Depois de ter escrito alguns textos sobre a conceitualização do torto e sobre os objetivos do Movimento, assim como sobre a relação do torto com a sociedade e com a diversidade, resolvi postar essa semana um texto sobre a perspectiva do torto em relação ao foco estético, o qual resolvi chamar de Rei Bosta. O olhar estético pensado pelo torto, pelo menos como penso, transita, assim como todo o fluxo que percebo no Movimento, entre as relações tensas e harmônicas manifestadas pelo desejo e pela lei.
Ao mesmo tempo em que o olhar estético manifesta sentimentos que provocam rupturas nas limitações construídas pelo indivíduo, fazendo-o por um momento, sentir-se dono exclusivamente de seus desejos e liberto das convenções; a possibilidade de dar sentido a essa ruptura, decorre da inevitabilidade da existência da lei, ou seja, das limitações e das nomeações criadas por ela para dar sentido à realidade. Portanto, mesmo conseguindo por um instante se libertar, essa liberdade, ou seja, esse prazer, novamente volta a ser aprisionado pelos limites impostos pela lei.
A lei e o desejo, ao mesmo tempo em que operam as suas funções de forma diferenciada, mesclam-se de tal forma que, ao mesmo tempo em que se conflitam, negociam-se. A lei e o desejo são amigos em guerrilhas e inimigos em missões de paz. O que existe é um intermédio que transita entre a lei e o desejo, e é surgindo desse elo que se revela obscuramente o Rei Bosta.
Por que uma revelação obscura? Por que revelação quer dizer toda a capacidade do sujeito conseguir se emancipar por se superar dos seus problemas através de sua experiência estética; e obscura por que esse mesmo indivíduo, por ter a lei limitando e coexistindo com seus desejos, impossibilita-o de atingir a sua total emancipação. Por que Rei Bosta? Porque o Rei se sente dono absoluto do Império de seu prazer; e Bosta por que o indivíduo tende a se frustrar ao perceber que não consegue atingir o ápice da sensação desse prazer devido à lei.
Enfim, o Rei Bosta é um milionário pedindo esmola, e um esmole se gabando por seu excesso de fortuna. É por isso que o Rei Bosta, segundo a perspectiva do olhar torto pensada por mim, ganha o mundo perdendo-o e perde esse mundo ganhando-o. Ganha por ser capaz de se sentir esplêndido, mas a frustração em não atingir o ápice do prazer pleno, faz com que ele sinta sua decadência através de sua frustração; mas por não suportar conviver a todo instante com sua frustração, ele se supera buscando outra vez atingir seu Ideal, sentindo sua grandiosidade e o seu prazer novamente.
O Rei Bosta, portanto, encontra sentidos ao seu desejo por se ver submetido às limitações e classificações dadas pelas leis; mas não encontra respostas suficientemente esclarecedoras para os seus desejos, pelo fato de seus sentidos não passarem de meras fantasias construídas e limitadas por essas leis. O Rei Bosta vive entre um real aparentemente objetivo e dotado de sentidos, mas ao mesmo tempo, vive em uma carência de sentidos devido à subjetividade criada diante desse real.
Um texto que demonstra a busca do ser humano por algo que não se pode ter, a frustração e a superação ao perceber que aquilo q se deseja é algo além de suas possibilidades, pelo menos até então imaginadas, e justamente a esperança de superar esse limite imposto por ele mesmo ou pela sociedade que mantém sua vontade de obter o exito em seus desejos.
ResponderExcluirÉ um texto um tanto complexo, mas com atos tão comuns que torna-se até fácil de se compreender. Uma verdade, onde mostra a desigualdade e a suposta superioridade que algumas pessoas acreditam ter, e quando percebem que não possuem esse poder acaba entrando em crises e chegam a ter reações desesperadoras.
ResponderExcluirAssim, o rei Bosta sai cagando por onde passa.
ResponderExcluirQueridos acho q o vina quis mostrar é que os sentidos são convencionados, o individuo cria a sua prisão uma vez que essas convenções são leis, classificações e etc. Com isso a liberdade social não existe por completo, porque a sociedade está dentro de vc e é vc. Fazendo um link com o texto que acabei de publicar seria essa individualidade objetiva que conflitua com a individualidade subjetiva.
ResponderExcluir..."A lei e o desejo são amigos em guerrilhas e inimigos em missões de paz. O que existe é um intermédio que transita entre a lei e o desejo, e é surgindo desse elo que se revela obscuramente o Rei Bosta."
ResponderExcluir..."Por que uma revelação obscura? Por que revelação quer dizer toda a capacidade do sujeito conseguir se emancipar por se superar dos seus problemas através de sua experiência estética; e obscura por que esse mesmo indivíduo, por ter a lei limitando e coexistindo com seus desejos, impossibilita-o de atingir a sua total emancipação. Por que Rei Bosta? Porque o Rei se sente dono absoluto do Império de seu prazer; e Bosta por que o indivíduo tende a se frustrar ao perceber que não consegue atingir o ápice da sensação desse prazer devido à lei."
Muito boa a sua análise. Adorei o termo REI BOSTA!
http://poeticspasm.blogspot.com/2010/03/sobre-fome-despensa-e-o-proprietario.html
ResponderExcluirGostei muito da abordagem. É realmente necessário pensarmos sobre o fato de que até as explosões estéticas têm um pé no convencional. A nossa condição de sujeitos faltantes vive se esbarrando em esperanças errantes, e é impressionante como mesmo sabendo que nunca teremos tudo, somos a todo o tempo compelidos a buscar a plenitude
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