele cara e aquela:
É um desmascaro
Singelo grito:
"O rei está nu"
Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú
E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo
E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.
("Some may like a soft brazilian singer
but i've given up all attempts at perfection"
(Caetano Veloso, O Estrangeiro)
No final das contas, ninguém que fosse só crítica o tempo todo me faria bem. Talvez por isto eu me identifique com esta postura do "tempo para muito".
ResponderExcluirAliás, aqui mesmo no Torto TODOS os autores mais antigos já trouxeram textos que vão dos mais engajados aos mais egoístas...
Engraçado, Mozart fez uma das óperas mais famosas de todos os tempos - A Flauta Mágica - POR ENCOMENDA e nenhum higienista cai de pau em cima disto. Seria ele um topa tudo por dinheiro? Será que arte dele era comercial? Ou deve ser deslegitimada porque não reunia multidões em torno de uma só causa? Deve ser banida dos cânones?
ResponderExcluirVilla-Lobos se utilizava até pseudônimos para VENDER canções.
O sonho de muitos artistas renascentistas era o de tocar em cortes, vindo John Dowland a fazer músicas versando sobre uma religião que NÃO ERA A SUA, para tocar na corte da Rainha Elizabeth.
Talvez estes devam menosprezados pelos trues...
*devam ser
ResponderExcluir- Que é isso, Melchior, não está sendo demasiado objetivo, materialista, tendencioso?!
ResponderExcluir- Tanto faz. Quem ouve mais esse tal de Caetano?
O que não afeta, não merece sequer considerações iniciais... ;)
ResponderExcluirMas para responder a Melchior, agora até os que faltavam ouvi-lo, os baixinhos, caro doutor! Sabia que Xuxa acaba de gravar Leãozinho?
eaheaeaaehaeea
Certo, vamos falar de algo interessante agora. O que quer dizer com "afetar"?
ResponderExcluirPara falarmos em um campo de debate neutro, tomo simplesmente pelo que não passa indiferentemente.
ResponderExcluirSó para esclarecer, caros leitores. Eu não estou tomando as dores de Caetano Veloso, não. Apesar de ser uma postura com a qual me identifico, a analisada no texto.
ResponderExcluirSó não me convence é esta insinuação de que Caetano age desde os primórdios dos anos 70 com a filosofia do cantor Latino do "Junto e Misturado". Acho que há diferenças já especificadas aqui, com os acréscimos de que Caetano nunca se autointitulou o arauto das misturas, a fim de vender esta imagem, nunca passou a ser um artista com vendas massivas de CD's, aliás, pesquise-se a história da época da Odeon e que teve músicas do seu próprio repertório consolidadas nos meios mais e menos prestigiados intelectualmente. Veja-se o último exemplo de Leãozinho sendo gravado por Xuxa no seu DVD de vendas massivas.
E ainda que sua atitude fosse análoga à de Latino, eu quero saber se isto seria mais imoral que as posturas de Mozart, Villa-Lobos e um sem fim de artistas legitimados tal como supracitei... Enfim, a postura dos críticos do capitalismo não é uma postura que vende?
Em tempo: Caetano, apesar das críticas, é um exemplo de engajamento político tanto em suas obras (vide Enquanto Seu Lobo não vem, podres poderes e MUITAS outras), quanto na afirmação de suas ideias publicamente. Fosse para escandalizar ou para amansar.
ResponderExcluirExatamente.
ResponderExcluirUfa acabei de ler agora os comentarios, Josué escreveu um artigo aqui...hhahahahhaa Enfim, bom texto, acho que vai na veia de outros debates consagrados aqui no torto.
ResponderExcluirEsclarecendo, de minha parte, a questão do diálogo: a ideia foi trazer uma perspectiva tão só econômica, como quem invalida as tentativas de hibridização tal que formas de inclusão e tolerância, tomando-as por cínicas de antemão. Pessoalmente, acredito em tudo. Fato é que independente de toda boa vontade, os resultados são factuais, quer heroicos quer oportunistas. No mais, perdão por qualquer misunderstanding.
ResponderExcluirEntendo, Lourenço.
ResponderExcluirAliás, eu tanto entendo quanto não concordo em se tomar as "tentativas de hibridização" como cínicas de antemão. Este antemão, para mim, é preconceituoso. E no caso de Caetano, este cinismo não se aplica, sobretudo em termos de mercado, pois ele teria muito bem como ser uma coisa ou outra e ter seu público fiel. No entanto, vejo muito mais CRÍTICAS que ampliação positiva de sua figura pública.
