Somos tão viciados com a visão dicotômica construída pelo maniqueísmo cristão, que algumas pessoas têm dificuldades em aceitar e entender a convivência caótica, e ao mesmo tempo ordenada do torto entre as situações concebidas como opostas. O que eu percebo é que geralmente o Movimento Torto é encarado ou como o cumulo da acomodação, ou seja, como algo conservador, ou como o cumulo da subversão, isto é, como algo revolucionário.
Na minha concepção, para o maniqueísmo, o fato de ser conservador está diretamente relacionado à extrema aceitabilidade dos padrões de condutas impostos pelos sistemas éticos e morais de uma sociedade. Nesse sentido, ser conservador, refere-se à necessidade de insistir pela manutenção da ordem. A posição conservadora se caracteriza por ter posturas tradicionalistas as quais expressam através de seus discursos, posições acomodadas.
Já os revolucionários estão associados à não-aceitação dos padrões de condutas e de pensamentos considerados oficializados pela sociedade. Portanto, ser subversivo se refere à insistência de querer promover mudanças nas estruturas até então consolidadas. A posição revolucionária se caracteriza por suas posturas críticas e vanguardistas, e expressam ao entendimento dos maniqueístas, posições subversivas.
O torto por um lado, assume um aspecto acomodado, uma vez que ele concebe que, mesmo tecendo críticas ao que ele não aceita, inevitavelmente ele deve respeitar os parâmetros legais e culturais da sociedade por ele saber que, assim como o outro, ele não só cria expectativas em relação a determinados parâmetros, como inevitavelmente se sente na obrigação de respeitá-los por ele se ver como um agente pertencente a uma sociedade.
Por outro lado, o torto assume uma posição subversiva, visto que ele entende que, mesmo sabendo da necessidade de se adaptar à sociedade, inevitavelmente ele é dotado de valores e de escolhas, e, portanto, sente-se no direito de criticar aquilo que ele acha errado. Além disso, por saber que as leis criadas são formuladas por humanos, o torto sabe que elas se encontram vulneráveis aos acertos e às falhas, e por isso mesmo, devem ser questionadas.
O torto pode se enfurecer com determinada propaganda política, e passar a questioná-la por criticar qualquer forma de manipulação. Nesse sentido, o torto pode parecer subversivo. Por outro lado, mesmo criticando essa propaganda política, o torto pode admitir pra si mesmo que, mesmo que o discurso propagandístico para ele seja falso, se parte da sociedade acredita nele, é por que de certa forma ele é reflexo do social, e, portanto, tem sua razão de ser. Nesse sentido, o torto manifesta uma comodidade.
O torto é comodamente subversivo. Ele acata determinadas decisões, mas não se deixa submeter de forma cega a essas decisões. O torto cospe no sistema por perceber a infinidade de problemas que existem nele, mas ao mesmo tempo ele quer pertencer a esse sistema. O torto aceita a crítica do outro por saber que o outro, assim como ele, possui valores, mas pode não aceitar a crítica do outro, pelo fato do torto saber que, por ser produto do meio, inevitavelmente ele cria expectativas sobre as opiniões alheias.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMeu caro Vina, não queira cansar os nossos estimados leitores, eu mesmo, já vi esse filme...hehehe
ResponderExcluirQuerido, acredito eu que cada um escreve e repete o que te incomoda. Outra coisa: acredito que a repetição faz parte da construção de pequenos detalhes.
ResponderExcluirRealmente, esse pensamento de não escrever mais o que ja foi dito, é tipico de um discurso consumista de querer sempre o "novo"
Outra coisa novamente: como eu já disse, mas que é bem provável que vc n tenha me ouvido, mas eu estou com meu tempo curtíssimo e estou apenas jogando os textos que já foram produzidos por mim.
O que eu acho que pode afastar nossos estimados leitores, é a falta de vontade em sequer responder sobre alguns comentários deles. Isso é foda, principalmente para os nossos autores do site, que diferente de mim, estão com tempo pra dar e render.
"O torto cospe no sistema por perceber a infinidade de problemas que existem nele, mas ao mesmo tempo ele quer pertencer a esse sistema."
ResponderExcluirSem dúvida alguma, isso é o que há de mais profundo no torto. Se ele critica e, ao mesmo tempo, também quer pertencer, não seria melhor só querer pertencer sem criticar? Diante de tal pensamento, ostento a partir de agora, em relação aos tortos, o sentimento esboçado naquele poema do Augusto dos Anjos "Apedreja essa mão vil que te afaga/Escarra logo nessa boca que te beija". Esses paradoxismos, a meu ver, são um 'lugar comum'. O torto é um movimento fadado ao desgaste, pois ele é a perpetuação de uma aristocracia 'subversiva e acomodada' que até hoje lota a ordem pública - lugar galgado a custa de muita demagogia e ludibriagem. Esses argumentos paradoxais são dignos das melhores escolas sofísticas, da qual fazem parete, além dos rebatedores de Sócrates, também os nossos políticos, sempre cheios daquele discurso garboso sobre educação, saúde etc. Quem, melhor do que os políticos, representa melhor isso a que se chama torto?
Att,
O Doente Imaginário
"não seria melhor só querer pertencer sem criticar?"
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkk Desculpe-me, mas esse é um tipo de opinião de quem insiste em defender uma coisa OU outra; de quem acredita que existe apenas o mal OU o bom. Podemos muito bem discordarmos de algo e nem por isso deixarmos de amar algo. Os relacionamentos amorosos são bons exemplos.
"Esses argumentos paradoxais são dignos das melhores escolas sofísticas, da qual fazem parete, além dos rebatedores de Sócrates"
Antes de usar de forma mal elaborada as idéias dos pensadores, peço que leia com mais senso critico a postura socrática e sofista. Para mim, se existe alguém que o torto se aproxima, esse alguém é o Socrates, uma vez que esse filósofo insistiu em vida requestionou incessantemente a validade de suas próprias verdades.
"Esses paradoxismos, a meu ver, são um 'lugar comum"
Não. Lugar comum é reproduzir o velho discurso maniqueista e intolerante de uma coisa OU outra. Refutar seu próprio poder marcarado, isso sim é que é dificil.
Para terminar, gostaria de atentar sobre dois detalhes. Um sobre o DOENTE e o outro sobre o IMAGINÁRIO.
Muitas pessoas não suportam e não suportaram o movimento torto, porque ele enquanto movimento, é o seu próprio vírus. Diferente dos irritados e mentirosos de si mesmos que tendem a levantar bandeiras, o movimento refuta suas próprias convicções o tempo inteiro. A partir daí eu posso dizer que o movimento é DOENTE, porém, intenso de vitalidade pois se reconhece como humano, ou seja, como contradição e como processo.
O simbolo significa produção de sentidos, isto é, reapropriação das significações, enfim, apropria-se de uma perspectiva pondo contra a parede a mesma perspectiva, utilizando-se dela novamente para combiná-la com outros discursos. O simbolo significa posicionamento crítico. Sem querer separar de forma estanque o imaginário do simbólico, mas em geral o imaginário se reflete como um espelho multifacetado sem articulações concatenadas. Ele opta em viver das fantasias desajeitadas a nivel de argumentação. a assumir seus próprios erros e suas próprias inacabáveis construções.
Portanto, o doente que se acalenta no imaginário é um doente DOENTE e covarde. Doente mórbido pois se nega ao seu estatuto de humano para evitar se confrontar com seus próprios desejos e limitações, e portanto, de seus conflitos. Covarde por se trancafiar no mundo das fantasias irreais ao inves de simbolizar a vida como superação e desastre.
Abraços Doente Imaginário. Melhoras viu!