quinta-feira, 18 de março de 2010

Natureza.
Os que nós construímos, também, podemos chamar de natureza. Todas as nossas produções são produções da natureza. O homem é natureza, esse é o ponto. As nossas realizações em todos os campos são realizações da natureza. É a natureza viva manipulando pela razão suas forças. Pensar diferente é dizer que o homem é uma natureza especial ou não é a natureza. Foi esse o raciocínio que nos levou no passado acharmos que nós éramos seres distintos dos outros e que a natureza era apenas uma paisagem no teatro de nossa história. As cidades, as ciências, as sociedades, as culturas e as filosofias, tudo que é chamado de humano, portanto, artificial é para este velho caboclo natureza, por isso natural. O que me faz angustiado é a crença que em nosso planeta existe algo que não tenha nenhuma relação direta ou indireta com a natureza. A natureza por sua força própria produziu uma espécie capaz de simbolizar o mundo, e esta simbolização transformou-se em uma força criadora de infinitas proporções. A antiga Grécia contribuiu muito com essa crença reducionista do homem. O homem reduzido ao humano, quase de plástico. Nossa retirada do mundo selvagem não deveria ter provocado este afastamento crônico de nossa verdadeira condição animal. O mundo Pós Moderno deve repensar isso: Onde estamos agora, e se é possível continuar nesse lugar. Pensar a política, a filosofia, o direito, as relações sociais sem pensar gravemente na nossa postura perante o espaço geográfico transformado em espaço natural, a natureza modificada por nós, é o mesmo que confessarmos que este planeta é uma embalagem descartável como de qualquer produto consumido por nós. A teologia criacionista dos judeus e dos cristãos produziu em nós a imagem de Deus – somos deuses, portanto, auto-suficientes. O homem é especial para estes pensadores e a natureza um acessório, ou como já disse um cenário belo de nossos conflitos. Meus caros, a natureza é viva e está em constante transformação, suas leis regulam nossa existência naquilo que é mais significativo: A vida. Se esta está ameaçada por nossas descobertas, se esta está em agonia pelo sistema sócio econômico criado por nós, esta na hora de repensarmos nossa razão. Qual é, então, a lógica da razão humana se a vida não é a maior de todas as necessidades? Onde falhamos? Falhamos em não pensar o mundo partindo do ponto mais lógico: O espaço natural e suas relações com o espaço modificado por nós. Se o que construímos também é natureza, então podemos sintonizar o que já existe com o que deve existir, um mundo onde a natureza possa ser ouvida. Ela tem muito a nos dizer. O progresso não deve ultrapassar os limites impostos pelo espaço natural sob pena de quebrarmos o vínculo maior e determinante de toda a vida – as relações de causa e efeito no sistema vivo natural. O capital não pode falar mais alto que o bom senso. Isso nos leva a uma inevitável crítica de nossas instituições e de nossa racionalidade. Como a razão não viu ou fingiu não ver que o mundo se esgotaria como um trabalhador sem descanso a séculos explorado e mal remunerado? E agora José, para onde vamos? Deixo estas questões para os colegas tortos continuarem o debate. Abraços.

11 comentários:

  1. Muito fantástica a sua abordagem sobre a natureza. É como eu disse em seu ultimo texto produzido e publicado no site: o grande mal é termos esquecidos que nós também somos a natureza!

    Esse distanciamento do humano com a natureza, como se fossem duas realidades distintas e divorciadas, faz com que o nosso discurso sobre a preservação ambiental coloque o humano na condição de "segurança" da natureza, e não o humano como extensão dessa natureza.

    Não é por acaso que brigamos pela sua preservação, mas não fazemos por onde preservá-la, isso por que defendemos a natureza apenas como um discurso estruturado como uma máscara para nos autoafirmarmos como humanos, e não por que reconhecemos que inevitavelmente somos animais, e assim como qualquer outra espécie animal, precisamos dessa natureza que tanto defendemos.

    No entanto, eu acredito que essa capacidade de colocar o bom senso acima da postura destrutiva do capital vai ficar apenas em nosso sonho de Ideal. Como você bem sustentou, o homem simbolizou de tal forma sua realidade, que se esqueceu de sua condição natural, e como o humano simboliza demais, a ambição estimulada pelo capital é também uma fórmula de simbolo. Porém, como o símbolo poder é concreto enquanto representação, eu acho que futuramente o nosso destino é receber o troco de nossa destruição e nada a mais. Realmente eu não acredito que esse bom senso vai um dia assumir uma posição prepoderante aos anseios gananciosos dessa espécie humana-animal.

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  2. Meu caro Profeta, infelizmente devo concordar com você. A conta bancária sempre falará mais alto. É então este detalhe de nossa razão Pós-Moderna que precisamos questionar. Afinal, o que é razão?