Só seria melhor se você discorresse sobre estes "resultados factuais".
Acha, por exemplo, que Caetano é o artista "militante" da época com maior relevância, hoje, na mídia e/ou na indústria fonográfica? Se sim, como explicaria o fenômeno?
ResponderExcluirSão estes resultados que não possuo e de que gostaria, para compará-los ao discurso.
(OFF: Se eu não me engano, teve um cara dos Beatles que gravou uma música dos Los Hermanos.)
Meu caro, ainda que a resposta fosse sim (eu não tenho como mensurar, por isto não afirmarei, nem negarei), e você quisesse aliar isto à mentalidade receptiva dele, ainda assim restaria a pergunta: o que haveria de cinismo nisto?
ResponderExcluirO que viria primeiro: o ovo ou a galinha? Ele primeiro pensou em tomar certa postura para consequentemente vender ou vende porque toma espontaneamente esta postura?
Certo é que desde os anos setenta Caetano toma tal atitude e foi justamente nesta época que suas gravações (bem como a de outros caralhudos exaltados) eram SUSTENTADAS pelo sucesso de artistas menos prestigiados.
A insinuação faria algum sentido se esta fosse a postura mais recente de Caetano e, através dela, enfim, ele estivesse vendendo mais. Ainda assim se haveria de averiguar se esta postura teria sido proposital no sentido mercado ou não. Ou, mais importante, ela viesse em DETRIMENTO de outras observações, como as sociais por exemplo.
Essa questão de um vir em DETRIMENTO de outro deveria ser bem menos ignorada, mas infelizmente não é o que acontece. Velha história, trabalhar tipos ideais, generalizar, parece bem mais conveniente para uma crítica que não sai da crítica.
E o que tem a ver Anna Julia ter sido gravada por um ex-beatle? No que isto influencia na argumentação?
Em nada, por isso pus OFF. Foi algo que poderia ser relacionado a Xuxa gravando Leãozinho.
ResponderExcluirAntes de tudo, eu não disse que ele era cínico, mas que poderia, possivelmente, ter se aproveitado da situação, seja por oportunismo, seja por boa ventura; o que fiz foi sugerir. Depois, coincidentemente, foi justamente na década de 70 que ele começou a hibridizar de maneira mais prática, isto é, socialmente, e não apenas musicalmente, sua postura ante às vertentes populares.
Me corrija se não.
Man, seu primeiro disco "Domingo" foi lançado em 67. A proposta da Tropicália vem no mesmo ano ou no ano seguinte. Ele já encabeçava a "antropofagia desde o início de sua carreira.
ResponderExcluirTudo bem, é que quando você colocou de "antemão" pareceu generalizar a priori.
ResponderExcluirE mesmo que ele tenha se aproveitado, não há problemas. Rage Against é a banda mais caricata em termos de detonar o sistema e tá aí andando de primeira classe nos aviões com os bolsos cheios de grana. Com seu guitarrista aparecendo, inclusive, em Guitar Hero. Já ganhou dele, vei? hahahaha
Certo, e quando foi que ele começou a comer, com maior gula, homens ouvidos pelas classes populares? Não foi quando voltou do exílio?
ResponderExcluirAí, de fato, não sei. Até porque não entendi em que sentido você coloca "comer com maior gula".
ResponderExcluirDado é que a força destes artistas do Brega, segundo me lembro por Vina, remete aos anos setenta, sim. E há fotos (clássicas) de Caetano compondo com Odair José, desde o início do fenômeno.
Sei que a postura dele em relação a estes artistas não foi primeiro segregar pra depois se tocar da importância deles, e ainda que fosse, não ficaria provado que o fez com a intenção de angariar uma fatia maior do mercado. Afirmar isto seria tão especulativo quanto dizer que Chico Buarque não hibridiza tanto porque tem medo de perder público.
Veja, eu não quero chegar a nenhuma conclusão com isso. Penso que o trabalho do Veloso é rico e interessante, e sou mais um entusiasta da hibridização do que um crítico. Mas vale inferir sobre o que se passava...
ResponderExcluirDetalhe: ele foi amigo da jovem guarda ainda antes do exílio. A composição de Roberto Carlos, "debaixo dos caracóis" é muito simbólica neste sentido...
ResponderExcluirCorrigindo, da hibridização feita por ele.
