segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O torto e a preservação ambiental

Eu fico muito irritado com a necessidade de muitos ambientalistas sustentarem por via do discurso, argumentos referentes à preservação da natureza, como se fossem salvadores do meio ambiente. O erro desses discursos é que eles sonham de tal forma com o que eles acreditam como ideal, que nem se dão conta de que, uma coisa é o ideal, e outra coisa é a possibilidade desse ideal se fazer realizado em suas práticas cotidianas.

O discurso ideal dos defensores ambientalistas muitas vezes se encontra distante de suas realidades. Como sabemos, se fazem muitas polêmicas no que diz respeito à matança dos seres vivos, porém, eu pergunto: não seriam os ratos, as ervas daninhas, os mosquitos da dengue, as baratas, seres vivos também? E por que muitas vezes entendemos como correto exterminarmos esses seres vivos?

O humano não fica comovido apenas com o fato da mamãe onça ser morta para que sua pele seja comercializada. Na verdade, ele está mais preocupado é com a perpetuação de sua espécie. Quando ele quer satisfazer seu interesse, utiliza-se de venenos para dizimar parte da natureza; porém, quando o assunto se trata de uma possível extinção de sua espécie, o papo logo muda.

O humano fica indignado com as fatalidades ambientais, não apenas por amor à natureza, mas por ele se ver refletido na morte da espécie da qual ele pertence. Tanto é que, apesar da indignação exibida nos telejornais sobre os acidentes ambientais, quem já parou pra pensar nos cachorrinhos e nas plantinhas que também morreram atolados ou afogados nesses desastres anunciados?

A partir dessa explanação, eu pergunto: como o torto se manifesta diante desse discurso ambientalista? Pelo fato do torto viver se entortando por se encontrar em meio a um fluxo, mesclando-se e ao mesmo tempo se conflitando com os opostos, ele nem é a favor da destruição, nem é a favor da preservação; ao mesmo tempo ele compreende os motivos que levam à destruição, como também se mostra favorável à preservação.

O torto se manifesta contrário à destruição da natureza por ele saber que é humano, e como humano, ele necessita, assim como qualquer ser vivo, preservar-se. Por outro lado, o torto critica a preservação, isso por que ele sabe que inevitavelmente o meio ambiente é modificado pelas espécies, uma vez que, qualquer ser vivo busca encontrar mecanismos de sobrevivência.

O torto também concebe a destruição, pois para ele, se a natureza continua sendo dizimada, é por que existe uma necessidade que sustenta essa dizimação. Não haveria desmatamentos, se não houvesse uma demanda que se usufruísse deles. Quem come, quem ler, por exemplo, usufrui-se da madeira do fósforo e do papel respectivamente, que por sinal, são resultados do desmatamento, e quem pode afirmar que essas práticas são inúteis?

Por outro lado, o torto aceita a preservação, visto que para ele, é inegável que a destruição ambiental tem causado muitos danos à natureza, e que por isso mesmo, é importante buscarmos encontrar medidas cabíveis que amenizem o caráter exploratório desse desmatamento irresponsável, para que com isso, consigamos enxergar um caminho menos caótico e favorável para a convivência dos seres vivos com o meio ambiente.

7 comentários:

  1. Eu concordo em vários pontos com este texto. Mas cabe uma ressalva no que diz respeito a certas afirmações. Aliás, eu já fiz afirmações do mesmo tipo, mas hoje não as faria, por tê-las repensado. "Tanto é que, apesar da indignação exibida nos telejornais sobre os acidentes ambientais, quem já parou pra pensar nos cachorrinhos e nas plantinhas que também morreram atolados ou afogados nesses desastres anunciados? " Esta sua pergunta não é argumento, não que você pretenda que seja, mas qualquer tentativa de previsibilidade de resposta é pretensão. Não se trata de uma questão de ingenuidade, mas de responsabilidade. Nem a psicanálise, que é tão maleável cientificamente, recomenda portar uma resposta a priori sobre o psique. É preciso, de fato, termos cuidado com a psicologização, o ser humano é um complexo que dribla qualquer conhecimento a priori que se tentou estabelecer até hoje, ao menos em algum ponto. Qualquer tentativa de determinismo talvez fique mais para os behavioristas, e eu sei que você não é adepto disto.
    Às vezes, confesso, eu sequer me preocupo com os acidentes ambientais que vejo na televisão. Mas há com regularidade em minha vida uma comiseração enorme ao presenciar os maus-tratos de animais. Se isto é apenas amor à natureza, se é um ódio disfarçado de uma caricatura pacifista, eu não sei, muito provavelmente nem minha própria analista o saiba com certeza, e mesmo que ela dissesse saber, estaria dando uma interpretação a partir de uma das várias teorias sobre o psique humano. O que é certeza é que a comiseração existe. Acredite quem puder.
    “O discurso ideal dos defensores ambientalistas muitas vezes se encontra distante de suas realidades. Como sabemos, se fazem muitas polêmicas no que diz respeito à matança dos seres vivos, porém, eu pergunto: não seriam os ratos, as ervas daninhas, os mosquitos da dengue, as baratas, seres vivos também? E por que muitas vezes entendemos como correto exterminarmos esses seres vivos?”
    Até agora, sou obrigado a apoiar sua visão do nosso antropocentrismo. Altamente plausível. Apesar de conhecer quem chore a morte dos ratos (não estou brincando), eu confesso tranquilamente que gostaria do extermínio total deste animal (refiro-me ao rato urbano) que é tão demoníaco que impede facilmente a ação de seu predador, reproduz-se de forma bizarramente rápida, além de ser extremamente nocivo e se alimentar através de saques, portanto, em termos realistas, tendo importância ambiental diminuta. Apesar de saber que um fdp de um rato pode matar, por exemplo, um cachorro (animal que amo) eu sei que toda construção simbólica em torno dos animais vem inevitavelmente do olhar humano. Portanto, até agora, as minhas reflexões têm me permitido aceitar e confessar apenas uma atitude antropocêntrica neste aspecto.
    “O humano não fica comovido apenas com o fato da mamãe onça ser morta para que sua pele seja comercializada. Na verdade, ele está mais preocupado é com a perpetuação de sua espécie.”
    Concordo, mas o fato de “na verdade” (que verdade?) estar ele mais preocupado com a sua própria perpetuação não invalida a preocupação também com a onça. O porquê desta preocupação, repito, em termos de resposta a priori é mera opinião.
    Enfim, o texto traz reflexões muito importantes, e fixco muito feliz pro você ter evitado muito bem as generalizações.
    Abração!

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  2. Josua,

    Eu não quis estabelecer determinismos, nem em colocar isso como regra geral, porém, o que quero dizer é que, apesar dos belos discursos heróicos que se dizem preocupados com a preservação ambiental, no fundo, esses discursos não passam de hipocrisias.
    Não que todo ser humano não se lembre de outros seres vivos mortos pelos desastres ambientais, porém, você há de convir que quando se vomita opiniões a respeito da preservação ambiental, associamos a necessidade da seguranã para a nossa espécie humana.
    Não nego que as pessoas desabrigadas do Haiti por exemplo, não estejam necessitando de atenções e cuidados; porém, em nenhum momento o telejornal faz questão de observar quantos outroa animais, que não apenas os humanos, morreram sob os escombros.
    O que quero dizer é que o discurso ambientalista se expressa como uma preocupação com a natureza, mas na verdade, as vezes eu acho que essa preocupação com a natureza, antes de ser preocupação de fato com a natureza, é a preocupação da natureza para a sobrevivência de apenas uma das tantas espécies que compõe a complexidade da fauna, que é a espécie humana.

