A cidade de Aracaju se mostra para mim com múltiplas funções. Veio no começo esse encanto primeiro, antes do corpo ir sentindo o peso do cotidiano da cidade. Esse peso para mim chegou tardio, ainda imaginava a cidade da minha infância quando vinha do semi-árido sergipano para se encantar com as luzes metropolitanas. Hoje ela se mostra elástica e ouriçada, como quem estende a mão para te afagar, mas sempre te deixando a dúvida da mão esquerda suprimida no lapso do vacilo.
Saber em quem confiar não se fala mais, o problema de fato é sentir confiança. Contemporânea de relações funcionais Aracaju, por menor que seja em relação a outras capitais do nosso país, já senti o peso das distancias. Os laços frouxos muitas vezes se sustentam pela funcionalidade ou pela empatia dos estereótipos, mas claro nunca deixando as particularidades de poder encontrar relações equivalentes em perdas e ganhos (as amizades mais saudáveis). A nossa formação niilista às vezes vacila em ver o outro como qualquer outro tipo de animal.
Quero eu reencontrar algo que nunca mais visitei, eu mesmo. E não cultivar as funcionalidades por um mero jogo de carência. Deixar a porta aberta, mas se trancar no mundo onde vou desfragmentar meu disco, reorganizar o meu mundo. Mas você meu amigo pode me perguntar o porquê dessa atitude, mas é simples: Quando um homem não se senti mais em si, ou seja, não se reconhece mais é porque existe algo nos outros que em você nunca existiu e por um capricho das “paixões” ou por outro motivo afim te jogam para a desfiguração do seu ser. A luta é para tu meu caro leitor, o desafio de equilibrar o que está dentro de você com as águas que correm, as mudanças que em ti e no seu espaço ocorrem, pois este último é extensão de você.
A grande idéia que trago, ou seja, aquilo que trago além do desabafo. É que, dentro das grandes cidades o ponto de equilíbrio não se deve ser achado no outro, mas em si mesmo. A cidade é plástica e fluida, os grandes alicerces que diziam quem era você e para onde você deve ir sumiram. Raros são os laços estreitos. E o que se passará na cabeça de um jovem cheio de incertezas e angustias? Afinal, nossa infância é castrada quer queira ou não temos que ser adultos, não é mesmo? Chegando a “rua da frente” tudo se dilui em poesia, provando que todos se parecem com o rio que escorre pro mar, horas sendo rio horas sendo mar, mas sempre em conflito porque tudo não escorre pro mesmo lugar.
Hoje só me queixo é em deixar o meu rio parar em um porto cheio de ostras bonitas e cortantes, vendo o sangue correr sem reagir. Mil desculpas para aqueles que a mim possuem apreço, não te direi que não sinto o mesmo pelos mais chegados, mas os conflitos dos meus dias são latentes.
Querido Astronauta torto,
ResponderExcluirRealmente esse seu texto foi esplêndido!
Acredito que essa é uma das grandes crises pelas quais passam os humanos na atualidade. Se por um lado nós ganhamos com a contemporaneidade no que diz respeito à facilidade que temos em vivenciarmos e degustarmos com a pluralidade cultural, por outro, essa pluralidade trouxe como consequência, um sentimento agonizante de não termos mais em que nos apoiar.
Como você bem expôs, os laços entre os indivíduos se tornam cada dia mais efêmeros. Esse prazo curto de validade entre as trocas estabelecidas pelos sujeitos, proporciona as grandes crises depressivas que vemos todos os dias em nossas vidas. Por outro lado, vemo-nos na obrigação de termos que aprender a lidar com essa velocidade dos afetos, do contrário, não mais suportaremos viver diante desse contexto. Pra piorar, se por um lado nós temos que exercitar a conviver com essa efemeridade, por outro, angustiamo-nos por sentirmos que estamos perdendo cada vez mais a nossa qualidade de humanos.
Porém, eu preciso dizer que, pessoalmente, eu acredito que, mesmo os laços se tornando cada dia mais fragilizados, eu não acho que os afetos e o sentimento de cooperação entre os membros de uma sociedade tenham sido exterminados. O que eu acho é que esses sentimentos mudaram suas características para tentarem se adaptar nesse contexto liquido e fluido. Se assim não fosse, ninguém mais choraria por amor, ou sequer procuraria ainda sonhar em encontrar alguém para compartilhar suas angustias e suas doçuras.
O que eu acho é que inevitavelmente temos que aprender a saber que as pessoas vêm e vão, pois nossas identidades inseridas nesse mundo tão intenso de informações e abertos a novas e intermináveis experiências, estão constantemente sendo reelaboradas, e o que hoje acreditamos como bom e positivo para nós, amanhã pode já não mais nos servir. Mesmo com essa mudança intensa de ciclos sociais, eu também não acredito que tenha havido o FIM dos sentimentos, nem que nós passamos a ser DESCARTÁVEIS. Como eu disse, nós apenas mudamos nossas formas de estabelecermos laços com as pessoas. Em um contexto mundializado, é impossivel ainda em insistirmos em acreditar como melhor, um convivio comunitário, autoajustado e fechado em si mesmo.
Com certeza! Não estamos como uma folha ao vento, mas como uma folha ao vento presa por galhos ligados em um tronco. Abraço.
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