ResponderExcluirNão há nada demais em inferir, Lourenço. E acho válido que você questione. Tem sido muito importante para mim. Apenas explicitei as partes do discurso com que não concordo.
ResponderExcluirPerfeito. Então ele, antes de hibridizar-se ao Brega, hibridizou-se à Jovem Guarda. Coincidentemente, nas épocas em que o fez, cada um era a vertente de maior sucesso e público.
ResponderExcluirSim, a hibridização pode, de fato, trazer impressões de que algumas tensões sociais estão minimizadas (este para mim é o ponto verdadeiramente polêmico), bem como pode ser uma estratégia de venda.
ResponderExcluirEle não hibridizou-se ao brega, nem hibridizou-se à Jovem Guarda como se um tivesse sido uma onda a quele aderiu e jogou fora para se apropriar do outro.
ResponderExcluirAcho uma crítica extremamente forçada, aí sim.
Ele até recentemente fez um show na Globo com Roberto Carlos, diga-se de passagem.
Mas eu não vou me aprofundar nisto, porque já estou certo de tal conclusão: será muito subjetivismo dizer que um artista não se relaciona com a arte com maior recepção popular por uma questão espontânea, e sim de mercado.
Esta postura, aliás, coloca-o muito mais em posição deletéria, do que imaculada (Chico Buarque que o diga).
*Para invalidar totalmente a última conclusão de Lourenço, ratifico que ele NÃO TOMA uma coisa de uma época em detrimento de outra. Leiam o texto, caros leitores. Aliás,para deixar um emblema, o mesmo compositor que liderou a Tropicália, gravou posteriormente com Chico Buarque, além de ter sido compositor de inúmeras músicas de Bossa nova.
ResponderExcluirAliás, assumir que ele procura se aliar ao que está com "o povão" para conseguir projeção é até uma indelicadeza com o potencial da obra deste artista.
ResponderExcluirMas na boa, galera, vocês acham mesmo que trazer uma música de Psirico para abrir o show tá fazendo o fã desta banda comprar CD's de Caetano? pelamordedeus...
ResponderExcluir"Ele não hibridizou-se ao brega, nem hibridizou-se à Jovem Guarda como se um tivesse sido uma onda a quele aderiu e jogou fora para se apropriar do outro."
ResponderExcluirNinguém disse que o tenha feito. Até porque o Brega bebe da Guarda. Mas têm nomes distintos e foram relevantes em épocas distintas. Por fim, o que quis dizer foi que ele se "aliou" aos nichos mais ouvidos, mais populares, e que, aparentemente, pertencia à MPB.
"Acho uma crítica extremamente forçada, aí sim."
Forçada? Adjetivo.
"será muito subjetivismo dizer que um artista não se relaciona com a arte com maior recepção popular por uma questão espontânea, e sim de mercado."
Tal como seria ainda mais subjetivo se vice-versa. Não foi o que eu disse. Há as duas instâncias. Resta saber que coisa é consequência doutra: se a arte do mercado ou o mercado da arte, ou ambos simultaneamente, se se tiver a malícia de fazê-lo. Ou não propriamente pelo mercado em si, mas pelo reconhecimento; que de toda maneira é apropriado, inevitavelmente, pelo mercado.
"Esta postura, aliás, coloca-o muito mais em posição deletéria, do que imaculada (Chico Buarque que o diga)."
Deletéria para quem?
"Ele não hibridizou-se ao brega, nem hibridizou-se à Jovem Guarda como se um tivesse sido uma onda a quele aderiu e jogou fora para se apropriar do outro."
ResponderExcluirNinguém disse que o tenha feito. Até porque o Brega bebe da Guarda. Mas têm nomes distintos e foram relevantes em épocas distintas. Por fim, o que quis dizer foi que ele se "aliou" aos nichos mais ouvidos, mais populares, e que, aparentemente, pertencia à MPB."
Pois é, a distinção histórica parece ter sido feita por você, então parti de seus pressupostos. E gostei das aspas no se "aliou".
"será muito subjetivismo dizer que um artista não se relaciona com a arte com maior recepção popular por uma questão espontânea, e sim de mercado."
"Tal como seria ainda mais subjetivo se vice-versa. Não foi o que disse.