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  3. Josua,

    Eu não quis estabelecer determinismos, porém, o que quero dizer é que, apesar dos belos discursos heróicos que se dizem preocupados com a preservação ambiental, no fundo,muitas vezes esses discursos não passam de hipocrisias.
    Não que todo ser humano não se lembre de outros seres vivos mortos pelos desastres ambientais, porém, você há de convir que quando se vomita opiniões a respeito da preservação ambiental, associamos a necessidade da segurança para a espécie humana.
    Não nego que as pessoas desabrigadas do Haiti por exemplo, não estejam necessitando de atenções e cuidados; porém, em nenhum momento o telejornal faz questão de observar quantos outros seres vivos, que não apenas os humanos, morreram sob os escombros.
    O que quero dizer é que o discurso ambientalista se expressa como uma preocupação com a natureza, mas as vezes eu acho que essa preocupação com a natureza, antes de ser preocupação de fato com a natureza, é a preocupação da natureza para a sobrevivência de apenas uma das tantas espécies que compõe a complexidade da fauna, que é a espécie humana.

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  4. Em parte concordo com algumas colocações suas em relação ao panorama geral das relações do homem com o meio. Chegamos a um certo ponto em que nos vemos deslocados da natureza, como se não fizéssemos parte dela. Somos parte dela e perdemos a consciência disso! É como naquele filme do caralho lá, Matrix, quando o Smith diz que o gênero humano é algo homólogo aos vírus que se apropriam de um lugar até ele não oferecer mais nada, e então ele migra de hospedeiro. Não esqueçamos que houve um tempo em que esse tal gênero humano, conviveu respeitosamente com a natureza por vários e vários milhares de anos! Eu mesmo, dentro das minhas inúmeras hipocrisias e contradições geradas pelo convívio social, mergulhado em um modelo que prima pela sustentabilidade do desenvolvimento ao invés do famoso, "desenvolvimento sustentável" (lê-se durável), me vejo impotente diante de certos vícios, mas não comungo dessa visão pessimista em relação à natureza. Procuro estar sempre em equilíbrio quando me vejo inserido em seu ventre estuprado!

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  5. Cara, muito bem observado esse seu comentário.

    O que eu acho é o seguinte: não é que devemos deixar de pensar na preservação ambiental, afinal fazemos parte dela, e por isso mesmo, também necessitamos dela.

    Mas isso não acontece em geral nos discursos ambientalistas.Como você bem salientou, chegamos ao ponto de nos separarmos da natureza, e o mais distoante disso tudo, é que externamos um discurso embelezado em relação a dita natureza.

    Na verdade, muitas vezes respondemos como deuses que têm a função de preservar o ambiente, e não como animais que por dependerem da natureza, necessitam preservá-la.

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  6. Concordo que muitas vezes dentro do discurso ambientalista nós percebemos elementos que são uma constante dentro de todos os discursos (ousadia generalizar). Estava lendo Milan Kundera um dia desses e em uma das partes mais brilhantes da sua grande obra, A Insustentável Leveza do Ser, ele aborda um tema bastante interessante que nos assola. É aquele tal termo alemão, o Kitsch! Bom, o kitsch é uma expressão que se refere à valores estéticos, seria uma expressão de algo de forma muitas vezes exagerada e/ou distorcida. Uma cópia de algum Valor, de alguma obra de Arte... Não quero me ater a definição do que seria o Kitsch, por que gostaria que vocês mesmos destrinchassem isso. Acredito que seria um elemento fundamental para a discussão do Movimento. Enfim... Estou me perdendo... O que queria dizer é que inserido nos discursos ambientalistas ou de qualquer faceta política, existe um tal de Kitsch totalitário como o camarada Kundera afirmou. Ele deu em exemplo que sintetiza o que muitas vezes ocorre dentro dessas relações: um político vê crianças correndo no gramado e acha aquilo bonito. O kitsch totalitário muitas vezes então, entra em ação. Achar bonito é diferente de sentir bonito. Quando nos deparamos com uma situação como essas, podemos perceber que tal coisa é bela e em um segundo momento, perceber que é belo perceber que tal coisa é bela. A ideia de ser ambientalista é socialmente bonita, de tolerar diferenças sexuais, de chorar no filme Into the Wild... O problema de tudo é que ninguém mais tem autonomia em relação à própria individualidade e acabamos nos "engajando" por causa de uma merda de valor estético!

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