Há mais de duzentos anos, Kant escreveu o célebre texto conhecido como Was ist Aufklärung? (O que é esclarecimento?) em que, já nas primeiras considerações, irá advogar a saída do homem de sua menoridade. Esta seria “a incapacidade de fazer uso do seu entendimento sem a direção de outro indivíduo” e, ainda segundo o autor, o homem seria o próprio culpado desta menoridade se “a causa não estiver na ausência de entendimento, mas na ausência de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.”
A brevidade de alguns textos do Movimento Torto é sintoma de uma produção vazia ou uma relação de sinceridade entre o autor consigo mesmo e com o leitor? Essa brevidade é fenômeno de uma acriticidade implícita?
Para começar, não defendo o velho conhecido sintoma pós-modernista do combate às narrativas longas. Aliás, enquanto amante da ópera, por exemplo, penso serem irreduzíveis as peças do “Ciclo do Anel”, de Wagner, ou, no campo da literatura, as elaborações poéticas do “Fausto”, de Goethe. No entanto, o que, para mim, justifica a extensão dessas obras é simplesmente a sua sinceridade. É, mais precisamente, o fato de seus compositores não precisarem se estender simplesmente para salvaguardar seus egos e disfaçarem sua incapacidade de andar com as próprias pernas, escondendo-se em erudição muito mais embasada no decorar que no desenvolver uma observação puramente sua, superdimensionando os tomos de seus escritos para vencer pelo cansaço seus leitores, conquistando assim respeito (leia-se medo). Aliás, nada melhor para coadunar com isto que se esconder atrás do que alguém disse: o famoso segundismo que permeia textos afora.
Vem-me agora à cabeça uma pergunta que a filósofa Márcia Tiburi fez ao ministro da educação Fernando Haddad: “com a implantação da filosofia nas escolas de ensino básico, o que se priorizará; decorar a história da filosofia ou aprender a pensar?”. É claro que a intenção de Tiburi ao fazer esta pergunta não foi depreciar o importante conhecimento da história da filosofia, e sim atentar para um grande problema vigente: a erudição por si, por mais gigante que seja, é atestado de senso crítico?
Daí, eu me lembro do que ouvi recentemente de um sábio e irônico professor: “vou ensinar-lhes a serem gênios; não leiam”, ao que eu adiciono: “não leiam, ou leiam muito e façam valer mais as palavras decoradas dos autores que as suas próprias”. Caso contrário, vira-se um ignorante torto como eu, que acharei que li pouco até o fim dos meus dias.
Atestar acriticidade no Movimento Torto é, além de na maioria das vezes leviandade de cunho pessoal, valer-se negativamente da sinceridade que até então tem deixado sucinta parte dos textos. Há neste site considerações responsáveis acerca das artes, há propostas gnoseológicas (que obvimente não vieram de achismos e que serão muito mais elaboradas com o passar do tempo), há até mesmo propostas de atitudes de reflexão aguda, por seu grande teor autocrítico, como é o caso dos textos de cunho político e sociológico.
Antes de concluir, ratifico que textos mais longos poderão e vão aparecer futuramente no Movimento Torto. Por ora, entretanto, à prolixidade repetitiva e cheia de argumentos de autoridade usada para forjar validez erudita, o Torto tem preferido tentar o caminho dos pulsares (estrelas de nêutrons): aterradoramente densos e compactos. E isto não é mera acriticidade ou rebeldia sem causa, e sim, sobretudo, sinceridade autocrítica. Que o público e a crítica nos entenda. A esta última: Sapere Aude!
Muito interessante esses depoimentos noa fazem pensar muito, uma pergunta que me fez refletir foi:decorar a história da filosofia ou aprender a pensar?, mas encontrei a minha resposta, axo que filosofia é uma arte de pensar,a partir do momento que começei a estudar filosofia, entendi que é muito bom agente pensar sobre nós mesmos, sobre nossas opniões...
ResponderExcluirMaria Dayseane; 1°B
Gostei muito quando principalmente fala sobre a leitura “não leiam, ou leiam muito e façam valer mais as palavras decoradas dos autores que as suas próprias”, axo que mostra que atualmente tem se dado mais valor a escrita de autores famosos, sobre a opinião deles do que nossa própria opinião, agente tem se deixado levar pela opinião dos outros e não nos preocupanos com as nossas....
ResponderExcluirMarina Oliveira 1º C
Querido Josua,
ResponderExcluirVocê sabe que eu o considero um torto genial. Realmente é muito importante mostrarmos a grande diferença entre ser sincero e ser prolixo.
Também foi muito pertinente o seu texto ao observar a necessidade de legitimarmos nossas "verdades" por via de uma autoridade. Como diz nosso caro torto Rossevelt, as fofocas intelectuais.
Esse papo de ter que se sentir na obrigação de justificar um discurso, utilizando-se das idéias do outro, é de uma insegurança absurda. Como mostrou Kant, um homem que não saiu de sua minoridade.
Porém, apesar de não discordar das graaandes óperas, você sabe sobre a minha opinião a respeito disso, quando eu observo o sintoma da ansiedade nesse mundo drive thru. Mas sei que esse é um outro papo. Inclusive, eu ainda escreverei minha ideia sobre a ópera raspadinha.
bjs