Mais subjetivo? Eu tenho ao meu lado os vários fatos que já expus como sendo uma postura espontânea do artista, já a contrapartida é que me parece estar jogando um jogo meramente lógico e rearrumando dados "históricos" num arranjo obstinado para se tentar provar que o cara é malicioso em se aliar com artista de altíssima recepção popular. A recepção da obra de Caetano sobrepuja músicas que ele traz para abrir show, meu caro, ou seu diálogo com artistas menos prestigiados intelectualmente. Há um documentário chamado "Pedrinha de Aruanda" em que ele passa a madrugada com a mãe e a famosa irmã cantando de forma apaixonada e com saudosismo canções super simples do cancioneiro popular (é uma cena espontânea, gravada no quintal de casa). Isto é uma coisa que está em sua formação.
Quanto aos adjetivos eles têm aparecido desde o "cínico". E deletério para CAETANO.
ResponderExcluir"Para invalidar totalmente a última conclusão de Lourenço, ratifico que ele NÃO TOMA uma coisa de uma época em detrimento de outra."
ResponderExcluirMeu comentário: "Perfeito. Então ele, antes de hibridizar-se ao Brega, hibridizou-se à Jovem Guarda. Coincidentemente, nas épocas em que o fez, cada um era a vertente de maior sucesso e público."
Eis um FATO. Não está aí implícito que ele toma uma coisa em detrimento da outra e tão só isto, e que isto resumiria sua obra, suas ideias, seu caráter etc. É preciso certo grau de tendenciosidade para se supor tal.
"Esta postura, aliás, coloca-o muito mais em posição deletéria, do que imaculada (Chico Buarque que o diga)."
ResponderExcluirDeletéria para quem, para que nicho da sociedade?
Entendo.
ResponderExcluirSintetizando. Deletéria AO MEU VER para CAETANO, uma vez que eu o vejo formar mais inimigos que apreciadores neste percurso.
"Quanto aos adjetivos eles têm aparecido desde o 'cínico'. E deletério para CAETANO."
ResponderExcluirMelchior é um alterego. Eu não tenho definições morais claras acerca de Caetano. Por favor, longe de mim entendê-lo como um mero, porém talentoso, comerciante da arte, com suas técnicas sociais de venda.
Ok, Lourenço. Para sintetizar tudo e me retirar da discussão neste viés.
ResponderExcluirNão vi prova NENHUMA de que Caetano se utiliza da hibridização para angariar uma fatia maior do mercado e ainda que o fizesse não veria isto como imoral. Aliás, como já coloquei por vezes aqui, Mozart fazia músicas para vender, tal qual Villa-Lobos e Chico Buarque QUER VENDER a arte dele do mesmo modo.
A faceta da hibridização perigosa para mim seria a da minimização das tensões sociais existentes, e não haveria argumento lógico para dizer que Caetano Veloso o faz.
*, tal qual Villa-Lobos,
ResponderExcluir"A recepção da obra de Caetano sobrepuja músicas que ele traz para abrir show, meu caro, ou seu diálogo com artistas menos prestigiados intelectualmente."
ResponderExcluirDisto não tenho dúvidas. A começar pelo espaço socioeconômico nos quais ocorrem seus shows, e, não preciso dizer, consequentemente, pelos preços de seu ingresso.
Pois é. Ainda assim o seu cachê certamente é mais barato do que o cachê de Aviões do Forró...
ResponderExcluirEu penso até que seja ousado: um público que normalmente carrega um valor de negação da música de massa, baixaria a guarda e, por conta de Caetano, assistiria ao Psirico. E, quem sabe, mesmo o oposto.
ResponderExcluirSó um detalhe: Caetano não deixa de fazer shows, por sua vontade, em lugares de acesso massivo. A quem interessar possa, ver onde tocou no último Reveillon, por exemplo rápido.
ResponderExcluir*Não endereço isto a Lourenço
"Pois é. Ainda assim o seu cachê certamente é mais barato do que o cachê de Aviões do Forró..."
ResponderExcluirCertamente! Por uma questão numérica.
Pior é o de Michael Sullivan, man. Que escreveu Talismã.
ResponderExcluirParece que tá 140 o show dele aqui.
Possa crer.
