terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cortina fechada é hora do show.

Eu fechei o portão, entrei em casa e falei com minha mãe. Hoje não era um dia para perguntas por isso ocultei minhas respostas para todos em casa. Entrei simplesmente e tirei a bagagem que a rua me deu, logo após, encostei o céu, o tempo e o espaço no cantinho do quarto. Isso porque me desvencilhei do mistério, acudi de ficar igual a um gato, sem falar com o tempo e por sua vez com o mistério. Arrumada as coisas então fui para a cozinha ver, como todo santo dia, o que a minha mãe deixara para saciar minha fome. Canto da tela é encanto do bicho é a distração que comanda, comendo fui vendo o que os bichinhos iam dizendo do mundo, e eu rindo muito.

Cancelei o senso crítico e instalei meu plug para dançar com a endorfina, uma amiga que conheci desde da infância e hoje transamos com esmero. Afinal ontem roupas pomposas na rua da frente e hoje tecido sintético na rua laranjeiras. Ocupamos o tempo como uma lacuna que exige uma lei de recorrência. E assim é morrer nascer e pintar essa tela pitoresca a custa da preservação e com esmero transar com endorfina, falar dela e peidar na cara da moral quando ela dormir. O problema do nivelamento social deixo a cabo de super-man porque é carnaval hoje e todo sábado também é. No domingo ressaca e na semana é o rito da preservação.

Esse rito foi cancelado em mim em um dia que a patrulha circundava a vila, e tinha cheiro de sangue no ar. O menino chorando na janela retratava que a prisão da alma de alguém não se resumia apenas a muros, mas a impotência humana que a castração do desejo anuncia. Todos morreram. Agora somente o rancor e o ódio. Não se sabe mais se aqui na favela existem mocinhos ou vilões. O Anacoluto olha os corpos e por um lance senti uma pontada de frieza, pega nas tripas de um corpo caído, era o seu vizinho Henrique. Eu peguei o estomago dele porque queria sentir o meu novamente digerir sonhos e contemplar a clareza de um caminho.

Anacoluto com o dinheiro que encontrou em um barraco vazio após a batalha, após andar pelos escombros deixados pelos palhaços de armas. Pensou em seu sonho, foi até ao Grageru tomar uma cerveja em um bar dá alta sociedade Aracajuana, onde os homens de óculos se juntavam. Seu sonho era exatamente esse, si sentir importante como aqueles homens ali. Quando cheguei olhei para todos envolta, senti aquele clima de efervescência no ar e lembrei do livro que li de literatura que o Governo deu para a turma lá da escola, que falava sobre Machado de Assis. Lembrei que o livro falava dos intelectuais cariocas e como o Machado mesmo sendo mestiço como eu, conseguiu entrar no meio deles e falar com borboletas na garganta.

Engano meu, todos aqueles que nos livros pareciam ter uma preocupação com nós do lado de lá, pareciam mais os portugueses chegando às praias da Bahia me estranhando por ser um Índio. Mas tudo bem, tentei me comunicar com um deles e o rapaz me tratou com educação, porém, arranjou uma maneira de se afastar de mim rapidamente, com meia dúzia de desculpas. Poxa era a minha melhor roupa, e não travei dialogo nenhum, apesar dos livros que eu li, ratazana procura o melhor queijo, a melhor parte do bolo, a melhor vista, por isso um corpo fétido como o meu que anuncia a pobreza se convence que um fruto mesmo que doce por dentro tem na casca o seu marketing maior. Anuncio aqui e agora, irei me juntar à milícia do meu povo e pegar minhas armas, e arrancar as tripas de qualquer um que afligir meu estomago que ronca. O Brasil é o país da porrada. Se com o sangue já me acostumei o que eu perco matando um ou outro?

De preferência quero ver as tripas em minhas mãos, e como um rato que come a comida do dono enquanto dormi, vou me apoderar do que quero. As tripas e o sangue escorrendo, viver morrer, viver morrer... Meu objetivo não é arrancar lagrimas meus caros, se é o que querem pensar de mim. É na verdade, soltar o veneno que tenho em minha alma, ver os olhos pulsando de dor dos outros, para ver se encontro novamente as pessoas mortas que outrora viviam em meu barraco. E digo para aqueles ao qual provoco dor que verdadeiramente, agora, sou um homem que não pensa!

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