O enfoque do embate mental é a hegemonia cultural. É notório e evidente que a mídia nos dá um pacote cultural pré-fabricado a ser consumido, muitas pessoas propalam que isso seria uma forma de aculturação generalizada, ou ainda uma alienação em massa. Contudo não pretendo discutir amiúde este problema. Temos como exemplo também a aculturação possibilitada pela Igreja evangélica. Essa instituição, por exemplo, “demoniza” a cultura negra e indígena na maioria das suas ramificações, pelo fato dessa instituição acreditar que essas culturas são sinônimos de selvageria, promiscuidade, misticismo, etc. Tendo um protecionismo forte sobre sua própria produção cultural como livros, música, mídias e outras produções, a cultura dita "branca" termina sendo visivelmente determinante nessa religião. Portanto, o branco colonizador ainda pertence ao ambiente simbólico dos países colonizados como o Brasil, e o protestantismo nos mostra uma adequação a esse ethos.
Mas mesmo diante desse poder hegemônico, vemos também uma maior fluidez cultural na mídia evangélica possibilitada, paradoxalmente, pela música gospel, que como dito anteriormente, mesmo tentando impor um padrão cultural, termina por se apropriar de vários ritmos agregando fontes culturais diversas. No entanto, tudo isso cria uma cultura consumista que reforça a cultura hegemônica de consumo, uma vez que possibilita uma adequação do seu produto a diversos públicos. O axé gospel do ex-integrante do Olodum o Lázaro, por exemplo, como poderíamos imaginar isso? Primeiro que a palavra Axé é uma palavra que significa energia e vem do Iorubá, língua africana que no Brasil é falada nos terreiros de candomblé. Com isso não queremos dizer que o evangélico perdeu a sua centralidade baseada em uma cultura eurocêntrica, calvinista e etc. Apenas que vem ocorrido uma adequação da sua estética para que pessoas que provem de uma origem afro-brasileira, de jovens roqueiros, pagodeiros, regueiros e etc. Possam se adentrar também na religião. Com isso podemos notar que essa abertura é sobretudo estratégica.
Porém, podemos aproveitar esse paradoxo e tomar medidas subjetivas, tendo em vista a força do individuo de desconstruir paradigmas e reformulá-los dentro de uma subjetividade valorativa. Entendemos como individualidade subjetiva, um estado de vivência existencial interligada, mas, no entanto, de certa forma preponderante diante da individualidade objetiva, coletiva e visível. Essa individualidade subjetiva tem o poder de desconstrução da individualidade objetiva. É por esse viés que podemos sinalizar uma decorrente retomada daquilo que a cultura do cotidiano nos mostra, ou seja, uma junção das várias culturas presentes no fluido do cotidiano, sem persistirmos no discurso de encarar certos tipos de culturas como culturas marginais ou de querermos sacralizar certo tipo de manifestação e a purificar por completo, afinal o cotidiano é esse negro que dialoga com o branco e que fazem trocas inconscientes (não querendo suprimir é claro as relações de poder que existem e que foram inclusive supracitadas). A individualidade objetiva é construída a partir do entorno ou do espaço vivido, e a sua desconstrução provocada pela individualidade subjetiva causa conseqüentemente uma mudança de lócus social e do espaço vivido, assim o individuo a partir dessa desconstrução, em tese consciente ou racionalmente, irá encontrar a sua centralidade móvel.
Astronauta,
ResponderExcluiresse seu texto foi interessante demais cara! Eu já havia lido, porém, você fez algumas revisões muito pertinentes nele.
É como eu conversei com você: a religião evangélica, para angariar públicos, "abre suas pernas" para o mundo. Olhando essa perspectiva apenas por esse recorte, eu vejo isso como formidável, visto que, é importante ramificarmos com a pluralidade, uma vez que inevitavelmente o mundo é plural.
Porém, como você bem ressaltou em seu texto, infelizmente não é isso o que acontece. A religião evangélica se usufrui da pluralidade apenas com intenções políticas e econômicas para angariar públicos, no entanto, a religião evangélica enquanto doutrina, continua mantendo sua velha filosofia em excluir todos aqueles que não compactuam com sua doutrina. Enfim, ela se utiliza do que eu chamo da pluralidade no singular.
O que mais me deixa desgostoso nisso tudo, é que muitos fiéis não percebem o quanto a sua religião inevitavelmente se encontra inserida na diversidade cultural, e muitos ainda continuam insistindo em separar o mal do bem, deus do diabo, e não percebem que, como você bem ressaltou, que apesar da negação das concepções "negras", ela, ou seja, a igreja evangélica, ainda se etnocentriza com seus pudores e intolerâncias "brancas".
Diversidadea convergentes...
Amém???
Meu caro Reuel,
ResponderExcluirSeu texto é pertinente e necessário. Poderia ter ido um pouco mais longe, mas tudo bem. É isso.
Roosevelt, como sabemos, o olhar de cada um, é mais uma lacuna diante do olhar do outro. Eu mesmo achei que esse texto de Reuel foi completo. No entanto, eu gostaria de propor a sua pessoa, que fizesse um comentário mostrando o porquê você achou que o texto de astronauta deixou a desejar. Peço isso pois sei que novas idéias agregadas nas idéias debatidas pelo Movimento, nunca são negadas, e como a sua pessoa tem um dominio muito extenso sobre religião, eu gostaria que você complementasse o que você achou que faltou no texto de Reuel. Se não for em mais um comentário, que seja em um texto para ser publicado no site do Movimento.
ResponderExcluirabraços