ResponderExcluirJosua
ResponderExcluirParabens pelo texto. Ja ta comecando a dar uma funilada no objeto de seu interesse. Olhe, Caetano e um artista de dificil compreens'ao ideol[ogica ate pela parte dos intelectualoides. Digo isso pois essas classificacoes pequenas que fazem de sua postura enquanto artista e fruto de mentalidades subdesenvolvidas que se apegam a modelos copiads pelas massas de criticos de arte inteligentes e se convencem em minimizar a obra e o comprtamento de caetano a meros esteriotipos e argumentos cliches vazios de melhores argumentacoes. Mas eu os perdou, afinal, essa intelectualidade brasileira [e reflexo de uma cultura historicamente chamada a opinar quando os externos legitimam de antemao a verdade que deve ser apoiada. Caetano e um artista d caralho, de uma independencia do caralho. So nao quer ver quem insiste ainda no mundo atual em se apegar a visoes classistas de boa musica e pessima musica. Obvio, o entendimento desses nao atingem a grandeza critica de caetano, afinal, sao preconceituosos e pequenininhos em suas aanalises criticas-massivas. Abracao
desculpe pela pontuacao mas e que o teclado aqui da lan house ta uma merda
Prezados,
ResponderExcluirOutra analogia: Tom Zé bebeu do não popular, e não obteve exito comercial/público (afinal, ainda que não propositadamente, duma coisa deriva a outra). Se atribuíssemos, numa perspectiva antropofágica, um nível de popularidade dos símbolos escolhidos por um e por outro para fundirem-se musicalmente ou liricamente, veremos em Caetano um maior uso do popular, do comercial. Isso não quer dizer que ele seja, por isso, um oportunista, mas é tão só uma constatação que pode gerar reflexões que tendam a observar algo neste sentido, se sob um viés de análise mercadológica. Este argumento não desfigura ou nega qualquer uma das afirmações ou divagações supraescritas, mas trata-se tão só de uma inferência que busque acrescentar algo ao ensaio e às conclusões e sugestões posteriores discutidas.
Abraço!
Obrigado pela observação, meu caro!
ResponderExcluirAbraço!
Apenas para reforçar.
ResponderExcluirTenho de forma segura que, apesar de o que Caetano está disposto a incorporar também coincida com o que se chama "comercial", creio que o faça de maneira espontânea.
Por todos os argumentos apresentados, por conhecimento dos primórdios de sua biografia, em que ele ficava vislumbrado com Caubi Peixoto, Luiz Gonzaga entre outros. E tudo isto somado ao fato de que, apesar de não possuir dados estatísticos, o que vi no olhômetro em seu último show foi muito de indiferença, muito de reação negativa e bem pouco de positiva ao fato de ele ter aberto o show com uma música de Psirico. Dançou no momento desta música (inclusive o Kuduro), divertiu-se nítida e intensamente no que me pareceu um êxtase sincero de sua sensibilidade.
Ainda que ele esteja agregando maior público por causa disto, não acho que seja estratégico. Aliás, compartilho um bocadinho desta biografia, pois no meu caso, em particular, dos meus 23 anos de idade, dez deles estão amalgamados com o envolvimento direto com a música clássica, chegando, inclusive, aos 14 a incorporar o coro que cantou trechos de ópera na inauguração do Teatro Tobias Barreto. Ainda assim, tenho em minha biografia recente a regularidade em ouvir Leandro e Leonardo, em pagar para ir a um show de Calcinha Preta e Calypso, a ter descoberto recentemente o Zouk e fazer dele até mesmo inspiração para composições, não obstante suas letras água com açúcar etc. Tudo isto me faz lembrar momentos de minha formação enquanto criança, faz-me ter momentos altamente nostálgicos da vivência com familiares etc.
Ademais, penso que um artista já consagrado até mesmo internacionalmente, há muito tempo já regravado por artistas popularíssimos, na figura-mor de Roberto Carlos, tenha muito pouco motivo para fingir ser o que não é pra ver se ganha mais espaço na mídia.
Em tempo: está para todo mundo constatar o show "Prenda Minha" em que Caetano, antes de executar a música de Peninha, Sozinho, conta o acontecimento singelo que o levou a trazer tal música pra o repertório.
ResponderExcluirEle primeiro conta que ao ouvir pela primeira vez a música na voz de Sandra de Sá, arrepiou-se antes mesmo de saber que tinha sido composta por seu amigo, cujas composições, aliás, têm recepção massiva. E fica nítido à medida que a história vai se discorrendo que é espontâneo o afeto que ocorre no artista, independentemente do prestígio intelectual que o compositor da música X ou Y tenha.
*Perdão, é no MEIO da execução...
ResponderExcluir*e o público a que me referi foi o de Aracaju, afinal a recepção certamente varia de um lugar pra outro.
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