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  3. Diante do contexto capitalista, para mim, razão infelizmente não significa ter consciência, e sim estratégia. Vale lembrar que essa estratégia implica uma finalidade e essa finalidade muitas vezes significa destruição em prol do lucro.

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  5. Meio Ambiente

    Bem, acredito caros mestres, que a maior característica da natureza que inclusive pode ser estendida é claro (como disse meu grande mestre Roosevelt) ao homem é a dialética destruição e construção, seja isso em relação às placas tectônicas (nas zonas subsidência ou na cadeia mesoceânica que são as margens construtivas da terra, fora outros vulcões e falhas que existem por aí), nos ecossistemas afins com as cadeias alimentares (predadores e prezas) e etc. Enfim, pensar em preservar a natureza é uma ilusão, pois antes de pensarmos nela (natureza), nela já estamos e essa dicotomia é inerente a nós. O homem constrói e destrói como qualquer ser vivo, agora a meu ver, a grande peculiaridade humana é que essa capacidade enorme de codificação de signos e seu armazenamento engendrou uma transformação da matéria ao qual o tempo humano se esbarrou com o tempo que a terra tem de processar essas transformações ou informações digamos assim em analogia, o ser humano vive depressa demais como já dizia lobão. E se não julgarmos o homem como o eleito a terra vai continuar muito bem como sempre sem ele, pois creio que as rochas falam e o homem não as sabe ouvir.

    Agora outra face dessa realidade, é que apesar do discurso ambientalista das grandes empresas um punhado delas (do campo ou urbana) não querem transformar seu processo produtivo pela nobre cautela de não perder remeças maciças de capital, uma vez que, as pesquisas em agroecologia e produtos industriais biodegradáveis ainda engatinham (os primeiros cursos universitários em agroecologia, por exemplo, são bastante recentes, eu até agora só soube da existência de um no interior de São Paulo), e alguns destes processos produtivos são lentos e/ou caros para uma produção em larga escala. O povo interiorizou hábitos de consumo de longas datas que pra modificar vai durar um tempinho e o governo não quer perder um punhado bom de impostos arrecadados (com o velho discurso de que isso sustenta nossa balança comercial e segura por sua vez a nossa inflação) com as grandes empresas fazendo sanções contra elas. Caminhemos pelas tsunamis e pelo inverter dos termômetros sabendo que a Terra busca o equilíbrio e não se importa se o homem está no caminho.

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  6. Discurso ambientalista não encerra tudo que precisamos aber sobre como lidar com a natureza uma vez que ele se pauta ainda na visão fragmentada de razão. A razão que precisa brotar é aquela que mesmo embora a natureza não esteja preocupada com a nossa exisrência ser racional é nós nos preocuparmos com ela e estudá-la de forma tal que possamos melhor lidar com suas leis. leis estas que, ao meu ver poderiam revolucionar nossa visão de mundo e de sociedade.

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  7. Um exemplo claro disso é uma filosofia que trabalha o homem como ser maior no univerdo, esquecendo que este é apenas uma pequena parte dele.

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  8. Mesmo que passemos a utilizar o discurso de que a natureza em si busca seu próprio equilibrio, independente da existência do humano, é importante observarmos que a partir do momento em que acreditamos que a natureza em si busca seu equilibrio independente do homem, novamente estamos separando esses dois universos.
    Acho que é importante lembrarmos que a natureza vive o seu ciclo natural, e esse ciclo vai surgir da forma como a natureza puder se adaptar, mas que o homem, mesmo antecipando esse ciclo, não deixa de ser sua extensão.

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  9. Não entendi nada... explica melhor essas ideias. Principalmente este trecho aqui: "A razão que precisa brotar é aquela que mesmo embora a natureza não esteja preocupada com a nossa exisrência ser racional é nós nos preocuparmos com ela e estudá-la de forma tal que possamos melhor lidar com suas leis. leis estas que, ao meu ver poderiam revolucionar nossa visão de mundo e de sociedade." Que leis são essas??

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  10. somente um cego não ver leis explícitas na natureza podemos nomear várias, vc é produto de uma meiose. a forma como a ciência aborda a natureza é que está errado, ela não aborda a natureza como parte dela e sim como algo a parte. entendeu?

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  11. Você é prova clara do que edigar Morin escreveu. A proporção que vai se infiltrando no academicismo vai se tornando cego para tudo que não é geografia, está se tornando adepto do geografismo, como temos os adeptos do sociologismos, etc. afinal, o que essas ciências sabem de fato de alguma coisa? o sabio busca fazer bem a cabeça e para tanto é preciso romper com a formação academicista que forma adestrados e, setores do saber, contudo são apenas recortes do real.

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